terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Guiné 63/74 - P7482: Tabanca Grande (256): António Duarte, ex-Fur Mil, da CCAÇ 12, da 3ª geração (Bambadinca e Xime, 1973/74)


Lisboa, Belém, 10 de Junho de 2006 > 13º Encontro Nacional de Combatentes > Um das raras fotos onde se pode localizar o "arisco" António Duarte...Na primeira fila, eu, próprio, Luís Graça (CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, 1969/71), à esquerda, e a meu lado o Carlos Fortunato (CCAÇ 13, 1969/71); na segunda fila, a contar da esquerda para a direita: o Jorge Cabral (Pel Caç Nat 63, 1969/71), o António Duarte (CART 3493, Mansambo, 1971/73 e CCAÇ 12, Bambadinca e Xime, 1973/74), o Mário Dias (Comandos de Brá, 1963/66), o José Martins (CCAÇ 5, Canjadude, 1968/70), o Francisco Baldé (BCA, 1ª, 2ª e 3ª Companhia de Comandos Africanos, 1969/74) e o João Parreira (CART 730 e Comandos de Brá, 
1964/66).

Foto: © Luís Graça (2006) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados

1. Diz o Humberto Reis ter encontrado, no dia do seus anos,  um neto da CCAÇ 12, de seu nome António Duarte (*):


(...) Almocei com a família e uns amigos no Solplay em Linda a Velha, [nos arredores de Lisboa, concelho de Oeiras]. Quando estava a entrar no carro para me vir embora estacionou ao meu lado um Audi A4 e o condutor de imediato me disse: 

- Não eras da CCAÇ 12 ?

Calculem o tamanho da minha boca. Era o António Duarte, ex Fur Mil da CCAÇ 12 dos anos de 73/74. Dizia ele que já não era "meu filho" mas sim "neto" (substituto do substituto).  

Isto só é possível pela grandiosidade do que o Luís criou, o que permitiu que este nosso amigo me viesse a reconhecer. (...).

2. O Humberto já não está recordado mas o António Duarte já está connosco, na nossa tertúlia (hoje, Tabanca Grande) desde inícios de 2006 (**). Tivemos uma primeira notícia dele através do Sousa de Castro [, CART 3494, Xime e Mansambo, 1971/74] (**)

(...) Caro Sousa de Castro: Fui seu companheiro na Guiné. Fui furriel da CART 3493, tendo estado em Mansambo. Antes da companhia seguir para o sul (suponho Cobumba), fui para a CCAÇ 12 onde acabei por passar a rendição individual e regressar [à Metrópole] em Janeiro de 1974 enquanto que o BART 3873 regressou só em Abril.

Quero dar-lhe os parabéns por ser um activista das nossas recordações, quer através do blogue do Luís Graça, quer noutras paragens na Net. Afigura-se-me que nos faz bem.

Da sua companhia [CART 3494] tenho encontrado o ex-furriel Luciano, que trabalha em seguros, na CGD. Recordo também com muita saudade o Bento, que esteve comigo na especialidade em Vendas Novas. Faleceu em 22 de Abril de 1972.

Um abraço, de camarada para camarada,
António Duarte (...)


3. Na altura, eu, L.G.,  comentei o seguinte: 

O António Duarte é o primeiro graduado da CCAÇ 12, da época de 1973/74, que chega até nós. Pessoalmente, fico muito feliz, eu e os demais velhinos (se é que me é permitido falar em nome deles, o Humberto Reis, o António Levezinho, o Joaquim Fernandes, o Fernando Marques, o José Luís...) já que fomos nós a formar a CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71). Vamos ter muito que conversar, Duarte, se estiveres disposto a isso... Pelas minhas contas, ainda passaste nove meses com os nossos queridos nharros [, vocábulo de afceto, não de racismo...], entre Abril de 1973 e Janeiro de 1974... Foi isso ? Nove meses que, imagino, não terão sido fáceis...

