quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Guiné 63/74 - P9280: (Ex)citações (168): A Tabanca Grande, onde todos se reunem à volta da fogueira das memórias (Joaquim Mexia Alves)

1. Em mensagem enviada para publicação, o nosso camarada Joaquim Mexia Alves*, ex-Alf Mil Op Esp/Ranger da CART 3492/BART 3873, (Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73, expressa a sua opinião quanto ao cabimento de publicações no nosso Blogue, como é exemplo o trabalho do nosso camarada José Brás no Poste 9278**:



A TABANCA GRANDE

Há uns anos atrás, (já não sei bem quantos), descobri este espaço de memórias de combatentes da Guiné.

Foi logo desde o início um deslumbre para mim, e sobretudo um bálsamo para feridas guardadas, (algumas contadas a outros sem serem compreendidas), e uma oportunidade para me relacionar mais e melhor com aqueles que podiam entender a minha linguagem, (porque a viveram), quando falava da guerra da Guiné.
E aqui fui lendo e contando tantos episódios que a cada um de nós tocaram, nessa “aventura” involuntária, (que nada teve de romântico ou de romance), mas sim de uma realidade muito dura e difícil de se viver.

Aqui troquei argumentos sobre aspectos da guerra, (ganha ou perdida), critiquei alguns textos pela sua dureza fria e sem, (para mim), sentido, sugeri atitudes, recebi conselhos, enfim, vivi a guerra da Guiné, (de tão difícil memória), com aqueles que a viveram e dela têm a vivência e o conhecimento que os torna meus camarigos e eu camarigo deles.

Aqui fiz humor, aqui publiquei versos, aqui exprimi opiniões, e, também, me ri com o humor dos outros, me entusiasmei com a sensibilidade escrita dos camarigos e reconheci para meu conhecimento, opiniões de outros.

Este era, para mim, um espaço de troca de vivências da guerra, fossem elas dos tempos da dita, ou daquilo que ela tinha marcado e ainda marca, nos homens que a viveram.
Tão serenamente como me era possível, fui chamando a atenção ao fundador e editores, para o perigo, (quanto a mim), de se deixar que a politica, fosse ela de que lado fosse, tomar conta deste espaço, remetendo-o para uma mera troca de ideias políticas, (com mais ou menos razão), em detrimento do espaço de troca de experiências vividas ou ainda a viver da guerra da Guiné.
É que, no meu entender, espaços para essa discussão politica existem “às cabazadas” por aí, mas lugares de memórias vividas da guerra no plural, (ou seja com o concurso de muitos), nem por isso.

Com toda a estima, com toda a amizade, com todo o respeito, (inerente obviamente às duas anteriores), que me merece o José Brás, este texto que escreveu, (não o crítico, nem o discuto), não deveria ter aqui lugar, não pela escrita, mas pelo conteúdo que sai da vivência da guerra, para as razões politicas da mesma, e aí, meus caros camarigos, há tantas opiniões válidas com aqueles que as quiserem escrever.
Este texto pode “inaugurar” uma fase deste espaço, em que os textos sobre a guerra propriamente dita serão relegados para segundo plano, porque textos destes têm forçosamente mais respostas, (comentários), do que aqueles que nos tocam apenas a nós combatentes, enquanto tal.

Que seria agora se alguém escrevesse um texto defendendo a politica ultramarina de Salazar, como um sério entrave à expansão sino-soviética em África e no mundo?
Ou se começarem a fazer comparações entre quem manda em quem, em quem é mais colonialista que outrem, e por aí fora?

Repito, espaços desses há muitos por aí, e, (mais uma vez quanto a mim), esta Tabanca Grande só tem a perder se enveredar por tal caminho, e ele, o caminho, está agora definitivamente aberto.
Deixa de ser uma Tabanca Grande onde todos se reúnem à volta da fogueira das memórias, para passar a ser um “parlamento” onde todos falam, mas nunca se encontram.
E, claro, posso estar enganado, mas muito franca e pessoalmente, não foi para ver e estar num espaço assim que tanto me empenhei e dediquei.

Por aqui me fico, esperando ver e ler mais experiências da guerra e do que ela ainda marca nos combatentes, do que experiências politicas que têm o condão de muito mais dividir do que aproximar.
Já sei que alguns virão dizer que tudo é política, etc. e tal, e eu volto a afirmar que espaços desses há os por aí “às toneladas”, (uns mais sérios do que outros, obviamente), mas espaços colectivos como este de memórias de guerra, há muito poucos ou quase nenhuns, sobretudo com o dinamismo que a Tabanca Grande pode ter.

