Guiné > Zona Leste > Sector L1 (Bambadinca) > CCS/ BCAÇ 2852 (1968/70) > Destacamento de Nhabijões (?) > Assistência médica à população do reordenamento de Nhabijões (?), maioritariamente de etnia balanta (e com "parentes no mato"). Como se vê, a consulta médica era muito pouco privada... Além disso, o médico tinha que utilizar os serviços de um intérprete.
Na foto, vemos quatro oficiais, só um dos quais é do Quadro Permanente (o Major Op Inf Herberto Alfredo do Amaral Sampaio); os restantes oficiais são milicianos, o Alf Mil Cav J. L. Vacas de Carvalho (de calções, sentado), comandante do Pel Rec Daimler 2206 (que tinha chegado ao Sector em Jan/Fev de 1970, e que é membro do nosso blogue); o Alf Mil Médico Joaquim Vidal Sampaio (que ficou retido um dia no mato, connosco, CCAÇ 12 e Pel Caç Nat 52, na Op Tigre Vadio, em Março de 1970), e ainda um outro Alf Mil, de pé, de camuflado, que não identifico (*).
O BART 2917, que veio render o BCAÇ 2852, em Maio de 1970, tinha 2 capitães de artilharia, do QP, à frente das suas unidades de quadrícula: Victor Manuel Amaro dos Santos (CART 2715, Xime); José Manuel Silva Agordela (CART 2714, Mansambo); e um Cap Art Mil, Francisco Manuel Espinha Almeida (CART 2716, Xitole)... O Cap Art Passos Marques também chegou a comandar uma companhia de combate, a CART 2715 (depois do Victor M. Amaro dos Santos e do Alf Mil Art José Fernando de Andrade Rodrigues; ainda teve mais dois comandantes, oriundos da arma de Infantaria, a seguir ao Passos Marques: Cap Inf Artur Bernardino Fontes Monteiro e Cap Inf José Domingos Ferros de Azevedo.
Em termos de idades, as diferenças eram notórias: em geral, os médicos milicianos eram mais velhos meia dúzia de anos (em relação aos restantes alferes milicianos), por razões óbvias: só eram mobilizados de terminar o curso de medicina (muitos deles tinham ainda pouca experiência clínica...). E os capitães do QP, comandantes de companhias de combate, rondavam, em média, os 30 anos, segundo o estudo do Cor Art Ref Morais da Silva que estamos a publicar. Neste período, em que eu estive em Bambadinca (CCAÇ 12, 1969/71), a amplitude da idade dos capitães do QP era grande, podendo ir dos 24 (idade mínima) aos 43 (idade máxima) (dados referentes em 1969).
O meu capitão, da arma de Infantaria, por exemplo, tinha 37/38 anos, o dobro da idade de alguns dos nossos soldados africanos (tínhamos homens com 16!), e já tinha feito duas comissões no Ultramar... O 'stock' de capitães, saídos da Academia Militar, estava prestes a esgotar-se... (LG)
Fotos: © Arlindo T. Roda (2010). Direitos reservados
Publicação da 6ª (e penúltima) parte do estudo do Cor Art Ref António Carlos Morais da Silva, professor do ensino superior universitário, antigo docente da Academia Militar, do Instituto Superior de Gestão e da Universidade Autónoma de Lisboa. O autor é especialista em Investigação Operacional. Também passou pelo TO da Guiné como oficial do QP.
O Morais da Silva teve a gentileza de facultar ao nosso blogue, em pdf e em word, um exemplar do seu estudo, de 33 pp., sobre a "Guerra de África - O QP e o Comando das Companhias de Combate" (2ª versão Maio de 2010). A 1ª versão (Março de 2010), de 30 pp., circulou internamente, na nossa Tabanca Grande, através da nossa rede de emails.
Este estudo chega agora a um público mais vasto, através do nosso blogue (**).
A existência de um elevado número de gráficos e quadros obrigou-nos a digitalizar todo o relatório , sob a forma de imagens, por partes. Esta é a Vi parte, correspondente às pp. 30-33 da 2ª versão (Maio de 2010).
Por sua vez, o nosso camarada Jorge Canhão (ex-Fur Mil da 3ª Companhia do BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1972/74) encarregou-se da morosa tarefa da digitalização do relatório, folha a folha. Aqui fica a expressão do nosso agradecimento público, pelo empenho e pela competência com que levou a cabo a digitalização do documento.