Recorde-se que em Abril de 1973, segundo informações do Sousa de Castro, a CART 3493 foi para o sul, a companhia dele, que estava no Xime (CART 3494) foi para Mansambo, sendo substituída no Xime pela CCAÇ 12 até à data da independência. Nessa época o Xime continuou ainda a ser mais atacado. (...).


4. Dois dias depois, a 20 de Fevereiro de 2006, o António Duarte escrevia-me o seguinte (***):


(,,,) Acabei de ler a inserção do meu e-mail, bem como o comentário do Sousa de Castro, no blogue. De facto estive na CCAÇ 12 desde Janeiro de 1973, primeiro em Bambadinca e a partir de Abril no Xime, após as rotações das companhias, geradas pela transferência para Cobumba da Cart 3493 (minha unidade inicial). Regressei à metrópole em Janeiro de 1974.

Numa breve resenha e procurando arrumar os dados por ordem cronológica, diria que a vida em Mansambo [, coma CART 3493,], de Janeiro até Dezembro de 1972, foi com baixa actividade de guerra, no entanto com situações graves e desgastantes.

Accionámos três minas, que custaram três feridos com amputação de membros inferiores. A primeira em Jombocari. [, na região de Biro,] (mina antipessoal), com um ferido (1º cabo Ribeiro,  do 3º Pelotão). Salvo erro em 9 de Maio [ de 1972 ].

No dia seguinte foi accionada uma mina anticarro por um burrinho, que custou a perna a um furriel do 2º pelotão (Ferreira) e mais 2 feridos com alguma gravidade. Este incidente aconteceu aquando do regresso ao quartel da segurança à operação de capinagem, na estrada de Mansambo a Candamã/Afiá (Candamã era à época uma tabanca em autodefesa, com um pelotão de milícias e uma secção da unidade de Mansambo).

Em Agosto [ de 1972] mais uma mina antipessoal accionada em Sanguê Demba (não sei se estará bem escrito) [, está, sim senhor!, ficava entre o Rio Sanguè Bissari, a oeste, e o Rio Jago, a leste], em que ficou ferido um cabo (Silva, do  2º Pel).

Entretanto no mês de Agosto houve um ataque ao quartel sem incidentes.

Quanto ao ano de 1973,  na CCAÇ 12 a acção foi mais animada. Instalados em Bambadinca, naquilo que se classificava de hotel, fazia-se operações sobretudo na zona do Xime. Assim em 3 de Fevereiro tive a primeira emboscada na Ponta Varela,l em que participaram três grupos de combate da CCAÇ 12 em conjunto com 2 pelotões da CArt 3494 (à época aquartelada no Xime). As NT não registaram feridos mas segundo se apurou em informações recolhidas no Enxalé, o PAIGC teria tido baixas.

A 25 do mesmo mês houve uma outra emboscada numa operação na zona de Ponta Varela/Poidom e Ponta do Inglês/Ponta João da Silva, também com forças semelhantes à anterior, em que registámos 7 feridos, felizmente ligeiros. Foi praticamente toda a minha secção (Bazuca do 3º grupo de combate), que foi tocada

Por infelicidade um RPG 7 [, foto à esquerda,] rebentou ainda no ar (com era normal), apanhando o pessoal abrigado. Não participei nesta acção, pois estava em Bissau para vir gozar as minhas segundas férias na Metrópole.

Até final do do ano houve mais 3 emboscadas, tendo sido a mais grave na Ponta Coli (segurança à estrada Xime-Bambadinca) e n ataques ao quartel  [, Xime], felizmente com má pontaria, na maioria das vezes.



Salvo erro em 1 de Dezembro de 1973,  a tabanca do Xime foi atingida e registaram-se-se várias mortes [, sete, ] entre a população. Talvez o José Carlos [ Mussá Biai ] (que já tem participado no blogue e que era criança à época e vivia no Xime) se lembre.

Agora falando aos velhinhos e fundadores da CCAÇ 12, quero dar-lhes nota que o espírito da Companhia era excelente. Registo a boa convivência dos graduados, de origem portuguesa, com todos os militares, que eram na sua maioria muçulmanos.

