sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Guiné 63/74 - P10343: Blogpoesia (199): Os felizardos da guerra (Joaquim L. Mendes Gomes)


Os Felizardos da Guerra



Somos os afortunados
Das guerras de África.
Para onde, muito jovens,

Desafortunadamente,

Tivemos de ir…
Uns à força.
A maioria, não.

Regressámos todos,
Por boa sorte,
Num bojudo ventre,
Ao Cais da Rocha…
Lá muito atrás.
Dali partimos
Por esse mundo, fora,
Para a outra guerra,
Feita na paz:
Uma tarefa ingente,
De luta, sozinhos,
Construir o futuro
Que havíamos de ser.

Sem mais regimentos,
Sem noites de escala,
Sem mais cornetins,
Mais paradas de ócio,
Sem mais portas de armas…

Estava tudo aberto…
À nossa mão,
Com braços de ferro
E muito suor.

Essa luta passou.
Todos vencemos
A guerra da vida,
Muitas vezes, de sonho,
Tantas vezes, feroz.

E ao cabo de tudo,
Espalhados pelo mundo,
A mesma Glória nos une:
- A de estarmos bem vivos,
É sermos Avós…Imortais!


Ovar, 4 de Setembro de 2012
_____________


Nota do editor:

Último poste da série > 5 de setembro de 2012 >  Guiné 63/74 - P10332: Blogpoesia (198): Uma estranha maneira de dizer adeus (Luís Graça)

2 comentários:

manuel maia disse...

Caro Joaquim Gomes,

Parabéns pelo estremamente bem conseguido poema reportando a guerra e as "muitas guerras" que todos tivemos de suportar depois de Àfrica.
Obrigado.

Hélder Valério disse...

Caro Joaquim Mendes

Gosto do teu poema.
Com ele fazes como que uma espécie de 'balanço' do teu percurso de vida e, generosamente, ofereces o mesmo às semelhanças de outros percursos.

Como podes calcular, essas possíveis generalizações correm o risco de não 'colar' completamente. No meu caso não tenho o gosto de ser avô pelo que fico inferiorizado neste teu 'modelo'.

De qualquer modo, obrigado.
Hélder S.