sexta-feira, 24 de abril de 2009

Guiné 63/74 - P4241: Os Anos da Guerra de C. Matos Gomes e A. Afonso (1): Uma visão redutora do inferno de Gandembel (Alberto Branquinho)

1. Mensagem, de 23 do corrente, do nosso camarada Alberto Branquinho, colaborador assíduo deste blogue, membro da nossa Tabanca Grande, jurista, autor de Cambança (2005) (*), ex-Al Mil, CART 1689 (Fá, Catió, Cabedu, Gandembel, Canquelifá, 1967/69):


Caro Editor, camarada Carlos Vinhal

O texto que a seguir envio é uma reacção "a quente". Aí vai, antes que decida rasgar.

Um abraço
Alberto Branquinho
CART 1689



REFERÊNCIAS AVULSAS QUE PODEM CONSTRUIR IMAGENS REDUTORAS

Lendo o nº. 9 (ano de 1968) do livro "Os anos da guerra" de [Carlos] Matos Gomes e Aniceto Afonso, vendido em 22 de Abril com o Correio da Manhã, GANDEMBEL merece-lhes referência a pág. 9 e 45 por:

- ter sofrido flagelações com canhões sem recuo, metralhadoras pesadas, LGF e morteiros ENTRE 14 e 20 DE MAIO DE 1968.

PERGUNTO:
- E entre 7 de Abril (data do início da construção de Gandembel) (**) e 14 de Maio ? E depois de 20 de Maio ?

Ficaram, portanto, todos a saber que antes de 14 de Maio e depois de 20 de Maio foi só PAZ E SOSSEGO ! (apesar de os ataques se verificarem várias vezes em alguns dias).
Como a minha CART 1689 saiu de Gandembel em 15 de Maio, não vou acreditar, pelo que sofremos, que esse sofrimento tenha cessado em 14 de Maio. Aliás há notícias de todos esses meses, até ao seu abandono, neste mesmo blogue.

Mas, ATENÇÃO:

- Sempre houve MAIS UM ATAQUE - está na página 72, como legenda de uma gravura. Foi no dia 23 de Agosto E SÓ NESSE DIA. Não há mais (no livro).

E falam, também, na detecção de minas entre Aldeia Formosa e Gandembel em 22 de Agosto. E numa emboscada!!

Horrível !! Pensarão os leigos que lerem. Que dois dias horriveis !...Quando, afinal, foi assim durante tanto tempo !

Além desta emboscada é também referida uma outra (vá lá, já são duas !), com vários fornilhos, entre Guileje e Gandembel. Com vários mortos, incluindo um oficial. Foi em 5 de Junho (v. pág.51).

PERGUNTO:
- E as outras emboscadas (tantas!) com fornilhos e vários mortos e feridos, incluindo uma em 15 de Maio, entre Aldeia Formosa e Gandembel (bem perto!), em que, também, morreu um oficial ? E tantas, tantas outras, porque, como é óbvio, era necessário abastecer Gandembel e "eles" não queriam deixar abastecer.

Melhor teria sido não fazerem estas referências AVULSAS (sem dizerem que são meros exemplos), pois elas transmitem uma IMAGEM REDUTORA da realidade que se viveu a quem não está informado e que, por vezes, tem que informar outros. Como foi o caso do jornalista da "Visão". Que se viveu em Gandembel e em outros lugares de guerra.

Alberto Branquinho
CART 1689
_______________

Notas de L.G.:

(*) Referência encontrada em Richard C. Ramer Old & Rare Books> RECENT PORTUGUESE PUBLICATIONS BULLETIN 54 December 2006 PART XVIII: Fiction

(...) 204. BRANQUINHO, Alberto. Cambança: passagens da morte e da vida em maré baixa. Lisbon: SeteCaminhos, 2005. 8°, orig. illus. wrps. ISBN: 972-602-066-3. $20.00

Short stories based on the author's experiences fighting the colonial wars in Guiné. The author, a lawyer born in 1944, has published Pre/texto (1973) and Sobre/vivências (2004).