Não interessam recordes de membros, de textos, ou de comentários, interessa sim um espaço onde os combatentes da Guiné saibam que podem contar as suas experiências, vivendo também as dos outros, encontrando-se em verdadeira camarigagem.

Um abraço para todos do
Joaquim Mexia Alves
____________

Notas de CV:

- Título do Poste da responsabilidade do editor

(*) Vd. poste de 7 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9150: Memória dos lugares (165): Polibaque, na estrada Jugudul-Portogole-Bambadinca (Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil, CCAÇ 15, Mansoa, 1973)

(**) Vd. poste de 27 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9278: (Ex)citações (167): As colónias portuguesas antes da Guerra (1): Introdução e Angola (José Brás)

28 comentários:

armando pires disse...

BRAVO!
armando pires

Anónimo disse...

Posso dizer uma coisinha também, Camarigo?
A questão é velha.
Uma bisca, um joguito de damas, um futebol, os concursos da televisão...
Pensar...?
Com todo o respeito pelos relatos e pelo desfilar de memórias dos camaradas; pelo teu prazer de escrevê-los e de lê-los assim, reais (em discurso directo?), nas dores e nas alegrias da camaradagem, coisa absolutamente salutar e objectivo máximo do blogue nessa busca de sombras e de luz; com todo o respeito também pelo teu desprazer de ler coisas pretensamente "políticas" e deslocadas no blogue, pelo menos a teu ver, lembro-te que:
- também faço parte do blogue e não creio que aqui alguém tente imaginar pogroms e goulagues;
- não fui eu que comecei esta discussão mas não a enjeito e ao contrário de ti a acho mesmo, de certo modo, útil, independentemente de opiniões;
- diferenças destas nunca nos separarão nem reduzirão a nossa amizade e a admiração que tenho pelo que és com franqueza e verticalidade, mais perigosas de clivagens seria, sim, escondermos-nos uns dos outros ou alguém nos esconder as diferenças.
Abraço, talvez até ao próximo cozido que me está a apetecer e muito.
José Brás

José Botelho Colaço disse...

Não é preciso muito para ver em que lado estão Joaquim Mexia Alves ou José Brás.
Independente do valor dos textos do José Brás, parece-me que o Joaquim tem toda a razão quando diz que este espaço deve ser uma troca de vivências da guerra e daquilo que ela marcou quem a viveu.

Cumprimentos
Colaço

António Pimentel disse...

Amigos , companheiros e camaradas... camarigos, emfim.
O José Brás fez um excelente trabalho de esclarecimento da situação que se vivia nas ex-colónias quando nós para lá fomos chamados para cumprir o nosso dever (?) para com a Pátria. Qualquer que sejam as nossas opiniões políticas, quem as tiver, não deve engeitar as oportunidades que nos surjam, para melhor entendermos todas as situações que implicaram com a nossa vida, sejam de que carácter for. As situações de guerra a que fomos sugeitos, não se esgotam no nº de emboscadas que sofremos, nas operações que fizemos, nos amigos que perdemos, nos melhores anos da nossa vida consumidos numa empreitada sem glória.
Relatar a verdade sobre uma situação que tem, claramente, a ver com a nossa experiência militar, não deve ser, por isso, regeitada, mas sim estimulada. Nós temos tanto que aprender! E se estivermos convencidos que já sabemos tudo ou que a nossa opinião é a única e indiscutível verdade, então aí cuidado, é melhor fazermos um exame de consciência e pararmos para pensar. A verdade nunca se esgota nos nossos saberes, porque nós sabemos tão pouco!...
Deixemos os Josés, os Joaqins, os Antónios, os Manéis dizerem e escreverem o que lhes vai na alma e na cabeça... quer nos agrade quer não. Sugiro até que demos particular atenção ao que agrada menos ou nada, porque aí talvez tenhamos mais a aprender.
Sejamos TOLERANTES!
Abramos a nossa mente!
O que desejo é que o José e o Joaqim continuem a manifestar as suas opiniões no próximo ano e seguintes...
Para todos um novo ano cheio de saúde e de ideias novas, frescas e saudáveis.
Um abraço
António Pimentel

Torcato Mendonca disse...

