FELIZ NATAL
Como eu gostava que todos os homens e mulheres tivessem um BOM NATAL!
Muito em especial os meus amigos.
Mas há tanta gente que não tem um ombro para reclinar a cabeça e receber um afecto, um carinho.
Não estou só a pensar nos ditos sem abrigo. Esses, muitos deles, já perderam a noção do sentido de Natal.
Para muitos deles, é NATAL, quando recebem um sorriso, um aperto de mão, ou uma tigela de sopa quente.
Refiro-me também a outros tipos de sem abrigo. Aqueles, e, são tantos, meu Deus!
Os que vivem na solidão de um quarto, de uma pensão, quantos deles pagos pela Segurança Social e não só. Sem uma janela para a natureza. Sem uma pessoa de família que se lembre deles, ou se se lembra é para se afastar o mais possível, porque têm peçonha. A peçonha do vício da droga ou do álcool. A peçonha de uma doença contagiante, que assusta e nada mais desde que haja o cuidado e a higiene necessários. Estes, também não tem abrigo, porque ninguém lhe dispensa um pequenino espaço do seu coração para reclinarem a cabeça.
Lembremo-nos do Menino, o Jesus de Belém, que apenas teve uma manjedoura para nascer, mas teve o carinho dos pais, o calor do bafo do burrinho e da vaquinha. E os pastores quando souberam vieram a correr transmitir-lhe o calor humano.
Aos queridos camaradas, que calcorrearam as picadas tórridas da Guiné e se unem num projecto comum de viverem a amizade, eu quero desejar um SANTO E FELIZ NATAL.
Ouso recordar-lhes que há tanta gente sem NATAL
Hino aos SEM ABRIGO
Não estou só. Vivo sozinho.
Como companheiro,
O cão do meu vizinho.
Descobriu em mim um novo amigo,
Que o afaga e lhe dá carinho.
Descarrego nele, toda a solidão,
Que me vai no coração.
Vivo aqui, além…
Tendo como companheiros
Ninguém …
Não.
Tenho o cão. Fiel companheiro
Que nunca me pede dinheiro.
O dia corre.
Tem luz, cor, alento, prazer.
Vem a noite.
Que dor.
O escuro frio. O desejo de morrer.
Só.
Tal como vivo.
Sem sentido.
A brisa fresca, que os ossos enregela
Leva-me para a soleira de uma porta.
A mim e ao cão.
Que não precisa de trela.
Cobrimo-nos.
O cão e eu.
Com a coberta azul do céu,
Que Deus teceu
Talvez de um só fio.
Mas,
De tão esburacada que está,
Deixa passar tanto frio!
Aqui ficamos nós.
Sós.
E de estômago vazio.
À espera de um novo dia.
Esperança.
Que o sol anima na sua dança.
Acorda-nos a música da vida, a renascer.
Um abrir de persianas.
Um aqui, outro acolá, mais além.
O andar apressado. Alguém.
Que passa.
Eu continuo deitado.
Não espero ninguém.
Da vida perdi o tino
Não me lembro do passado
Que futuro?
Sem destino.
Zé Teixeira
__________
Notas de CV:
José Teixeira foi 1.º Cabo Enfermeiro da CCAÇ 2381 que esteve em Buba, Quebo, Mampatá e Empada nos anos de 1968 a 1970.
Vd último poste de José Teixeira de 4 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5406: Os nossos camaradas guineenses (16): A morte do Aliu Sanda Candé (José Teixeira)
Vd. último poste da série de 20 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5506: Votos de Feliz Natal 2009 e Bom Novo Ano 2010 (14): A herança do soldado Alcobia (Jorge Cabral)
Muito em especial os meus amigos.
Mas há tanta gente que não tem um ombro para reclinar a cabeça e receber um afecto, um carinho.
Não estou só a pensar nos ditos sem abrigo. Esses, muitos deles, já perderam a noção do sentido de Natal.
Para muitos deles, é NATAL, quando recebem um sorriso, um aperto de mão, ou uma tigela de sopa quente.
Refiro-me também a outros tipos de sem abrigo. Aqueles, e, são tantos, meu Deus!