**) Vd., entre outros postes, os da série Construtores de Gandembel/Balana:

26 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2688: Construtores de Gandembel/Balana (1): Op Bola de Bogo, em que participou a CART 1689, a engenharia e outros (Alberto Branquinho)

26 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2689: Construtores de Gandembel / Balana (2): O papel da CART 1689 (8 de Abril a 15 de Maio de 1968) (Idálio Reis)

28 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2692: Construtores de Gandembel / Balana (3): Nunca falei em protagonismo pessoal, mas sim da CART 1689 (Alberto Branquinho)

29 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2700: Construtores de Gandembel / Balana (4): Estive lá 120 dias, com o meu Pel Caç Nat 55, até ao fim (Hugo Guerra)

1 de Abril de 2008 > Guíné 63/74 - P2708: Construtores de Gandembel / Balana (5): Ponte Balana não era dos piores sítios do Tombali... (Idálio Reis)

[Por lapso, a numeração dos postes desta sértie passou do 5 para o 7]

3 de Abril de 2008 >Guiné 63/74 - P2715: Construtores de Gandembel / Balana (7): As minhas andanças com o Pel Caç Nat 55, no tempo da CCAÇ 2317 (Hugo Guerra)

8 de Abril de 2008 >Guiné 63/74 - P2735: Construtores de Gandembel / Balana (8): Vamos reconstruir as plantas dos aquartelamentos (Nuno Rubim)

7 comentários:

Luís Graça disse...

Meu caro Alberto:

Como eu compreendo a tua reacção, a quente, às parcas e redutoras referências a Gandembel, à tua Gandembel, no volume nº 9 (1968: Continuar o regime e o império) do livro 'Os Anos da Guerra Colonial', de Carlos Matos Gomes e Aniceto Afonso, que está a sair, às quartas-feiras, com o Correio da Manhã...

Temos dado, no nosso blogue, o devido destaque a Gandembel / Balana, aos seus construtores (como tu) e aos defensores, os homens-toupeira (como o Idálio Reis): construído de raíz e defendido em menos de 9 meses, foi um autêntico inferno, palco de uma gesta heróica que na América, como eu já escrevi, já teria dado um grande filme: mais de três centenas e meia de ataques e flagelações, muitos mortos e feridos, muito sangue, suor e lágrimas, e sobretudo um verdadeiro suplício de Sísifo... Ainda antes da criança (Gandembel / Balana) ter completado nove meses de vida, o Spínola chegou lá e mandou desmontar a tenda do circo... A sua ideia de manobra não tinha nada a ver com a do patrão anterior (o Schultz)... E na tropa quem se lixa é sempre o mexilhão...

Eu não reajo tão emocionalmente (sou um pouco como os dinossauros, que dizem eram de sangue frio...) mas também tive a mesma percepção que tu, que os autores (de resto, homens e militares estimáveis, e ainda para mais sendo o Carlos Matos Gomes um homem que conheceu bem o CTIG) estavam, involuntariamente (creio eu), a desvalorizar Gandembel...

Mais uma vez, Alberto, alguém tinha que incendiar o capim e chamar os bombeiros... Mas é para isso que o nosso blogue serve...

Percebi logo que havia ali alguma 'ligeireza' ou 'superficialidade' no tratamento do dossiê Gandembel... Mas por outro lado, também achei que isso era quase inevitável, até pelo formato e pelo público-alvo da obra (que é enciclopédica, abarca as três frentes de guerra, e o período vastíssimo de 1961 a 1974)... É uma obra para o grande público, compreensiva, didáctica, mas de síntese, em que os pormenores acabam por ser sacrificados ao enquadramento geral...

Daí também que tenha admitido logo a possível, epidérmica, legítima, saudável e louvável reacção da nossa rapaziada... Não é que tenhamos os nervos à flor da pele, temos é um conhecimento profundo das matérias, ou pelo menos de algumas matérias relacionadas com a guerra da Guiné, pela simples razão de lá termos bebido a água de todos os rios e bolanhas...

E de Gandembel quem sabe, de cátedra, és tu, é o Idálio Reis, é o Almeida (o homem que deu a voz ao Hino de Gandembel), é o Zé Teixeira, é o Hugo Guerra e mais alguns camaradas, de 1968,que por lá passaram, lá penaramm, lá combateram, lá soferam, lá desesperarm... Mas também os nossos leitores que têm no blogue um já vasto e riquíssimo dossiê sobre Gandembel / Balana...

Daqui vai o meu abraço solidário, para ti, para o Idálio, para eles todos. Luís

Anónimo disse...

Caro Alberto,

Parabéns!

Para ti e para a Tabanca.

