DIA DA MÃE
1. Mensagem de José Carlos Neves* (ex-Soldado Radiotelegrafista do STM, Cufar, 1974), com data de 1 de Maio de 2010:
Para as mães que infelizmente não voltaram a ver os seus filhos depois destes partirem para a Guiné, dedico-lhes um poema de Fernando Pessoa. Muito antes da nossa Guerra já outras aconteceram.
Uma saudade muito grande para todos os camaradas que por lá encontraram o seu fim!
José Carlos Neves
O menino da sua mãe
No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado-
Duas, de lado a lado-,
Jaz morto, e arrefece.
Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.
Tão jovem! Que jovem era!
(agora que idade tem?)
Filho unico, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
«O menino de sua mãe.»
Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lhe a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.
De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço… deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.
Lá longe, em casa, há a prece:
“Que volte cedo, e bem!”
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto e apodrece
O menino da sua mãe
Fernando Pessoa
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(*) Vc. último poste da série de 29 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5374: As nossas mulheres (13): Homenagem à D. Teresa, nossa leitora e funcionária na Biblioteca da Liga dos Combatentes (José Martins)
5 comentários:
É muito lindo este poema, para Neves, ao lê-lo passa na nossa mente um filme que mostra tudo isto, fiquei emocionado.
Um abraço, as Mães não deviam morrer.
Onde digo para Neves, quero dizer parabens Neves, aqui fica a rectificação.
Neste país de soldados, quer qeiramos ou não, houve mulheres que fizeram várias guerras.
Em 1916, com 8 anos de idade, a minha mãe viu partir o pai para a I Grande Guerra, de onde voltou incapacitado para o serviço militar, de que resultou a reforma antecipada. Nessa leva tambem ia um tio.
Dois anos depois, o avô tambem foi mobilizado para ir para Moçambique, apesar de já ter 50 anos, Valeu passar à reserva.
Quando tinha 57 anos, cerca de 50 anos mais tarde, vê partir um filho, eu, para a Guiné.
Efectivamente neste país tambem houve sempre MULHERES-SOLDADO.
Obrigado José Neves!
A grandiosidade de um país veio aqui com uma simplicidade atrós!
Fernando Pessoa! O poeta!
A Grande Mulher! A Mãe!
Quem me recuperou corpo sem balas, mente destroçada?
Precisamente! Há vinte anos aqui, naquele quarto em frente:
_Filho dá-me a mão! Apertou. Reclinou a cabeça sobre o meu ombro e partiu...
Sempre grata a recordação da Mãe!
Obrigado!
O velho abraço, mas hoje do tamanho das Grandes Mães deste pequenino Portugal.
Mário Fitas
Obrigado, Neves, por teres lembrado este poema.
Mãe… A palavra mais bela da língua portuguesa, é singela, doce, meiga, acariciadora, envolvente, como só o amor de mãe sabe ser, sem querer nada de troca…já fez dois anos que perdi a minha querida Mãe.
Quantos rosários sem fim a minha Mãe rezou, com que devoção e preces Invocou à Virgem Nossa Senhora, ao colocar velas a iluminar o Seu altar, para que intercedesse junto de Deus, para que o seu filho regressasse são e salvo do Ultramar? Sacrifícios sem fim…
Um Bem-Haja a todas as MÃES.
Um abraço
José Corceiro
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