sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Guiné 63/74 - P12565: O Destacamento da Ponte do Rio Udunduma - As acções especiais durante o segundo semestre de 1973 (parte I) (Jorge Araújo)

1. Mensagem do Jorge Araújo (ex-Furriel Mil. Op Esp / Ranger, CART 3494, Xime e Mansambo, 1972/1974), com data de 25 de Novembro de 2013:

Caríssimo Camarada Luís Graça,
Os meus melhores cumprimentos.
Depois de três narrativas tendo por enquadramento histórico a «Ponta Coli» [Postes: 9698; 9802 e 12232], eis outra, agora referente à presença dos camaradas militares da CART 3494 na «Ponte do Rio Udunduma».
Entre a “Ponta…” e a “Ponte…” o que muda é a vogal, uma vez que a substância da nossa missão era a mesma: «SEGURANÇA», mas em diferentes pontos [locais] na Estrada Xime-Bambadinca, afastados, entre si, meia-dúzia de quilómetros.
Ora leiam a 1.ª parte.

Obrigado
Jorge Araújo
Nov/2013


O DESTACAMENTO DA PONTE DO RIO UDUNDUMA 
(XIME-BAMBADINCA) 

- As acções especiais durante o 2.º semestre de 1973 [parte I] -

1. A génese da segurança à Ponte do Rio Udunduma 
 - Antecedentes históricos 

A história diz-nos, enquanto memória de um passado que continua presente, que a segurança à 1.ª Ponte [velhinha] do Rio Udunduma, situada na Estrada Xime-Bambadinca, teve o seu início no dia 29 de Maio de 1969, 5.ª feira, na sequência da dupla acção do PAIGC, levada a cabo na noite do dia anterior (28/29Mai69) por dois bigrupos (cerca de 100 elementos). Essas duas acções tiveram como alvos o ataque ao Aquartelamento de Bambadinca, sede, à época, do BCAÇ 2852 (1968/70), e, simultaneamente, à Ponte do Rio Udunduma, situada a cerca de quatro quilómetros desta localidade, a qual foi dinamitada, resultando desse acto ter ficado parcialmente danificada, conforme se pode observar nas imagens a baixo.

Foto 1 – Estrada Xime-Bambadinca [Ponte do Rio Udunduma – Jul/1973] – imagem de como ficou a ponte velha na sequência da explosão de 28Mai1969, obtida ao nível do solo.

Foto 2 – Estrada Xime-Bambadinca [Ponte do Rio Udunduma – Jul/1973] – imagem da ponte velha, obtida da nova estrada onde foi construída uma nova ponte sobre o rio, inaugurada entre finais de 1971 e início de 1972. 

Os primeiros operacionais das NT a avançar para esse local foram os do 3.º GComb da CART 2339 (1968/69), sediada em Mansambo, sob o comando do Furriel Carlos M. Santos (Vd Postes: 7459 e 7859).

Foto 3 – Estrada Xime-Bambadinca [Ponte do Rio Udunduma – Jul/1973] – imagem da estrada velha, assinalando-se a ponte semidestruída em 1969, e Bambadinca, ao fundo, como local mais próximo, a quatro quilómetros desta. Na linha do horizonte, vê-se a nova estrada na qual é possível contar uma coluna de mais de uma dezena de viaturas civis, em direcção ao Cais do Xime. 

Recuperado o controlo daquela pequena fracção de terreno circunscrita ao afluente do Geba e da bolanha contígua, a Ponte do Rio Udunduma, mesmo depois de ter ficado bastante danificada, não mais voltou a estar/ficar desprotegida até ao fim da guerra de guerrilha [Abril/1974], devido à decisão de aí se instalar uma força militar [especial] que, com o decorrer do tempo, haveria de dar lugar à organização de um Destacamento [amostra de… ou mini…].

Entretanto, uma nova ponte haveria de ser construída a seu lado, a poucas dezenas de metros, maior e perfeitamente adequada ao grande fluxo rodoviário, civil e militar, que diariamente circulava nesta estrada, com ligação a toda a zona leste do território, com maior destaque para as localidades de Bafatá, Nova Lamego, Piche, Canquelifá, Galomaro e Saltinho. Segundo julgo saber, a sua construção esteve a cargo da empresa Tecnil, e a sua inauguração deverá ter ocorrido entre finais de 1971 e início de 1972.

