sábado, 9 de agosto de 2014

Guiné 63/74 - P13478: Bom ou mau tempo na bolanha (61): Da Florida ao Alaska, num Jeep, em caravana (1) (Tony Borié)

Sexagésimo episódio da série Bom ou mau tempo na bolanha, do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGRU 16, Mansoa, 1964/66.




Olá companheiros, ainda se lembram de mim?

Estou de novo convosco, tenho acompanhado, na medida do possível, o nosso blogue, o comandante Luís, de férias, que espero já caminhe bem e coloque a sua máquina fotográfica, em posição de “acção”, dispare fotos “a torto e a direito”, às vezes em frente a um espelho velho, partido e usado”, que até ficam “originais” e, acompanham aqueles poemas, que, ao lê-los, (não sei se é assim que se escreve), até parece que estamos lá no “sítio”, de onde eles falam, o Carlos Vinhal, que me manda, de vez em quando, algumas notícias do pessoal ou de coisas da Guiné, saia por alguns momentos do seu “posto de controle”, que deve de ser alimentar o nosso blogue no seu computador, vá lá à praia de “Massarelos”, (com a sua esposa), pois não vá alguma “girl”, apanhá-lo em “fato de banho”, apanhar algum sol, nem que seja por algumas horas por dia e, os restantes companheiros, alguns, muito bons colaboradores do nosso blogue, que com os seus resumos de guerra, críticas, lembranças, comentários, alguns “maldosos”, outros “confortáveis”, nos vão passando alguns momentos gratificantes, neste mundo, que se vai indo, cada vez pior, pelo menos para os mais jovens, pois nós, habituados à “guerra e ao sofrimento”, já pouco nos “apoquenta”, porra, não sei outra vez, se é assim que se escreve!.!.


Uff, já cheguei a casa, só de loucos, que viagem, pensava fazer 14.000 milhas e fiz mais de 15.000!
Não sei como vos vou explicar todos os pormenores, vai ser uma “coisa por alto”, espero que não digam “é só umbigo”, pois nada mais me move, do que a intenção de compartilhar com todos os meus companheiros, esta experiência, por favor não vão dizer, “é só americanices”, (e se disserem ou pensarem, também compreeendo, pois as coisas do dia a dia, são difíceis de obter, pelo menos na nossa idade), mas companheiros, nunca usei hotéis de luxo, comi a maior parte das vezes do que cozinhava e, dormia também a maior parte das vezes na caravana, só quando o tempo não permitia, pagando algumas vezes o espaço que ocupava nos parques de campismo. O resumo que tento escrever é sincero, foi mais ou menos o que se passou, os principais momentos vão saber, pois vocês, que lá andaram, comeram o “peixe e arroz da bolanha”, merecem saber, talvez vos faça vir “ao de cima”, as célebres “colunas” para Mansabá, Bissorã ou Olossato.



Já chega de blá, blá, blá, cheguei, estou em casa, na Florida e, lá vai mais uma lembrança portuguesa, agora aquela cantiga do folclore alentejano que anda na boca de toda a gente, ou quase toda agente, que é mais ou menos, “Às quatro da madrugada, o passarinho cantou”.

Mais ou menos dois séculos depois, não tendo nada a ver com “exploradores”, “descobridores”, “pescadores” e “achadores”, foi a essa hora que acordámos, fazendo os últimos preparativos para a viagem, saindo de nossa casa, no estado da Florida, que foi explorada e colonizada pelos espanhóis, que a controlaram até 1819, quando foi comprada e anexada pelos Estados Unidos e, que fica localizada na região sudeste do país, sendo o estado mais meridional dos 48 estados da parte continental dos USA e, como quase toda a gente sabe, a principal fonte de renda da Flórida é o turismo.
O estado é conhecido mundialmente pelas suas diversas ofertas turísticas, que atraem anualmente mais de 60 milhões de visitantes, principalmente no inverno, vindos de outros estados americanos e de outros países. Estas atrações incluem inúmeras praias, aliadas ao clima relativamente ameno o ano inteiro., o parque de diversões Walt Disney World, a que muitas pessoas chamam “Disneylândia”, ou ao Centro Espacial Kennedy, que fica situado numa região a que chamam Space Coast, pois é lá que se situa uma Base da Força Aérea, de onde saem a maioria das naves espaciais dos USA, rumo ao espaço. Cabo Canaveral foi escolhido como local para o lançamento de naves espaciais, porque se situa muito próximo do equador e, desta forma, conseguir lançar uma nave espacial com a menor energia possível, aproveitando o movimento de rotação da Terra. Assim, as naves espaciais são sempre lançados para o leste, sobre o oceano, distante de centros populacionais.
Com aquele sentido de orientação que talvez tivéssemos herdado dos nossos antepassados navegadores portugueses, também tomámos um rumo de sul para norte, de leste para oeste, passando cidades vilas e aldeias, que nos levariam do estado da Florida até ao do Alaska, no mínimo espaço de tempo, e claro, despendendo a menor energia possível!.



