segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Guiné 63/74 - P12551: E fazíamos grandes jogatanas de futebol (1): A equipa da CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71) (Fotos de Arlindo Roda)... E a nossa singela homenagem ao Eusébio, que foi o ídolo da nossa geração (Luís Graça / Cherno Baldé /António Rosinha/ Hélder Sousa / António Carvalho / C. Martins / Tony Borié / J. L. Fernandes)




Foto nº 95 > A equipa da CCA 12, vestida a rigor, com o equipamento a condizer: simbolicamente, camisola preta e calção branco... Esta era a equipa principal...em que tinha lugar o fur mil Arlindo Teixeira Roda (, o primeiro da primeira fila, a contar da direita). Mas, curiosamente, numa companhia em que as praças eram do recrutamento local (c. 100) e os restantes elementos (graduados e especialistas) de origem metropolitana (c. 50), não havia nenhum guineense...

Os soldados, fulas, etnia islamizada, não tinham especial apetência pela prática do futebol... pelo menos me Bambadinca.  Em todo o caso, na Guiné do nosso tempo, e devido à guerra o futebol estava praticamente confinado a Bissau... se bem, que houvesse também equipas de futebol no interior (Bafatá, Mansoa)... È verdade, o futebol era o desporto, por eleição, dos "tugas"...mas também foi um viveiro de dirigentes e militantes do PAIGC...

Recorde-se que havia dois clubes de futebol rivais em Bissau, o Sport Bissau e Benfica, e o UDIB (União Desportiva Internacional de Bissau). Os seus jogadores formavam, no incío dos anos 60, a base ou a quase totalidade da seleção de futebol da província da Guiné. Um terceiro clube era o Sporting Club de Bissau. E, fora de Bissau, destacava-se o Clube de Futebol Os Balantas de Mansoa, e ainda o Sporting Clube de Bafatá (já aqui referido várias vezes no nosso blogue, e que já existia pelo menos desde o tempo do Governador Sarmento Rodrigues).

Voltando à foto: o capitão, com a respetiva braçadeira, era o alf mil op esp Francisco Magalhães Moreira  (1º Gr Comb), o segundo da primeira fila, a contar da direita. O terceiro desta fila é o alf mil at inf António Manuel Carlão (2º Gr Comb), mais tarde destacado para o reordenamemto de Nhabijões (o maior ou um dos maiores da Guiné, no tempo de  Spínola).  Os restantes elementos eram  praças, uns operacionais e outros condutores. Com tempo e vagar, poderemos depois identificá-los..

Para já: na segunda fila, de pé, da esquerda para a direita, reconheço  o 1º cabo manut material João Rito Marques (se não erro), o 1º cabo aux enf Fernando Andrade de Sousa, o sold inf Arménio Monteiro da Fonseca (2º Gr Comb,  1ª secção), o 1º cabo escriturário Eduardo Veríssimo de Sousa Tavares e o 1º cabo Manuel Alberto Faria Branco (2º Gr Comb, 3ª secção (Do último elemento não me ocorre o nome, embora me lembre dele).



Foto nº 94 > Outtra equpa da CCA 12, não sei se era a C... Mas todos ostenta o cráchá da companhia > Na primeira fila, reconheço, da esquerda para a direita, o 1º cabo cripto Gabriel Gonçalves (que também camntava e tocava viola), o alf mil op esp Moreira, o fur mil Roda, o  Arménio e o João Rito Marques, o nosso cabo quarteleiro. 

Em cima, e da esquerda para a direita, reconheço o fur mil at inf António Manuel Martins Branquinho, o 1º cabo Branco, o sold condutor auto Alcino Carvalho Braga, o sold básico João Fernando R. Silva, um elemento de que não me ocorre o nome (mecânico ? transmissões ?) e , por fim, o 1º cabo aux enf Sousa.


