Não sei se as aves do paraíso são felizes…
por Luís Graça
Não sei se as aves do paraíso
são felizes.
Mas em Candoz poderiam sê-lo.
Não há aves do paraíso em Candoz
porque Candoz fica no hemisfério norte,
longe dos trópicos e longe do paraíso
(se é que ele existe).
Dizem que as aves do paraíso
são as criaturas mais lindas do mundo.
Em Candoz, há outras aves, outros pássaros,
daqueles que rasgam os céus
e nidificam na terra:
não há perdizes,
ou, se existem, são poucas e loucas;
mas há verdes pombos bravos dos pinhais,
e rolas, de outras paragens,
alegres pintassilgos,
ruidosos pardais do telhado,
andorinhas, cada vez mais,
no vaivem das suas viagens,
mas também toutinegras, popas, verdilhões.
Há coros de rouxinóis,
outras aves canoras e canastrões,
melros de bico amarelo
que fazem seus ninhos nas ramagens
das videiras do vinho verde.
Não há guarda-rios, de azuis e rubras plumagens,
à cota trezentos,
com o rio Douro ao fundo do vale,
a serra de Montemuro em frente.
Eça de Queiroz,
meu vizinho, da Quinta de Tormes,
deveria ter gostado de conhecer Candoz
onde os pássaros são livres,
e, se são livres, logo serão felizes.
Pelo menos têm grandes espaços para voar,
os pássaros de Candoz.
Claro que há os predadores,
o gaio, o corvo, o búteo, o mocho, o milhafre…
A liberdade é a primeira condição da felicidade.
Triste é o melro na gaiola,
mesmo que esta seja forrada a ouro.
A outra condição é a equidade.
E eu aqui presumo
que haja igualdade de oportunidades
na busca de alimentos,
de sítios para nidificar
e de parceiros para acasalar.
As andorinhas que por cá ficaram,
há mais de uma década,
parecem ser felizes.
São inteligentes, as andorinhas,
e façam análises de custo-benefício,
como qualquer economista.
Passam todo o santo dia a caçar insetos
num raio de 500 metros à volta do ninho
que fizeram no alpendre de uma das casas
em redor do fio da lâmpada exterior.
É uma insólita construção,
herdada de geração em geração
e todos os anos retocada ou reconstruída.
Já não voltam para o norte de África,
Ficam por cá,
as andorinhas de Candoz.
Se calhar fogem de Alá,
do alvoroço do povo
e dos tiros das Kalash.
Afinal, a felicidade está onde nós a pomos,
mas nós nunca a pomos onde nós estamos.
Lourinhã, 7/8/2014.
PS - Há 38 anos casei-me na Tabanca de Candoz,
com a Chita,
a minha “ave do paraíso”.
Foi o primeiro casamento civil do ano,
no Marco de Canaveses.
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Nota do editor:
Último poste da série > 3 de agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13459: Manuscrito(s) (Luís Graça) (38): Que viva la (mo)vida... e o choco frito do Bar da Peralta!
3 comentários:
Estás em forma Luís!!
Folgo muito com isso caro amigo
... e o Blogue também ganha muito.
Boas férias para ti e esposa Maria Alice.
Rui Silva, às ordens.
"A liberdade é a primeira condicäo da felicidade".
Com perigo de repetência volto a perguntar:Quando surge o tal livro de poesia?
Um abraco.
... José, o livro já vai na versão 30... Era para ser publicado no dia 21 de janeiro de 2014, por ocasião dos 30 anos do João... Por outro lado, a editora está "apalavrada"...Gostou do manuscrito... E até já combinámos o preço de capa... que eu não quero que ultrapasse os 10 euros/ 250 pp...
Obrigado pelo estímulo positivo. Preciso de me convencer que terei leitores... inckluindo na Lapónia.
Ontem, voltei ao Peralta Bar: camarão da costa (ou de Espinho), carapaus fritos e ameijoas à Bulhão Pato, 4 boémias (oberba a Boémia da Sagres!), jantar para 2 pessoas, com direito a um romântico põr do sol... tudo por 26 euros, com IVA e fatura...
È um recanto maravilhoso da costa da Lourinhã que eu recomendo aos meus amigos... Há sempre gente amiga conhecida... E até noruegueses, 3 raparigas e 4 rapazes, encantados com o vinho verde Muralhas e com os petiscos portugueses... Perfeitamente perdidos na geografia...
- How do you call this niceplace wih nice foood & nice drinks ?...
- Peralta Beach, my darling!...
As suecas são mais lindas, estamos de acordo... Mas as noruegues são mais "vikings"... Acertei logo na língua, pelo sotaque...
Um xicoração...
PS . Acabo de cehgar da praia onde fiz 10 km, ao lomgo da costa... Uma tarde perfeita no "país possível" (Ruy Belo, "teu primo"...), na maré baixa, da Areia Branca ao Paimogo ...
Luís Graça
(aproveitandoi a boleia da Net da vizinha...)
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