quarta-feira, 22 de abril de 2009

Guiné 63/74 - P4233: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (16): Direito à indignação (Amílcar Mendes)

1. Em resposta a esta mensagem de Mário Pinto, com data de 26 de Março de 2009.... 

Mario Pinto ex-Furriel Miliciano da Cart 2519, Buba, Mampatá, Aldeia Formosa. Ontem ao ver o programa Guerra do Ultramar na RTP1, fiquei indignado e com a falta de respeito do Sr. General Almeida Bruno em relação aos nossos camaradas militares conhecidos pele tropa macaca como BANDO que se limitavam a estar presentes dentro do arame farpado. 

Sr. General, é preciso ter descaramento e ser insultuoso para criticar os nossos bravos militares que tão abnegadamente serviram a Pátria em condições de inferioridade tática material e desconhecendo o inimigo que defrontava porque tiveram uma instrução deficiente que é da sua responsabilidade e dos quadros de oficiais superiores que nos comandavam entre aspas porque estes sim é que estavam no arame farpado. V. Exa. Sr. General já se esqueceu que a guerra fora do arame farpado era comandada pelos milicianos e graças a eles lá fomos adiando o fim do Império Colonial. Para terminar só posso acrescentar que fui ferido em combate e não dentro do arame farpado, louvado e premiado por actos de coragem e não foi dentro do arame farpado. 

 Cumprimentos, camarada Luis Graça ex-Furriel Mário Pinto.


2. Recebemos de Amílcar Mendes a seguinte mensagem, com data de 26 de Março:

Amigo Mário Pinto, 

Entendo a sua indignação. Vi a entrevista e também acho que houve algum excesso. Conheco o Sr. General Almeida Bruno, comandou o meu Batalhão na Guiné, não venho defendê-lo e nem ele precisa, mas pode querer que como tropa especial nunca eu ou os camaradas com quem trabalhei no TO, tivemos a mais leve desconsideração pela tropa a quem chamavam de "tropa normal". Pelo contrário, sempre os respeitei e admirava o sacrifício de sobreviver dia a dia nas condições mais miseraveis, enterrados em destacamentos no cú de judas, em que o único passatempo era contar os rebentamentos e contabilizar os estragos. Com armamente rudimentar faziam milagres frente ao inimigo, e se não faziam melhor era porque a instrução que recebiam era muito rudimentar. Apenas lhe dou um exemplo: o destacamento que vivia na ponte de CAIUN, na estrada de Piche -Buruntuma é exemplo do que a "tropa Normal" passava, e acredite amigo Mario Pinto que dentro da tropa "especial" havia muito manjerico que nem na tropa normal se safava. Quanto ao comentário do Sr. General, às vezes "no melhor pano cai a nódoa". 

 Um grande abraço do Amilcar Mendes Ex-1.º Cabo Comando.3. 

3. Em resposta a esta mensagem de Magalhães Ribeiro, com data de 4 de Abril de 2009... 

Boa tarde Amigos bloguistas, 

Quem não viu/ouviu o programa do Joaquim Furtado, tem que ouvi-lo na totalidade para analisar o contexto em que as palavras foram proferidas pelo Sr. General Almeida Bruno. Eu penso que vi/ouvi bem o dito programa, embora na altura tinha junto de mim o meu filho e a minha mulher a conversar e posso ter deturpado o sentido da tão discutida frase. 

 Reparem que nadíssima me move contra o general A.B., pois eu considero-me seu amigo pessoal há uns anos a esta parte, tendo até várias fotos (uma delas podem vê-la no meu blogue) e o seu cartão de visita. No entanto, o silêncio do general (que eu saiba o mesmo ainda não disse nada acerca da sua entrevista), sobre esta gravíssima matéria é comprometedor, pelo que ele duplamente simboliza: quer como oficial superior do Exército Português, quer como militar prestigiado e condecorado aos mais elevado níveis, como ex-Combatente do Ultramar. 

 Quem não se sente não é filho de boa gente, e estou à espera que ele a qualquer, face à grande contestação da malta (nomeadamente junto da Liga dos Combatentes), se pronuncie sobre a verdade dos factos, isto é sobre o que realmente nos quis transmitir com aquelas palavras. Na quase certeza absoluta que ouvi bem o que ele disse, e face à ira dos ex-Combatentes e à surpresa gerada entre os esforçados e sacrificados COMANDOS (em especial aquela que eu melhor conheci a 38.ª Cia.), que o general omitiu na entrevista vá-se lá saber porquê, aguardemos pelos próximos episódios. Hoje anexo o restante texto que completa o post 4126, e a que dei o título de: As origens dos bandos da Guiné. No fundo do anexo podem ler uma primeira reacção do nosso camarada bloguista John Bonifácio (João). Um grande abraço amigo do MR


4. Recebemos esta outra mensagem de Amilcar Mendes, com data de 5 de Abril de 2009:

Amigo Magalhães Ribeiro, Na altura da conversa do Sr. General Almeida Bruno sobre os "BANDOS" tentei de imediato pôr água na fervura porque adivinhei o que ai vinha. 

