quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Guiné 63/74 - P9286: (Ex)citações (170): As colónias portuguesas antes da Guerra (3): Guiné e Cabo Verde - Notas finais (José Brás)

1. III e última parte do trabalho do nosso camarada José Brás (ex-Fur Mil, CCAÇ 1622, Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68), intitulado As Colónias portuguesas antes da guerra.


 AS COLÓNIAS PORTUGUESAS ANTES DA GUERRA (3)

GUINÉ E CABO VERDE

A descoberta da Guiné aconteceu em 1446 por Nuno Tristão, morto pelos habitantes que sempre deram luta renhida à presença dos portugueses.
Tem uma superfície de 36.125 Km, cerca de um terço da de Portugal.

A penetração e a exploração começaram a partir das Ilhas de Cabo Verde e as primeiras operações de comércio de escravos realizou-se através de cabo-verdianos que iniciaram, talvez assim o seu estabelecimento no território, evidentemente, porque Cabo Verde havia sido objecto de povoamento anterior ao início do da Guiné.

No século XVII havia já alguns centros de europeus no litoral, sempre em luta com os africanos.
Os ingleses que vinham cobiçando os resultados dos portugueses através de cabo-verdianos, quiseram apossar-se da Guiné, chegando a instalar-se na Ilha de Bolama de onde saíram em 1879, por arbitragem do Presidente americano Ulisses Grant.
Como exemplo da luta que as populações locais sempre deram à presença dos europeus, a etnia Papel só foi submetida em 1916.

É um território quase plano com poucas e pequenas elevações mas com uma rede hidrográfica intensa e complexa, cruzado por rios, canais, zonas alagadas e tarrafo.
Não possui as riquezas das outras colónias portuguesas, nem em variedade nem em quantidade, ainda assim, com alguns recursos suficintemente importantes para atraírem grupos capitalistas portugueses, americanos, holandeses e mesmo japoneses.
Arroz, oleaginosas, madeiras de boa qualidade, são alguns dos produtos em exploração.
A pesquisa e a concessão de petróleo foi entregue a americanos e a bauxite a um grupo holandês.



NOTAS FINAIS

EXPLORAÇÃO DO TRABALHO E DAS RIQUEZAS

A característica principal do capitalismo internacional que intervém num processo colonial, é sem dúvida, a exploração das riquezas existentes, aliada à exploração da força de trabalho local, com maior ou menor formação técnica e profissional, conforme a política e o desenvolvimento económico do País colonizador, neste caso, Portugal, o mais atrasado de todos os seus vizinhos europeus como já se disse e nem carece de grandes provas confirmá-lo, uma mão de obra africana e mesmo branca de fraca ou nenhuma formação técnica.
Acresce e agrava esta situação nas colónias portuguesas, o facto da existência de uma sociedade fortemente dividida e marcada em termos de hierarquização social, tendo à cabeça os técnicos e administradores coloniais enviados de Lisboa e os quadros técnicos e gestores das grandes sociedades e companhias monopolistas nacionais e estrangeiros; em segundo lugar os chamados “brancos de segunda”, portugueses já nascidos nos territórios africanos, exploradores de pequenas roças ou postos comerciais na costa ou no interior, e trabalhadores indiscriminados actuando no comércio, nos transportes, na construção civil, etc.; mais abaixo na escala os mestiços que trabalhavam nos escritórios da Administração Pública ou privada e empregados de comércio; depois ainda os negros assimilados, já possuidores de BI de cidadão português; finalmente os indígenas sem quaisquer direitos excepto o de prestar trabalho barato e obrigatório, às claras ou mais ou menos mascaradamente.
Desse modo, o topo vivia da exploração do esforço branco de segunda, este do terceiro , quarto e quinto escalões, a par da exploração brutal de todos pelas grandes empresas monopolistas na área da agricultura e das minas, sobretudo.


