quarta-feira, 3 de julho de 2013

Guiné 63/74 - P11796: Os nossos médicos (57): A CART 3493 nunca teve médico - diz António Eduardo Ferreira; resposta ao inquérito por Jorge Picado

1. Ainda a propósito do tema Os nossos médicos, o nosso camarada António Eduardo Ferreira (ex-1.º Cabo Condutor Auto da CART 3493/BART 3873, MansamboFá Mandinga e Bissau, 1972/74) mandou-nos esta mensagem com data de 27 de Junho de 2013:

Amigo Carlos Vinhal
Antes de mais recebe um abraço e votos de boa saúde.

Ultimamente, tem-se falado no blogue de médicos que integravam os batalhões. Quantos iam naquele a que eu pertenci, o 3873, não sei, fui uns dias mais tarde, apenas conheci a companhia já em Mansambo, mas a Cart 3493 nunca teve médico, recordo-me, de quando estávamos em Cobumba lá ter ido o médico duas ou três vezes, penso que estava sediado em Bedanda, não tenho a certeza.

Aquilo que ele me disse a única vez que falei com ele, talvez seja exagerado dizer que foi uma consulta, eu estava tão fragilizado que tinha dificuldade em movimentar-me, a alimentação era péssima, e o que ele me disse foi: sei que estás doente mas não te posso mandar para Bissau, e a “consulta” terminou assim.
Eu não lhe tinha pedido para me mandar para Bissau, talvez por descargo de consciência me tenha dito aquilo.

No dia que viemos embora de Cobumba, só tínhamos uma viatura, para complicar mais as coisas, naquela manhã avariou, tudo o que tínhamos para trazer foi transportado às costas, ironia do destino, a pessoa a quem paguei para me levar as minhas coisas ao rio, tinha sido carregador do PAIGC, de nome Miranda.
Eu que até ao rio, cerca de um quilómetro, levei apenas a G3, as cartucheiras e uma mala com cerca de três quilos de peso, quando cheguei ao cais, mesmo sabendo que a LDG estava à nossa espera, ia de rastos.

Antes de terminar este reduzido texto, permitam-me que envie um abraço ao Cherno Baldé, o mundo necessita de homens que digam as verdades, não enviei nenhum comentário, mas li com atenção o trabalho por ele enviado.
Passados tantos anos, continuo achar que a guerra tinha que terminar, nem sequer devia de ter começado, mas a forma como foram abandonados aqueles que estavam connosco, foi cruel, pouco importa agora de quem foi a culpa… mas há coisas que não devemos esquecer.
António Eduardo Ferreira

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2. Sobre o mesmo tema recebemos esta mensagem do nosso camarada Jorge Picado (ex-Cap Mil na CCAÇ 2589/BCAÇ 2885, Mansoa, na CART 2732, Mansabá e no CAOP 1, Teixeira Pinto, 1970/72), com data de 28 de Junho de 2013 respondendo ao inquérito:

Amigo Carlos
Aproveitando um momento livre de acesso à NET, aqui da Costa Nova do Prado, onde o vento forte persiste em refrescar estes dias que dizem ser de calor (!), envio-te o que sei da "minha" Unidade "mãe", BCaç 2885 sobre os Serviços de saúde, de acordo com a ordem das propostas apresentadas.

Assim:

(i) Quantos médicos seguiram com o vosso batalhão, no barco?
R - Da HU constam 3 Alf Mil Méd que embarcaram com o BCaç.

(ii) Quantos médicos é que o vosso batalhão teve e por quanto tempo?
R - Só me recordo de dois deles, que permaneceram, um até final FEV71 e o outro foi transferido em 20NOV70 para o BCaç 2884, sendo substituído por um dos médicos dessa mesma Unidade que chegou a Mansoa em JAN71.

(iii) Lembram-se dos nomes de alguns? Idades? Especiallidades?
R - Os seus nomes eram: Drs José Maria Gomes Brandão, José Rego Sampaio (o transferido), Adelino Carlos F. G. Correia de quem não tenho qualquer recordação. Admito que pudesse estar em Porto Gole com a CCaç que aí estava colocada, mas isso só pode ser comprovado pelos camaradas que pertenceram à Unidade desde o seu início. O nome do que veio do BCaç 2884 por troca do transferido era António H. Bigotte D. Loureiro. Como eram Alf Mil foram com certeza no início da carreira.

(iv) Precisaram de alguma consulta médica?
R - Fui consultado mais do que uma vez, quer em Mansoa, quer no CAOP 1 em Teixeira Pinto. Em Mansabá não fui ao médico, mas fui ao HM de Bissau na sequência das consultas do Dentista, mas então para tratar da prótese.

(v) Estiveram alguma vez internados na enfermeria do aquartelamento (se é que existia)?
R - Havia Enfermaria no Quartel de Mansoa. Não estive internado na Enfermaria.

(vi) Foram a alguma consulta de especialidade no HM 241?
R - Fui ao HM de Bissau várias vezes, para consulta de Dentista de que acabei com a colocação da minha 1.ª prótese e depois, já no CAOP 1 acabei por baixar a este Hospital em 23NOV71 onde permaneci 3 ou 4 dias, ficando mais 2 em consulta externa, após uma grave intoxicação com sardinhas de conserva.

(vii) Foram evacuados para a metrópole, para o HMP?
R - Não.

(viii) Tiveram alguma problema de saúde que o vosso médico ou o enfermeiro conseguiu resolver sem evacuação?
R - Não.

(ix) O vosso posto sanitário também atendia a população local?
R - As POPs eram atendidas nos Serviços de Saúde em Mansoa pelos Médicos militares e também nas Unidades (e Destacamentos pelos Enfermeiros).

(x) (E se sim, o que é mais que provável:) Há alguma estimativa da população que recorria aos serviços de saúde da tropa?
R - Talvez muitas dezenas, se não mesmo centenas por mês.

Abraços para todos
JPicado

PS - Se o César Dias ou o Nabais quiserem ser mais precisos, agradecia.
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Nota do editor

Último poste da série de 1 DE JULHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11784: Os nossos médicos (56): respostas ao questionário: José Manuel Matos Dinis [,CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71]; José Santos [CCAÇ 3326, Mampatá e Quinhamel, 1971/73]; Rui Santos [4.ª CCAÇ, Bedanda, 1963/65]; Mário Serra de Oliveira [, BA12, Bissalanca, 1967/68]; e João Martins [, BAC1, Bissum, Piche, Bedanda, Gadamael e Guileje, 1967/69]

1 comentário:

Cesar Dias disse...

Boa noite Jorge
Gostava de te ajudar nas memórias, mas só me lembro dos dois médicos, Brandão(já falecido)e Sampaio, também sei que havia um outro mas só pela HU.
Um abraço
César Dias