sábado, 26 de janeiro de 2013

Guiné 63/74 - P11007: Do Ninho D'Águia até África (47): Iafane, o barqueiro (Tony Borié)

1. Quadragésimo sétimo episódio da série "Do Ninho de D'Águia até África", de autoria do nosso camarada Tony Borié (ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66), iniciada no Poste P10177, chegado até nós em mensagem do dia 22 de Janeiro de 2013:


DO NINHO D'ÁGUIA ATÉ ÁFRICA (47)





O Iafane era um africano com uma certa estatura física, era de etnia “Balanta”, jogava futebol, vivia na tal aldeia com casas cobertas de colmo, próximo do aquartelamento, fumava cigarros como fosse um europeu, não falava muito bem português, mas compreendia-se, tinha a sua “morança”, e algumas mulheres. A sua profissão era barqueiro. Sim barqueiro, compreenderam bem, era barqueiro.


Tinha umas tantas canoas, ancoradas, às vezes na lama, junto à ponte do rio Mansoa, outras em terra, onde as construía, pois estava sempre na construção duma, e fazia viagens pelas aldeias ribeirinhas, trazendo o pessoal que queria vender os seus produtos no mercado da vila ou na sucursal da Casa Ultramarina. Na altura da maré cheia, lá ia com uma ou duas canoas, rebocadas pela sua, onde a poder de um enorme remo, a fazia mover na direcção que entendesse.


Transportava pessoas e bens, cobrava o que entendia, consoante o transporte, e esses mesmos passageiros o auxiliavam, remando, no regresso à ponte, junto da vila. Tinha uma pequena barraca, coberta de colmo junto à ponte, foto em cima, onde guardava os remos e demais utensílios, onde o Cifra passava horas, abrigando-se do sol e ouvindo as suas histórias de mulheres novas que trazia das aldeias ribeirinhas que visitava, umas para serem suas esposas, outras para outros “homens grandes”, e onde apreciava as possíveis raparigas que tivessem algum poder de se tornarem em esposas, algumas fugiam depois, pois não queriam viver com ele na vila. Também contava histórias de pescarias depois de intensos tornados, em que o peixe andava ”maluco” e saltava para dentro da canoa, ou até das vezes em que tinha sido contactado por um emissário dos guerrilheiros para parar com o seu negócio, pois os produtos e as raparigas que trazia para a vila, eram propriedade do movimento de libertação. Já o tinham avisado e mostrava um certo receio ao dizer isto. Ele contava tudo isto porque confiava no Cifra e o tratava por irmão, e sabia do envolvimento que o Cifra teve com as raparigas, que afinal eram guerrilheiras e que às vezes o ouvia por horas, enquanto com um pequeno machado nas mãos, construía uma nova canoa.


Tinha os seus truques na condução da canoa, colocava um saco de terra na ré onde se sentava e dizia que deste modo a proa levantava e dava mais velocidade, com menos esforço.


Pois não é que uns tempos depois o Cifra, deixando de o ver, assim como às suas canoas, soube que “foi no mato”, que na linguagem de guerra era transferir-se para os guerrilheiros, fazendo parte do movimento de libertação, e que estava estudando num País estrangeiro. Talvez até já fosse guerrilheiro na altura em que era barqueiro, e do modo como a guerra se estava intensificando, o Iafane, sabendo os hábitos do pessoal na vila, concerteza que ia dar que falar no futuro. Entretanto o Cifra veio embora, com a sua comissão cumprida.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 22 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P10984: Do Ninho D'Águia até África (46): A menina Teresa não sai de cima de mim (Tony Borié)

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