terça-feira, 10 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5248: O cruzeiro das nossas vidas (14): Queremos o Uíge (António Dias)

1. Mensagem de António Dias*, ex-Alf Mil da CCAÇ 2406/BCAÇ 2852 (Tigres do Olossato e Saltinho), 1968/70, com data de 8 de Novembro de 2009:

Cumprimento toda a vasta tertúlia.
A grande maioria de nós viajou para as Áfricas de barco.
Durante 2 anos (menos os 2 meses de férias) ouvi os meus camaradas soldados (a sonhar/dormir) - "QUERO O UÍGE"! Em especial nos destacamentos pois era ali que estava mais perto deles naquelas noites tropicais.

Ainda tenho o folheto da "Última Ceia" no Uíge a caminho da Guiné para os que viajaram em 1.ª classe, gostarei de partilhar com aquele pessoal.

O meu companheiro de termas Henrique Matos, alferes que precedeu o Beja Santos, também achou que seria de interesse para o blogue, assim haja espaço.

António Dias,
ex-Alf Mil
Tigres do Olossato e Saltinho
19688/70




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__________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 5 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4783: Tabanca Grande (169): António Dias, ex-Alf Mil da CCAÇ 2406/BCAÇ 2852, Olossato e Saltinho (1968/70)

Vd. último poste da série de 15 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3894: O cruzeiro das nossas vidas (13): S.O.S., fogo a bordo do Carvalho Araújo (Luís F. Moreira)

5 comentários:

mario gualter rodrigues pinto disse...

Camaradas


Tenham pudor! lembrem-se que os nossos camaradas Soldados viajavam nos porões e sem as minimas condições humanas.

Um abraço

Mário Pinto

Jorge Narciso disse...

Ola Antonio

Não tem este o fim de comentar o teu post (eu até nem fui nem vim de barco, pois era da FAP), antes e verificando que terás estado no Saltinho por 69/70, procurar uma eventual ajuda tua para precisar na memória um facto lamentavel, que muito me marcou e do qual não fiquei com registo preciso.
Eu fui mecanico da linha da frente dos helicopteros (exactamente entre Abr. 69 e Dez.70) e muitas vezes fui ao Saltinho (cruzamo-nos concerteza), nomeadamente na época das chuvas, para proceder a abastecimento de viveres.
Aliás, ali "festejei" os meus 20 anos, facto que, denunciado pelo piloto "nos obrigou" a só dali sair depois dum copo (penso que de espumoso).
Com essas diversas viagens estabeleceram-se alguns laços de amizade, nomeadamente com um sargento (de quem não me recordo o nome) que é, esse sim, o motivo deste comentário.
Sei que numa determinada altura foi substituida a guarnição do Saltinho(fim de comissão ?), mas que o citado sargento, por ser de rendição individual, ali permaneceu com a nova guarnição.
Um dia (que também não consigo precisar) parti numa evacuação para o Saltinho (que diga-se não era habitual) e qual não foi a minha surpresa (e choque) quando verifico que ela se destinava exactamente ao citado sargento. Explicaram-nos rapidamente, ter sido ele atingido pela gravilha projectada pelo escape do canhão sem recuo, montado num dos muros do aquartelamento, que tinha sido extemporaneamente disparado por terceiro, num tiro de experiencia e demonstração.
Foi, talvez, a evacuação mais penosa das incontaveis que realizei na Guine.
Desde logo pelo seu gravissimo estado fisico (completamente crivado), pelo emocional, com a sua lucida compreensão desse mesmo estado, finalmente porque era alguem com quem mantinha uma relação diria de quase amizade, o que exponencia largamente o nossas próprias emoções.
Desembarcado, com as palavras de encorajamento possiveis, procurei num dos dias seguintes visitá-lo, tendo-me sido informado que tinha sido imediatamente evacuado para Lisboa.
Tendo mantido o interesse , soube muito mais tarde que não tinha resistido aos ferimentos, vindo a falecer.

Recordas ou de alguma forma riveste algum contacto testemunhal com este caso ?

Um abraço

Jorge narciso

Luís Graça disse...

