1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 8 de Novembro de 2012:
Queridos amigos,
Descobri que o Instituto Camões ainda possui obras de autores guineenses, refere-se aqui, para começar, a poesia de Mussá Turé, muito generosa e sofrida, também varonil e afetuosa, e dá-se conta de um daqueles dossiês que diferentes grupos esquerdistas portugueses publicavam no exílio.
Aqui aparecem testemunhos de três desertores da Guiné, creio que o fuzileiro Alfaiate depois repensou a sua posição e entregou-se às autoridades portuguesas, tendo sido útil as informações que deu a Alpoim Calvão sobre a geografia de Conacri e a situação dos principais alvos que ele pretendia atingir na operação Mar Verde.
Um abraço do
Mário
Guiné! Por Mussá Turé
Uma relíquia: Falam desertores da guerra da Guiné
Beja Santos
Guiné! (edição patrocinada pelo Montepio Geral, 2001) é uma coletânea de poesia em português e crioulo do jornalista Mussá Turé, nascido em Sonaco, em 1967. Integrou a equipa da Televisão Experimental da Guiné-Bissau, foi apresentador do principal serviço noticioso desta emissora e correspondente das rádios internacionais Voz da América, África nº 1, RDP Internacional e Rádio Renascença.
É membro da organização Repórter sem Fronteiras, desde 1997.
A sua poesia, escrita fundamentalmente no virar do século, ressoa os conflitos tremendos que viveu o país entre 1998 e 1999, é uma poética que se assume como testemunho, participação, uma quase épica de esperança, uma escrita que parece ter sido elaborada para leitura pública, é poesia de alguém que não esconde a indignação e a plenitude da dor, perdeu um filho no decurso da guerra civil.
Oiçamo-lo no seu poema Mantenhas:
Mantenhas para ti combatente
mantenhas para ti camarada
um mantenha sorridente
para ti da Câmara da
verdade da Liberdade
Mantenhas para quem lavra
mantenhas para quem aprende
mantenhas para quem vislumbra
essa caminhada
algo inocente indecente
Mando mantenhas para ti da tabanca
mantenhas para ti da praça
mantenhas para ti pescador
mantenhas para ti estivador
De volta quero receber as tuas mantenhas
mantenhas falando das águas do rio dos peixes dos tubarões
mantenhas mostrando os teus músculos duros
qual tabuleiro de pesos pesados na balança dos ossos
De volta quero ainda receber as tuas mantenhas
mantenhas anunciando colheita
mantenhas anunciando fartura
mantenhas anunciando sabura
Quero antes mandar mantenhas para ti N’Gumbé
mantenhas para ti Kussundé
mantenhas para ti Poeta
mantenhas para ti Artesão
Quero antes mandar mantenhas para Bissâssema
mantenhas para Calequisse
mantenhas para Canquelifá
mantenhas para Onhokom
mantenhas para Sintchã Mamadú
mantenhas para Tôr
mantenhas para Encheia
____________
Nota do editor:
Vd. último poste da série de 4 DE FEVEREIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11054: Notas de leitura (455): "Raças do Império", por Mendes Corrêa (Mário Beja Santos)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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