domingo, 20 de janeiro de 2013

Guiné 63/74 - P10969: Bibliografia de uma guerra (66): A morte de Amílcar Cabral no livro "Guerra da Guiné: A Batalha de Cufar Nalu" (Manuel Luís Lomba)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Luís Lomba (ex-Fur Mil da CCAV 703/BCAV 705, BissauCufar e Buruntuma, 1964/66), com data de 19 de Janeiro de 2013, subordinada ao tema execução/assassinato de Amílcar Cabral ocorrida há precisamente 40 anos:

Olá, camarada e amigo Carlos Vinhal,
Na oportunidade da efeméride, submeto-te o texto que, se merecer alojamento no blogue, poderá complementar com a reprodução da narrativa Anatomia do crime político do assassinato de Amílcar Cabral, uma extensa nota de rodapé, iniciada na página 259 do livro "Guerra da Guiné: A Batalha de Cufar Nalu", que confesso não “saber como colar e cortar”, para a incluir aqui.

Aproveito para explicitar a minha autorização para fazer eco no blogue do que entender desse livro.

Um grande abraço,
Manuel L. Lomba


Nos 40 anos pós assassinato de Amílcar Cabral, o fundador das nacionalidades bissau-guineense e cabo-verdeense, que foi morto a tiro, por compatriotas e seus companheiros de caminho, no logradouro da sua residência em Conakri, na madrugada de 20 de Janeiro de 1973, num contexto de guerra surda intestina.

O acontecimento e suas sequelas deram azo a que o partido-Estado PAIGC aumentasse exponencialmente as suas potencialidades de “máquina de matar” compatriotas, por motivos políticos - cerca de 11 mil, contados de Janeiro de 1963 a Janeiro de 2013, segundo o cálculo de alguns historiadores.

O povo da Guiné, heróico e maravilhoso, tornou-se credor da estima e da amizade da generalidade dos portugueses ex-combatentes, nos 12 anos de duração da guerra “antidescolonialista”, por honra e dever para com o nosso país.
E a História veio presentear-nos com a penosa realidade de que os mesmos barões e as mesmas armas que serviram para expulsar o colonialismo português têm servido para tornar o povo bissau-guineense refém do desassossego e do subdesenvolvimento.

OBS: - Segue-se a digitalização da nota de rodapé Anatomia do crime político do assassinato de Amílcar Cabral que podem ser lida nas páginas 259; 260 e 261 do livro "Guerra da Guiné: A Batalha de Cufar Nalu" do nosso camarada Manuel Luís Lomba

____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 24 DE OUTUBRO DE 2012 > Guiné 63/74 - P10564: Bibliografia de uma guerra (65): As nossas Enfermeiras Pára-quedistas vão editar um livro, precisando de depoimentos daqueles que com elas tenham trabalhado (Miguel Pessoa)

5 comentários:

Luís Graça disse...

Obrigado, Luís Lomba, pela tua oportuna nota de rodapé, procurando reconstituir sumariamente os acontecimentos que levaram à morte de Amílcar Cabral, há precisamente 40 anos...

Nessa altura eu já estava na metrópole há 2 anos. Mas um dos conjurados, o Mamadu Indjai, é do teu tempo e deu-nos muito que fazer, à CCAÇ 12, à CARt 2239, aos páras do BCP 12... O Mamadu foi gravemenet ferido na data que indicas, não na base do Morés mas sim no setor L1 (Bambadinca), e mais exatamente no subsetor de Mansambo (CART 2339, dos nossos camaradas e amigos Torcato Mendonça, Carlos Marques Santos e outros). Temos meia dúzia de referências sobre o homem:

http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/search/label/Mamadu%20Indjai
____________


(...)Ao que eu saiba ou me lembre, o IN de então, que com frequência flagelava o Xime e o Enxalé, nunca intentou, no meu tempo (e no nosso tempo, meu e do Torcato, que esteve no setor até ao último trimeste de 1969), levar a cabo nenhuma ação contra esta estratégica infraestrutura portuária (por ex., minagem)... Muito provavelmente por que não longe dali, a montante e a jusante do cais do Xime, havia pelo menos dois ou mais importantes pontos de cambança do Rio Geba, permitindo a ligação da frente sul à frente norte, através do Enxalé (e também do Geba Estreito, no Mato Cão)...