Os que vivem na solidão de um quarto, de uma pensão, quantos deles pagos pela Segurança Social e não só. Sem uma janela para a natureza. Sem uma pessoa de família que se lembre deles, ou se se lembra é para se afastar o mais possível, porque têm peçonha. A peçonha do vício da droga ou do álcool. A peçonha de uma doença contagiante, que assusta e nada mais desde que haja o cuidado e a higiene necessários. Estes, também não tem abrigo, porque ninguém lhe dispensa um pequenino espaço do seu coração para reclinarem a cabeça.
Lembremo-nos do Menino, o Jesus de Belém, que apenas teve uma manjedoura para nascer, mas teve o carinho dos pais, o calor do bafo do burrinho e da vaquinha. E os pastores quando souberam vieram a correr transmitir-lhe o calor humano.
Aos queridos camaradas, que calcorrearam as picadas tórridas da Guiné e se unem num projecto comum de viverem a amizade, eu quero desejar um SANTO E FELIZ NATAL.
Ouso recordar-lhes que há tanta gente sem NATAL
Hino aos SEM ABRIGO
Não estou só. Vivo sozinho.
Como companheiro,
O cão do meu vizinho.
Descobriu em mim um novo amigo,
Que o afaga e lhe dá carinho.
Descarrego nele, toda a solidão,
Que me vai no coração.
Vivo aqui, além…
Tendo como companheiros
Ninguém …
Não.
Tenho o cão. Fiel companheiro
Que nunca me pede dinheiro.
O dia corre.
Tem luz, cor, alento, prazer.
Vem a noite.
Que dor.
O escuro frio. O desejo de morrer.
Só.
Tal como vivo.
Sem sentido.
A brisa fresca, que os ossos enregela
Leva-me para a soleira de uma porta.
A mim e ao cão.
Que não precisa de trela.
Cobrimo-nos.
O cão e eu.
Com a coberta azul do céu,
Que Deus teceu
Talvez de um só fio.
Mas,
De tão esburacada que está,
Deixa passar tanto frio!
Aqui ficamos nós.
Sós.
E de estômago vazio.
À espera de um novo dia.
Esperança.
Que o sol anima na sua dança.
Acorda-nos a música da vida, a renascer.
Um abrir de persianas.
Um aqui, outro acolá, mais além.
O andar apressado. Alguém.
Que passa.
Eu continuo deitado.
Não espero ninguém.
Da vida perdi o tino
Não me lembro do passado
Que futuro?
Sem destino.
Zé Teixeira
__________
Notas de CV:
José Teixeira foi 1.º Cabo Enfermeiro da CCAÇ 2381 que esteve em Buba, Quebo, Mampatá e Empada nos anos de 1968 a 1970.
Vd último poste de José Teixeira de 4 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5406: Os nossos camaradas guineenses (16): A morte do Aliu Sanda Candé (José Teixeira)
Vd. último poste da série de 20 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5506: Votos de Feliz Natal 2009 e Bom Novo Ano 2010 (14): A herança do soldado Alcobia (Jorge Cabral)
9 comentários:
Meu caro José Teixeira
Hoje decididamente os votos falam de Natal, ou seja, são preocupações com os outros, com aqueles que devemos amar como Ele nos amou.
É curioso, muito mais do que curioso, repararmos que os pastores, (a classe mais "baixa" daquele tempo que viviam com os animais), são os primeiros a adorar o Menino!
Nos votos do Jorge Cabral cito o Bispo D. Manuel Martins, (não serão as palavras exactas), por isso não aqui fazê-lo, mas têm todo o sentido.
Um grande abraço camarigamente natalício, onde gostava de envolver todos os sem abrigo.
Caro José Teixeira.
As palavras nestas ocasiões são pouco importantes, para os actos que Homens como tu fazem aos seus semelhantes para lhes restituir um pouco de luz na escuridão das suas vidas.
É tudo o que de bom existe num ser humano.
Bem hajas
Parabéns pelo poema
Votos de Bom Natal
Um grande abraço
Manuel Marinho
Caro Zé Teixeira
Se eu te disser que tens inteira razão, não mentia mas, a verdade, é que não acrescentava nada nem resolvia coisa nenhuma.
