quinta-feira, 28 de setembro de 2006

Guiné 63/74 - P1127: Em defesa dos comandos (A. Mendes, 38ª CCmds)



Guiné > Bissau > Bissalanca, base aérea de Bissau > 1966 > A primeira geração de comandos, aqui representada pelo nosso amigo e camarada Briote, ex-alf miliciano (à esquerda, acompanhado pelo Furriel Azevedo, ao centro, e o Sargento Valente, à direita). O ex-1º cabo Mendes, da 38ª CCmds, pertence à última geração de comandos que operaram no TO da Guiné (1972/74).

Foto (e legenda): © Virgínio Briote (2005).  Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Texto do membro da nossa tertúlia A. Mendes , ex-1º Cabo Cmd da 38ª CCmds (Os Leopardos) (Guiné, Brá, 1972/74):

Amigo Luís:

Permite-me uma correcção (1): a 38ª de comandos não foi a última companhia de comandos  a ser mobilizada para o TO da Guiné mas sim a CCmds 4041, formada em Lamego e que chegou à Guiné em Maio de 74 e a qual eu ainda dei a fase operacional em Teixeira Pinto.

Se me permites, gostaria de esclarecer o seguinte: trabalhei muito com a 1ª, 2ª e 3ª CCmds Africanos em todas as zonas operacionais da Guiné. Comemos da mesma ração, partilhámos a água do mesmo cantil, sofremos a mesma dor ao chorar os NOSSOS camaradas mortos. Operações duras que obedeciam a directrizes do comando de operações. E por muito duras que fossem, era nossa obrigação levá-las a cabo da melhor forma, seja lá o que isso implicasse.Os Cmds eram voluntários, sabiam ao que iam e para eles a Pátria era algo de sagrado. Empregavam nas operaçõea todo o seu saber que lhe foi ministrado num curso duríssimo.

MAS.....não eram assassinos nem criminosos de guerra, como alguns senhores aqui no blogue tentam dar a entender. De acordo ! Na guerra cometem-se excessos, mas daí a crimes de guerra...

Eu estive em toda a Guiné, do Morés ao Cantanhez.Vivi com a tropa de quadrícula dentro do arame, e também eles no contacto do dia a dia com a população local não eram nenhuns meninos de coro. Por isso, amigos e camaradas de guerra, os Cmds africanos não foram fuzilados por crimes de guerra, mas por ódio! Ódio pelo facto de terem sido fiéis à Pátria numa tropa que fez então ao PAIGC no terreno aquilo que sabia fazer melhor: derrotá-los. Isso nunca foi perdoado pelo sr. Luís Cabral. E, se atentarem bem, o ódio étnico também não esteve ausente.

RESPEITO por quem morreu pela Pátria é a única atitude possível por quem passou pelos campos de guerra.

Amigo Luís Graça, assim que puder vou-te enviar fotos e alguma documentação. Prometo-te que irei ser mais interventivo porque me parece que alguns camaradas, quando aqui escrevem, se esquecem de alguns promenores e acrescentam outros. Aproveito para saudar o amigo Briote (2).

Saudações.
A. Mendes

2. Comentário do editor LG:

Tens toda a razão, camarada Amílcar Mendes. O nosso "livro de estilo", as nossas regras editoriais, impedem-nos, aos quer aqui escrevem (autores e comentadores), de fazer juízos de valor sobre o comportamento operacional, militar, disciplinar ou moral  dos nossos camaradas de armas (e o termo camarada aplica-se até ao nível de comandante operacional)... Claro que é uma regra difícil de cumprir e fazer cumprir, mesmo passados todas estas dezenas de anos... Afinal, a guerra, todas as guerras, deixam marcas ptrofundas, de um lado e do outro... 

Diz a regra nº 6_ (...) recusa da responsabilidade colectiva (dos portugueses, dos guineenses, dos fulas, dos balantas, etc.), mas também recusa da tentação de julgar (e muito menos de criminalizar) os comportamentos dos combatentes, de um lado e de outro: (...)
_______

Nota de L.G.

(1) Vd. post de 27 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1123: Um espectáculo macabro na bolanha de Cufeu, em 1973 (A. Mendes, 38ª Companhia de Comandos)

(2) O que é feito de dele ? O Virgínio Briote continuava blogando, no Tantas Vidas, pelo menos até Julho passado. Um dos posts, que li era uma evocação do IN, feita pelo heterónimo Gil com o respeito que os inimigos de armas merecem, aqui na pessoa no Nino.

Aqui vai um excerto, de um post de 15 de Julho de 2006:

(...) "Nino, sentido, porra! Uma lenda da guerra da independência. No PAIGC desde 1960, responsável por zonas de guerrilha, preso em Catió por um acaso fortuito pelas autoridades coloniais, circulava sem o recibo comprovativo do pagamento do imposto de circulação, não o das viaturas, claro. Os camaradas atentos libertaram-no logo com toda a gente a ver menos os carcereiros. Membro do bureau político do Partido logo em 64, chefiou a resistência no Como ao famoso 490 de cavalaria, foi aqui que os comandos mais antigos experimentaram a sua têmpera, de tal forma que sempre que se falava no nome dele, fosse na instrução, no Hotel Portugal, na casa da Dora, nas casas de meninas, fosse onde fosse, punham-se todos em pé, calados, em sentido. Uma praxe como qualquer outra, claro! Continuou a subir na hierarquia, responsável político-militar da frente sul, responsável nacional das operações militares. Ele próprio, em pessoa, expulsou as NT do aquartelamento de Guileje. Se alguém tinha que ser, ao menos que fosse ele. Após a independência foi comissário de Estado das Forças Armadas, Presidente do Conselho da Revolução, secretário-geral do PAIGC, até correr com o Luís Cabral, o irmão de Amílcar. Em 1999, na sequência dos acontecimentos de Casamansa, outro golpe, mas agora contra ele. Retirou-se para Portugal, Gaia, onde oficialmente residia até há pouco tempo, até que resolveu desmentir quem tinha dito que a carreira político-militar do Nino tinha acabado" (...).

2 comentários:

Anónimo disse...

?SERÁ POSSIVEL QUE O CABO A.MENDES E OS SEUS COMANDOS, ESTAVAM NO LADO CERTO DA GUERRA? NO ESTADO EM QUE SE ENCONTRA TODA AQUELA ÁFRICA, PRINCIPALMENTE A GUINÉ, PODE-SE PÔR EM DÚVIDA A JUSTEZA DE TODAS AQUELAS INDEPENDÊCIAS...MESMO A DO RECONHECIDISSIMO SENGHOR...HAVERIA OUTRA ALTURA MAIS OPORTUNA...Antonio E. Rosinha, Alverca

Anónimo disse...

neste curriculum foi esquecido o relacionamento com o PAPA de Roma e com MARIO SOARES, quando estes imploraram que não condenasse à morte alguns dos poucos oficiais que sobraram do velho PAIGC.(1988)antonio e. rosinha, Alverca