Ora Viva J. Mexia Alves: fiz breve comentário ao escrito que aludes neste teu Poste.
É efectivamente diferente. A forma de exercermos a tolerância, o respeito pela diferença de opiniões, o modo de encarar e afrontar a vida, diz-me que, de quando em vez deve surgir uma prosa assim. Corre um risco. Sim ou talvez. Mas, caro camarigo, depois de tanto mundo termos vivido...questionar, mostrar certas realidades - provocadoras de convergir ou divergir - apetece-me. Respeito quem assim não sinta.
São meras trocas de palavras entre dois homens que convergem e divergem mas, fundamentalmente se respeitam. São eles e assumem quem são. Não é camarigo?
Abraço-te com amizade T.

Anónimo disse...

Às vezes estou ao lado do Joaquim nos almoços do Centro, Colaço.
E se queres saber a minha convicção, é que não estaremos assim tão afastados como possa parecer. Ambos respeitamos profundamente o ser humano; ambos temos militado na tarefa de amenizar sofrimentos; ele tem uma religião e eu não mas já tive e fui praticante, seguramente me tendo deixado marcas boas; já tive partido e hoje não. O joaquim não sei se tem; eu sou sportinguista, ele não sei se é; gostamos muito de comer e beber boa comida portuguesa, de beber um bom copo, de cavaqueira, de fados e de toiradas.
Temos uma leitura diferente sobre alguns fenómenos sociais...só.
Abraço rima com Colaço
José Brás

José Botelho Colaço disse...

José Brás e Joaquim Mexia sei que são amigos e como dizes, só com uma leitura diferente sobre alguns fenómenos sociais.

Um abraço
Colaço

Juvenal Amado disse...

Correndo o risco de repetir o que já disse sobre o assunto faço minhas as palavras do Pimentel.
Penso ser da máxima importância saber das razões que nos levaram até lá e este trabalho do Zé Brás é um importante documento.
Não defende uma linha politica mas talvez, ajude a fazer luz sobre as razões porque nós vivíamos tão pobres, sendo detentores de territórios tão ricos. E as populações autóctones porque não foi utilizados os meios da sua própria terra para lhes dar meios de saúde, educação e bem estar? Depois da guerra começar, lá se foi tentar minorar esse estado de coisas, mas quanto a mim tarde.
Quanto aos textos que defendem a politica ultramarina de Salazar o Mexia Alves tem andado distraído. Aqui já li de tudo e foram explanadas as ideias mais anti- qualquer coisa até ao PREC.
Aguardo o que o Zé Brás tem para contar, uma vez que o poste só fala até Angola e pressuponho que falará da Guiné também.
Fico por aqui dizendo, que daquele cozido de Monte Real bem como o convívio que por lá temos feito, quem é que não saudades?

Um abraço

Joaquim Mexia Alves disse...

Meus caros camarigos

Ao ler alguns comentários quase parece que da minha escrita eu estaria a tentar calar alguém ou "alguens".

Mas isso já estou habituado, porque sempre que faço uma qualquer critica, é facto normal virem invocar as tolerâncias, o "deixemos que todos escrevam o que quiserem", enfim um sem número de argumentos que pretendem fazer de mim, ou daquilo que escrevo, um qualquer censor.

Curioso porque todos têm direito á sua opinião, desde que esteja de acordo com o que supostamente todos pensam.

É pena que muitos que assim não pensam e o vão dizendo de viva voz aqui e ali, não o escrevam aqui.

Meu caro Juvenal,devo andar distraído, mas eu quero lá saber dos textos que defendem o Salazar e a sua politica.
Se os ler escrevo a mesmíssima coisa que agora aqui escrevi.

Aliás esta minha "luta" é longa e existe quase desde que aqui cheguei e está bem expressa em textos meus e diversos mails enviados para os editores.

E meu caro António Pimentel eu não estou convencido que sei de tudo, nem de perto nem de longe, e exame de consciência é coisa que faço todos os dias.

Meu caro José Brás, não tenho partido, (nem inteiro), e sou do FCP como quase todos sabem.

Não escrevo contra ninguém e tive o cuidado, julgo eu, de repetir várias vezes no meu escrito, «quanto a mim», «para mim», etc. no sentido de se perceber que é apenas e só o meu "pensar", que é apenas uma opinião.

Afirmei até que não criticava nem discutia o teu texto, portanto não o adjectivava de correcto ou incorrecto, e quem sou eu para o fazer.

Limito-me a pensar que as discussões à volta da politica não levam a lado nenhum e que este espaço deveria ser preservado de tal prática.