Isso mesmo reconheceu o comandante Bobo Keita, nas suas memórias, quando Amílcal Cabral propôs o seu nome, para substituir o comandante da Zona 7, Mamadu Indjai, gravemente ferido pelas NT (e mais concretamente pela CART 2339) na Op Anda Cá (em 15 de Agosto de 1969). (Mamadu Indjai estará mais tarde implicado no assassinato de Amílcar Cabral, em 20 de Janeiro de 1973, juntamente com Inocêncio Cani e outros, tendo sido executado, a crer no depoimento de Bobo Keita)...


"Ofereci-me para lá ir esperar o restabelecimento do Mamadu Indjai. Cabral disse-me que podia então lá ir por 15 dias pois era um lugar importante na estratégia da luta. Ficava nas regiões de Xime, Bambadinca e Xitole. Era um triângulo onde se encontrava uma cambança que permitia passar para o Norte [, região do Óio,] através do rio Geba, via Inchalé [sic]. Fui para 15 dias e fiquei lá nove meses. Era um lugar difícil" (In: Norberto Tavares de Carvalho - De campo em campo: conversas com o comandante Bobo Keita. Porto, ed. de autor, 2011, p. 134). (...)

antonio graça de abreu disse...


"Se necessário e para bem da revolução, faremos um todo com os ladrões e os bandidos."

A frase é de Vladimir Ulianov, mais conhecido por Lenin, pai da revolução russa.

Se necessário, acredito que o não leninista general António de Spínola estaria disposto a usar quaisquer tipo de alianças.

Mas não foi necessário. O assassinato de Amilcar Cabral constitui, na minha humilde e pouco conhecedora opinião uma "contra-aliança".

Abraço,

António Graça de Abreu

Hélder Valério disse...

Caros camaradas

É legítimo que todos e cada um tenham as suas 'crenças'.
Mas já não é tão legítimo que se faça passar as nossas crenças como 'a verdade', em detrimento das crenças de outros.

Neste caso, o do cobarde e miserável assassinato de Amílcar Cabral, não tenho crenças.
Tenho a certeza de que me contaram toda a verdade sobre os autores materiais dos actos.
Tenho a 'tentação de acreditar' (uma quase-crença, portanto) em várias cumplicidades que concorreram para o acontecimento e, digamos assim, a sua quase inevitabilidade, coisa que até o próprio Amílcar teria antecipado. Tenho também a crença que o 'ramo português' teve a sua contribuição no desenrolar da tragédia.
Mas não tenho a 'crença' de que o Gen. Spínola, ele próprio, preferisse o 'Amílcar morto' a um 'Amílcar interlocutor'.

Abraço
Hélder S.

Cherno Baldé disse...

Amigo Helder,

Concordo com o teu raciocinio, mas também, convinha equacionar neste teu raciocinio, a morte, nao menos cobarde e violenta dos tres majores no chao Manjaco.

Depois de um golpe destes, mesmo os Generais podem mudar de postura.

Um abraco,

Cherno Baldé

Anónimo disse...

O camarada Helder, diz bem e parece saber, o mesmo que eu soube na época. É que ninguém fala, mas porque não admitir que a morte do homem foi afinal um crime passional? Mas o que mais me custa é que sem saber o que aconteceu, se publiquem tantas versões e ninguém procure ir lá ao fundo da questão? Se os arquivos foram desviados para Moscovo, se o Seku Touré, queimou (ou não) as verdades verdadeiras, como se atrevem a condenar (e vi-o aqui no blog) o Senhor Spínola e até a escreverem que essa foi a única vitória que este alcançou? "Brinquemos ou quê? "
A seguir ao vinte e cinco do quatro, também me chamaram fascista por ter estado na guerra da Guiné e têm-me prejudicado por ter lá ido e não ter fugido como alguns dos que agora assim falam e até foram considerados heróis em vez de desertores (Querem nomes?).
Mas caros camaradas, lembre-se disto: Amilcar Cabral pode ter sido , um homem bom, um homem decente, como muitos aqui têm dito no nosso blog, Mas NÃO ESQUEÇAM os nossos amigos que morreram lá na Guiné e não foram assim tão poucos e se tal aconteceu a culpa foi do Amilcar Cabral. Deixemo-nos de ingenuidades, deixemo-nos de tretas ou então teçam também loas os suecos (que ajudaram materialmente) ao Fidel e ao Che que também contribuiram, mas façam também um "post" a cada um dos nossos mortos. Disse, está dito e se houver alguém com coragem para contrariar o que acabo de escrever, que venha aqui dizer-mo, se para tal tiver argumentos.
Veríssimo Ferreira
CCAÇ 1422. Mansabá. Pelundo, Jolmete, Mansabá, Manhau,K3 e Secção de Funerais e Registos de Sepulturas/QG