Foto nº 97 > Mais craques da bola... A gloriosa equipa de futebol de onze  da CCAÇ 12 donde se destacam, entre outros os nossos tabanqueiros Joaquim Fernandes (ex-Fur Mil At Inf, o primeiro, de pé, a contar da direita), o Tony Levezinho (ex-Fur Mil At Inf, o terceiro, na primeira fila, a contar da direita), o Arlindo Tê Roda (ex-Fur Mil At Inf, o quinto, na primeira fila, a contar da direita), e o João Rito Marques ( nosso cabo quarteleiro, 1º Cabo Manutençã de Material, que vive hoje em Sabugal)... Ainda na segunda fila, o terceiro a contar da esquerda, em tronco nu, é o 1º Cabo At Inf Carlos Alberto Alves Galvão (, que vive na Covilhã, e continua ligado ao associativismo desportivo). Não consigo identificar o jovem guarda-redes, que era um dos nossos soldados guineense.

Fardados, de pé, na segunda fila, da direita para a esquerda, 1º Sargento Cavalaria Fernando Aires Fragata (que foi depois fazer o curso de oficiais de Águeda, se não me engano; dei-lhe explicações de português; não sabemos se é vivo e onde mora); o 2º Sarg Inf Alberto Martins Videira (, vive ou vivia em Vila Real); 2º Sarg Infantaria José Martins Rosado Piça (,vive em Évora; e ainda pelo Natal falámos ao telemóvel); e o 1º Cabo José Marques Alves (que pertencia à 2ª secção do 2º Gr Comb, a secção do Humberto Reis, que chamava "Afredo" ao Alves:infelizmente, deixou-nos o ano passado)... 

Entre o Videira e o Piça, estão mais dois camaradas da CCAÇ 12, um fardado, soldaddo condutor auto é o Alcino Braga, e um à civil, cujo nome não me ocorre).


Foto nº 113 >  Desta vez, o nosso jovem guarda redes em ação



Foto nº 103 > Uma perigosa jogada do Arlindo Roda, acossado pelo alf mil inf Abel Maria Rodrigues (3º Gr Comb(, se não me engano...


Foto nº 99  > A> legenda podia ser: "A angústia do guarda.-redes antes do penalti"...


Foto nº 98 > O craque Arlindo Roda (1)


Foto nº 115 >  O craque Arlindo Roda (2)


Foto nº 106 > O craque Arlindo Roda (3)


Foto nº 102 > Aspeto parcial do campo de futebol de onze... Havia um outro, para futebol de cinco...


Foto nº 107 > Uma partida no tempo das chuvas (1)



Foto nº 111 >  Uma partida no tempo das chuvas (2)


Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > Fotos do álbum do Arlindo Roda (ex-fur mil at inf, 3º Gr Comb) quem, além de excelente fotógrafo, sempre foi um praticante de desporto, em Bambadinca, e nomeadamente de futebol.... Era também exímio jogador de cartas. E hoje sei que é craque do xadrez e das damas. Infelizmente não o vejo desde 1994...

Apesar da intensa atividade operacional, e das duras condições cimatéricas da Guiné (elevada tempatura e humidade do ar), os graduados e os especialistas da CCAÇ 12 gostavam de jogar à bola. Mais de um terço do grupo metropolitano (que não ultrapassava a meia centena), jogava à bola: que me lembre, todos os oficiais (incluindo o cap inf Carlos Alberto Machado Brito, hoje cor ref) jogavam à bola...

Dos furrieis operacionais, quase toda a gente jogava, até para se manter em boa forma física: lembro-me do António Branquinho (1º Gr Comb), do Tony Levezinho e do Humberto Reis (2º Gr Comb), do  Luciano Severo de Almeida  (já falecido) e do Arlindo Roda (3º Gr Comb), do António Fernando R. Marques e do  Joaquim Augusto Matos Fernandes [ 4º Gr Comb)... Ficavam de fora os não operacionais: o vagomestre (Jaime Soares Santos), o enfermeiro (João Carreiro Martins), o transmissões (José Fernando Gonçalves Almeida)... (Pelo menos não me lembro de os ver equipados e a correr atrás da bola: a única exceção seria talvez o 2º srgt inf Alberto Martins Videira)...

