Na mensagem que nos mandou traz uma dedicatória aos nossos pais (na maior dos casos, já falecidos) mas também aos pais que hoje somos (em muitos casos, duplamente pais e avós): "Com um beijo, um abraço ou uma simples oração"...
É também, segundo o entendimento dos nossos editores, uma homenagem a uma grande mulher portuguesa, e uma grande poetisa, nascida em Vila Viçosa, e que em Matosinhos, aos 36 anos, pôs termo à vida... Uma morte de(a)nunciada!...E, claro, é ainda uma homenagem à nossa bela e amada língua: foi em português que aprendemos a dizer, pai e mãe...
Um pormenor histórico-biográfico siobre a grande Florbela Espanca: foi registada, de acordo com o código civil da época, com a infamante designação de "filha ilegítima de pai incógnito"... Seu pai, João Maria Espanca só a haveria de perfilhar 18 anos depois da sua morte... Este facto pode ajudar-nos a entender melhor o poema
"Ter um Pai". [Ler aqui a sua biografia, no sítio "Vidas Lusófonas"].
"Ter um Pai". [Ler aqui a sua biografia, no sítio "Vidas Lusófonas"].
Ter um Pai
Florbela Espanca (1894-1930)
Ter um Pai! É ter na vida
Uma luz por entre escolhos;
É ter dois olhos no mundo
Que vêem pelos nossos olhos!
Ter um Pai! Um coração
Que apenas amor encerra,
É ver Deus, no mundo vil,
É ter os céus cá na terra!
Ter um Pai! Nunca se perde
Aquela santa afeição,
Sempre a mesma, quer o filho
Seja um santo ou um ladrão;
Talvez maior, sendo infame
O filho que é desprezado
Pelo mundo; pois um Pai
Perdoa ao mais desgraçado!
Ter um Pai! Um santo orgulho
Pró coração que lhe quer
Um orgulho que não cabe
Num coração de mulher!
Embora ele seja imenso
Vogando pelo ideal,
O coração que me deste
Ó Pai bondoso é leal!
Ter um Pai! Doce poema
Dum sonho bendito e santo
Nestas letras pequeninas,
Astros dum céu todo encanto!
Ter um Pai! Os órfãozinhos
Não conhecem este amor!
Por mo fazer conhecer,
Bendito seja o Senhor!
Florbela Espanca
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Último poste da série > 10 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14344: Blogpoesia (403): o meu mar da Ericeira (J. L. Mendes Gomes)
1 comentário:
Olá Camaradas
Aplaudo a publicação deste poema!
É raro que surja poema da poetisa maldita. As mulheres não gostam dela. É demasiado livre! E por isso têm inveja dela... Sentem que devim ser assim, mas não têm coragem e a inveja...
Os homens também a poderiam defender mais, mas, se calhar, também se sentem culpados e pouco à vontade perante a liberdade dela.
Quanto mais não vale este poema do que aquelas celebrações boçalmente folclóricas do "Dia Mundial da Mulher" que têm vindo a praticar-se?
Este sim é um poema feminista e feminino. E masculino.
De homenagem a quem merece.
Enfim é destes poemas que vale a pena falar e ler reler e... pensar sentindo!
Um Ab.
António J. P. Costa
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