MONOPÓLIO COMERCIAL E EXPORTAÇÃO DE CAPITAIS

Outro direito de que se arroga o capital internacional no caso colonial para vender os seu produtos a preços e com lucros superiores às cotações mundiais, e para se apropriarem das matérias primas a preços inferiores ao custo, é o do privilégio de monopólio comercial.
Caem neste caso os produtos minerais, o café, o chá, o açúcar, as oleaginosas, o arroz, a madeira, etc., das explorações e exportações dos territórios africanos para o exterior, e do de outros produtos do exterior para África, como o aço, máquinas e utensílios, viaturas automóveis, que, devido ao atraso económico de Lisboa, são colocados pelo capital exterior, deixando a Portugal apenas alguns produtos difíceis de colocar no mercado internacional, como os tecidos de algodão e o vinho.
Não me parece de grande necessidade demonstrar que a prática do colonialismo, seja ele qual for, é o da exportação das mai- valias e dos lucros, quer através dos produtos estratégicos, quer dos capitais gerados.
Vale a pena, por exemplo, comparar aqui os dividendos distribuídos aos accionistas das sociedades anónimas com sede em Portugal, quer na parte do capital monopolista nacional, quer na parte do capital imperialista internacional, no ano de 1956.

Em Portugal…………….9,87%
Nas Colónias………….19,95%

Estes números parecem bastar para entender o que se diz acima, sobretudo se comparássemos as produtividades do trabalho no Continente e nas Colónias, bastante mais baixo este, apesar do atraso de toda a economia portuguesa em relação à das outras potências coloniais.


INVESTIMENTO

Tornar-se-ia fastidioso aprofundar aqui a importância do capital financeiro actuando nas Colónias, o carácter primitivo da economia, e o auto-financiamento, mas ainda assim, pelo seu significado, abordar a questão do investimento público, realizado quase sempre às custas do individamento externo e para colocar ao serviço das grandes sociedades anónimas e companhias concessionárias monopolistas, praticamente de borla.
De facto, as obras realizadas nessas operações, têm pouco a ver com as necessidades do território, face ao seu estágio de desenvolvimento, mas mais com as necessidades das grandes empresas colocadas no terreno.
São obras na área dos transportes internos, nos portos, na hidroeléctrica e na prospecção geológica, postos depois ao serviço do capital monopolista, na verdade sem retribuição e pesando na parte dos custos financeiros do Orçamento de Estado durante anos, em juros e amortizações.


CONCENTRAÇÃO DE CAPITAIS

Outra das características coloniais de Portugal é a enorme concentração dos capitais em presença em África, praticamente em meia dúzia de trusts internacionais, directamente, através de participações em bancos portugueses ou através da proliferação de empresas pertencentes de facto aos mesmos grupos de capitais internacionais, quase sempre aliados na criação de grandes conglomerados que actuavam nas Colónias portuguesas, no Katanga, na Rodésia e na África do Sul, capitais americanos, belgas, ingleses, franceses e alemães, algumas vezes suecos e dinamarqueses e até, como num caso na Guiné, japoneses.

Conclusão (apressada)
Aqui chegados, embora fique muito aquém do que poderia, parece-me dispensável continuar este trabalho porque:

1.º - O que se inclui é mais do que suficiente para provar o que afirmei no comentário ao poema do camarada Juvenal Amado, isto é, os interesses que se defendiam nas colónias portuguesas no início e durante a guerra colonial, eram estrangeiros, de capital financeiro, colonialistas e imperialistas, nos objectivos e práticas de exploração da mão de obra barata e do saque de matérias primas estratégicas e altamente lucrativas, bem como de alguns grupos portugueses da mesma natureza e objectivos, nomeadamente a CUF, o BNU e o BES, e ainda um pouco o Banco Burnay, tudo agravado pela circunstância do não aproveitamento de mais valias e lucros no desenvolvimento de Portugal Continental, pelo seu estágio de potência colonial profundamente atrasada, e pela natureza do seu regime político dos últimos 50 anos;

2.º nem ser objectivo deste trabalho aprofundar história, provas e elementos mais alargados e ainda que fosse, não me bastarem as ferramentas que pessoalmente possuo;

3.º apesar do gozo que me deu pesquisar e juntar elementos, estar isto a tornar-se uma espécie de gozo masoquista, já farto de estar aqui enrolado no sofá, na recuperação cardíaca, trabalhando como mouro e em más condições, com papelada espalhada à minha volta.

