terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Guiné 63/74 - P10984: Do Ninho D'Águia até África (46): A menina Teresa não sai de cima de mim (Tony Borié)

1. Quadragésimo sexto episódio da série "Do Ninho de D'Águia até África", de autoria do nosso camarada Tony Borié (ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66), iniciada no Poste P10177, chegado até nós em mensagem do dia 20 de Janeiro de 2013:


DO NINHO D'ÁGUIA ATÉ ÁFRICA (46)


O Cifra já não andava envergonhado, pelo contrário, a sua reputação no aquartelamento agora é grande com respeito a masculinidade, até já vinham ter com ele amigos de alguns seus amigos meterem uma “cunha”, para esses amigos, que o Cifra não conhecia, mas diziam que eram amigos dos amigos dos seus amigos, que queriam ir com ele para a Tabanca.
Era mais ou menos como quando o Cifra era criança, e se chamava Tó d”Agar, e vivia na sua aldeia do vale do Ninho d”Águia, e alguém queria meter uma “cunha” ao senhor “Regedor” ou ao “Guarda Rios”, para fazer uma represa nas terras alagadiças do lameiro, passando por cima de todos, roubando-lhes a água, que muita falta lhes fazia às suas sementeiras, e ficando a rir-se dos outros, sem tirar a referida licença. A estes “amigos”, o Cifra ouvia-os e depois ficava a rir-se baixinho, pois as “bajudas” que o Cifra levava algumas vezes ao cinema, eram raparigas dignas, com personalidade, bons sentimentos, tinham bom coração, dedicavam-se e eram carinhosas, mas só para quem confiavam e acreditavam. Tinham olhos na cara e eram inteligentes, mas derivado ao local onde viviam, também eram um pouco selvagens, primitivas, tal como gazelas, primeiro tinham que “cheirar” o corpo e sentirem o sabor da pele, e só depois, o seu instinto, um pouco selvagem, aceitava ou não conversa e convivência, e até acreditarem, confiarem e começarem a ver os sentimentos da pessoa que com elas falavam, por dezenas e dezenas de vezes, ia uma eternidade. O seu pai o “homem grande”, não deixava ninguém aproximar-se, sem ser recomendado e verificar muito bem se é de confiança e quais as suas intenções, em outras palavras, era muito difícil o contacto com essas “bajudas”, e se esse contacto fosse forçado, era considerado crime, tanto na lei “Balanta”, como na lei de Portugal.

Depois desta introdução, dizendo que o Cifra já anda um pouco de cara levantada, vamos à continuação da história da menina Teresa, que o Cifra já tinha dado como terminada, pelo menos na Guiné, e que os antigos combatentes e não só, já devem de estar fartos de ouvir, e vão dizer, lá vem outra vez com a história da menina Teresa, que eu já não posso ouvir, e é verdade, o Cifra também não. A menina Teresa, é de mais, sufoca, e por mais voltas que dê, não sai de cima de mim. Mas vamos continuar, pois o Cifra tem que desabafar com alguém e as vítimas são vocês todos que têm pachorra para lerem estes escritos. Continuando. Finalmente foi encontrado quem executasse o objecto que a menina Teresa tinha encomendado ao Cifra, e que os amigos antigos combatentes e não só, já sabem do que se trata, mas para os que só agora estão a ler a história, era um “Falo”, ou seja um “Phallus”, ou mais propriamente um “Pénis” em madeira de ébano preta, que a menina Teresa, uma solteirona que já tinha passado dos “cinquentas”, e dizia que era para lhe dar melhor sorte na vida, queria que o Cifra lhe levasse da Guiné, pois tinha visto numa revista francesa, quando ia à cabeleireira na vila, fazer a permanente e pôr um produto, que os antigos combatentes, também já sabem de outros textos, onde ela é a protagonista, produto este, que até cheirava mal, que também vinha de França, mas lhe fazia desaparecer o bigode por uns tempos.

Ora o Cifra já tinha o objecto em seu poder e querendo, mais uma vez, tirar este peso, que é a menina Teresa, de cima de mim, manda dizer num aerograma, que mandou para a mãe Joana, para dizer à menina Teresa que já tinha arranjado, e tinha em seu poder, a sua encomenda. Pronto, logo na próxima carta da mãe Joana, lá vinha uma nota, bem visível num canto, a dizer mais ou menos isto:
- “Tó d’Agar, não calculas a minha alegria. És um bom menino, diz-lá, é grande? É jeitoso? É assim uma coisa que se veja? Por favor manda-me a fotografia”!

O Cifra não teve outra solução, pegou na máquina, tirou uma foto ao objecto mas como a máquina não tinha “flash”, que é aquele clarão de luz, para tirar fotos dentro de casa, trouxe o objecto cá para fora, onde havia sol, portanto sujeitou-se mais uma vez aos comentários impertinentes do costume, quando o viam com o objecto na mão, a ajeitá-lo, para o colocar em posição de apanhar melhor luz, e também quando o amigo Braga, que lhe revelava as fotos, de “borla”, nos Serviços Cartográficos do Exército, na capital da província, viu a foto, também lhe mandou um comentário não muito abonatório, mas vamos em frente. Mandou a foto dentro de uma carta, com um selo dos grandes, tipo losango, com a imagem de animais, que comprou nos correios da vila.