Entre Março (1ª versão) e Maio de 2010 (2ª versão) o autor conseguiu identificar os comandantes de duas companhias de combate, pelo que os quadros e gráficos foram revistos e actualizados... Até à página 29, no entanto, só usámos os elementos constantes da 1ª versão. Mas as diferenças são mínimas, não afectando as conclusões.
Na 2ª versão o autor acrescentou a 13ª secção - Estrutura etária dos capitães do QP à data da mobilização. Passamos agora a ter um universo de 1370 (mais dois do que na versão de Março de 2010).
O autor, em nota introdutória, agradece aos alunos-cadetes da Academia Militar que digitalizaram a lista de antiguidades de 1975, dos três ramos combatentes (Infantaria, Artilharia e Cavalaria) a partir da qual foi criada uma base de dados biográficos dos capitães do QP que comandaram companhias de combate em Angola, Guiné e Moçambique (nome, nº de identificação, data de nascimento, datas das promoções a Alfere, Tenente, Capitão e Major). A 2ª versão tem a data de 10 de Maio de 2010. Por razões práticas e técnicas, não vamos substituir os quadros e gráficos da 1ª versãio, constantes dos cinco primeiros postes desta série. A 2ª versão, aumentada e actualizada, que nos foi disponibilizada gentilmente pelo autor, em formato pdf, também irá ser distribuída por email aos cerca de 420 membros (registados) do nosso blogue.
O documento, agora publicado no nosso blogue, está divido em 14 secções, assim discriminadas:
1. Evolução dos efectivos totais nos 3 TO (referidos a 31 de Dezembro)
2. Evolução dos efectivos de reforço (metrópole) nos 3 TO (referidos a 31 de Dezembro)
3. Evolução dos efectivos de recrutamento local nos 3 TO (referidos a 31 de Dezembro)
4. Peso relativo do recrutamento local no total de efectivos nos 3 TO
5. Companhias de combate mobilizadas (reforço)
6. Companhias de combate embarcadas (fita do tempo)
7. Comandantes das companhias de combate
8. Evolução anual do efectivo de capitães comandantes de companhias de combate
9. Companhias de combate 'versus' número de comandantes de companhia
10. Efectivo anual de companhias de combate
11. Histórico dos efectivos formados na Escola do Exército (EE) e na Academia Militar (AM)
12. Evolução do 'stock' de capitães do QP
13. A idade dos capitães QP - Distribuição
14. Considerações finais
A partir de agora, com o relatório completo disponível, serão bem vindos os comentários dos leitores bem como a resposta às questões em aberto (nomeadamente a identificação dos comandantes das 21 companhias em falta, em Angola e Moçambique, listadas na página 33 do documento).
Será escusado dizer que todas as opiniões são válidas desde que fundamentadas (e, naturalmente, assinadas). Podemos criticar, com elegância e serenidade, este estudo, em relação seja à metodologia de recolha e tratamento de dados seja à interpretação dos dados e às conclusões propostas pelo autor. Só podemos criticar o que conhecemos, o que lemos, o que ouvimos, o que vimos... Críticas gratuitas não fazem sentido entre camaradas que se estimam e que querem contribuir para o melhor conhecimento do texto e do contexto da guerra colonial, com especial enfoque no TO da Guiné. Trata-se de um simples e elementar, mas até à data poucos estudiosos da guerra colonial se interessaram pela sociodemografia das Forças Armadas Portuguesas, e em especial dos seus oficiais do Quadro Permanente.
Agradecemos mais uma vez ao autor o ter confiado na seriedade e honestidade intelectual do nosso blogue para publicitar o seu estudo. Infelizmente, devido ao seu tamanho e à necessidade de garantir uma boa resolução dos seus quadros e gráficos, tivemos que o editar em seis partes.
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Notas de L.G.:
(*) O Alf Mil Méd Vidal Saraiva foi identificado por dois camaradas nossos o ex-1º Cabo Cripto Gabriel Gonçalves, da CCAÇ 12 (1969/71) e o ex-Alf Mil Cav, José Luís Vacas de Carvalho, comandante do Pel Rec Daimler 2206 (1970/71). O Zé Luis gostava de acompanhar os médicos da CCS porque "queria ir para medicina"... O Zé Luís também identificou o Major Sampaio. Quanto, ao alferes, em camuflado, era um adjunto do Major. Passou por Bambadinca, gostava de jogar à lerpa... Mas o nome varreu-se da memória do Zé Luís ("Já não me lembro do que comi ontem, quando mais do que se passou há 40 anos")... Mesmo assim foi uma grande ajuda, amigos e camaradas!
