Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
domingo, 24 de setembro de 2006
Guiné 63/74: P1111: A primeira mina, os primeiros suores (Joaquim Mexia Alves)
Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Xitole > CART 3492 (1972/74) > 1972 > O Alf Mil Mexia Alves ostentando o seu ronco, a primeira mina que levantou na estrada Bambadinca-Xitole. O Mexia Alves era de operações especiais e esteva na Guiné, durante o período de Dezembro de 1971 a Dezembro de 1973: pertenceu originalmente à CART 3492 (Xitole / Ponte dos Fulas), antes de ingressar no Pel Caç Nat 52 (Bambadinca, Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e depois na CCAÇ 15 (Mansoa ).
Foto: © Joaquim Mexia Alves (2006)
Caro Luis Graça:
No início da nossa estadia no Xitole e salvo o erro, logo na primeira coluna vinda de Bambadinca à qual a nossa Companhia montou segurança, calhou-me, a mim, e ao meu pelotão, como não podia deixar de ser, o ponto mais afastado do Xitole para montar segurança à dita cuja.
Se bem me lembro era junto a um pequeno pontão, pois a partir daí era terreno da Companhia de Mansambo [, a CART 3493, 1972/73].
Aí chegados enquanto colocava o pessoal na mata, os guias e picadores foram picando a estrada junto ao pontão e chamaram-me porque detectaram uma mina.
As penas de periquito ainda esvoaçavam por todo o lado e, cheio de sangue na guelra, decidi levantar a mina.
Mandei afastar os que estavam mais perto e lançei-me ao trabalho, não me lembrando agora se tive alguma ajuda no início.
Depois de escavar a coisa,passou-se à parte mais dificil que era desarmar o detonador, para depois, pelo sim pelo não, puxar a dita mina com uma corda, não fosse o diabo tecê-las.
A mim pareceu-me que tudo isto demorou uma eternidade, mas segundo me disseram até foi rápido. Sei que suei rios de água e não era por causa do calor.
Lembro-me de pensar em desistir a meio e rebentar com aquilo, mas o orgulho e o pensar o que é que o pessoal vai dizer, levaram-me a continuar e acabar o trabalho.
Ao que sei, foi a primeira mina levantada no Batalhão [BART 3873, Bambadinca,1972/1974).
Na minha fraca memória, vem-me à ideia que deixámos uma qualquer mensagem de ronco no sítio da mina. Enfim, gabarolices.
Diziam que pagavam não sei o quê pelas minas levantadas, mas não me lembro de ter recebido nada.
Mais tarde e já no Pel Caç Nat 52, com o clima e outras coisas, cometia a rematada estupidez louca de ir pisando o caminho à frente do Pelotão, o que os soldados africanos muito apreciavam, só me valendo o facto de Deus nunca estar distraído.
Envio prova fotografica do feliz evento, chamando a atenção para a qualidade da revelação da fotografia, feita num estúdio de um qualquer curioso militar no Xitole, de qual não lembro a identificação.
Abraço do
Joaquim Mexia Alves
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