Parece que o mito dos iluminados, que se encantam com as luzes da ribalta. Os que com o estatuto de altos vultos da Guerra, se vão estatelando ao comprido na lama das bolanhas da escrita e da informação. Está realmente a acordar a malta, para o: (O militar/político) contador de estórias.
Há muita coisa por aí, que é melhor não ouvir-mos, pois o que esses Senhores dizem, é que está (Corretamente/Politicamente/Militarmente/Correcto).

Feliz a hora em que resolveste enviar o teu escrito, é que sinto agora, mais alguém com a coragem de denunciar as umbilicais posturas.

Obrigado Alberto Branquinho.

Aí vai um abraço do tamanho do A340

Mário Fitas

Colaço disse...

Estatelam-se porque querem, no caso do Alberto Branquinho possivelmente devem-se basear em arquivos, que deixam sempre muito a desejar.
Já no meu caso quando põem o congresso do PAIGC na mata do Cassaca Ilha do Como em plena operação tridente, deve ser aquela de escrever sem ter o cuidado de rever, pois estão a escrever para um universo de leitores e alguns viveram esses dias.
Tema debatido e esclarecido P4122.
Mas os autores tal como o general Bruno fogem com o rabo á seringa, ou a mão á palmatória e não dão [cavaco] aos bloguistas.
Um alfa bravo Colaço

Anónimo disse...

Amigos e Camaradas

Estou de acordo com o que refere o Luís Graça, a obra que está a sair à 4ª feira é um resumo cronológico das 3 frentes de batalha e não só, o que é muito bom, pois dá pistas ao leitor interessado para poder investigar sobre os acontecimentos, lançando mão a outras obras e não poderia ser de outra maneira.
Portanto, não se trata de uma posição redutora dos acontecimentos, por parte dos autores, embora compreenda a posição do Branquinho, pois gostaria que fosse dado mais relevo ao "chão" onde sofreu bastante, Gandembel, mas o objectivo dos autores e da obra não é dar a conhecer em pormenor o que se passou nos diferentes campos de batalha, pois se assim fosse, teriam de escrever milhares e milhares de páginas e tenho dúvidas que tivessem tempo e capacidade para recolher o acervo de informação existente para esse efeito.
Relativamente ao lapso de Cassacá, errar é humano, o que o Colaço compreende perfeitamente.
No entanto, aqui deixo a informação que obtive pessoalmente do Cor Matos Gomes que vai publicar uma corrigenda sobre os lapsos que vão detectando, incluindo o caso da localização do Congresso de Cassacá.
Um grande abraço amigo
Carlos Silva

Anónimo disse...

Carissimo Carlos Silva

Houve Guerras e guerras !
Tivessem, ao menos, escrito que aquela GUERRA começou no dia X e só acabou no dia Y (cerca de DEZ, DEZ MESES) sendo atacados VÁRIAS VEZES em cada dia e não darem nenhuns exemplos de COISA NENHUMA.
Estou-me ABSOLUTAMENTE borrifando para o demérito militarmente estratégico da decisão de quem mandou construir aquele quartel, como, aliás para todas as questões estritamente militares.
TUDO MENOS O MENOSPREZO DO SOFRIMENTO ALHEIO !!!

Alberto Branquinho

Anónimo disse...

Alberto Branquinho,

A nossa Manutenção vai-me mantendo as asas em pleno!

Que me desculpem todos os que moram nesta Tabanca!

Camões dizia: "Vã glória de mandar" como não chegam lá, ficam-se pela "Fraca maneira de estoriarem".

"Queimado já estou, de tição não passo".

Resta-me rezistir como o velho sobreiro da Planicie.

Força Amigo! Verdade é verdade!

Do Cumbijã do A340 do tamanho que abrace o mundo, a redundância do abraço,

Mário Fitas

Colaço disse...

O mundo é pequeno e o nosso blogue... é grande.
No P4122 agradeci ao Carlos Silva os esclarecimentos prestados.
Ao ler o comentário do Carlos Silva ao P4241 renovo-lhe os agradecimentos extensivos aos coronéis C. Matos Gomes e Aniceto Afonso, pela informação que vão corrigir o lapso do local congresso do PAIGC [Cassacá]1964.
Aquela gralha é uma ofensa não a mim mas a todas as tropas envolvidas na operação tridente, desde o exército, marinha e força aérea.
Cumprimentos Colaço