O Vidal Saraiva, de seu nome completo, Joaquim [António Pinheiro] Vidal Saraiva, nascido em 26 de Junho de 1936, trabalha (ou trabalhava, já deve estar reformado) no Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia / Espinho, EPE. Tenho o seu nº de telefone, vou ver se o contacto. Está inscrito na Ordem dos Médicos, Secção Regional do Norte, como especialista em Cirurgia Geral. (Parto do princípio que se trata da mesma pessoa, Joaquim Vidal Saraiva ou Joaquim António Pinheiro Vidal Saraiva, residente em S. Félix da Marinha, Vila Nova de Gaia... Terá hoje 73 anos)... Segundop informação do Beja Santos, o Vidal Saraiva terá vindo de Guileje, por volta de Outubro de 1969, vindo substituir o Payne.
(**) Vd. postes anteriores:
31 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6507: Estudos (1): Guerra de África - O QP e o Comando das Companhias de Combate (António Carlos Morais da Silva, Cor Art Ref) (I Parte)
6 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6541: Estudos (1): Guerra de África - O QP e o Comando das Companhias de Combate (António Carlos Morais da Silva, Cor Art Ref) (II Parte)
8 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6560: Estudos (1): Guerra de África - O QP e o Comando das Companhias de Combate (António Carlos Morais da Silva, Cor Art Ref) (III Parte)
9 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6567: Estudos (1): Guerra de África - O QP e o Comando das Companhias de Combate (António Carlos Morais da Silva, Cor Art Ref) (IV Parte)
14 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6593: Estudos (1): Guerra de África - O QP e o Comando das Companhias de Combate (António Carlos Morais da Silva, Cor Art Ref) (V Parte)
6 comentários:
Lembro-me relativamente bem do Alf Mil Med Saraiva, talvez o último médico da CCS do BCAÇ 2852 (que, aliás, teve vários, entre eles o David Payne Rodrigues Pereira, mais tarde especialista em psiquiatra").
Lembro-me dele, na Op Tigre Vadio, em Março de 1970. Ao que parece, reside ou residia, há uns anos atrás, em Vila Nova de Gaia, segundo preciosa informação do nosso camarada Humberto Reis (em 2006). Alguém é capaz de o localizar na lista telefónica ou coisa assim ? Um dia gostava de estar com ele...
Nessa operação, a uma das bases do PAIGC na região de Madina / Belel, a norte do Rio Geba, no limite do Sector L1, o Saraiva veio no helicóptero de reabastecimento com o Beja Santos, depois do ataque às instalações do IN, para prestar assistência médica aos casos mais graves de intoxicação (devido ao ataque de abelhas), de desidratação e de ferimentos por fogo do IN...
Acabou por ficar em terra uma vez o que o helicóptero, danificado (por "fogo amigo", ao que parece, na versão do Beja Santos), já não voltou... Deixou o Beja Santos no Xime e zarpou para Bissau...
O Dr. Saraiva acabou por aguentar, de pé firme, o resto do dia e toda a noite e toda a manhã, acompanhando-nos na nossa extremamente penosa (e inesquecível...) viagem de regresso, até ao aquartelamento do Enxalé. Um pesadelo, camaradas!
Onde quer que ele esteja, daqui vai um abraço para ele. Era muito raro um médico ir para o mato. O mesmo acontecendo com os furriéis enfermeiros...
Quanto ao Zé Luís Vacas de Carvalho, foi comandante, em Bambadinca, do Pelotão Daimler 2206, e lembra-se bem dele: "Estivémos com ele há 2 anos [ em 2004,] em Ferreira do Zêzere. Penso que é médico (ainda) em Gaia. Lembro-me uma vez que o Piça [, 2º sargento da CCAÇ 12,] entornou um jipe cheio de gaiatos e, como eu queria ir para medicina, estive a ajudá-lo a fazer curativos" (...).
Esta cena, com o Piça, deve ter-se passado em Fevereiro de 1971, já no final da nossa comissão, quando já esperávamos os "periquitos"... E andávamos completamente "apanhados pelo clima"...
Felizmente, não morreu nenhum puto...
Tenho ideia (talvez falsa) de que os nossos médicos passavam uns escassos meses nas CCS dos batalhões, sendo solicitados para aqui e para acolá (e nomeadamente para o HM 241, em Bissau)...
O Saraiva, por exemplo, nem sequer vem na lista dos oficiais médicos que constam da História do BCAÇ 2852... Tirando o Payne, não me lembro dos outros dois... Nem da cara nem do nome...
Aliás, tanto na paz como na guerra, é sempre mau sinal a gente lembrar-se da cara (e do nome) dos médicos...