Sempre tive confiança no 'futuro', sempre tive esperança (e 'certeza') que as coisas iriam modificar-se e melhorar.
Sempre investi na capacidade do Homem para construir um Mundo melhor e uma Sociedade mais justa, mais fraterna.
Tantas vezes 'previ' o que iria acontecer que até já brincava com essa minha capacidade para as premonições....
O que agora me incomoda é que não consigo 'ver' nada.
Por isso, caro amigo, mais do que te agradecer esse agitar de consciências e esse teu tão comovedor poema, é o de te prometer que, apesar de todas as minhas vicissitudes, não vou deixar-me abater pela descença que me envolve, vou continuar a esforçar-me por te secundar nessas tuas preocupações e acções.
Um abraço
Hélder S.
Caro amigo JTeixeira
Que poderei eu dizer das tristes realidades que infelizmente assolam a nossa comunidade, por mais que nos esforçamos e lutamos somente conseguimos minimizar as necessidades dos sem abrigo, é triste mas é real.
Nesta época conjugam-se alguns esforços,de gente de boa vontade, mas eles deveriam ser todo o ano e não somente nesta altura.
Hoje estive na VIDA E PAZ, na cidade Universitária, vi o esforço que ali está a ser desenvolvido pelo voluntariado a todos os níveis, Bem hajam.
Li o teu poema, é magnamio e revelador duma ternura soberba pelo próximo.
Um abraço e BOM NATAL
Mário Pinto
CARO ZÉ TEIXEIRA,
CONTINUA NESSE CAMINHO QUE TRILHASTE, DE AJUDA AO PRÓXIMO.DE FRATERNIDADE,DE SOLIDARIEDADE.
SERIAM PRECISOS MUITOS MILHARES DE ZÉS TEIXEIRAS PARA ENDIREITAR O MUNDO,MAS A PERSEVERANÇA É UMA VIRTUDE HUMANA.
CONTINUA NESSE TRAJECTO DE PROCURA DE VALORES QUE O SEMLHANTE, TANTAS VEZES DITO INSIGNIFICANTE,POSUI.
OBRIGADO POR SERES TÃO HUMANO. QUE BOM SERIA SE MAIS FOSSEM COMO TU.
ABRAÇO
MANUEL MAIA
Um abraço amigo do TM
Meu caro José Teixeira
Por ser Natal estamos mais expostos às tragédias que afinal acontecem todos os dias. Também nós ficávamos fragilizados no Natal e como eu, ouve quem lá passasse três.
No entanto tua falas do Natal dos sós, dos marginalizados, dos que tudo perderam.
Hoje vi uma documentário sobre os abandonos de velhos e não só, nos hospitais. A família deixa simplesmente de os ir buscar, quando eles já têm alta.
A rejeição será talvez a pior dor que um ser humano pode ter.
Tua dás um bocado de ti, sofres com eles, fá-los sentirem-se gente.
No seu canto da rua, no seu quarto miserável sentirão de certo algum conforto com as palavras, que juntarás aos alimentos.
Um Mundo sem excluidos, será mais justo, mais perfeito e tu estás na primeira linha desse combate.
Obrigado Zé, todos te devemos mais qualquer coisa.
Um abraço
Juvenal Amado
Caro Amigo
É isso aí.
Tal e qual.
Felizmente que ainda há uns "Teixeiras", que mostrando-se também no Natal, praticam o espírito natalício, durante 12 meses, incluindo o período que vai de Janeiro a Novembro.
Continuemos, porque a tarefa é árdua e a estrada é longa.
Já não vais encontrar o senhor Alcobia, mas não faltam candidatos aos lugares deixados vagos pelos "Alcobias" desta terra.
Esta terra que tem uma "Constituição", que serve os "Alcobias" com aos mesmos artigos que serve os Gestores do BdP, CGD, BCP, BES, EDP, PT e tantos outros, tantos outros...
Um Grande Abraço
Bom Natal, Bom Ano, Bom Trabalho.
Manuel Amaro
Caro "Fermero Tissera"
Mais uma vez...um grande abraço amigo.
Jorge Picado
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