Mas eu sou um, apenas um e até termino o meu texto dizendo que posso estar enganado.

É por essas e por outras que eu prefiro o cozido e a camarigagem à volta dele, mas, repito, posso estar enganado em relação ao pensar de outros, mas não o estou com certeza em relação ao que sinto e quero viver.

Já não quero discutir, quero sentir, já não quero discordar, quero encontrar, já não quero guerras, quero pazes, e da minha experiência a politica sempre acabou por provocar danos no sentir, no encontrar, e nas pazes.

Queria/quero estar com os meus camarigos da Guiné, sem estar sempre a analisar, a perceber, a inferir, mas apenas e tão só a confraternizar.

Calo-me, portanto, e abraço-vos com a minha amizade de sempre.

Anónimo disse...

Caro Joaquim.Julgando compreender os teus sentimentos,lembro que a haver um paraíso por aqui,(e agora),o "depois" perderia muito do seu sentido.Um grande abraço.

Torcato Mendonca disse...

##São meras trocas de palavras entre dois homens que convergem e divergem mas, fundamentalmente se respeitam. São eles e assumem quem são. Não é camarigo?###copy/paste
Era eu eo J M Alves.
Parece que não me fiz entender, Joaquim Mexia Alves. Não disse que eras intolerante.

Não tem mal.Ninguém me manda "comentar". De facto já o tinha dito no Poste que está na razão deste teu (Poste).
Além disso, já tenho idade e não só,para saber e dever estar calado.

Como não percebi o J.Belo. Devo estar com um problema nos neurónios

Por mim tudo bem.

Ab T.

Anónimo disse...

Joaquim, já-que-está-deixa-estar.

É um antecedente ou precedente, já nem sei bem como se diz, o José Braz sair um pouco da Guiné.

Eu que mergulhei neste blog como penetra, não resisto a meter o «bedelho» neste assunto e noutros com a complacência e a simpatia de muitos.

A minha opinião é que é um assunto interessantíssimo este abordado pelo José Braz.

Ou eu não fosse(mos) um digno retornado de 18 anos por Angola sendo 4 antes da guerra de 61.

O que me parece que José Braz e A. Graça de Abreu não são.

Antº Rosinha

JD disse...

Olá Camaradas,
Eis um debate interessante e, oxalá, esclarecedor. Trata-se, afinal, de aceitar ou não a discussão política no nosso âmbito. E, desde já, temos expressas opiniões divergentes, do que parece resultar termos que saber conviver com ambas as opiniões, sem que uma directiva venha criar um sisma.
No entanto, penso com os meus botões, e encontro miscigenações daqueles conceitos, quando, por exemplo, se diz que o General Spínola foi um grande comandante, ou pelo contrário, quando se diz que não o foi. Porque, afinal, o general representava uma política, a sua concepção para, com os meios disponíveis, contrariar as ofensivas do inimigo e aglutinar as populações em torno de uma "Guiné Melhor". Era política o que ele fazia, quando, por exemplo, tentava convencer o Governo sobre as vantagens dos encontros com o PAIGC, ou sobre os benefícios da invasão de Conakri. Assim como era política o seu maior ou menor envolvimento e nível de exigência, relativamente ao controle de custos da guerra; à qualidade dos géneros para alimentação das tropas; à interferência e decisões caprichosas sobre matérias de aplicação da justiça; ao alheamento sobre os negócios de gasolina, sobressalentes, e outros que parecia desprezar. E, no entanto, eram atitudes de grande responsabilidade política, tendo em vista o interesse público, mas, também, a coesão das tropas.
Mais abrangente, porém, era a responsabilidade do governo (governos), que decidiu renunciar às propostas de negociação da paz, que desenvolveu múltiplas actividades diplomáticas para aliviar a pressão internacional, e por via disso ter capacidade para aquisição de armas e equipamentos,e, algumas vezes, enredou-se em contradições e ofensas que se repercutiam na qualidade e objectividade da acção das NT, bem como na prossecução das outras políticas de carácter eminentemente civil, como a economia, as obras públicas, o ensino, a saúde, entre outros.
A guerra plasmava-se na política, não podendo ser apreciada pela contagem dos tiros e das baixas provocadas em cada lado.
E o Zé Brás, ao requisitar o argumento dos interesses económicos nas colónias (valerá a pena que nos indique as fontes), que eu concordo, parece querer dar-nos conta da vulnerabilidade de alianças pontuais e interesseiras, que tanto se serviam de uma barricada como da outra, e resumiam a presença da administração portuguesa nas colónias, a uma equiparação de feitores, ou maiorais, que mantinham uma certa continuidade de negócio.
Por último, também o 25 de Abril foi um acto político, porque provocou alterações (com algumas, ainda convivemos) na sociedade portuguesa, embora sem convicção, nem coesão política, porque os seus autores depressa entraram em contradições e conflitos, apesar da ilusão de ser o povo quem mais ordena. Pelo menos enquanto o povo também desvalorizar o interesse público.
Abraços fraternos
JD

Joaquim Mexia Alves disse...