E eu que o diga.....o Dr. Saraiva, safou-me quando estive muito doente. Por isso é que me lembro bem dele. É um excelente ser humano. Não sei se te lembras, de um filme rodado na enfermaria, de uma operação ao "corte do freio", efectuada com todos os requisitos! O nosso furriel enfermeiro, "bolha-d'água", assistiu o Dr. Saraiva nessa operação! Já não me lembro quem era o paciente, mas que foi um sucesso, lá isso foi.
Os meus parabéns por este seu trabalho, Senhor Coronel.
É pena que à chegada ao fim do seu estudo, se tenham "perdido" os autores dos comentários que li neste blogue, ardentes defensores de teses contrárias às suas e que me pereceram baseados, numa maioria das vezes, em experiências pessoais pontuais quando não de "ter ouvido dizer".
Competir-lhes-á a algum deles agora a refutação com igual detalhe e rigor do que aqui deixou explicado.
Meu Caro A. Teixeira
Não ando perdido em teses contrárias às do Sr. Coronel.
Aliás, basta ver a redução drástica do número de capitães do QP que comandaram companhias de combate, acentuado a partir de 1972, conforme os quadros expostos.
Onde é que eles estavam nesse período?
Por outro lado, o trabalho em apreço é, à evidência, uma estatística, não um estudo. Porque um estudo configura a conjugação de dados, e a análise sistematizada dos resultados em diferentes objectivos (v.g. considerar a inversão da pirâmide, quando o nº. de oficiais superiores fosse superior ao de capitães, se os resultados da guerra seriam mais ou menos vantajosos, apesar de outros factores endógenos e exógenos).
O trabalho do Sr. Coronel é, isso sim, uma ferramenta para os estudos que venham a realizar-se, e tem mérito.
Abraços fraternos
JD
A minha intenção com o meu comentário inicial limitava-se a felicitar o Senhor Coronel Morais da Silva pelo seu estudo e ficar a aguardar pela resposta de quem defende(u) tese contrária, naturalmente a começar pelo Doutor Rebocho.
Mas não posso levar a sério quem, começando por se precaver (“Não ando perdido em teses contrárias às do Sr. Coronel”), procura depois interpelar-me reduzindo tudo o que há a refutar a simplesmente uma frase (“…basta ver a redução drástica do número de capitães do QP que comandaram companhias de combate…”), complementando-a com uma pergunta gratuita (Onde é que eles estavam nesse período?).
Não está à espera de ser levado a sério quando rebate um estudo de 33 páginas com “umas bocas”, pois não, meu Caro JD?...
Sim, porque de facto se trata de um estudo e também não é sério tentar desvalorizá-lo (uma “estatística”) com requintes de retórica (“à evidência…”). Não será assim tão evidente não se tratar um estudo. O editor do blogue intitulou-o: ESTUDOS(1) Guerra de África - O QP e o Comando das Companhias de Combate… I, II, III, IV, V e VI…
Quanto a alguns aspectos do seu conteúdo, condescendo que o autor, dada a sua especialização em Investigação Operacional, talvez peque por considerar os dados que apresenta como demasiado evidentes, deixando por explicar todas as conclusões que se podem extrair dos números em mais detalhe, explicações que os visitantes do blogue certamente agradeceriam… O facto de ter sido publicado em prestações – embora acredite que não houvesse outra solução – também não terá facilitado a sua compreensão.
Mas também posso considerar que a pobreza do argumento de refutação do comentário anterior, assim tão pobre reduzido na sua essência a uma frase, se possa dever ao analfabetismo numérico de quem não sabe ler, interpretar e tirar as respectivas conclusões dos mapas que constam do estudo. Disso o autor do estudo não tem culpa… e, da minha parte, este assunto está encerrado, apenas para reabrir quando houver argumentação contrária substantiva.
Cumprimentos
AT
O Oficial não identificado na foto com o Dr. Saraiva+Alf. Vacas de Carvalho + Major Sampaio, sou eu, João António Leitão Simões Santos,natural do Cartaxo,nascido a 19/07/1948,residente no Cartaxo.Era Alf.Mil na CCS do BCAÇ 2852 e tinha a especialidade de Reconhecimento e Informação. Fui eu que fiz o levantamento topográfico e acompanhei parte da construção dos Nhabijões. Quando da vinda do BCAÇ 2852, para a Metrópole , fique no BENG 447, na Secção de Reordenamentos, fazendo serviço no BENG 447 e no QG , na Amura, coordenando o envio de materiais de construção para os reordenamentos.
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