Não abandonarei a tarefa, porém, sem referir, ainda que escassamente, os grupos portugueses em presença significativa a à altura dos grupos exteriores, a CUF, na Guiné através da sua filial, a casa Gouveia) por vias várias, e nas outras colónias, em muitos outros e importantes sectores, em especial pela via financeira, intervindo associado no sector mineiro, na agricultura, nos transportes, o BES, o Banco Burnay, peão às ordens de capitais belgas (e americanos através destes) e franceses e o Banco Nacional Ultramarino, sempre como grupos monopolistas.

José Brás

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Notas:

(1) Gulf Oil Company, de Delaware, dominada pelo magnata Mellon, “rei dos alumínios”
(2) Societé General de la Belgique, trust financeiro criado em 1906 por Leopoldo II, com 65 filiais espalhadas pelas colónias portuguesas, Katanga e Tanganica nas mais variadas actividades, dos minérios aos caminhos de ferro,em algumas associada ao Banque L’Union Parisienne e com com Banco Burnay, sua ponta de lança na África portuguesa
(3) Anglo-American Corporation of South África, trust formado numa aliança de capitais americanos do Banco Morgan, do grupo inglês Opepnheimer. Os magnatas americanos Guggnheim, “rei do estanho” e Thomas F. Ryan, a companhia dos diamantes belgo-americana Forminière e a Sociedade Anglo-Belga Union Minière du Haut Katanga, associaram-se na Diamang
(4) Tanganika Concessions, fundada em 1899 por Cecil Rhodes por encargo da British Soud África Co. (família Oppenheimer) para explorar o urânio, o cobre e outros minerais
(5) British South África Company da família Openheimer
(6) African Consolidating Investments Corporation de capital americano do milionário Schelsinger que reside na África do Sul e preside a 107 sociedades.
(7) T.D. Horning com sede em Londres com várias filiais, como a Refinaria Colonial, em Lisboa; a Companhia do Comércio de Moçambique; a Sociedade de Chá Oriental; a Sociedade Agrícola de Malange (Angola) e controla a Agência Colonial de Moçambique, a Agência Comercial e Marítima e a Sociedade Industrial do Ultramar
(8) Franley, Bobone and Co + Hambro’s Bank com capitais ingleses e dinamarqueses que controla a Sociedade Agrícola do Madal, fundada em 1904 pelo Príncipe do Mónaco
(9) Lever Brothers & Unilever, trust inglês com estabelecimentos em Bissau, Bafatá, Bolama, Farim, Binta, Olossato e Bissoram.


Referências:

- Cester Bowles, “África, Challenge to América”
- William Top, “O Valor do Trabalho dos Assalariados Africanos”
- George Boulanger, “O Trabalhador Africano”
- Edition du Seuil ,Presence Africaine, “Le travail en afrique noire”
- Cunha Leal, “Incrível Sonefe” empresa algodoeira de Benguela, 1958
- - Boletim da Associação Industrial de Angola
- Statistical Year Book ONU
- Boletim Estatístico de Angola
- Armando Castro, “O Sistema Colonial Português (meados do século XX)”, 1962
____________

Nota de CV:

Vd. postes da série de:

27 de Dezembro de 2011 Guiné 63/74 - P9278: (Ex)citações (167): As colónias portuguesas antes da Guerra (1): Introdução e Angola (José Brás)
e
28 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9282: (Ex)citações (169): As colónias portuguesas antes da Guerra (2): Moçambique (José Brás)

12 comentários:

antonio graça de abreu disse...

