Sexagésimo episódio da série Bom ou mau tempo na bolanha, do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGRU 16, Mansoa, 1964/66.
Olá companheiros, ainda se lembram de mim?
Estou de novo convosco, tenho acompanhado, na medida do possível, o
nosso blogue, o comandante Luís, de férias, que espero já caminhe bem e
coloque a sua máquina fotográfica, em posição de “acção”, dispare fotos “a
torto e a direito”, às vezes em frente a um espelho velho, partido e usado”,
que até ficam “originais” e, acompanham aqueles poemas, que, ao lê-los,
(não sei se é assim que se escreve), até parece que estamos lá no “sítio”,
de onde eles falam, o Carlos Vinhal, que me manda, de vez em quando,
algumas notícias do
pessoal ou de coisas da
Guiné, saia por alguns
momentos do seu “posto
de controle”, que deve
de ser alimentar o nosso
blogue no seu
computador, vá lá à
praia de “Massarelos”,
(com a sua esposa),
pois não vá alguma
“girl”, apanhá-lo em “fato
de banho”, apanhar
algum sol, nem que seja
por algumas horas por
dia e, os restantes
companheiros, alguns, muito bons colaboradores do nosso blogue, que
com os seus resumos de guerra, críticas, lembranças, comentários, alguns
“maldosos”, outros “confortáveis”, nos vão passando alguns momentos
gratificantes, neste mundo, que se vai indo, cada vez pior, pelo menos
para os mais jovens, pois nós, habituados à “guerra e ao sofrimento”, já
pouco nos “apoquenta”, porra, não sei outra vez, se é assim que se
escreve!.!.
Uff, já cheguei a casa, só
de loucos, que viagem,
pensava fazer 14.000
milhas e fiz mais de
15.000!
Não sei como
vos vou explicar todos os
pormenores, vai ser uma
“coisa por alto”, espero
que não digam “é só
umbigo”, pois nada mais
me move, do que a
intenção de compartilhar
com todos os meus
companheiros, esta
experiência, por favor
não vão dizer, “é só
americanices”, (e se disserem ou pensarem, também compreeendo, pois
as coisas do dia a dia, são difíceis de obter, pelo menos na nossa idade),
mas companheiros, nunca usei hotéis de luxo, comi a maior parte das
vezes do que cozinhava e, dormia também a maior parte das vezes na
caravana, só quando o tempo não permitia, pagando algumas vezes o
espaço que ocupava nos parques de campismo. O resumo que tento
escrever é sincero, foi mais ou menos o que se passou, os principais
momentos vão saber, pois vocês, que lá andaram, comeram o “peixe e
arroz da bolanha”, merecem saber, talvez vos faça vir “ao de cima”, as
célebres “colunas” para Mansabá, Bissorã ou Olossato.
Já chega de blá, blá, blá, cheguei, estou em casa, na Florida e, lá vai mais
uma lembrança portuguesa, agora aquela cantiga do folclore alentejano
que anda na boca de toda a gente, ou quase toda agente, que é mais ou
menos, “Às quatro da madrugada, o passarinho cantou”.
Mais ou menos dois séculos depois, não tendo nada a ver com
“exploradores”, “descobridores”, “pescadores” e “achadores”, foi a essa
hora que acordámos,
fazendo os últimos
preparativos para a
viagem, saindo de
nossa casa, no estado
da Florida, que foi
explorada e colonizada
pelos espanhóis, que a
controlaram até 1819,
quando foi comprada e
anexada pelos Estados
Unidos e,
que fica localizada na
região sudeste do país,
sendo o estado mais
meridional dos 48
estados da parte
continental dos USA e, como quase toda a gente sabe, a principal fonte de
renda da Flórida é o turismo.
O estado é conhecido mundialmente pelas
suas diversas ofertas turísticas, que atraem anualmente mais de 60
milhões de visitantes, principalmente no inverno, vindos de outros estados americanos e de outros
países. Estas atrações incluem inúmeras praias, aliadas ao clima
relativamente ameno o ano inteiro., o parque de
diversões Walt Disney
World, a que muitas
pessoas chamam
“Disneylândia”, ou ao
Centro Espacial
Kennedy, que fica
situado numa região a
que chamam Space
Coast, pois é lá que se
situa uma Base da
Força Aérea, de onde
saem a maioria das
naves espaciais dos
USA, rumo ao espaço. Cabo Canaveral foi escolhido como local para o
lançamento de naves espaciais, porque se situa muito próximo do equador e, desta forma, conseguir lançar uma nave espacial com a
menor energia possível, aproveitando o movimento de rotação da Terra. Assim, as naves espaciais são sempre lançados para o leste,
sobre o oceano, distante de centros populacionais.
Com aquele
sentido de orientação que talvez tivéssemos herdado dos nossos
antepassados
navegadores
portugueses, também
tomámos um rumo de
sul para norte, de leste
para oeste, passando
cidades vilas e aldeias,
que nos levariam do
estado da Florida até ao do Alaska, no
mínimo espaço de
tempo, e claro,
despendendo a menor
energia possível!.