Sempre que aqui no Blog me refiro a alguém faço-o sempre reportando-me à condição de ex-combatente e nessa perspectiva admiro o sr. General Almeida Bruno. Por isso disse que no melhor pano cai a nódoa. Quanto ao facto de ele na entrevista ter omitido os COMANDOS ao qual eu acho o Sr. General tem orgulho em pertencer,  é um mistério para mim pois se foram os Comandos que lhe proporcionaram as mais altas codecorações do Exército Português , designadamente na célebre operação em Combamory onde o então Alferes Marcelino da Mata evidenciou. 

Não me cabe a mim adivinhar o porquê dessa omissão mas como COMANDO acho foi uma boa "cagada", não por achar que também a minha companhia (38.ª de Comandos) terá sido um bando mas por achar que o Sr. ofendeu a memória de todos os COMANDOS AFRICANOS que foram fuzilados só por o terem sido. Foram esses Comandos, comandados então pelo Sr. General lhe deram a glória de ser condecorado. 

Finalmente como o Sr. General nos comandava e se não sabiamos o que fazíamos, bem... então e ele?... Apreciando a entrevista acho que o Sr. General se queria referir só às chefias mas mesmo assim... 

 Um abraço a todos os bloguistas do Amilcar Mendes Ex-1.º Cabo Comando 38.ª CIA CMDS __________ 

 Nota de CV: 

2 comentários:

Anónimo disse...

Queria aqui aproveitar a oportunidade para mandar um ABRAÇO AMIGO a todos os "MAMA SUME" da 38ª, e homenagear a memória daquele que me tratava como um irmão e que infelizmente já "partiu" do nosso meio.

O seu nome Manuel Moreira Barbosa, era 1º Cabo desta famosa e sacrificada companhia e um belo dediquei-lhe o seguinte poema:

Um “COMANDO” da 38ª

Era a minha “sombra” nas deslocações a Bissau
O meu “guarda costas” preferido!... O número um!
Eu conhecia-o bem e sabia!... Que se necessário!...
Dava a vida pelo amigo!... Como mais nenhum!

Na longínqua e bela Guiné
Mais do qu’em qualquer outro lugar
Encontrar um conterrâneo
Era o rei dos motivos p’ra festejar

Para nós... do Porto e Lisboa
Como éramos a maioria
Amíude os encontros se davam
Sempre com renovada alegria

Quando chegamos a Mansôa
Na recepção a nós os «periquitos»
Alguns “velhinhos” perguntavam
No meio daqueles “pios” esquisitos

- Quais são os “periquitos” do Porto?…
Duas coisas tendes que fazer…
Pagar uma bebedeira mestra...
E contar as novidades... que houver!

Fomos então p’rá cantina beber
E, conversar entusiasmados
Nós, do Porto... do presente... de Abril
Eles... dos “momentos” ali passados

Dias depois estes partiram
O seu tempo de guerra... findara
Foram estes os primeiros amigos
Com que a Guiné me brindara

Um dia o Comandante disse-me:
- O vagomestre está muito doente...
Você vai substitui-lo como souber...
Vai alimentar toda esta gente…

Se mais proveito não lhe fizer…
Vai muitas vezes a Bissau… passear…
É um privilégio raríssimo…
Espero que não vá regatear!

Eu... um Operações Especiais?
Ouço, obedeço e não discuto!
Serei o Rei do desenrascanço?
Se calhar!... avancei pois resoluto!

No dia seguinte... surgiram-me ali
Num jipe... três “Comandos” sedentos
Da 38ª Companhia

Eram do Regimento de Comandos
Sito na estrada p’ra Bissau, em Brá
A cerca de quarenta quilómetros
Que me convidaram a visitá-los… lá

Mas entre eles estava um Cabo
De seu nome Moreira Barbosa
Que ao saber qu’éramos patrícios
Exigiu comemoração honrosa

Bebemos então e conversamos
Ali cimentamos forte amizade
Daquele tipo hoje muito raro
Com raízes par’à eternidade

Ora... sempre qu’eu tinha d’ir à capital
Entrava nos “Comandos” a correr
- Ó Barbosa queres vir comigo?...
“Perguntai ao cego s’ele quer ver “

Provocavam enorme alarido
As viagens e as petiscadas
No “Portugal”, no “Ronda”, etc.
Estórias, anedotas... gargalhadas

Ele conhecia metade do pessoal
Apresentava-me toda a gente
A nossa mesa depressa s’enchia
De malta faladora e contente

Barbosa perto... tristeza longe
O seu feitio guerreiro... destemido
Completavam a sua forte “alma”
E contagiava o mais encolhido

Como é lógico... muitas conversas
Versavam o tema da guerra
As grandes operações e combates
O sangue derramado na terra

Os golpes de mão e emboscadas
Os acidentes graves conhecidos
O “25 de Abril”...
Enfim... os mortos e os feridos

“- Manga de ronco!... Compr’uma coisa?”
Era o pregão local dos artesãos
Pululantes... insistentes... chatos!
Até qu’o Barbosa fechava as mãos

Quis Deus que “partisses” mais cedo, amigo... irmão
Quantas saudades deixaste dessa tua energia
Da tua dinâmica... do teu empolgar pela acção
Do teu espírito de aventura... do teu riso... da tua alegria...

