domingo, 30 de setembro de 2012

Guiné 63/74 - P10458: Blogpoesia (304): Cangalheiros deste povo (Ricardo Almeida, o poeta da CCAÇ 2548, Farim, Saliquinhedim, Cuntima e Jumbembem, 1969/71)

Cangalheiros
por Ricardo Almeida [, foto atual, à esquerda]

Cangalheiros deste povo
e
Do meu povo!,
Que já nem têm um covo
de
De terra para enterrar.
As mortes que então provocais,
Hão-de pesar-vos na alma,
Sem tempo p'ra queixumes nem ais,
Por serem mais pesados que a lama,
Os mortos que tendes de carregar...

Mas se isto não bastar
e
Se justiça houver,
Estarei cá para ver
Vosso corpo a enterrar
e
Sobre essa terra escrever
Aqui jáz erva daninha,
Não queirais essa semente,
Que isto é campo de doninha,
Não queirais ser conivente.
e
Senhores de Portugal,
Não há quem vos faça mal
Porque o poder que possuem
Não foi dado pelo povo
Mas outrossim  usurpado;
e
Nem o próprio jornal
Não os factos desta guerra
Não vá o povo saber
e
Clamar contra o poder,
Nalgum jornal lá da terra!

Mas um dia tenho a certeza,
Se saír vivo daquì.
Denunciarei a pobreza
Deste povo  e do meu povo,
e
Do mais que eu já vi.

Venham ver, venham ver...
A mãe com filhos pequenos
Sem nada ter p'ra lhe dar,
Que de nascença morenos
e
Da icterícia amarelos,
Porque a ferida do seu figado
Já não se pode sarar.


PS - Poema enviada em 26 do corrente, com a seguinte nota:

Em jeito de roda pé
volto a chamar atenção que isto é escrito,
num contexto politico muito adverso,
politico, económico, social, cultural,
e que levava ao desespero e à revolta
porque não bastava os itens acima descritos,
como a guerra que dizimava lá longe toda uma geração.
Por isso estas crónicas em jeito de poesia.

Peço desculpa por algum lapso que possa surgir,
fruto da pouca experiência de escrever no computador.

Com um abraço para toda a Tabanca Grande
marques de almeida
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