sexta-feira, 6 de junho de 2008

Guiné 63/74 - P2921: Em busca de... (29): António Manuel Rodrigues (1) (Juvenal Amado)

1. Em 27 de Maio de 2008 recebemos esta mensagem do nosso camarada Juvenal Amado:

Caro Carlos

Ao vasculhar o Poste 2885 sobre o III Encontro da Tertúlia, a minha atenção ficou presa nas palavras do Baptista sobre o outro prisioneiro que esteve com ele, mas no caso, este sendo de Cancolin (*).

Efectivamente houve um outro camarada nosso também este apanhado à mão.

Pertencia efectivamente à Companhia de Cancolim e foi apanhado, se a memória não me falha, num dia em que o seu pelotão saiu para uma patrulha nocturna.

Para ser mais preciso o pelotão saiu, mas ele embirrou e não foi com eles.

Passado talvez uma hora, ele resolveu ir sozinho encontrar-se com os seus camaradas.

Resultado, o destacamento é atacado e no chão foram encontradas munições da G3, possivelmente dele.

O que se entende deste acontecimento é que ele deu de caras com tropas do PAIGC que fizeram o ataque e acabou prisioneiro deles.

Este episódio atesta bem o estado psicológico em que os nossos camaradas de Cancolim estavam.

Há tempos, ao falar ao telefone com o meu amigo Correia, este caso veio à baila, onde ele me lembrou que o referido camarada tinha aparecido quando já estavamos em Bissau para embarcar de regresso.

A forma como ele fugiu do cativeiro só soube ao ler e ouvir o referido Poste 2885.

Lamento que ele esteja no sofrimento em que está.

Um abraço para todos os camaradas da Tabanca
Juvenal Amado


2. Em 31 de Maio o co-editor interpelava o Juvenal deste modo:

Caro Juvenal
No comentário que fazes ao P2885 e quando te referes ao vosso militar que foi apanhado à mão, trata-se do mesmo António Manuel Rodrigues ou de um caso semelhante?
Manda-me todos os elementos, como nome, Unidade, local (que será Cancolim) e data do desaparecimento, etc.
Tenho o poste pendente
Obrigado
Carlos

3. Em 2 de Junho obtinha esta resposta:

Caro Carlos

António Manuel Rodrigues, é efectivamente o nosso camarada de Cancolim (CCAÇ 3489), que foi também feito prisioneiro pelo PAIGC.

Confirma-se também a forma como tudo aconteceu, só não consigo uma data.

O nosso camarada Correia pensa que aconteceu, talvez seis meses antes do nosso regresso, mas não se recorda ao certo.

Os camaradas da Companhia de Cancolim, penso que nunca se juntaram e só tenho mais um nome para tentar saber a data. É de um ex-alferes que foi 2.º Comandante da CCAÇ 3489.
Amanhã voltarei a tentar chegar à fala com ele.

Para já está tudo confirmado.

PS: O Correia ficou todo satisfeito com a noticia que eu lhe dei, pois não tinha sabido mais nada dele.

Um abraço para toda a Tabanca Grande

Juvenal Amado


4. No dia 4 de Junho, Juvenal Amado dava conhecimento dos últimos desenvolvimentos da procura de elementos sobre a prisão do camarada António Manuel Rodrigues

Meu caro Carlos e restante Tabanca Grande

Lamento informar, mas acabei de tomar conhecimento do falecimento do ex-alferes de Cancolim, com quem eu contava para descobrir as datas que nos faltam para o processo do Rodrigues ficar completo.

Assim o ex-Alferes Carlos Alberto Rosa Santos que foi durante algum tempo o comandante da CCAÇ 3489, do qual guardo um respeitosa lembrança, era a unica pessoa que esteve em Cancolim que eu podia contactar.

Um abraço
Juvenal Amado

(*) - Anotação de C.V.

Do Poste 2885:

(...)
No vídeo que agora se apresenta ele contou-nos as condições em que viveu no cativeiro. Falou-nos também de um outro companheiro de infortúnio, pertencente ao mesmo batalhão (BCAÇ 3872, que estava sediado em Galomaro, 1972/74), mas de outras companhia (que estava em Cancolim). Ele acabou por se lembrar do nome do seu camarada de infortúno (o António Manuel Rodrigues), que conseguiu fugir do cárcere em Março de 1974 e, seguindo ao longo do Rio Corubal, chegar ao Saltinho ou próximo do Saltinho, onde foi resgatado pelas NT.

Esse camarada é natural da Régua, é conhecido do nosso José Manuel Lopes, ex-Fur Mil Inf Op Esp, que estava na CART 6250, em Mampatá (1972/74) quando o resgate se deu... Esse ex-prisioneiro, que era maltrado pelos seus carcereiros devido alegadamente ao seu comportamento agressivo, foi levado do Saltinho para Aldeia Formosa e dali para Bissau, por via aérea.

O António Manuel Rodrigues, o Chega-me Isso, alcunha de família por que é conhecido na Régua, vive miseravelmente, tem todos os sintomas do stresse pós-traumático de guerra, não procura nem aceita ajuda dos seus antigos camaradas da Guiné, tem conflitos com as autoridades locais, em suma, é mais um caso chocante de uma camarada nosso que não morreu na Guiné mas a quem a Guiné destruiu a vida. O José Manuel prometeu-me dar a sua identificação completa. A nossa Tabanca Grande vai tentar ajudá-lo.
(...)

5. Se algum dos nossos Tertulianos ou leitores do nosso Blogue souber pormenores desta ocorrência, que marcou definitivamente a vida deste nosso infeliz camarada, por favor informem-nos.
C.V.
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Notas de C.V.

(1) - Vd. Poste de 26 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2885: O Nosso III Encontro Nacional, Monte Real, 17 de Maio de 2008 (9): António Batista, ex-prisioneiro de guerra

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