Meu caro Zé Brás

Obrigado pelas fontes históricas.
As fontes eram importantes porque o teu trabalho é feito "à la lumière do marxisme" e hoje, 2011 já quase ninguém aborda assim a História de África, ou outra qualquer.
Tenho um mestrado em História da Expansão e dos Descobrimentos Portugueses (1999), o que não me dá autoridade para criticar quem quer que seja, tão pouco o Zé Brás, mas aprendi algo sobre a Teoria da História, a Nova História, a História feita à luz do marxismo.

Citas Armando de Castro, a quem foste buscar muitos dos dados que apresentas, no seu trabalho de 1962, irremediavelmente enviesado e datado.
Armando de Castro foi membro do Partido Comunista Português desde os anos quarenta do século passado até à sua morte a 18.6.1999. A edição nº. 1334,de 24.6.1999, do jornal Ávante, orgão do Partido Comunista Português fala assim de Armando de Castro:"Um dos maiores vultos da ciência e do pensamento marxista deste século."

E não digo mais nada.

Digo-te apenas, para concluir, que no ano de aulas no meu mestrado em História, na Faculdade de Letras de Lisboa, tive a ventura de ter dois professores excepcionais, ainda vivos e que me dão a honra de ser meus amigos. Chamam-se António Borges Coelho e Joaquim Veríssimo Serrão. O primeiro ex-comunista (esteve na fuga do Cunhal de Peniche, em 1961, mas não fugiu)o segundo ex-marcelista,autor da melhor e mais completa História de Portugal até hoje publicada. Se quiseres, um de direita, outro de esquerda, ambos visceralmente honestos, dois homens notáveis com quem aprendi muito.

Abraço,

António Graça de Abreu

Luís Dias disse...

Caro José Brás

Apenas referir alguns momentos históricos relacionados com Bolama. De facto os ingleses e também os franceses estiveram sempre muito interessados na nossa Guiné.
A fixação do padrão das armas de Portugal em Bolama só se deu em 1753, pelo capitão-mor Francisco Roque Sotto Mayor, embora os portugueses anteriormente dali extraíssem madeiras.
O capitão da marinha inglesa Philip Beaver com vista a estabelecer colonatos desembarcou em Bolama mais de duas centenas de britânicos em 1792, que viriam a abandonar o local ano e meio depois. A Inglaterra reclamou esta terra como sua possessão, devido a pretensos acordos e aquisições feitos por Beaver.Portugal, em reforço das suas posições, conseguiu negociar com os reis de Canhanbaque e com os Beafadas a cedência da ilha à coroa portuguesa e com o régulo dos Bijagós a cedência das ilhas das Galinhas. As provocações inglesas continuaram e o governador da Serra Leoa, mandou arvorar a sua bandeira em 1828 e em 1861, em Bolama, considerando-a parte integrante desta colónia inglesa.
Portugal reagiu a esta situação e propôs o recurso a uma arbitragem. A Inglaterra como já se instalara na ilha, recusou a proposta portuguesa. Em resposta, o governo de Cabo Verde decidiu, mesmo sem esperar pelas ordens do governo central, libertar Bolama do domínio inglês pela força o que conseguiu.
Perante esta situação o governo inglês não protestou e aceitou a sugestão portuguesa anterior, tendo sido designado para árbitro o Presidente dos Estados Unidos da América Ulisses Grant, que no dia 21 de Abril de 1870 proferiu a sentença, atribuindo a Portugal plena razão, tendo por fundamento a descoberta da Ilha e do território fronteiriço na terra firme por um navegador português em 1446, pela ocupação de toda a costa na terra firme defronte da Ilha.A 18 de Março de 1879 o território é proclamado «Província da Guiné» passando a sua administração a ser independente de Cabo-Verde, e sendo a capital da nova Província estabelecida em Bolama.
Aqueles que estiveram em Bolama recordar-se-ão da estátua do presidente norte-americano colocada num jardim público.
Com a independência a estátua foi derrubada e partida aos bocados para ser vendida, devido ao bronze de que era feita. O Governador e o Administrador de Bolama foram detidos por venderem parte da estátua e Alpoim Galvão foi impedido de sair do país, na altura e por algum tempo, por ter sido o comprador.
Um abraço.
Luís Dias

Anónimo disse...