Era assim o Barbosa... que saudade!

Um abraço Amigo para todos vós, e um abração em especial para o Amílcar Medndes, do Piriquito de Mansoa - Magalhães Ribeiro

Anónimo disse...

Peço imensa desculpa mas devido a engano meu no "past", a mensagenm anterior saiu incompleta, agora sim aqui está, como deve ser:

Queria aqui aproveitar a oportunidade para mandar um ABRAÇO AMIGO a todos os "MAMA SUME" da 38ª, e homenagear a memória daquele que me tratava como um irmão e que infelizmente já "partiu" do nosso meio.

O seu nome Manuel Moreira Barbosa, era 1º Cabo desta famosa e sacrificada companhia e um belo dediquei-lhe o seguinte poema:

Um “COMANDO” da 38ª

Era a minha “sombra” nas deslocações a Bissau
O meu “guarda costas” preferido!... O número um!
Eu conhecia-o bem e sabia!... Que se necessário!...
Dava a vida pelo amigo!... Como mais nenhum!

Na longínqua e bela Guiné
Mais do qu’em qualquer outro lugar
Encontrar um conterrâneo
Era o rei dos motivos p’ra festejar

Para nós... do Porto e Lisboa
Como éramos a maioria
Amíude os encontros se davam
Sempre com renovada alegria

Quando chegamos a Mansôa
Na recepção a nós os «periquitos»
Alguns “velhinhos” perguntavam
No meio daqueles “pios” esquisitos

- Quais são os “periquitos” do Porto?…
Duas coisas tendes que fazer…
Pagar uma bebedeira mestra...
E contar as novidades... que houver!

Fomos então p’rá cantina beber
E, conversar entusiasmados
Nós, do Porto... do presente... de Abril
Eles... dos “momentos” ali passados

Dias depois estes partiram
O seu tempo de guerra... findara
Foram estes os primeiros amigos
Com que a Guiné me brindara

Um dia o Comandante disse-me:
- O vagomestre está muito doente...
Você vai substitui-lo como souber...
Vai alimentar toda esta gente…

Se mais proveito não lhe fizer…
Vai muitas vezes a Bissau… passear…
É um privilégio raríssimo…
Espero que não vá regatear!

Eu... um Operações Especiais?
Ouço, obedeço e não discuto!
Serei o Rei do desenrascanço?
Se calhar!... avancei pois resoluto!

No dia seguinte... surgiram-me ali
Num jipe... três “Comandos” sedentos
Da 38ª Companhia
Risonhos, amigáveis e... barulhento

Eram do Regimento de Comandos
Sito na estrada p’ra Bissau, em Brá
A cerca de quarenta quilómetros
Que me convidaram a visitá-los… lá

Mas entre eles estava um Cabo
De seu nome Moreira Barbosa
Que ao saber qu’éramos patrícios
Exigiu comemoração honrosa

Bebemos então e conversamos
Ali cimentamos forte amizade
Daquele tipo hoje muito raro
Com raízes par’à eternidade

Ora... sempre qu’eu tinha d’ir à capital
Entrava nos “Comandos” a correr
- Ó Barbosa queres vir comigo?...
“Perguntai ao cego s’ele quer ver “

Provocavam enorme alarido
As viagens e as petiscadas
No “Portugal”, no “Ronda”, etc.
Estórias, anedotas... gargalhadas

Ele conhecia metade do pessoal
Apresentava-me toda a gente
A nossa mesa depressa s’enchia
De malta faladora e contente

Barbosa perto... tristeza longe
O seu feitio guerreiro... destemido
Completavam a sua forte “alma”
E contagiava o mais encolhido

Como é lógico... muitas conversas
Versavam o tema da guerra
As grandes operações e combates
O sangue derramado na terra

Os golpes de mão e emboscadas
Os acidentes graves conhecidos
O “25 de Abril”...
Enfim... os mortos e os feridos

“- Manga de ronco!... Compr’uma coisa?”
Era o pregão local dos artesãos
Pululantes... insistentes... chatos!
Até qu’o Barbosa fechava as mãos

Quis Deus que “partisses” mais cedo, amigo... irmão
Quantas saudades deixaste dessa tua energia
Da tua dinâmica... do teu empolgar pela acção
Do teu espírito de aventura... do teu riso... da tua alegria...

Era assim o Barbosa... que saudade!

Um abraço Amigo para todos vós, e um abração em especial para o Amílcar Mendes, do Piriquito de Mansoa - Magalhães Ribeiro