Meu caro Torcato

Eu percebi o que querias dizer e percebi que não me chamavas intolerante.

Um abraço para ti.

meu caro Rosinha

Por um pouco também sou retornado, pois a seguir á Guiné fui trabalhar para Angola, de onde tive de me vir embora como tantos outros.

Um abraço para ti

Meu caro José Belo

Nesse ponto não concordo contigo.

Tenho muitos amigos e não precisamos e sem discutirmos politica temos encontrado sentido.

Um abraço para ti


Quanto ao resto sou eu que estou mal pelos vistos, e por isso mesmo por aqui me fico, mas para este "peditório não dou".

Um abraço sempre amigo para todos.

antonio graça de abreu disse...

Ex-combatentes da Guiné, hoje sexagenários e septuagenários, jamais esquecemos esses cada vez mais distantes dois anos das nossas vidas. Penso que não combatemos pela Pátria salazarenta e marcelista, nem pelo capital estrangeiro, mas por uma Pátria portuguesa que nos circulava no sangue e no entendimento. Era a nossa terra, eram as nossas gentes derramadas por África.
Com vinte e poucos anos, quase todos nós demos o melhor de nós próprios (às vezes a própria vida) numa guerra cruenta e injusta, como quase todas.
Mas eu, que levo nove anos de vida fora de Portugal,emigrado em três continentes, tenho orgulho na minha bandeira e nesse estranhíssimo sortilégio de se nascer português.
Há quem não tenha.
E nota-se no blogue.

Um grande e forte abraço ao Joaquim Mexia Alves.
Se tu és o Quixote, alto e magro, com um coração de ouro, eu posso ser o teu Sancho Pança, baixo e barrigudo, com um coração assim-assim. Desculpa a vaidade, mas nós é que ficamos bem na História.
Os dos moinhos de vento da política,
de velas rotas desfraldadas, passam com o tempo.

António Graça de Abreu

Anónimo disse...

Amigos,

Se me permitem, o Graça de Abreu escreveu:

"Penso que não combatemos pela Pátria salazarenta e marcelista, nem pelo capital estrangeiro, mas por uma Pátria portuguesa que nos circulava no sangue e no entendimento. Era a nossa terra, eram as nossas gentes derramadas por África."

É assim tão difícil compreender isso?

Para mim, que já tenho 62 anos de idade, chegou a hora de calçar as pantufas e sentar-me em frente do ecrã televisivo. A RTPI vai dar início ao noticiário.

Um abraço amigo,
José Câmara

Anónimo disse...

Lá estamos a aproximarmo-nos de novo de um blogue de "uma nota só",e é pena.Quanto a embrulharmo-nos em bandeiras da Pátria,elas não serão exclusivamente nossas,por muito que Graça de Abreu o procure em grandiloquências patrioteiras.

Joaquim Mexia Alves disse...

Ainda mais uma vez!

Meu caro José Belo

Desculpa mas lá vêm as tiradas de "uma nota só" como se alguém quisesse calar alguém!!!

Volto a explicar aquilo que penso.

Lugares, espaços, tertúlias, livros, etc., etc., para discutir "politicamente" a guerra, as suas causas, as suas permanências, o seu fim, há-os às centenas, talvez milhares.

Este espaço era, segundo o que está escrito logo no cabeçalho, "centrado na experiência dessa guerra", e era essa troca de episódios, de opiniões sobre os mesmos, das escritas mais ou menos poéticas por essa vivência provocadas, que me cativou e me ajudou a fazer as pazes com certas memórias.

Já aqui se disse que o guileje isto ou aquilo, que o Spinola era bom e antes pelo contrário, que o militar xis fez bem assim, ou esteve errado, e isto é ser "uma nota só".