Caro José Brás,
Li com interesse os seus três sucessivos postais, e respectivos comentários.
Não faço comentários. Apenas brevíssima nota, à atenção do editor: não sei quem é 'Cester' Bowles... Será, decerto, Chester Bowles.
Cpts,
JCAS

Torcato Mendonca disse...

Obrigado por estes teus elementos. Vou Copy /paste para os meus arquivos.

São um modo de ver as antigas Colónias. Sabemos qual a matriz dessa descrição.
Não comento por fastio com a abundância de espíritos de forte sapiência.
Enjoo mesmo. Problema meu!

Pena não ter continuação;pena não ter versão diversa de descrever o colonialismo.

Abraço T.

Anónimo disse...

Interessantes complementos do Graça de Abreu e do Luís Dias, estes sim, os comentários que ajudam a enriquecer este espaço e o nosso, ou, pelo menos, o meu conhecimento.

Um abraço,
BSardinha

Anónimo disse...

Amigo José Brás,

Obrigado por me recordares Angola, com casas e empresas que mal ou bem conheci a maioria que referes, e que me lembra tempos formidáveis de dinamismo, de imensa gente com quem convivi em toda a Angola, menos Cabinda.

Claro que ao referires os investimento ou presenças estrangeiras, ainda falta muita coisa.

Quando falas em Casa Americana, havia ainda a Casa Alemã, Casa Inglesa, Casa Holandesa ou Zeud, e não sei se falta mais alguma casa.

De tudo em geral conheci alguem.

Eram casas Import/export, mercedes, chevrolet, philips, e coisas assim.

Brancos e pretos gostavam de trabalhar com essa gente.

Sobre exploração das riquezas de Angola, não sei se consideras que se explorou demais ou se de menos.

Claro que em geral diziamos todos que deus dá nozes a quem não tem dentes, atacando Salazar.

Quase depreendo que pensas como alguns angolanos, guineenses, brasileiros e madeirenses que dizem: azar se fossemos colonizados por ingleses ou franceses, agora por atrazados como os portugueses!

Talvez penses que deviamos ter pedido aos ingleses para juntarem Angola e Moçambique ao Mapa-cor-de rosa.

Ou entregar aos alemães em 1914 quando queriam anexar pelas armas, o Sul de Angola e norte de Moçambique aos seus territórios.

Já ouvi gente a pensar assim.

Quando falas em exploração de trabalhadores em minas em Angola só havia minas de diamantes (Diamang)estado e accionistas estrangeiros e Manganês com uma alemã judia chamada Madame Bergman, mas tudo a céu aberto e tudo mecanizado.

Isto antes da guerra. Depois da guerra, só com Marcelo é que se abriu os diamantess a outras empresas, portugueses em geral.

Aí começou o negócio de vidros quartzos e outros barretes à nossa boa maneira do chico esperto.

Havia empresas de cerveja e bebidas, menos coca-cola que Salazar não queria e ele lá sabia porquê.

José Brás, todas as empresas em Angola, com capitais estrangeiros que referes, e outras, portaram-se sempre dignamente para com o estado português e trabalhadores.

Só mesmo com a desordem da guerra que se seguiu ao nosso abandono desorganizado é que pouco ficou.

Até café e açucar Angola passou a importar.

Não tiveram o mesmo respeito para o estado português e trabalhadores, a Opel, Renault,sapatarias inglesas do Vale do Ave e esta selvajaria que estes anos sairam de Portugal...sem mais nem menos.

Conheci as fronteiras de Angola junto ao Congo Belga, Zambia e Namibia, em grandes extensões.

E ainda a fronteira do Senegal com a Guiné em Coldá e por Pirada, onde precisei de recorrer a bombas de combustível pela falha em Bissau.

E as diferenças de dsenvolvimento era tudo semelhante.

Se exceptuarmos a África do Sul e Zimbabué, quem quizer quantificar as comparações de colonização e exploração africana, não chega a lado nenhum.