No meu pelotão (3º), tinha dois cabos que eram uns senhores na arte da guerra. Eram o Malan Turrè (?) e o Sajá (?). Os dois foram graduados furriéis e integraram a CCAÇ 21 do Ten Jamanca, já perto do final do ano de 73. Segundo me foi dito, não tive oportunidade de confirmar, as coisas teriam sido muito feias para eles, no período pós-independência.

Aproveito para perguntar à velhice da CCAÇ 12 se ainda se recorda de alguns dos soldados e cabos da 12. Aqui vão alguns nomes:

Recordo-me do Arfan Jau (Bazuca,  do 3º Gr Comb), Braima Sané (HK 21 do 4º), Mamadu Candé, Iero Jau (3º), Malan Embaló, Mamadu Seidi, João Gerá, Bubacar Colubali, Amadu Baldé, Alfa Sané, Suleimane (Cabo do 4º,  com excesso de peso), etc. (****)
O comandante da CCAÇ 12 no início de 1972 era o Cap Bordalo, homem de grande carisma, seriedade e bravura. Era um líder. Penso que será de (ou viverá em) a  região de Lamego.

Para acabar por hoje, quero dar nota que eu serei vosso neto, pois rendi os que vos renderam. De acordo?

Da próxima vez falarei de outros temas.

Um abraço fraterno para todos,
António Duarte


5. Temos ainda outro mail dele, de 11 de Maio de 2006 (***)

Caro Luís Graça,

Sou o António Duarte, ex-furriel atirador da CART 3493 e da CCAÇ 12. Quero dizer-te que tenho uma 'nova religião', que passa por todos os dias ver o nosso blogue (peço desculpa pelo nosso, mas já o sinto como tal).

Tenho escrito muito pouco, porque o tema ainda me incomoda, mas gostava de dar duas notas [a segunda, a ser publicada noutro post, tendo a ver com a contagem do tempo para a reforma].

A primeira prende-se com o programa [da RTP 1, Órfãos de Pátria, que passou na 3ª feira]. Partilho das opiniões já expressas, traduzidas pela expressão muita parra e pouca uva. Foi pobre na forma e no conteúdo. Foi superficial e não quis ser politicamente incorrecto.

Sem querer alongar-me, gostava de apresentar um exemplo. O programa foca-se exclusivamente nos comandos africanos e, tanto quanto sei, os graduados das CCAÇ africanas, de origem local, foram também fuzilados.

Esta informação foi-me prestada por um estudante guineense, meu contemporâneo no ISEG - Instituto Superior de Economia e Gestão (ex-ISE). Referia esse jovem, que era natural de Bafatá, que grande parte dos graduados da CCAÇ 21 foram fuzilados.

Ora, para nós, ex-militares da CCAÇ 12, esta situação toca-nos profundamente, pois em 1973 esta companhia [a CCAÇ 21], que ficou em Bambadinca,  comandada pelo Ten Jamanca [ex-comando africano], foi constituída, tendo por base furriéis que eram ex-cabos da CCAÇ 12 (na época colocada no Xime).

Com a ausência de referências aos outros fuzilamentos, fica a ideia de que se tratou de uma mera perseguição aos homens dos Comandos Africanos, o que realmente não foi. Foi muito mais do que isso.

Este assunto, para ser tratado num órgão de informação como a TV, merecia mais. Deveria ter uma forte componente política, onde provavelmente os governos de Portugal iriam ser responsabilizados sobretudo pelas omissões.

O comandante da nossa Marinha ainda aflorou o assunto, mas o jornalista não pegou. Acho que mais para a frente poderemos voltar ao tema.