Revisámos os últimos
preparativos, tudo em ordem e saímos de nossa casa, às 6 horas da
manhã, tomando a estrada número 95, no sentido norte, de seguida a
estrada 10, de leste para oeste, atravessando um pouco do norte do
estado da Florida, até à estrada número 75, que atravessa o longo estado
da Geórgia que é o maior estado do país em área terrestre, a leste do rio
Mississippi, embora o Michigan, a própria Flórida ou o Wisconsin, sejam
maiores se a área ocupada por água for incluída, sendo a maior parte da
Geórgia coberta por florestas, primariamente pinheiros, pessegueiros e
magnólias. Quando entrámos no estado o terreno é plano e menos
acidentado, já no norte é primariamente montanhoso. Dizem que o turismo
e a indústria madeireira são importantes fontes de renda da Geórgia. À
hora que atravessámos a cidade de Atlanta, tivemos alguma dificuldade
com o tráfico, pois existe uma grande rede de estradas que se cruza nesta
área e, se se não vai com muita atenção, não existe GPS que nos valha, e
para os menos precavidos, são capazes de tomar a direcção do norte,
quando a sua rota era o sul.
Já agora, não ficava bem se não vos explicássemos que a região que
constitui atualmente a Geórgia fora disputada durante o final do século
XVII e o início do século XVIII, entre o Reino Unido e a Espanha, quando
então fazia parte de uma colónia chamada de Carolinas, que incluía
também os atuais estados de Carolina do Norte e Carolina do Sul, depois
por volta de 1724, os
britânicos criaram a
colónia de Geórgia, onde
se instalaram na região,
no que atualmente
constitui a cidade de
Savannah. Dizem que a
Geórgia foi a última das
Treze Colónias criada
pelos britânicos e, claro,
após a vitória americana
na Revolução Americana
de 1776,
se tornou-se o quarto
estado americano.
Já o sol ia alto, quando entrámos no estado de Tennessee, onde entrámos
na estrada 24, com um tráfico, algumas vezes lento, com montanhas
suaves em algumas zonas e agressivas em outras e, nós como levávamos
um “atrelado”, que era nossa “casa ambulante”, que nos havia de valer
“milhões”, em muitas situações onde havia zonas, (lá mais para o norte, ou
já no Canadá e perto do estado do Alaska, onde a estrada seguia por mais
de duzentas milhas sem qualquer alojamento, ou simples estação de
serviço), fomos atravessando parte do estado do Tennessee, passando por
algumas vilas ou cidades do actual Tennessee, que durante o período da
colonização britânica da tal região das Treze Colónias, que na altura fazia
parte do atual estado da Carolina do Norte e, era facilmente a região mais
ocidental das antigas Treze Colónias britânicas. O Tennessee, por causa
da cordilheira de montanhas dos Apalaches, era isolado do restante da
Carolina do Norte. Após o reconhecimento da independência dos USA, por
parte do Reino Unido, em 1783, os habitantes da região passaram a pedir
a separação da região do atual Tennessee do restante da Carolina do
Norte. Assim sendo, em 1796, o Tennessee separou-se da Carolina do
Norte, tornando-se o 16.º estado norte-americano.
Sempre seguindo na estrada 24, no sentido sul norte, leste-oeste,
entrámos no estado de Kentucky, que muitas pessoas acreditavam que a
origem do nome do estado vinha de uma palavra “ameríndia” que significa
"terreno de caça escuro e sangrento". Porém, atualmente, acredita-se que
a palavra Kentucky possa
ser atribuída a numerosos
idiomas indígenas, com
vários significados
possíveis. Alguns destes
significados são "terra do
amanhã", "terra de cana e
perus" e "terras pradas".
A região onde está
localizado atualmente o
Kentucky, como não
podia deixar de ser, foi
colonizada originalmente
por colonos da colónia
britânica de Pensilvânia,
em 1774, mas passou a ser controlada pela Virgínia ao longo da guerra
de independência, e tornou-se o décimo quinto estado norte-americano a
entrar na união. Atravessámos a fronteira pela ponte sobre o rio Ohio, e
dormimos na cidade de Marion, no estado de Illinois, cujas primeiras
cinquenta milhas é deserto com algumas quintas com muitas vacas e com
aquele cheiro característico dos currais que aquelas quintas têm.
Neste primeiro dia percorremos 868 milhas, com o preço da gasolina que
variava entre $3.24 e $3.65 o galão, que são mais ou menos 4 litros.
Tony Borie,
Agosto de 2014.
____________
Nota do editor
Último poste da série de 7 de Junho de 2014 > Guiné 63/74 - P13254: Bom ou mau tempo na bolanha (59): O Alferes Miliciano Bobone (Tony Borié)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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1 comentário:
Amigo e Camarada Tony Borié
Já tinha saudades dos teus postes onde nos falas da tua segunda Pátria, os USA, onde vives e procuras ser feliz.
Tenho que confessar que fico com uma pontinha de inveja de não poder viver também essas epopeias que nos enchem a alma. Mas paciência, cada qual colhe o que semeou; Eu penso ter semeado bastante, mas, ou ainda não chegou o tempo da colheita, ou o terreno era mau e a produção fraca, por não poder dar mais ou por falta de cultivo.
Mas ler-te é um prazer! E vais-nos dando umas lições de história e geografia. Muito bem!
Continua a usufruir das coisas boas da vida; Tu mereces!
Fico à espera de mais relatos felizes, de que bem necessitamos, neste tempo de desgraças.
Muita saúde, tudo de bom para ti e para os teus teus.
Abraços.
JLFernandes
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