Foto 4 – Estrada Xime-Bambadinca [Ponte do Rio Udunduma – Jul/1973] – imagem da nova ponte construída pela empresa Tecnil. Ela foi obtida da ponte velha.

Durante cinco anos, muitos foram os camaradas que aí permaneceram vigilantes, num contexto desprovido de qualquer retaguarda de apoio militar, em que cada um de nós estava completamente abandonado à sorte da divina providência e à sua couraça, tendo como mais-valia a capacidade de sobrevivência, pois se tivesse acontecido algum ataque, ele seria sempre de surpresa, e, por esse método, nem os peixinhos se salvavam. Em suma: miserável e degradante, já que não tinha rigorosamente nada. Ou melhor, tinha o que as imagens abaixo deixam entender.

Foto 5 – Estrada Xime-Bambadinca [Ponte do Rio Udunduma – Jul/1973] – imagem de um buraco aberto no chão, coberto de troncos de palmeira, terra e chapas de zinco a cobri-los, protegido no exterior com bidões de gasóleo cheios de terra, com uma pequena abertura, tendo no seu interior uma cama de ferro, especial do mobiliário militar, com colchão adequado …a um sono tranquilo [que enorme ironia].

A cama tinha um mosquiteiro comprado em Bafatá, nas “libanesas”. Este acabaria por ter uma dupla função, na medida em que, protegendo-nos dos mosquitos e das melgas, servia também de cama elástica e/ou trampolim para treino de flexibilidade e destreza dos ratos do mato que nos visitavam durante a noite, em sessões contínuas. Para além desta actividade físico-desportiva em ginásio coberto, sem necessidade de inscrição prévia ou celebração de contrato de fidelização, a equipa de roedores ainda tinha a pouca vergonha de nos levar os sabonetes e as meias para a sua comunidade, algures nas redondezas, certamente muito importante na sua higiene.

Era, então, um contexto maravilhoso … e com muita animação.

Foto 6 – Estrada Xime-Bambadinca [Ponte do Rio Udunduma] – o mesmo chalé T0 quatro anos antes, com o camarada furriel Humberto Reis, do 2.º GComb da CCAÇ 12, em momento de reflexão (P7481), aguardando… talvez a passagem do carteiro? ou, ainda, uma boleia para a metrópole? OU…? Só o próprio nos poderá dizer!

Entre o tempo das fotos 5 e 6 [quatro anos], outros camaradas por lá passaram de diversos Grupos de Combate destacados das Unidades instaladas naquele Sector (L1), considerado um dos de maior vastidão em todo o TO, nomeadamente: CART 2339 (1969), de Mansambo – CART 2520 [1969 - 2 secções], do Xime – CCAÇ 12 [1969-71], de Bambadinca – PEL CAÇ NAT 52 [1972] – PEL CAÇ NAT 63 [Out/1972] – CART 3493 [Mar/1973 - 2 secções], de Mansambo – CART 3494 [Abr/1973-74 - 1 secção +], de Mansambo-Xime.


2. As acções especiais durante o 2.º semestre de 1973 

Com a transferência do Xime para Mansambo, ocorrida nos primeiros dias de Março de 1973, a CART 3494, através dos seus diferentes GComb, passou a ter uma agenda e missões muito distintas das que tinha tido anteriormente no Xime, o que é perfeitamente natural e normal, pois não havia [não há] dois contextos iguais.

No nosso caso, foi-nos atribuída mais uma missão especial: a de comandar uma “secção +” do meu pelotão [o 1.º], num total de doze elementos, com o objectivo de proteger a(s) Ponte(s) do Rio Udunduma, actividade que registava já quatro anos.

Avançámos com armas e [poucas] bagagens, na medida em que as condições logísticas e físicas do local eram incrivelmente pouco dignas e, por essa razão, um desafio permanente à superação de qualquer ser mortal.

Não havia nada… mas mesmo nada… com excepção de capim, três buracos no chão, muitos mosquitos e alguns ratos, conforme relatos anteriores. Electricidade cá tem. Água cá tem. Comida cá tem. Mas criatividade e improvisação… muita.

