por José Carlos Suleimane Baldé
Era uma noite,
calma,
serena!
Um ambiente bem silencioso!
Vejo os céus de Portugal.
Alguém disse:
- Levanta a cabeça!
Nos céus sem nuvens
vi variadíssimas estrelas
que nunca vira antes!
De repente soou um grito,
dizendo:
- Não tenhas medo,
que aqui é Portugal!
[ Revisão / fixação de texto: L.G.]
1. Divulguei há dias os nomes de alguns camaradas guineenses que pertenceram à CCAÇ 12, do meu tempo (Contuboel e Bambadinca, Maio de 1969/Março de 1971), e que felizmente ainda estão vivos. Não sei se ainda sonham com Portugal, como o Zé Carlos Suleimane Baldé, autor do poema acima reproduzido...
A maior partes deles, tal como o Zé Carlos, integrou o 4º Gr Comb, que era comandado pelo Alf Mil Cav António Rodrigues (já falecido), bem como pelos Fur Mil At Inf Joaquim Fernandes e António Fernando Marques, estes ainda vivinhos da costa e membros da nossa Tabanca Grande, embora com marcas (físicas) de guerra para sempre...
Este foi também o Gr Comb a que eu, pião das nicas (como me chamava o meu capitão), estive mais emocionalmente ligado durante a minha comissão...
Um dos nomes da lista que me chamou mais a atenção foi o do Cherno Baldé... Só pode ser ele, o do 4º Gr Comb, 1ª Secção (Comandada originalmente pelo Fur Mil At Inf Joaquim A. M Fernandes), Sold, Ap Metr Lig HK 21, nº mecanográfico 82115269, fula...
2. Há tempos perguntava por ele, num comentário ao poste Poste P5909, nestes termos:
A propósito da informação dada pelo António Duarte [da 3ª geração de quadros metropolitanos da CCAÇ 12, a de 1973/74} e confirmada pelo Joaquim Mexia Alves (que privou muito com a malta da CCAÇ 12, sendo amigo do Cap Bordalo), foi o Apontador de Metralhadora HK 21, do 4º Gr Comb, quem abateu o Mário Mendes, chefe do bigrupo de Baio / Buruntoni, em finais de 1972, para lá de Madina Colhido.
No meu tempo, esse apontador era o Cherno Baldé, de etnia fula, pertencente à 1ª secção (originalmente comandada pelo Fur Mil Joaquim Fernandes, o nosso engenheiro, que depois ficou afecto à equipa de reordenamento de Nhabijões, e foi ferido numa mina em 13 de Janeiro de 1971).
O que será feito do Cherno Baldé ? É vivo, está morto ? Em 13 de Janeiro de 1971, foi um dos feridos (embora não tenha sido evacuado para Bissau) na 2ª mina A/C em que caímos todos, eu, o Marques e mais duas secções do 4º Gr Comb, à saída do reordenamento de Nhabijões.
Agora sei/sabemos que está vivo, e sei/sabemos onde mora... Não estará seguramente bem. Nem sei se estará inteiramente seguro... Mas espero bem que os irmãos guineenses tenham definitivamente feito as pazes e o luto... pela guerra de 1963/74, ou 1961/74, ou 1959/80 (é indiferente saber quando começou e quando terminou exactamente; das guerras sabe-se quando começam, nunca quando acabam...).
Meio século volvido, todas as dívidas (mesmo as de sangue e de honra) prescreveram naturalmente... Meio século é mais do que a esperança média de vida de um africano em Áfrioca... Meio século depois, só nos resta saber contar (e saber ouvir) as velhas histórias, de medo e de coragem, dos cabras, dos guerreiros, tugas, fulas, balantas, beafadas e mandingas..., que durante anos se espreitavam uns aos outros, por detrás dos grossos bissilões das florestas-galerias da bacia hidrográfica do Geba e do Corubal, armados de G3, uns, de Kalash, outros... Hoje, se se encontrassem de novo, seria apenas para beber uma bejeca ou um sumo de manga na tasca do Zé Maria em Bambadinca... (que já não existem, nem a tasca do Zé Maria nem a Bambadinca do nosso tempo).
Cherno, ficamos a velar por ti! (LG)
Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Sector de Bambadinca > Amedalai > Novembro de 2010 > "Estamos em Amedalai e alguém que se apresenta como José Carlos Suleimane Balbé [ex-1º Cabo, CCA>Ç 12, 1969/74] , pede para ser fotografado. Ei-lo, [ao meio], ladeado por Samba Baldé (Samba Gebo) e Madiu Colubali. O fundo é dado por membros da família de Mamadu Djau". À despedida, o Zé Carlos levou o Beja Santos à sua morança, para lhe mostrar a bandeira portuguesa que ele tem bem guardada num armário, afixada, com muito orgulho...
Foto (e legenda): © Mário Beja Santos (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.
Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Sector de Bambadinca > Amedalai > Novembro de 2010 > "Estamos em Amedalai e alguém que se apresenta como José Carlos Suleimane Balbé [ex-1º Cabo, CCA>Ç 12, 1969/74] , pede para ser fotografado. Ei-lo, [ao meio], ladeado por Samba Baldé (Samba Gebo) e Madiu Colubali. O fundo é dado por membros da família de Mamadu Djau". À despedida, o Zé Carlos levou o Beja Santos à sua morança, para lhe mostrar a bandeira portuguesa que ele tem bem guardada num armário, afixada, com muito orgulho...
Foto (e legenda): © Mário Beja Santos (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.
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Nota do editor:
Nota do editor:
Último poste da série > 3 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8212: Os nossos camaradas guineenses (29): Uma carta pungente de um ex-militar, de etnia fula, da CCAÇ 12 (Contuboel, Bambadinca, Xime, 1969/74)
4 comentários:
O Grande sonho do José Carlos Suleimane Baldé e o do Mamadu Sori Baldé, era terem vindo viver para Portugal,pois bastante me pediram ajuda a concretizar esse sonho,e não tive capacidade de lhe dar resolução.
É uma pedrinha que tenho no meu sapato.
A mesma aspiração era a do Umarú Baldé,mas que foi concretizada.
Assim,poderemos tirar ilações do sonho dos que não nos puderam contactar.
António Marques
O Major Bordalo, que fez anos recentemente, meu grande e saudoso amigo, a quem devo ter mantido alguma lucidez naquele tempo, poderá confirmar essa informação.
Conto este ano deslocar-me a Lamego, talvez com o Magalhães Ribeiro para estar com o, para mim, Cap Bordalo.
Um abraço para todos
Quantos milhares pensaram como o José Carlos.
A Pátria traiu ou os Poderes de então. Tempos difíceis mas que não desculpam tanto do que aconteceu.
É chover em terreno molhado.
Resta-me a Saudade, o Respeito por tantos Homens e Mulheres que um dia prometeram Liberdade...cá e lá!
Por isso a palavra Pátria me é tão indiferente...Mátria da Poetisa ou Fátria...ou Nada...
Torcato Mendonça ex Soldado da Nação
O Comandante do PAIGC - MÁRIO MENDES foi morto em 25 de Maio de 1972 na Acção “GASPAR 5” pela CCAÇ 12 com a captura da sua arma Kalashnikov, 03 carregadores e documentos diversos.
Durães - CCS/BART 2917
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