A politica da guerra, na guerra, no fim da guerra, já foi discutida, rediscutida e voltará a ser discutida, mas nunca, pelo menos a mim e á maioria dos combatentes que conheço, trouxe quaisquer melhorias de vida, ou sequer, pelo menos, paz de espírito.

Este espaço, pelo menos comigo ao principio e pelo que ouço a dizer a muitos mais, ajudou-nos a fazer a curar feridas, a encontrar bálsamos para o passado.

É nisso que este espaço era diferente dos outros, pelo menos para mim!
Ao enveredar por este caminho, (parece-me), torna-se igual aos outros e não me ajuda a viver o passado, mas a incomodar-me com o passado, mesmo no futuro.

Às grandiloquências patrioteiras, como tu dizes, infelizmente, outros opoem as grandiloquências dos argumentos estafados de censuras que não existem.

No Portugal mais administrado pelo estrangeiro do que pelos Portugueses, continuo a ser Patriota, a ser Português e a ter orgulho nisso, por muito grandiloquente que possa parecer.

Um abraço para ti e para todos

Anónimo disse...

Pois bem, José da Câmara, também eu retenho, não digo orgulho porque é um palavra pesada, tratando-se de guerra, mas a sensação que cumpri o meu dever.
Como já expliquei aqui várias vezes, a minha Pátria era outra. Eram os meus vizinhos que lá malhavam; eram os meus avós e antepassados, alguns que iluminaram o mundo; era esta certeza de pertencer a um povo, isso sim, de que me orgulho porque o patriotismo, por mais que alguns teimem ser património conservador, é-o, talvez até mais, do futuro.
Obrigado, José por me obrigares a esta quebra da minha afirmação anterior, de que mais nada diria por esta via.
Um abraço
José Brás

Hélder Valério disse...

Caros companheiros desta 'viagem pela memória' dos tempos da guerra.

Li o texto do Joaquim, afinal a base aparente deste conjunto de comentários, e consequentemente tudo o que aqui acima está escrito, argumentado e contra-argumentado e nem sei bem como hei-de expressar o meu sentimento. Vou tentar.

Não posso deixar de concordar com o Joaquim quanto aos receios de que se possa entrar numa 'deriva' de começar a 'politizar' o conjunto das intervenções. Isso é perfeitamente possível, assim os "vigilli" o queiram e parece que sim...
Mesmo para além da aceitação do conceito de que 'tudo é política' pode haver de facto essa tendência para a apresentação de acontecimentos ou episódios onde prevaleçam os conceitos estritamente políticos.

Também não posso deixar de concordar com ele quando recomenda que esse tipo de intervenções possa encontrar um 'mundo' de locais eventualmente mais adequados para tal fim.
Registo igualmente que o Joaquim não valoriza ou desvaloriza o conteúdo em si mesmo do artigo (do trabalho, porque parece serem três), apenas questiona a sua oportunidade e cabimento.

Sobre estas opiniões do Joaquim caíram vários comentários, aplaudindo, 'compreendendo', discordando, 'colando-se', etc.

Há um aspecto que gostaria que ficasse claro, porque me parece que no meio disto tudo acabou por ficar 'desaparecido' e, afinal, é a origem do mesmo.

E é por isso que escrevi lá em cima ser este texto do Joaquim a 'base aparente' porque, na realidade ele refere-se a um texto do Zé Brás. Ora, o texto do Zé Brás, que o Joaquim não comenta em si mesmo, pelo seu conteúdo ou pela justeza (ou não) da argumentação apresentada, não apareceu do nada. Não foi capricho do Zé Brás. Não me parece ter sido vontade propositada de 'politizar' o blogue.

Recordo que ele surge na sequência de um poema do Juvenal que podia ter sido dissecado, criticado, aplaudido, o que se quiser, pois no seu conteúdo o poema era como que uma reflexão sobre o turbilhão de sentimentos que assolavam e assolam hoje, os que se viram envolvidos em locais de conflito.
E foi isso que o Brás fez a esse poema comentando que não havia necessidade de dramatizar 'culpas', porque com isso nascemos todos pelo mundo fora e depois acrescentou algo mais que podemos interpretar no sentido de dizer que o 'colonialismo' português afinal até era bastante mais incipiente que os outros e que seria mais por culpa desse 'outro colonialismo' que tínhamos ido de armas na mão matar e morrer.
Francamente, isto parece-me ser mais ao jeito daqueles que podiam aproveitar para dizer "estão a ver, estão a ver, afinal até nem fomos assim tão colonialistas como p'rá dizem) mas não, não foi isso que aconteceu.
O nosso amigo "Sancho" não demorou a aproveitar a boleia, não para apreciar o poema do Juvenal (e bem que o podia ter feito já que é mestre do mesmo ofício) mas sim para se lançar em sucessivas trocas de 'picadelas' ao Zé Brás, sempre recheadas daquelas suas tiradas de conhecedor da verdade (da sua verdade) e, aqui e ali, com alguma provocação.
Na sequência desses 'mimos' o António questiona a afirmação do Brás que acaba por lhe prometer desenvolver trabalho onde procurará sustentar as suas (dele) afirmações, com 'números, nomes e valores' relativos à supremacia dos interesses exteriores a Portugal no que respeitava aos seus alegados 'territórios ultramarinos'.