Eu, pelo contrário, acho que nunca dei um simples chuto numa bola, na Guiné... Tenho pena: ter-me-ia feito bem... Também me parece que o Joaquim João dos Santos Pina (1º Gr Comb) e o José Luís Vieira de Sousa (3º Gr Comb) também não eram muito "futebolerios"... Do fur mil MAR Joaquim Moreira Gomes, o furriel da "ferrugem",  também já não me lembro bem se jogava ou não... O 2º srgt inf Piça, que acabou por fazer as vezes do 1º sargento, chefiando a secretaria, também não jogava: tinha já os seus 38 aninhos, tal como de resto o capitão...

Fotos: © Arlindo T. Roda (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendas: L.G.]


1. A morte de um ídolo da nossa geração, e de uma imagem de marca de Portugal, o Eusébio da Silva Ferreira (1942-2014), levou-me a deitar mão das nossas fotos de arquivo, relacionadas com o futebol e as jogatanas que fazíamos no intervalo da guerra no TO da Guiné.

É também uma forma, nossa, singela, de homenagear,  no blogue da Tabanca Grande, o primeiro futebolista português e africano a ganhar a Bola de Ouro (1965), prestigiado galardão criada pelo jornal desportivo France Football.  Alguém lhe chamou o primeiro herói negro português... Filho de pai branco, angolano, e de mãe, negra, moçambicana, Eusébio acaba de entrar  hoje no Olimpo, espaço etéreo, mitológico, só reservado aos deuses e aos heróis.

Não sou muito dado às emoções futebolísticas, muito menos clubísticas. Em toda a minha vida, vi ao vivo, "in loco", dois ou três jogos de futebol, acompanhando o meu pai ... Uma ou duas vezes no antigo estádio de futebol do Benfica. E outra no estádio atual. Também tenho reservas mentais ao fácil unanimismo que a morte das figuras públicas desencadeia em Portugal, com os meios  de comunicação social (com destaque para a TV) a explorar, sem pudor e até à exaustão, as emoções dos vivos...  Mas ontem fui, de bom grado, ao Estádio da Luz, prestar uma anónima homemagem ao Eusébio, com o meu filho João, e, em espírito, com o "meu pai, meu velho, meu camarada", Luís Henriques (1920-2012)... Fomos lá por ele e pelo Eusébio, o "pantera negra" que deixou ontem de rugir...

Estamos todos de luto, Portugal, Moçambique, a lusofonia, a África e o Mundo. Mas foi bonita a homenagem de despedida que os portugueses lhe fizeram... Independentemente da origem, da cor da pele, da geração,  do clube, do credo religioso, da opção político-ideológica, dos ódios de estimação, dos preconceitos... de cada um. Fizemos, de algum modo, também a catarse de muitas das nossas perdas, nestes últimos anos ou até décadas, a começar pela perda de entes queridos, de amigos, de valores, de memórias, de líderes e de figuras de referência... É para isso também que o luto serve. (LG)


2. Depoimentos de amigos e camaradas (*)

(i) Cherno Baldé:


Caros amigos: Quem não se lembra da imagem do Eusébio, o Pantera Negra, banhado em lágrimas, à saida do mítico e fascinante estádio de Wembley e a legenda de "A Bola" com as palavras cheias de perplexidade e de interrogações sobre a derrota que Portugal e Eusébio acabavam de sofrer, assim nesses termos: "Quando um Homem chora, alguma razão há".

Em 1966, quando isso aconteceu, eu teria mais ou menos 6 anos e, é claro, , na altura, não podia nem ver e muito menos ler estas palavras de "A Bola", mas acontece que este acontecimento foi tao badalado e a imagem tão sacralizada que nos 10 ou 15 anos que se seguiram,  ninguém podia ficar indeferente.