Dois petromax e a claridade da lua; alguns lustres de garrafas de cerveja; poucas velas de cera, reforçadas com meia-dúzia de isqueiros [os dos fumadores], era esta a panóplia de instrumentos que iluminavam os nossos olhos e ideias e aqueciam, simultaneamente, os nossos corações, durante as noites. Mas, como o ser humano é um ser de assimilação e de acomodação [tal como se verifica nos tempos de hoje], as semanas e os meses lá foram passando ao ritmo de… um dia de cada vez.

Esse ano de 1973 foi um ano muito duro para todos nós, militares no CTIG. E no local da Ponte do Rio Udunduma não foi diferente ou excepção. As orientações recebidas dos meus superiores, em particular do comando da CCS, de quem o “grupo especial” dependia logisticamente, assentavam num dualismo cartesiano [de René Descartes, 1596-1650], construídas na ideia de que de dia era para trabalhar, à noite era para estar vigilante. Enfim… já passaram quarenta anos.

Como não fomos para a Guiné em viagem de turismo, as alternativas eram escassas ou quase nulas, pelo que, a bem da defesa pessoal e da melhoria das condições de vida naquele contexto, lá metemos as mãos à(s) obra(s), levando-nos a alterar, significativamente, a sua paisagem por via de algumas benfeitorias.

Dito isto, passaremos em revista três dessas acções especiais, organizadas por fases, e que completam a primeira parte desta história da nossa vida colectiva.


A) – FECHO DO CONDOMÍNIO…


Fotos 7 e 8 – Estrada Xime-Bambadinca [Ponte do Rio Udunduma] – a primeira acção especial desenvolvida por elementos do 1.º GComb, da Cart 3494 [um grupo constituído por uma dúzia de militares = a 1 secção +], foi a delimitação do território, do então designado «Destacamento da Ponte», ou, ainda, por «Condomínio da Ponte». Merece relevo a elevada capacidade técnica de todos os seus executantes. [O 1.º, na foto 8, é o soldado Joaquim Cerqueira, do lugar da Valinha - Amarante].

Tratou-se de uma experiência de alto valor pedagógico, na justa medida em que fez apelo à motricidade fina do efectivo aí residente, por via de não existirem protecções das mãos, vulgo luvas, na manipulação do arame farpado. De referir, que esta acção aconteceu na época das chuvas.


B) – CONSTRUÇÃO DE NOVAS MORADIAS…


Fotos 9 e 10 – Estrada Xime-Bambadinca [Ponte do Rio Udunduma] – as imagens dão conta do modelo de arquitectura da nova moradia T1. Era rectangular, com duas águas, e tinha dois quartos e uma sala de jantar, mas não havia comer. Os alimentos, confeccionados em Bambadinca, na CCS, chegava-nos às diferentes horas do dia, segundo a sequência das refeições. 

O edifício foi construído junto ao caminho da “estrada antiga” [picada].
Como estará hoje?


C) – CONSTRUÇÃO DA “ROTUNDA DA PONTE” – A 1.ª NO MATO …


Fotos 11 e 12 – Estrada Xime-Bambadinca [Ponte do Rio Udunduma] – as imagens referem-se à «Rotunda da Ponte» que decidimos construir [sem projecto, logo sem aprovação autárquica] como ícone da CART 3494, através da reprodução do seu símbolo. Para a sua construção foi utilizado o cimento sobrante da moradia e as pedras foram retiradas dos espaços envolventes da nova ponte. Para sinalizar a aproximação à rotunda foi pintada a base [disco] de um bidão de gasóleo com “obrigatório circular” e colocado em local visível, na extremidade de um tubo de ferro. Como curiosidade, todos os veículos que por lá passavam [em particular o jipe do CMDT OP do BART 3873], os seus condutores cumpriam o código da estrada. 


D) – INSTALAÇÕES DE APOIO…

Foto 13 – Estrada Xime-Bambadinca [Ponte do Rio Udunduma] – imagem referente às óptimas condições higiénicas do aldeamento… de muitas estrelas… sobretudo à noite.

É possível, ainda, observar os nossos animais da/de companhia, em processo de socialização… e de solidariedade.

Com esta imagem, damos por concluída a primeira parte da história referente à nossa passagem pela Ponte do Rio Udunduma – 2.º semestre de 1973.

Espero que tenham gostado de a ler, independentemente de aqui e ali ter utilizado alguma ironia e imagens metafóricas, e de ver as imagens seleccionadas.