(...) E por hoje deixo-vos com um abraço de camaradagem,

António Duarte

6. Comentário de L.G. [, ex-Fur Mil Henriques, Ap Armas Pes Inf, CCAÇ 12, Bambandinca, Jul 69/ mar 71, foto à esquerda]:

O António Duarte (que foi furriel miliciano na CCAÇ 12 na fase final, depois de transitar da CART 3493, que esteve em Mansambo) vem lembrar que em Bambadinca (e um pouco por todo o lado), os que foram encostados ao trágico poilão por onde passávamos muitas vezes, não foram apenas os comandos africanos mas também os nossos camaradas guineenses da CCAÇ 12 (que foram constituir novas unidades, como a CCAÇ 21), e se calhar outros camaradas do  Pel Caç Nat 52, 53, 54, 63... No nosso tempo já havia ou dois três soldados arvorados por cada grupo de combate da CCAÇ 12... Mais tarde passaram a cabos e, em segunda comissão, foram promovidos a furriéis, ao que parece na CCAÇ 21, comandada pelo comando Jamanca e a que pertenceu também o Alf Comando Graduado Amadu Bailo Djaló, nosso camarigo. (Estamos, eu e o Virgínio Briote, a preparar um poste sobre a última batalha, da CCAÇ 21, na zona leste, em Canquelifá...).

Dos soldados arvorados da CAÇ 12 estou-me a lembrar do Abibo Jau, do Vitor Santos Sampaio (um dos raros que não era fula, era mancanhe, um reguila de Bissau...), o Mamadu Baló, o Alfa Baldé, o Mamadu Baldé, o Braima Bá, o Totala Baldé, o Mamadu Jau, o Sadjo Baldé, o Samba Só, o Quecuta Colubali... (****)

O único cabo era o bom do Zé Carlos Suleimane Baldé, que estudava português que se fartava para chegar a graduado (Dizes-me que terá engordado no teu tempo, ou terás a confundir com o gigante Abibo Jau ? )... O Zé Carlos fora promovido a cabo em Setembro de 1969. É provável que muitos destes homens e nossos camaradas (alguns, ainda putos, quando eu os conheci em Contuboel) tenham sido fuzilados no poidão de Bambadinca...

Esta é a parte feia, macabra e trágica da história da nossa guerra... Ainda hoje os guineenses têm dificuldade em falar disto... As testemunhas, os figurantes, os actores, os executantes, os mandantes... Se calhar todos têm medo de falar, por vergonha, culpa, cobardia ...

Nós, amigos e camaradas da Guiné, temos a obrigação de falar - com emoção, mas também com dignidade moral e elevação intelectual, com serenidade... Até para os ajudar a fazer o luto (individual, familiar, colectivo) e raparar o que ainda for possível reparar... Para o ano, em Maio de 2011, estamos a tentar reunir as três gerações de quadros e especialistas da CCAÇ 12 (1969/74), e inclusive alguns alguns camaradas guineenses, da diáspora ou mesmo a viver actualmente na Guiné-Bissau. António Duarte, por favor contacta-me!
__________

Notas de L.G.:

(**) Vd. poste de 




(****) Vd. aqui a composição orgânica da CCAÇ 12, da 1ª geração (Contuboel e Bambadinca, Junho de 1969 / Março de 1971):
Cabos e soldados arvorados do recrutamento local 
1º Gr Comb  (Alf Mil Op Esp 00928568 Francisco Magalhães Moreira
1ª Secção (s/ Furriel) + 1º Cabo 8490968 José Manuel P Quadrado (Ap dilagrama)
Soldado Arvorado 82107469 Abibo Jau (Fula) [, dado como fuzilado depois da independência, juntamente com o Ten Comando Graduado Jamanca, ambos da CCAÇ 21]
2ª Secção (Fur Mil 04757168 Joaquim João dos Santos Pina? [, natural de Silves, onde ainda hoje vive]

+ 1º Cabo 17765068 Manuel Monteiro Valente (Ap Dilagrama)

Soldado Arvorado 82106369 Vitor Santos Sampaio (Mancanhe, natural de Bissau)
3ª Secção (Fur Mil 19904168 António Manuel Martins Branquinho [, reformado da Segurança Social, Évora  ] + 1º Cabo 18998168 Abílio Soares [, morada actual desconhecida];
Soldado Arvorado 82107169 Mamadu Baló (Fula)
2º Gr Comb (Alf Mil de Inf 13002168 António Manuel Carlã[, comerciante, vive em Fão, Esposende] 
1ª secção (s/ Furriel)Soldado 18968568 Arménio Monteiro da Fonseca [, despromovido como cabo, taxista, vive no Porto]