É o cumprimento dessa promessa que se materializa no trabalho do Brás que foi publicado (neste momento duas partes).

Por este aspecto, até porque a contestação tinha sido por esta via, acho bem que se tome conhecimento do seu conteúdo, para nosso enriquecimento e concordância ou discordância.
Quanto a desenvolvimentos posteriores, acho que se deve privilegiar a troca directa de opiniões, principalmente se o assunto não for colectivamente abrangente.

Abraços
Hélder S.

Anónimo disse...

Meus amigos,

Também li ambos os textos, do Zé Brás e do Joaquim Mexia Alves, assim como o fiz em relação a todos os comentários entrados até agora.

Parece-me estar quase tudo dito nos comentários do Pimentel e do Hélder. O texto do Zé brás pode e deve ser lido por quem conhece e por quem desconhecia como eram as coisas naquele tempo, por isso não me torna adepto ou militante de coisa nenhuma, torna-me mais conhecedor, informado e esclarecido, tal como acontece com as religiões, sejam elas quais forem, por ler textos escritos pelo Padre António Vieira, de que sou ferveroso adepto, ou de Santo Agostinho não me torna crente, continuo Ateu.

Quanto ao texto do Joaquim Mexia Alves, percebo a sua preocupação de não desvirtuar o blogue e até concordo, mas quando sirva para apologias e não para esclarecimento, o que me parece ser o caso. Só muda quem não estiver consciente,seguro...

Para o meu amigo Graça de Abreu, lamento que continue a comer aquelas comidas tão picantes que queimam sempre que fala. Patriota e bandeira são coisas que merecem uma melhor discussão que enquadradas apenas na explanação feita pelo Zé Brás.

Um abraço para todos,
BSardinha

an disse...

Meu caros Zé Belo e Hélder.

Adorei essa das "grandiloquências
patrioteiras". Cada um tem a pátria que assume como sua, grande, pequena, inexistente. Somos cidadãos do mundo.

O texto do Hélder é curioso, começa por estar de acordo com as teses Joaquim Mexia Alves, acaba a desancar em mim e a agradecer o contributo do Zé Brás. Vias sinuosas.

Quer o Zé Dinis, quer o Hélder, quer eu próprio referiram a necessidade de o Zé Brás indicar as fontes do seu trabalho.
As fontes nunca são anónimas. Se são anónimas, como as cartas anónimas, têm o valor que têm, isto é, nenhum.
Isto não é mais uma picardia contra o Zé Brás. A ligação ao capital estrangeiro nas ex-colónias era uma realidade, a dependência económica do exterior existiu (e existe, e de que maneira!...) mesmo.
Só que os dados têm de ser fundamentados.

Abraço a todos,

António Graça de Abreu

Cherno Baldé disse...

Caros amigos ex-combatentes da Guiné e de outras partes,

As minhas saudacoes!

Com a vossa permissao, quero entrar nessa danca de palavras amenas entre irmaos, e comeco por louvar a iniciativa do José Bras pelo trabalho que se deu para nos informar mais e melhor sobre o verdadeiro rosto que se escondia atras do colonialismo portugues.

Sendo louvavel o trabalho apresentado pela sua importancia (in)formativa, nao é menos importante a chamada de atencao (eu assim o entendi) do nosso "Régulo" da Tabanca do Centro (JMAlves). A "politica" nao é boa conselheira nem boa camarada, pois em vez de juntar divide mas, felizmente, julgo eu, ainda nao chegamos la e, na vossa idade, melhor seria o encontrar (se) em vez do desencontrar(se) (citando o JMAlves), independentemente das ideias recebidas.