Contou-me um colega de infância que, em 1987,  o Cavaco Silva,  então Primeiro Ministro de Portugal, veio a Guiné e com ele veio o Eusébio. E no decorrer de uma visita que fez ao Clube do Benfica de Bissau, afirmara que a derrota com a Inglaterra,  em 1966, tinha sido, antes de tudo, uma derrota política, isto é, que o regime de então, através da PIDE, não queriam perder um aliado tão importante como a Inglaterra, humilhando-a com uma derrota.

Hoje parece incompreensível que isto tenha acontecido, mas entra perfeitamente na lógica dos difíceis tempos de então, com Portugal cada vez mais isolado e a enfrentar várias frentes de guerra subversiva e com forte cariz ideológico, ao mesmo tempo.

Obrigado aos editores por terem repescado este pequeno naco das minhas lembranças de infância.

O caso de Eusebio serve também para relembrar,  aos que ainda duvidam,  que na altura não era importante e imprescindível nascer na Metrópole (Portugal de hoje) ou nascer branco e Europeu para amar, chorar, lutar e morrer por Portugal e a sua bandeira.

A proposito, há menos de um mês, durante uma viagem à aldeia, gravei a voz de um antigo milícia, meu familiar, iletrado,  que, ainda hoje, passados mais de 40 anos de recruta, consegue reproduzir na íntegra o hino de Portugal e o texto do cerimonial de jurar bandeira. Vou guardar, como diz o nosso amigo Torcato Mendonça.

Um abraço amigo,

Cherno Baldé

(ii)  António Rosinha:

Eusébio representou a imagem da Selecção de Portugal durante a nossa geração. Mas mais que os simples pontapés na bola, Eusébio para Portugal e para a Europa representou uma mudança no olhar de toda a Europa sobre os africanos.

Eusébio foi uma "lança na Europa".

Eusébio representa uma portugalidade com mais de 500 anos.

Eusébio, embora através da bola, é de um simbolismo que ultrapassa o futebol.

(iii) Hélder Sousa: 

Caros camaradas: A 'magia do futebol' não tem nenhuma culpa do que os 'poderes instituídos' fazem, ou possam fazer, para aproveitar as emoções populares.

Isto vem a propósito de já ter visto escrito por aí, na net, aliás como é costume em situações similares, algumas palavras mais 'azedas' por causa da 'excessiva visibilidade' dada a este caso do falecimento de Eusébio. E o facto do Poder, que tanto descontentamento tem produzido, ter decretado 3 dias de luto nacional também contribui para essas animosidades.

Mas a grande verdade é que o futebol, para além dos grandes negócios e interesses que move, é um desporto ao alcance das grandes massas populares, em qualquer lugar se pode jogar, estreita relações, fomenta amizades e pode ajudar a esbater diferenças. Daí que o poder, em qualquer tempo, em qualquer lugar, tenha sempre a tentação de o utilizar.

Não são raros os relatos que contam como durante os tempos dos grandes jogos, fossem da Selecção, fossem entre clubes com maior visibilidade, não haviam 'ataques' ou 'flagelações' às nossa posições.

E este relembrar do que o Cherno nos dá conta é igualmente uma indicação forte de como o futebol fascina, atrai e consolida relações e recordações.

Que viva Eusébio!

Abraços, Hélder S.

(iv) António  Carvalho:

Caríssimos:b Esta figura muito real do Cherno, nosso amigo muito querido, continua com as suas interessantíssimas crónicas, para nosso regalo e para proveito da história e dos historiadores que a hão de fazer.
Na verdade, o ângulo sob o qual o Cherno narra a "guerra", é de uma importância crucial para a percebermos. Então, como se depreende dos episódios que aqui nos vai narrando, os meninos da tabanca funcionavam como elos de ligação entre nós combatentes e a população, assumindo-se assim como portas netre o espaço do quartel e a comunidade autóctone. É certo que, nalguns casos, a geografia do quartel coincidia com a da comunidade civil mas, mesmo assim, era de grande utilidade a colaboração da criançada no estabelecimento de uma boa relação com a população senior até pela sua rápida aprendizagem da nossa língua. Lembro-me bem da doçura de muitas meninas e meninos e como os seus sorrisos mitigavam o nosso sofrimento.Na verdade, nem sempre retribuíamos essa doçura. O Cherno fala disso com toda a verdade e com alguma diplomacia...ele é um fazedor de paz. Por isso a minha gratidão.