Revisámos os últimos preparativos, tudo em ordem e saímos de nossa casa, às 6 horas da manhã, tomando a estrada número 95, no sentido norte, de seguida a estrada 10, de leste para oeste, atravessando um pouco do norte do estado da Florida, até à estrada número 75, que atravessa o longo estado da Geórgia que é o maior estado do país em área terrestre, a leste do rio Mississippi, embora o Michigan, a própria Flórida ou o Wisconsin, sejam maiores se a área ocupada por água for incluída, sendo a maior parte da Geórgia coberta por florestas, primariamente pinheiros, pessegueiros e magnólias. Quando entrámos no estado o terreno é plano e menos acidentado, já no norte é primariamente montanhoso. Dizem que o turismo e a indústria madeireira são importantes fontes de renda da Geórgia. À hora que atravessámos a cidade de Atlanta, tivemos alguma dificuldade com o tráfico, pois existe uma grande rede de estradas que se cruza nesta área e, se se não vai com muita atenção, não existe GPS que nos valha, e para os menos precavidos, são capazes de tomar a direcção do norte, quando a sua rota era o sul.

Já agora, não ficava bem se não vos explicássemos que a região que constitui atualmente a Geórgia fora disputada durante o final do século XVII e o início do século XVIII, entre o Reino Unido e a Espanha, quando então fazia parte de uma colónia chamada de Carolinas, que incluía também os atuais estados de Carolina do Norte e Carolina do Sul, depois por volta de 1724, os britânicos criaram a colónia de Geórgia, onde se instalaram na região, no que atualmente constitui a cidade de Savannah. Dizem que a Geórgia foi a última das Treze Colónias criada pelos britânicos e, claro, após a vitória americana na Revolução Americana de 1776, se tornou-se o quarto estado americano.


Já o sol ia alto, quando entrámos no estado de Tennessee, onde entrámos na estrada 24, com um tráfico, algumas vezes lento, com montanhas suaves em algumas zonas e agressivas em outras e, nós como levávamos um “atrelado”, que era nossa “casa ambulante”, que nos havia de valer “milhões”, em muitas situações onde havia zonas, (lá mais para o norte, ou já no Canadá e perto do estado do Alaska, onde a estrada seguia por mais de duzentas milhas sem qualquer alojamento, ou simples estação de serviço), fomos atravessando parte do estado do Tennessee, passando por algumas vilas ou cidades do actual Tennessee, que durante o período da colonização britânica da tal região das Treze Colónias, que na altura fazia parte do atual estado da Carolina do Norte e, era facilmente a região mais ocidental das antigas Treze Colónias britânicas. O Tennessee, por causa da cordilheira de montanhas dos Apalaches, era isolado do restante da Carolina do Norte. Após o reconhecimento da independência dos USA, por parte do Reino Unido, em 1783, os habitantes da região passaram a pedir a separação da região do atual Tennessee do restante da Carolina do Norte. Assim sendo, em 1796, o Tennessee separou-se da Carolina do Norte, tornando-se o 16.º estado norte-americano.


Sempre seguindo na estrada 24, no sentido sul norte, leste-oeste, entrámos no estado de Kentucky, que muitas pessoas acreditavam que a origem do nome do estado vinha de uma palavra “ameríndia” que significa "terreno de caça escuro e sangrento". Porém, atualmente, acredita-se que a palavra Kentucky possa ser atribuída a numerosos idiomas indígenas, com vários significados possíveis. Alguns destes significados são "terra do amanhã", "terra de cana e perus" e "terras pradas".

A região onde está localizado atualmente o Kentucky, como não podia deixar de ser, foi colonizada originalmente por colonos da colónia britânica de Pensilvânia, em 1774, mas passou a ser controlada pela Virgínia ao longo da guerra de independência, e tornou-se o décimo quinto estado norte-americano a entrar na união. Atravessámos a fronteira pela ponte sobre o rio Ohio, e dormimos na cidade de Marion, no estado de Illinois, cujas primeiras cinquenta milhas é deserto com algumas quintas com muitas vacas e com aquele cheiro característico dos currais que aquelas quintas têm.

Neste primeiro dia percorremos 868 milhas, com o preço da gasolina que variava entre $3.24 e $3.65 o galão, que são mais ou menos 4 litros.

Tony Borie,
Agosto de 2014.
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Nota do editor

Último poste da série de 7 de Junho de 2014 > Guiné 63/74 - P13254: Bom ou mau tempo na bolanha (59): O Alferes Miliciano Bobone (Tony Borié)

1 comentário:

Joaquim Luís Fernandes disse...

Amigo e Camarada Tony Borié

Já tinha saudades dos teus postes onde nos falas da tua segunda Pátria, os USA, onde vives e procuras ser feliz.

Tenho que confessar que fico com uma pontinha de inveja de não poder viver também essas epopeias que nos enchem a alma. Mas paciência, cada qual colhe o que semeou; Eu penso ter semeado bastante, mas, ou ainda não chegou o tempo da colheita, ou o terreno era mau e a produção fraca, por não poder dar mais ou por falta de cultivo.

Mas ler-te é um prazer! E vais-nos dando umas lições de história e geografia. Muito bem!

Continua a usufruir das coisas boas da vida; Tu mereces!
Fico à espera de mais relatos felizes, de que bem necessitamos, neste tempo de desgraças.

Muita saúde, tudo de bom para ti e para os teus teus.

Abraços.
JLFernandes