Acabo de mandar o seguinte mail ao Humberto Reis (CCAÇ 12, Bambadinca, Julho de 1969/Março de 1971), com conhecimento do Paulo Santiago (Saltinho, 1970/72):

"Humberto:

"Deves lembrar-te, seguramente, deste sorja, que era de armas pesadas e esteve connosco em Bambadinca, creio que ainda em 1969... Perderia mais tarde a vida no Saltinho, ao que se dizia, no nosso tempo, devido ao "cone de fogo" do canhão s/r disparado inadvertidamente por alguém (comandante da companhia ? CCAÇ 2701, 1970/72, do Cap Carlos Clemente ?)...

Recordo-me bem de uma célebre frase que esse sargento proferia no nosso bar: "Só paro em dois lugares: uma taberna ou uma livraria"...

Do you remember ?

Talvez o Paulo Santiago se lembre do nome dele... Isto terá ocorrido em 1970, com a CCAÇ 2701 (?)... Aliás, tenho ideia de o Paulo já ter falado, aqui, no blogue, deste horrível acidente.

Um abraço. Luís

paulo santiago disse...

Caro Jorge Narciso
Vou tentar contar o episódio de
que falas, que aconteceu já depois
da saída,do Saltinho, da CCAÇ 2406,
a que pertenceu o António Dias. A
tragédia,confirmei agora a data com
um camarada,deu-se no dia 13/05/70,
quando já se encontrava naquele
quartel a CCAÇ 2701. O 2º Sarg.
Parente, o militar de que falas, não pertencia a nenhuma daquelas
companhias,era um dos graduados do
PELCAÇNAT 53,comandado naquela data
pelo AlfMil. António Mota que fui
substituir em Outubro/70.
O trágico acidente resultou de um
disparo ocasional do canhão S/R
82 B10,naquele dia instalado no
Saltinho, mais tarde foi comigo para o Reordenamento de Contabane.
Ninguém tem uma explicação cabal
para o sucedido. Havia ordens expressas para a arma estar sempre
com a culatra aberta, e sem granada
introduzida,parece que naquele dia,
havia uma granada introduzida,e a
culatra estava fechada.Como aconteceu ? Junto da arma encontravam-se vários militares, Cap. Clemente, AlfMil Julião, Sarg
Demba da Milícia,2ºSarg Parente,e
ainda mais dois ou três militares.
A arma para disparar,granada na
câmara e culatra fechada,accionava-se o armador,premia-se o gatilho,
acontecia o disparo.Diziam que
alguém tocara com o joelho no armador e dera-se o disparo...
O 2º Sarg Parente estava logo atrás
do canhão S/R, foi parar a vários
metros de distância,e tu, Jorge
Narciso,sabes como ele ía.Ficaram
também feridos o Cap. Clemente,
queimaduras numa mão e virilha, e o
Demba,queimaduras numa perna,foram
também evacuados para o HM.Como dizes,o Parente morreu passado um
mês.Já como comandante do Pel.53,
recebi uma carta da viúva,pedindo-me ajuda na resolução de um qualquer problema que agora não
recordo.
Foi um dia trágico no Saltinho.Isto
é muito dramático,o Parente tinha
recebido naquele dia,um telegrama,
via rádio,informando-o que fora pai
de uma miúda...e andara na tabanca
a comprar uns frangos para fazer um
jantar comemorativo do nascimento..
O AlfMil. Fernando Mota da CCAÇ 2701,recebeu uma carta com a notícia que o irmão fora morto com
um tiro da GF.
O Sarg Demba da Milícia foi morrer
no Quirafo em Abril/72
Será que o Parente ainda viu a filha antes de morrer?
Apesar de não o ter conhecido é-me
penoso falar desta tragédia.

Abraço
P.Santiago

PS-Fiz vários disparos com o 82 B10
nunca me aconteceu um disparo ao
armar o gatilho...

Anónimo disse...

Duas "pequenas" notas:
Pode ler-se o nome do Alferes Ant Luís Brandão, que viria a falecer como já referimos em anteriores post.
(mais uma pequena homenagem)
A segunda nota é para o Jorge Narciso. Qual é e tua data de nascimento, 12 de Agosto ? Nesse dia de 68 tenho registado a recordação de uma ida ao Saltinho com consequente exagero consumo de bebidas alcoólicas.
Abraços
Jorge Félix