A riqueza são as pessoas, porque o ouro?...O Salazar deixou-nos o ouro judeu, o ouro nazi, o ouro dos nossos aneis e voou, tal como o ouro do brasil.

Os angolanos e chineses vão iniciar uma exploração de prata que se diz que dá para 300 anos!

Nem o Salazar desconfiava da fartura.

Fazia parte da propaganda do PAIGC que a Guiné tinha nuitas riquezas minerais e Salazar escondia essas riquezas.

Tambem por isso vi uma enorme máquina russa de furos a viajar pela Guiné à procura de "água".

José Brás, se os diamantes iam e vão para os Openheimer, imagina se dissermos aos ingleses que não bebem mais do nosso vinho do porto.

Quem não pode não se estabelece! não é assim que se diz?

Gostei de falar de Angola, onde só dei tiros na carreira de tiro ou a alguma gazela, mas pouco.

Um abraço

Antº Rosinha

Juvenal Amado disse...

Amigo Rosinha acredito no bem estar que se tinha em Angola e pelas saudades que ficaram a quem lá viveu, só depreendo que se vivia bem melhor lá do que cá. Cá emigrávamos a salto para os bidon Ville dos arredores das grandes cidades francesas.
Aliás na altura era proibido pelo governo, hoje é aconselhado.
Mudam-se os tempos....

Um abraço

Anónimo disse...

Caro José Brás

Com todo o respeito pelo teu trabalho,não vou e não quero entrar em polémicas.
Seria interessante fazer um resumo histórico do que os russos fizeram nas pós-independências.
Os cubanos até os autocarros "gamaram" em Angola.
Os chineses neste momento são um autentico polvo em África... e..e já têm um tentáculo em Portugal..ai que me dá uma coisa.
Por não ser do âmbito e temática deste blog...fico-me por aqui.

C.Martins

antonio graça de abreu disse...

Diz o Zé Brás neste seu último texto,
a propósito de exploração, antes de 1961 nas colónias portuguesas:

"O topo vivia da exploração do esforço do branco de segunda, este do terceiro, quarto e quinto escalões, a par da exploração brutal de todos pelas grandes empresas monopolistas na área da agricultura e da minas, sobretudo."

No seu comentário diz o António Rosinha, que conheceu bem Angola nesse período:

"Eram casas Import/export, mercedes, chevrolet, philips, e coisas assim.
Brancos e pretos gostavam de trabalhar com essa gente."

e continua, mais abaixo:
"José Brás, todas as empresas em Angola, com capitais estrangeiros que referes, e outras, portaram-se sempre dignamente para com o estado português e trabalhadores."

Diz o Juvenal Amado, no seu comentário:

"Amigo Rosinha acredito no bem estar que se tinha em Angola e pelas saudades que ficaram a quem lá viveu, só depreendo que se vivia bem melhor lá do que cá."

Eu não digo mais nada.

Abraço,

António Graça de Abreu

Antº Rosinha disse...

Amigo Juvenal,muitosque viviam como eu vivi em Angola, trocaram aquela vida, precisamente para ir para o bidon ville.

Sabes que o Salazar e depois Marcelo, enquanto de Angola não deixava transferir nem um centavo, pelo menos sem uma boa justificação, tipo mesada para um filho universitário, ao contrário com os emigrantes a salto, mal chegavam ao Bidon ville aparecia logo uma agência de um banco disposto a transferir os francos.

De Angola só cambiando a 20 ou mais por cento a sargentos ou oficiais.

Daí a ida para a França de muita gente que estava em Angola, sabendo o que o esperava.

Juvenal, o Bidon ville não foi só uma catástrofe, foi tambem uma "filosofia de vida", para muitos portugueses.

O SAlazar sabia muito bem o que era importante as "remessas", talvez atribuisse tanta importância
a um pedreiro em França como a um artilheiro na Guiné.

Eu apenas no 25 de Abril com 37 anos comecei a pensar quem foi Salazar e Marcelo, quem somos nós todos, e até o que era um oficial antes da guerra e depois com a guerra e depois novamente sem guerra.