Como complemento, acredito que a narrativa tenha servido, quiçá, como elemento de comparação com um vasto leque de outros exemplos que constam do currículo de muitos de Vós, e que ainda estamos a tempo de dar conta na nossa «Tabanca».

Um forte abraço para todos, com muita saúde e energia.
Jorge Araújo.
Nov/2013

5 comentários:

Luís Graça disse...

Jorge:

Deixas-me de boca aberta e dde queixo caído!...

O maldito "buraco" da ponte do Rio Udunduma, o inferno de mosquitos, cobras e ratos, onde muitos de nós, nos idos tempos de 1969/70, vivemos como animais... passou a ser, no 2º semestre de 1973, um ponto de referência do mapa turístico da Guiné pós-Spínola, graças ao engenho e à arte de um "ranger" e da sua secção reforçada...

Quem edita o poste foi o Carlos Vinhal, pelo que é a primeira vez, acredita, que eu estou a ler o ter o relato e a ver as tuas fotos...

Dou-te os parabéns pelo trabalho de pesquisa que fizeste, referenciando uma boa parte dos postes já publicados sobre o mítico destacamento da ponte do Rio Udunduma...e os "desgraçados" que lá penaram dias e dias à boa vida...

Identuficaste, por ordem cronológica as seguintes subunidades do setor L1:

CART 2339 (1969), de Mansambo;

CART 2520 [1969 - 2 secções], do Xime;

CCAÇ 12 [1969-71], de Bambadinca;

PEL CAÇ NAT 52 [1972];

PEL CAÇ NAT 63 [Out/1972];

CART 3493 [Mar/1973 - 2 secções] , de Mansambo:

CART 3494 [Abr/1973-74 - 1 secção +], de Mansambo-Xime.

... É natural que faltem mais algumas:

Lembro que o Pel Caç Nat 52, no tempo do Mário Beja Santos (quando esteve em Bambadinca, finais de 1969 / princípios de 1970, também por lá penou);

O memso se pode dizer do alfero Cabral e do seu Pel Caç Nat 63 (, talvez a seguir)...

Sem esquecer o noss Paulo Santiago (, que era o coamdnante do Pel Caç Nat 53)... Não sei se ele chegou lá a dormir mas passava por lá, dia e de noite, quando instrutor de milícias, a caminho da carreirta de tiro... Havia, no tempo dele (1971/72). uma carreira de tiro, ali perto...

(...) "O destacamento da ponte sobre o rio Udunduma continuou a existir após a inauguração da estrada asfaltada entre o Xime e Bambadinca.

"Entre Outubro de 1971 e Março de 1972 passei lá imensas vezes, tanto de dia como de noite, acompanhado pelas companhias de instrução de milícias, em deslocação para a carreira de tiro, que ficava aí a 1 km daquele destacamento, indo em direcção ao Xime.


"Era uma temeridade ir fazer tiro nocturno para tal local"...

Ele tem aqui fotos com militares (africanos) da CCAÇ 12:

http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2011/02/guine-6374-p7859-memoria-dos-lugares.html

Foi através do Paulo que eu fiquei a saber que o "destacamento" da Ponte do Rio Udunduma não fora descativado com a inauguração da nova estrada Xime-Bambadinca, feita pela TECNIL e aos trabalhos da qual fizemos muita segurança... Ainda não estava alcatroada em Março de 1971, quando eu (e o resto dos "pais fundadores" da CCALÇ 12) deixámos a Guiné, de regresso a casa...

Também o Joaquim Mexia Aklves, com o seu Pel Caç nat 52, passou por lá em meados de 1972, ante de ir para outro "buraco", o Mato Cão...

Em 33520 descritores (!), temos 2 sobre o Udunduma:

Ponte do Rio Udunduma (4):

http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/search/label/Ponte%20do%20Rio%20Udunduma

Rio Udunduma (12):

http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/search/label/Rio%20Udunduma


Para o Jorge e para a sua gloriosa e abnegada equipa de arquitectos, engenheiros, pedreiros, cabouqueiros, marceneiros e trolhas da construção civil, vai um alfabravo do tamanho do Rio Udunduma (que, apesar de tudo, era rico em peixe)...

Anónimo disse...