A mãe Joana, quando o senhor Ezequiel, o carteiro, que andava a fazer a distribuição das cartas de porta em porta, com uma bicicleta, que tinha uma placa que dizia, “Propriedade do Estado”, com uma bolsa de cabedal pendurada no guiador, que por sua vez, também tinha fama de “galdério”, que na linguagem do povo era andar a trás de tudo o que fosse saia, e era o marido da dona Manuela, por sinal uma das maiores coscuvilheiras da vila, que até diziam que já tinha ido ao posto da GNR, por diversas vezes, por levantar “falsos testemunhos” e algumas “más línguas”, até chegavam a dizer “que os punha”, que na linguagem também do povo, que não era uma esposa fiel ao senhor Ezequiel, pois andava metida com o senhor Jaime da Serração, pelo menos da fama não se livrava. Continuando, a mãe Joana, ao receber a carta, apalpa-a e vendo-a com algum volume, viu logo que devia ser fotografias. Pediu ao senhor Ezequiel, carteiro, que tinha fama de “galdério”, se a podia abrir e ler para saber novidades do seu querido filho, que andava a dar o corpo às balas, lá na Guiné.
Resultado, na próxima carta que o Cifra recebeu da mãe Joana, vinha lá tudo explicado mais ou menos, com o escândalo que se passou, quando o senhor Ezequiel, o carteiro “galdério”, abriu a carta com a foto do “Pénis” de madeira de ébano preta, com a legenda, "menina Teresa, veja se gosta".

E vocês antigos combatentes, e não só, agora vejam o resultado, a mãe Joana devia de pôr as mãos na cabeça dizendo que o filho era um “mal educado”, pois insultava a menina Teresa, a quem devia tantos favores, dizendo aquelas palavras, daquele modo, com fotografia e tudo, e logo assim secamente, “veja se gosta”. O senhor Ezequiel, o carteiro “galdério”, ficou logo a saber que a menina Teresa procurava um “objecto dos grandes”, com toda a certeza que contou à esposa dona Manuela, que era a maior coscuvilheira da vila, e que diziam que andava metida com o senhor Jaime da Serração, enfim, por algum tempo, a menina Teresa, que apesar de ser uma grande desenvergonhada, pelo menos ainda não andava nas bocas do povo, mas talvez com vergonha, não devia de ter vindo à vila fazer a permanente, e o seu bigode, já se devia de parecer com o do senhor Marechal Carmona, que não tem culpa nenhuma de ser para aqui chamado, mas de quem o Cifra, com todo o respeito, mostra a fotografia, só para exemplificar o bigode.
O senhor Marechal Carmona até devia de ser muito boa pessoa, pois quando morreu deu dois ou três feriados ao Cifra, que nessa altura se chamava Tó d’Agar, pois em sinal de luto, e a bem da Nação, não houve aulas na escola na vila.

Se a menina Teresa, por qualquer outra razão, continuar a ser um peso e não sair de cima do Cifra, ele tem que desabafar, e todos vocês vão ser as vítimas, mas se ela lhe der um pouco de descanso, quando o Cifra regressar a Portugal, vão saber a desenvergonhada, que afinal ela era.
____________

Vd. último poste da série de 19 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P10963: Do Ninho D'Águia até África (45): Os meus galões (Tony Borié)

7 comentários:

JD disse...

Olá Tony,
Um texto e dois temas.
Da Guiné reflectes uma imagem familiar que não posso partilhar, mas em verdade, eu também não ia para a tabanca, e pouco convivi com a população.
Sobre a menina Teresa, mais o carteiro e a esposa alcoviteira, dás um interessante retrato de vida daqueles tempos, ainda que mascarada de fidelidades e outros respeitos que se tapavam com a peneira.
Às vezes nem escapava o padre da freguesia.
Um abraço
JD

Henrique Cerqueira disse...

Ó Tony...Tony...
Então tu não achas que foi um risco do caraças mandar fotos na carta e logo para a casa do Cifra??? Ai...Ai...Cifra que cabeça no ar me saíste.É claro que era de esperar aquele desfecho...o sacana do carteiro linguarudo tinha logo que dar bronca não é ?
Meu camarada e amigo Tony.Diz ao Cifra que nos dias de hoje até o "perdoamos"desde que nos conte se a menina Teresa perdeu o bigode ou não.Pois quanto ao "pirilau" já todos adevinhamos que a menina só o utilizou na "cozinha".Eu disse mesmo cuzinha de cuzinhar.
Um abraço Tony
Henrique Cerqueira

admor disse...

Caro Tony,

Como nós éramos tão bons rapazes e tão ingénuos.
Devias era ter sugerido à menina Teresa que fosse levantar a encomenda na procedência e mudavas logo o pêso de cima de ti para cima dela.
Um grande abraço.
Adriano Moreira


antonio graça de abreu disse...

Mas quando é que o pénis,
negro como um tição,
chega a Portugal
para aliviar a menina Teresa da aflição ou comichão
monumental?

Abraço,

António Graça de Abreu

Luís Graça disse...

Ó Cifra, então um das Caldas, daqueles de 5 litros, não chegava para a menina Teresa, era preciso ir buscar reforços à Guiné... ? Uma questão de "fétiche"...

De qualquer modo, acho que foste um bom "afilhado de guerra", gebntila, amável, prestável... Há coisas que nunca se negam a uma dama... Era assim a "mentalidade" da época... Agora já não há "damas" nem "cavalheiros"...

Anónimo disse...

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