É que mais tarde tive uma experiência que só uns tantos portugueses tiveram esse previlígio:

Fui "retornado".

Quando digo previlégio, é exatamente esse sentido que atribuo à palavra "previlégio".

Só com esta experiência, me deu para olhar para coisas a que nunca tinha dado importância, ou até nem acreditava.

Sem essa experiência, não compreenderia a diferença entre um autêntico ditador, e um falso democrata.

Para mim "mudaram-se os tempos e as vontades", no dia 26 de Abril.

O 25 correu bem, Salgueiro Maia cumpriu.

Um abraço

Hélder Valério disse...

Portanto, Zé Brás,

Depreendo que se pode concluir que, há época, a maioria dos 'interesses' das e nas 'nossas' 'províncias ultramarinas' eram estrangeiros. Directamente, e também por interpostas pessoas e/ou empresas 'nacionais'.
E que foi em nome de Portugal e em nome da integralidade do território que fomos chamados a 'cumprir o dever'.

E isso ou é verdade, ou não é. Independentemente das fontes serem ou não 'avalizadas' por espíritos mais escrupulosos, digamos assim, quanto à 'origem das luzes'...

É também verdade que depois das 'independências' outros interesses (no fundo, os mesmos, só que com outras roupagens e por outras vias) se perfilaram para 'ajudar' os novos países, como alguns comentadores procuraram invocar como que a contrapor ao teu trabalho, como que a dizer "pois sim, dizes isso porque eram 'ocidentais' mas estás a esquecer-te dos russos e cubanos..".
Pois claro, mas, utilizando uma expressão popular corrente "o que é que o cú tem a ver com as calças?". O que estava em causa era mostrar (ou não), no trabalho do Brás, que 'no nosso tempo' não foram exactamente os interesses de Portugal, assim no abstracto colectivo, e muito menos os do povo português, que nos levaram a combater.
O que se seguiu, sendo errado igualmente e sendo evidentemente consequência da nossa 'não presença' foi posterior, tem cabimento noutro tipo de apreciação, outro tipo de análise. Misturar as duas coisas, actos de tempos diferentes, na mesma apreciação, não me parece argumentação séria.

Para terminar quero apenas deixar duas ideias, minhas.

Agradecer ao Zé Brás por ter tido o trabalho de nos facultar os elementos das suas pesquisas, pese embora terem sido prejudicadas pelo problema da sua 'máquina pulsatória'. Por mim acho que ficámos mais enriquecidos, mais conhecedores, concordando ou não com o apresentado. A avaliar pela quantidade e qualidade dos comentários acho que valeu a pena.

A outra ideia é a de que, comungando das preocupações do Joaquim quanto à 'politização' fico com a ideia que esse perigo é mínimo face à capacidade de superar divergências que tem sido demonstrado e principalmente quando se conseguir suster a tentação de 'catalogar' as pessoas, de as apontar a dedo segundo as suas 'tendências', enfim, quando se refreiam as palavras e expressões que facilmente se podem entender provocatórias.

Haja paz!

Abraço
Hélder S.

Anónimo disse...

E para acabar, dizer ao Mexia Alves que seria, sim, um bom exercício, esse de avaliar até que nível a política de Salazar retardou ou evitou o colonialismo nas nossas ex-colónias.
Teria que ser um exercício menos objectivo e mais de previsão subjectiva porque ele não se concretizou antes da guerra. Contudo o que vimos depois da guerra, dá para adivinhar o que teria sido se...
O Colonialismo soviético não era melhor do que o americano, é uma certeza que tenho desde que o vi em Angola, em Moçambique e, de outro modo, em Cuba.
Continuo, no entanto a pensar que a melhor maneira de o ter evitado seria a negociação a tempo e horas, como aconteceu em Cuba que pelo apoio desbragado que americanos deram a Batista, e pela obstrução que fizeram a Fidel, acabaram por atirá-lo para os braços dos soviéticos.
E já agora, veja-se no seu melhor, o colonialismo novo chinês em Angola
Abraço
José Brás