Um abração, Carvalho de Mampatá.

(v) C. Martins:

Estou triste .. muito triste..morreu o meu ídolo de infância.

Conheci-o pessoalmente através de um amigo comum e posso assegurar que era mesmo como dizem.. humilde.. generoso.. companheiro.. preservava a amizade acima de tudo.

Partiu cedo demais..mas como esse meu amigo, infelizmente também já desaparecido, dizia..."foi-se mas gozou a vida".

EUSÉBIO É ETERNO..VIVA O EUSÉBIO.

C.Martins


(vi) Tony Borié

 Olá,  Cherno:  "…nós éramos crianças e naturais da terra, na altura, não sentíamos o efeito do calor…". Era verdade, vocês viviam em redor de nós, lá no aquartelamento, que tínhamos vindo da Europa, com roupa camuflada, sofríamos entre outras coisas o efeito do calor e cá dentro, no fundo, também queríamos brincar à bola, também tínhamos os nossos heróis da bola, pois ainda éramos "umas crianças", mas um pouco mais crescidas.

Cherno, gostei do teu poste, onde lembras os teus amigos e heróis de criança, o Eusébio, não passava despercebido a quase ninguém, também era o meu herói, esteve comigo por duas vezes, uma vez em sentido, na "formatura" na parada de recolher, no Depósito Geral de Adidos, em Lisboa, onde eu estive temporariamente, no final, quando "sargento dia" mandou destroçar, fui junto dele e cumprimentei-o, outra vez aqui na cidade de Atlantic City, onde houve uma festa num Casino, assinalando o "Dia de Portugal".

Era uma figura de Portugal, era um "Embaixador", por sinal muito educado, paz à sua alma.

Um abraço Cherno, Tony Borie.

(vii) J. L. Fernandes:

Caro amigo Cherno Baldé

Os dois últimos parágrafos do teu comentário, atingiram-me o coração e os olhos arrasaram-se de água, água pura... pela dor imensa, de tanto sofrimento em vão.

Que pelo menos nos fique esta certeza;
- A de podermos continuar a ser irmãos.

Um abraço fraterno
JLFernande

___________

Nota do editor:

11 comentários:

Luís Graça disse...

Recortes de imprensa...


Adeus Eusébio: o adeus ao Pantera Negra visto de Moçambique
Reportagem no bairro de Mafalala e o que dizem os jornais

Portal Mais Futebol, IOL, 6 jan 2014

http://www.maisfutebol.iol.pt/eusebio-benfica-adeus-eusebio/52ca7611e4b0f535e1c512da.html

A morte de Eusébio também foi acompanhada com comoção em Moçambique, de onde era natural o antigo craque (veja o vídeo da Reuters associado sobre Mafalala, o bairro onde Eusébio nasceu), com os os principais jornais do país a darem contado desaparecimento do «Pantera Negra».

No «Notícias», de Maputo, o diário de maior circulação, propriedade do Banco de Moçambique, a notícia da morte de Eusébio ocupa parte da primeira página e prossegue no interior, nas páginas do desporto.Em declarações ao jornal, pró-governamental, o antigo capitão do Benfica, Mário Coluna aborda o delicado tema de Eusébio ter optado pela nacionalidade portuguesa, após a independência de Moçambique, em 1975, ao contrário do que sucedeu com ele próprio, que regressou ao país onde nasceu.