Soldado Arvorado 82107969 Alfa Baldé  (Fula) (Ap LGFog 3,7)

2ª Secção (Fur Mil Op Esp 05293061 Humberto Simões dos Reis [, engenheiro técnico, Alfragide / Amadora] + 1º Cabo 17626068 José Marques Alves [, vive em Fânzeres, Gondomar]

Soldado Arvorado 82116569 Mamadu Baldé (Fula)
3ª Secção (Fur Mil 17207968 Antonio Eugénio S. Levezinho [, reformado da Petrogal, vive em Marinhal, Sagres, Vila do Bispo] + 1º Cabo 18880368 Manuel Alberto Faria Branco [, morada actual desconhecida]
Soldado Arvorado 82116969 Braima Bá (Fula)
3º Gr Comb (Alf Mil Inf 01006868 Abel Maria Rodrigues [, bancário reformado, Miranda do Douro]

1ª secção (Fur Mil Luciano Severo de Almeida [, margem sul do Tejo, já falecido, morte violenta]  + 1º Cabo 02920168 Carlos Alberto Alves Galvão [, vive na Covilhã]
Soldado Arvorado 82108769 Totala Baldé (Fula)
2ª Secção (Fur Mil 07098068 Arlindo Teixeira Roda [, natural de Pousos, Leiria; professor em Setúbal] + 

1º Cabo 17625368 António Braga Rodrigues Mateus [, morada actual desconhecida]
Soldado Arvorado 82108369 Mamadú Jau (Ap Dilagrama) (Fula)
3ª secção Fur Mil 06559968 José Luís Vieira de Sousa [, natural do Funchal, agente de seguros] + 

1º Cabo 12356668 José Jerónimo Lourenço Alves [, morada actual desconhecida];

Soldado Arvorado 82108469 Sajo Baldé (Ap Metr Lig HK 21) (Fula)
4º Gr Comb (Alf Mil Cav 10548668 José António G. Rodrigues [, Lisboa, já falecido, por doença]
1ª secção (Fur Mil 15265768 Joaquim Augusto Matos Fernandes [, engenheiro ténico, vive no Barreiro]+ 1º Cabo 18861568 Luciano Pereira da Silva [, morada actual desconhecida];
Soldado Arvorado 82115469 Samba Só (Fula)
2ª secção (Fur Mil 11941567 António Fernando R. Marques [, vive em Cascais, empresário,  reformado] + 1º Cabo 17714968 António Pinto [, morada actual desconhecida];
1º Cabo 82115569 José Carlos Suleimane Baldé (Fula) [, vive em Amedalai, Xime, Guiné-Bissau]
Soldado Arvorado 82118369 Quecuta Colubali (Fula)
3ª secção (s/ furriel) + 1º Cabo 00520869 Virgilio S. A. Encarnação [, vive em Barcarena]:
Soldado Arvorado (?) 82116069 Sajuma Jaló (Ap LGFog 8,9) (Futa-Fula)

6 comentários:

Anónimo disse...

Bom dia!
Senhores, como sou assíduo leitor do vosso blogue, gostaria que me fosse esclarecido a expressão "soldado arvorado". Fiquei intrigado com esta expressão e estou tentando compreende-la melhor.Abraços.
Cassiano Reginatto
Porto Alegre-RS-Brasil

Luís Graça disse...

"Arvorado" é alguém que é elevado, provisoriamente a um cargo, posto ou função, não possuindo embora todos os requisitos ou condições (legais, profissionais, de antiguidade, etc.) para assumir, desempenhar ou exercer esse cargo ou posto, "de jure" e "de facto"...