Voltando ao conteudo do texto, e sem se referir aos nomes e numeros, devo dizer que nao se trata de uma grande novidade pois, ja nos anos 60/70 o A. Cabral ja defendia nas suas obras a ideia de que Portugal nao era um pais imperialista e justificava estas afirmacoes com os mesmos argumentos.

O que, na verdade, gostaria de saber no fim é se o Portugal de hoje é muito diferente do Portugal de ontem visto, exactamente, do ponto de vista em que a analise ou a argumentacao é feita, independentemente dos regimes politicos e da extensao do territorio.

A minha opiniao pessoal sobre o vosso engajamento na guerra colonial é a de que defenderam os interesses de Portugal, de Portugal de entao e, claro, onde existiam interesses ocultos, é verdade, mas que nao eram assim tao ocultos, para as elites governantes do pais.

Um grande abraco,

Cherno Baldé

Anónimo disse...

Mensagem aos camarigos editores
Uma vez que o Blog perdeu a sua vocação para se transformar numa escola de política, já agora podiam começar por fazer uma copypaste (ai, estes temos modernos) da cartilha de Lenine, do livrinho vermelho do Mao, por ex.
Sinceramente, não há pachorra…
Abraço e saudações festivas
Henrique Matos

Joaquim Mexia Alves disse...

Meus caros camarigos José Câmara, Helder Valério, Belarmino Sardinha, Cherno Baldé

Obrigado por terem tentado perceber o meu ponto de vista, sem procurarem outros motivos que aqueles que no meu texto coloco.

Um abraço camarigo

Meus caros camarigos António Graça de Abreu, José Colaço Henrique Matos, Torcato Mendonça e Armando Pires

O meu camarigo abraço

Meus caros camarigos José Brás, Juvenal Amado,António Pimentel, José Dinis, José Belo, António Rosinha

Um abraço camarigo

«I rest my case»

Juvenal Amado disse...

Digam lá se 27 comentários não é o suficiente para dizer que é um assunto apaixonante?
Um pontapé no cinzentismo? Talvez.

O que a mim me parece é que há camaradas, que atribuem a certas opiniões a alinhamentos políticos, que afinal não estão de forma nenhuma implícitos no poste do Brás.
É não menos verdade, que muitos comentários foram feitos porque se conhece as opções politicas dos intervenientes, levando assim a discussão para terrenos perigosos.
Discutir os motivos políticos da guerra e do fim dela,(que acho bem), não é discussão das opções partidárias de cada um, (o que eu acho mal).

O blogue seguirá o caminho que acharem melhor, mas desde já vos digo, estamos velhos mas não estamos mortos e pela parte que me toca não aceito lições de patriotismo de ninguém.

Um abraço

José Martins Rodrigues disse...

Só vê perigo de clivagens e de separação entre os camarigos, devido ás suas diferentes opiniões,aqueles que já as interiorizaram e que não são capazes de com elas conviverem.
Ai...esta mania de que a nossa opinião é a única verdade, já cansa.
Já somos todos "maduros" e por favor Camarigo Mexia Alves, deixa que cada um tenha a possibilidade de tirar conclusões sobre o que se publica sem a "tutela" de quem quer que seja, desde que nos respeitemos uns aos outros.
Para todos os Camarigos aqui vai um Abraço Cordial com os votos de um Novo Ano, repleto de muita saúde.
José Martins Rodrigues

Joaquim Mexia Alves disse...

Caro José Martins Rodrigues

Será que eu tenho direito á minha opinião?

Explica-me em que escrito meu, em que lugar, em que coisa eu afirmo ou sequer insinuo que eu é que tenho razão?

Explica-me em que escrito meu, em que lugar, em que coisa eu afirmo ou sequer insinuo que os outros não podem tirar conclusões de que quer que seja?

Explica-me em que escrito meu, em que lugar, em que coisa eu afirmo ou sequer insinuo que não respeito os outros que me respeitam também?

Explica-me em que lugar, sítio ou conversa é que eu não soube conviver com as diferentes opiniões?

É que sabes, tenho amigos em todos, (mesmo todos), os quadrantes politicos, com todos falo, todos respeito e todos me respeitam.

Explica-me porque é tão dificil perceber o que escrevo e apenas se quer tentar ler aquilo que eu não escrevo?

A mim é que me cansa que aquilo que escrevo seja sempre interpretado de modo diferente e segundo as conveniências e interesses de cada um?

Para ti e para todos um abraço de um Ano Novo cheio do que mais desejarem