Eusébio «não podia vir cá de qualquer maneira. Eu voltei porque tinha contrato para treinar o Textáfrica e o Benfica havia-me proposto para tratar das escolas de jogadores. Portanto, ele ficou em Portugal porque sentia-se bem», disse Mário Coluna.

No outro diário da capital moçambicana, «O País», a morte de Eusébio ocupa metade da primeira página, com uma foto atual do Pantera Negra e a informação de que os seus restos mortais vão hoje a enterrar.

No interior, o jornal, propriedade do grupo Soico, dedica duas páginas à morte de Eusébio, identificando-o como "luso-moçambicano". Também os diários electrónicos «MediaFax» e «Canal de Moçambique» assinalam o falecimento de um dos maiores jogadores de futebol do século XX, reproduzindo noticiário das agências internacionais.

Luís Graça disse...

Vou perguntar ao GG, o nosso 1º cabo cripto Gabriel Gonçalves, para me confirmar quem eram os "craques da bola" da CCAÇ 12...

Ele também jogava à bola e vai-me ajudar a colmatar algumas lacunas da minha memória...

Eu, pelo contrário, acho que nunca dei um simples chuto numa bola, na Guiné... Quase todos os furrieis da CCAÇ 12 jogavam à bola: o Tony Levezinho, o Humberto Reis, o Joaquim Fernandes, o António Marques, o António Branquinho, o Arlindo Roda, o Luciano Severo (já falecido), o sargento Veira...

Anónimo disse...

Antonio Levezinho no Facebook da Tabanca Grande:

6/1/2014
(há 8 horas através de telemóvel)


Por ironia a única lesão fisica que tive na Guiné não aconteceu debaixo de fogo, mas sim a jogar futebol. Fraturei o polegar da mão direita e até deu direito a ida a Bissau ao hospital (esta a parte simpatica do episódio).

Um abraço para todos os meus companheiros dsquela equipa no dia em que o nosso Eusébio vai a sepultar.
·

Luís Graça disse...

Uma questão que me intriga é a ausência, por sistema, dos nossos camaradas guineenses nestas equipas e partidas de futebol, em Bambadionca...

Há uma explicação: os nossos soldados viviam fora do aquartelamento, nas duas tabancas de Bambadinca, integrados na população, fora portanto do arame farpado; só vinham ao quartel nos dias e horas em que havia saídas para o mato...

A CCAÇ 12 era uma força de intervenção ao serviço do comando do setor L1 (o BCAÇ 2852, primeiro, e depois o BART 2917)...

Muitos deles eram casados e tinham consigo as suas famílias... Eram, além idsso desarranchados e não tinham os mesmos hábitos que nós, metropolitanos, devido á sua cultura e religião: eram fulas e muçulmanos... Eles estavam na sua terra, nós é que não...

Por último, nunca tinham, em pequenos, dado um chuto numa bola... nem sequer visto uma bola de futebol...

Antº Rosinha disse...

O futebol no interior africano não existia sem a presença do homem branco.

Anedota do branco de II sobre o branco de I:

O jovem comerciante do mato, recem-chegado do «puto», «metrópole», «berças», escreve uma carta à mãe lá na aldeia que leva ao padre para ler e diz o padre:

Ó ti Maria, diz o seu filho que já fez um clube de futebol e ele é o presidente.

Diz a mãe felicíssima: ai que boas terras que fizeram do meu filho, presidente.
+++++++++
Vi o Eusébio jogar duas vezes, uma nos Coqueiros em Luanda contra o ASA, já a sofrer do joelho com o Toni, e outra na Luz no verão de 1974 contra o Belenense, numa altura em que se dizia que o Benfica, Amália e Fátima " estavam para ser reavaliados".

O Benfica ganhou 4 a 2.

Não se assistiu a qualquer altercação embora tudo estivesse de olhos "à escuta".

Anónimo disse...


Caro Luís Graça

…" Eles estavam na sua terra, nós é que não...". Pois é, mas aqueles militares vestiam a mesma farda que nós, juraram a mesma bandeira que nós, foram treinados por nós, morreram ao nosso lado… pisando que solo? Será que estamos perante um paradoxo?