No exército colonial português, o soldado arvorado exercia, com restrições, o posto seghuinte da hierarquia militar, o de 1º cabo, mas não usufruía das regalias a que tinha direito um cabo (pré, divisas, saudação...). era assim uma espécie de 2ª cabo.

Na Guiné, os soldados arvorados eram do recrutamento local, tendo sido escolhidos, após a instrução, para passaram ao posto seguinte (1ºs cabos), pelas suas qualidades humanas e militares. Mas deviam antes fazer, nas escolas militares, o exame da 4ª classe (=saber ler e escrever português, saber contar, saber aritmética, ter conhecimentos de história, geografia, organização política e administrativa, etc.), para poder ter o diploma dos 4 anos de escolaridade obrigatória...

Os mancebos guineenses, sem escolaridade obrigatória (naquele tempo, 4 anos) entravam para o exército como soldados de 2ª classe, auferindo um pré mensal de 600 escudos (hoje equivalente a 3 euros)no TO da Guiné, ou seja, no teatro de guerra ... Um soldado europeu, de 1ª classe, ganhava 900 escudos (4,5 euros), e um 1º cabo 1200 (6 euros)...

O soldado arvorado ganhava o mesmo que um soldado, mas era já uma espécie de 2º cabo (posto que não existia). Alguns soldados africanos que eu conheci foram arvorados, cabos, furriéis, 2º sargentos, alferes, tenentes e chegaram até capitães, ou seja comandantes operacionais de uma companhia (150 homens), em geral por graduação.

Ainda havia o "soldado básico", o mais baixo posto da hierarquia militar, afecto apenas a actividades de apoio (faxina, cozinha, etc.).

Cassiano Reginatto disse...

Sr. Luis Graça, obrigado pelo esclarecimento.

jpscandeias disse...



Duarte!
Se és quem penso e bate tudo certo, pelo que li aqui, estivemos em Bambadinca, Xime e às vezes íamos a Bissau. Ficamos na mesma suíte no Xime com o Osório. Fomos todos, um a um, chamados ao Spínola e tu sabes porquê. Também foi contigo, na mata do Xime, o meu primeiro contacto em Fevereiro de 1973, estávamos em Bambadinca, saímos de manha cedo. Não me recordo qual era o meu grupo de combate mas o cabo fula era de peso, penso que tenho algures uma foto com ele. O Osório era o fotógrafo. Depois daquele contacto na mata, em que tivemos 7 feridos, já não me recordava que estavas de férias, pouco tempo depois fui transferido para Bolama. Pelo que aqui escrevi penso que lembras de mim. Fizeste aquela coluna ao Saltinho em que tomamos um banho, que nunca esqueci, nos rápidos e vestidos a Adão?
Se não te recordas de nada disto então não és o Duarte que veio de uma companhia que tinha um unimog chamado Tony e o Cap. usava camuflado a boca-de-sino.

jpscandeias disse...

Duarte!
Se és quem penso e bate tudo certo, pelo que li aqui, estivemos em Bambadinca, Xime e às vezes íamos a Bissau. Ficamos na mesma suíte no Xime com o Osório. Fomos todos, um a um, chamados ao Spínola e tu sabes porquê. Também foi contigo, na mata do Xime, o meu primeiro contacto em Fevereiro de 1973, estávamos em Bambadinca, saímos de manha cedo. Não me recordo qual era o meu grupo de combate mas o cabo fula era de peso, penso que tenho algures uma foto com ele. O Osório era o fotógrafo. Depois daquele contacto na mata, em que tivemos 7 feridos, já não me recordava que estavas de férias, pouco tempo depois fui transferido para Bolama. Pelo que aqui escrevi penso que lembras de mim. Fizeste aquela coluna ao Saltinho em que tomamos um banho, que nunca esqueci, nos rápidos e vestidos a Adão?
Se não te recordas de nada disto então não és o Duarte que veio de uma companhia que tinha um unimog chamado Tony e o Cap. usava camuflado a boca-de-sino.

Anónimo disse...

Ah!AH! gostei dessa do exercito colonial português.Onde andamos todos.Somos então colonialistas,ou colunistas?