domingo, 13 de fevereiro de 2011

Guiné 63/74 - P7777: (Ex)citações (132): “… Ele sobreviveu apenas porque pressentiu o que se avizinhava… ”


1. O filho de um camarada nosso - Francisco José Miranda Velez -, assinou um comentário no poste P7433, com o pseudónimo “falcus”, que passamos a publicar:

“… Ele sobreviveu apenas porque pressentiu o que se avizinhava… ”

“Relativamente à coluna dos 3 obuses > Guiné > Região de Tombali > Aldeia Formosa (Quebo) > Julho de 1968 > Com a viatura destruída por mina a/c. Era a do Rádio de Transmissões..."

Quero acrescentar que o condutor desse carro é o meu pai, condutor auto Francisco José Miranda Velez. Ele sobreviveu apenas porque pressentiu o que se avizinhava. O PAIGC não ia deixar barato o transporte dessas armas para a Formosa. A existir um ataque sério e articulado a uma coluna, o primeiro alvo teria que ser as transmissões, neste caso o veículo das transmissões. Ele desmontou o banco do condutor e encheu três sacos de areia e conduziu o carro sentado em cima dos sacos de areia. Ainda assim foi projectado para a frente do Unimog segundo se consta cerca de 30 metros.

O veículo seguia atrás de outros (ao que parece era o 5º veículo) mas uma mina "programada" esperava-o. E digo "programada" porque segundo o meu pai ele não desviou um milímetro do rodado da viatura da frente que por sinal até era mais pesada. Devo acrescentar também que momentos antes o capitão tinha descido da viatura e o cabo telegrafista tinha subido na mesma, não estava protegido com sacos de areia e o capitão por ainda estar próximo à viatura também sentiu os efeitos da explosão e também se feriu.

Dá para ver pelo estado do veículo a potência da explosão mas os sacos de areia salvaram-no praticamente ileso.

Devo ainda dizer que quando a coluna ainda estava em Buba e o meu pai tirou o banco do carro, ainda aconselhou o cabo telegrafista a fazer o mesmo e a encher uns sacos de areia, mas este sabendo que seguiriam outros carros na dianteira achou que talvez não fosse necessário e não o fez. Não quero com isto estar a recriminar o cabo telegrafista por ter desleixado a segurança, aliás ele foi uma vítima inocente desta guerra, possivelmente mesmo com os sacos de areia talvez não escapasse ao seu destino, mas acho importante acrescentar mais estas peças ao puzzle.”

2. Ao filho do Francisco José Miranda Velez (a quem aproveitamos para enviar o nosso melhor abraço fraterno), em nome do Luís Graça, aqui fica registado o nosso convite para que adira a este nosso projecto, enviando-nos a sua foto do tipo passe, alguns dos seus dados pessoais e uma estória de que o seu pai se lembre do tempo da sua comissão na Guiné.

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Notas de M.R.:

Ver também sobre esta matéria o poste:

14 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7433: Facebook...ando (3): Uma dramática ida de Buba a Gandembel (Raul Brás, ex-Sold Cond Auto, CCAÇ 2381, Buba, 1968/70)

Vd. último poste desta série em:

12 de Fevereiro de 2011 >
Guiné 63/74 - P7768: (Ex)citações (131): Saudades de quê ?... Será que sou masoquista ?... E por que é que leio o raio deste blogue e até faço comentários ? (C. Martins)

5 comentários:

Zé teixeira disse...

Fui eu que o assisti, na sequência deste acidente.
O seu pai foi projectado e ficou combalido, mas sem ferimentos graves. Quando me aproximei da viatura já estava estabilizado por um camarada da 1792 e pelo meu colega Jorge Catarino. foi colocado numa viatura e acompanhado por mim no resto da coluna.
Depois seguimos o nosso destino. Eu fui para Mampatá e nunca mais soube noticias de seu pai.
Dê-lhe um abraço por mim.
Zé Teixeira

Anónimo disse...

Camarigos Saudações Guinéuas.

Tendo hoje dado uma visita aos Postes com o meu nome (P5304), aparecera um comentário escrito por "Falcus" e que agora está mais identificado.

Tendo dado algumas indicações para mais leitura do seu interesse, com orientação de procedimento.
Já tinha sido inserido o comentário, poderá haver duplicação de assunto e o que é demais nunca falta.

Com um Abraço
Arménio Estorninho

Anónimo disse...

Caros camaradas
O mais importante é pudermos continuar a falar sobre este assunto. Um ou outro pequeno pormenor que possa ter sido diferente do ocorrido pouco acrescenta.
No entanto (...) a viatura em apreço objeto da explosão da mina era a 3ª da coluna. Um pouco atrás seguia o primeiro obús atrelado a um "matador". Eu que por força das circunstâncias comandava os pelotões de artilharia ía nesta viatura. O Capitão Rei (esse homem valente que foi maltratado e lixado pelos altos comandos militares), no momento do rebentamento da mina, seguia na viatura das transmissões e não apeado.
Um grande abraço para o "enfermeiro", para o "motorista" e para o seu filho.
António Ribeiro, ex-furriel miliciano.

Anónimo disse...

Caro Camarigo António Ribeiro, saudações guinéuas.

Eu seguia junto ao Obus 14cm (Matador/Obus) que procedia a viatura minada e por conseguinte pelo que mencionas estavamos juntos.
Vi que o Capitão Ricardo Rei ia assentado na traseira da carroçaria do Unimog, o que sempre tenho dito e tu melhor posicionado
também observaste que ele não ia apeado.

Até hoje, sem que tivesse qualquer dúvida eu seguia atrás da 5ª viatura e agora tu dizes que era a 4ª viatura, "estou como não sei se vá se me fico."

Com um abraço para todos, que incorporaram a coluna auto dos três Obuses 14cm (três chaminés para o IN)e de Buba a Aldeia Formosa.

Arménio Estorninho
C.Caç.2381 "Os Maiorais"

Zé teixeira disse...

Pois. Vamos ver se desempato a contenda.
Eu ia um pouco mais à frente e recuei quando ouvi o estrondo. Estou de acordo com o meu irmão Maioral Arménio Estorninho.Era a
5ª viatura, como consta do meu diário.
Abraço amigo para todos.
Zé Teixeira