Práticamente comecei lá a minha comissão, Junho de 1969 e também a
acabei,Agosto de 1971. Espantoso como ninguém nos Batalhões,se preocupou, em melhorar as condições..Foi lá que me despedi do Pelotão.

Abraço.
J.Cabral

Anónimo disse...

PROTESTO

Em primeiro lugar chamar ponte a um "pontanzeco" é de uma megalomania extrema.

Depois foram só irregularidades.

Aquilo de certeza não fazia parte do PDM..licença camarária..e acima de tudo o estudo do impacto ambiental,quando é que foi feito.

Também de certeza que na suite não havia lugar para fumadores e não fumadores e para cúmulo as instalações sanitárias eram um atentado à saúde pública.

"GANDAS MALUCOS"

Um alfa bravo a todos que por lá passaram

C.Martins

Hélder Valério disse...

Caro camarada Jorge Araújo

Acompanhei os relatos da "ponta Coli".
Vou agora seguir os da "Ponte".

Concordo perfeitamente com o que dizes que se vai ainda a tempo de dar conta, para memória futura, de quem a quiser encontrar, do 'modo de vida' de muitas vidas passadas na Guiné.
Eu, como já tenho dito, tive a felicidade de ter sido poupado a esses autênticos actos de superação.
Mosquitos também os tive. Claro que mosquiteiros, também. Ratinhos, idem. Baratas, upa, upa. Uma dela cismou em deixar a sua 'marca' diária no meu copo de dentes, escapando várias vezes a tentativas de liquidação, até que uma noite consegui. Mas, é bem de ver, nada comparável com as enormes dificuldades com que se depararam.

Quanto às fotos também são úteis para reconhecimento as dos sanitários colectivos e do duche, sendo bem interessante o apontamento do marco/rotunda e do cumprimento do código.

Abraço
Hélder S.

joaquim disse...

Caro Jorge Araújo

Toca-me muito a Ponte do Udunduma!
Com efeito, o Pel Caç Nat 52 estava nesse Destacamento quando pela primeira vez o "enfrentei", para o começar a comandar.
Se bem me lembro, (ou talvez não), seria já para o fim do dia, assim para o "lusco-fusco", que eu me apresentei ao 52 no Destacamento da Ponte do Udunduma.
Teria nessa altura cerca de 8/9 meses de Comissão, sempre na CART 3492 com o pessoal vindo da Metrópole.
"Enfrentar" àquela hora "escurecida" cerca de 25 soldados guineenses, com, salvo o erro, 3 Cabos brancos e um/dois Furriéis Brancos, foi coisa que me estava a tirar o "sono", salvo seja.
Pareciam-me todos iguais e, confesso, naquele primeiro momento via em quase todos eles um potencial inimigo.
As instalações eram tétricas, como muito descreves, e diria que havia uma qualquer construção de ripas de madeira tipo refeitório, mas posso estar enganado.
À noite a escuridão era total, no meio de um nada assustador, tendo como única consolação a estrada Xime/Bambadinca que se apresentava assim como um meio de salvação para qualquer problema mais complicado, mas “à pata” porque viatura “cá tem”.
Conta um dos “meus” Cabos, (eu sinceramente não me lembro), tendo passado uma espécie de revista “às tropas em parada”, um dos soldados decidiu rir-se nas minhas costas, tendo eu assentado no dito cujo um murro que o sentou no chão!
Repito que não me lembro, mas disse-me ele da última vez que estivemos juntos que nesse momento fiquei com o Pelotão “na mão”.
Realmente o 52 estaria bastante indisciplinado, fruto ao que sei de alguma falta de comando imediatamente anterior à minha chegada.
Depois … depois em cada soldado daqueles fiz um amigo e com eles fiquei cerca de 9/10 meses, e deles todos como dos Cabos e Furriéis guardo a melhor e mais amiga recordação e amizade, tendo no encontro da Tabanca Grande de 2012, (salvo o erro), juntado todos à minha volta o que me fez chorar umas lágrimas.
Estive no Destacamento da Ponte do Udunduma talvez dois meses tendo depois partido para outro Destacamento “muito melhor” que se chamava Mato Cão.
Resumindo e concluindo: durante uns longos 9/10 meses com o 52 andei a dormir em buracos no chão, ladeado por bidons, à luz do petromax e salve-se quem puder!
Um grande abraço
Joaquim Mexia Alves