No Destacamento de São João os nossos militares guineenses integravam as equipas dos pelotões 56 e 66. Entre eles o Fur. Mil. Santi, um guinense, do Pel. Caç Nat. 66. E também eles eram desarranchados, viviam com as famílias na tabanca e muitos eram muçulmanos.

Já agora, em Bolama havia uma excelente equipa liceal de futebol. O campo de Bolama, bem emoldurado de gente, foi palco de um grande espectáculo desportivo entre uma seleção dos 56 e 66 que integrava muitos militares guineenses e aquele grupo liceal que saíu vencedor do encontro.

Tudo isso para dizer que as nossas experiências eram tão diversificadas quanto os rios da Guiné.

Um abraço,
José Câmara

Henrique Cerqueira disse...

Já agora:
Entre 1973 e 1974 e se não errar ,arrancou uma espécie de campeonato de futebol na Guiné e em Bissorã foi criada uma equipe oficial (creio que era o Atlético de Bissorã)que era composto por militares e um ou outro civil mas tinham uma boa parte de Guineenses na composição da equipa. Diga-se de passagem que haviam vários Guineenses muito superiores na arte de jogar que os nossos militares. Na verdade esse campeonato só nos trouxe problemas porque tinha-mos todos os Domingos fazer proteção á coluna que transportava os jogadores e alguns adeptos da ocasião em especial nas deslocações a Mansoa e Bissau. Há é verdade nessa altura chegou a Bissau o Lemos vindo do Boavista e que tinha estado no Porto quando marcou quatro golos de "rajada" ao Benfica.
Presto aqui a minha homenagem ao Eusébio e a todos os GRANDES do Futebol que puseram o Nome de Portugal nos píncaros do Mundo . Não podemos esquecer todos os outros grandes desportistas que Honram Portugal e os Portugueses com os seus feitos desportivos.
Voltando á Guiné e seu futebol. Para dizer que em Bissorã os negros jogavam com os brancos e já agora não só jogavam como partilhavam tudo aquilo que os brancos tinham. É claro que estou a falar no que respeita ao comportamento das nossas tropas. O mesmo já não afirmo em relação ao comportamento de civis brancos e negros. E claro está que haveria um caso ou outro de militar com comportamentos discriminatórios e racistas , mas isso se encontra a qualquer sociedade.
Bom um abraço e Bom Ano
Henrique Cerqueira

Luís Graça disse...

José Câmara:

Falei de "terra", em termos físicos, geográficos... Eu nunca tinha posto os pés em África... Um abração. Luis

Luís Graça disse...

Pois é, Rosinha, os 3 FFF (Fátima, Futebole Fado) contra os quais vociferávamos, os que eram contra o regime... Hoje, o Fado é Patrimómio Mundial da Humandidade (e eu até dei o meu pequeníssimo contributo para isso, na universidade...), a Amália e o Eusébio estão no Olimpo, e enfim Fátima continua a ser um importante lugar de espiritualidade e religiosidade para muitos cristãos...

Antº Rosinha disse...

Pois é Luís Graça, continua com o teu blog.
É pouco visitado por estranhos à Guiné, mas um dia vai servir para compreender muitas coisas actuais e futuras.
Porque a nossa geração viveu um dos momentos nacionais que ficarão para a história Universal como um marco.
Só falta discutir se Lúcia ainda vai para o Panteão.
Porque o homem de Santa Comba já lá está clandestinamente há muitos anos.
Só espero que não esteja a rir a "bandeiras despregadas".
Diz-se que a história só deve ser escrita depois de uma geração passada, mais ou menos isso.
Está chegando a hora!

arcanjo disse...

Luís: Recordei com agrado as fotos, das nossas futeboladas. Infelizmente também não me recordo dos nomes, dos restantes "futeboleiros" não identificados. Grande abraço

GG