RIO GRANDE DE BUBA E RIO CORUBAL (3)
RIO CORUBAL
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Mas o rio que me impressionou seriamente foi o CORUBAL, que vi apenas duas vezes: uma na Ponte Interrompida (Marechal Carmona) lá para os lados do Xitole e outra numa deslocação propositada a uma zona próxima de Aldeia Formosa, provavelmente depois do 25 de Abril/74.
Mesmo antes de chegar ao rio, senti uma enorme satisfação por me ver no cimo de uma pequena colina, a única que conheci na Guiné. O rio corria lá em baixo quase oculto. Parámos a viatura só para eu fotografar e poder desfrutar por alguns instantes esta sensação quase esquecida de ver a paisagem a partir do alto.
O rio tem as margens quase ocultas por denso arvoredo e o acesso às suas águas, naquela zona, fazia-se por pequenas aberturas na mata, o que o tornava ainda mais misterioso. Ao penetrar numa dessas aberturas, a primeira coisa que me saltou à vista, foram os “alfaiates” (crocodilos ou jacarés?), preguiçando em cima dos ramos que entravam na água. Depois, olhando toda a extensão do rio e a margem distante em frente, fiquei sem respiração. Impressionou-me aquela massa líquida, quase parada, e negra devido à profundidade desmesurada. Tudo envolto em silêncio. Resolvemos dar um passeio de canoa por termos o homem certo mesmo à mão, e isso aumentou o deslumbramento. Imagino, hoje, como seria no Geba, Cacheu e outros.
Sei que o rio Corubal tem secções porventura menos impressionantes e misteriosas, mas muito mais belas. Desde o início da minha comissão que estava prometida, pelo comandante da minha Companhia, uma “excursão” aos rápidos de Cussilinta, mas isso nunca chegou a acontecer por falta de oportunidade. Tudo o que conheço é por descrições da época e por fotografias de hoje.
Junto algumas fotografias que, espero, sejam reveladoras. A qualidade não é grande porque derivam dos meus slides.
Então um abraço fraterno para vocês e para toda a Tabanca.
A. Murta
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Rio Corubal, 1974 – O rio lá ao fundo visto de uma colina rara.
Rio Corubal, 1974 – Margem junto ao “cais” das canoas.
Rio Corubal, 1974 – “Cais” das canoas.
Rio Corubal, 1974 – “Cais” das canoas.
Rio Corubal, 1974 – Furriel Casaca da minha Companhia em pleno rio, sentado à minha frente na canoa, num dia de descompressão.
Rio Corubal, 1974 – Atrás de mim, o homem do leme que é também o homem da “máquina”.
Rio Corubal, 1974 – Entardecer no Rio Corubal.
Texto e fotos: © António Murta
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Nota do editor
Postes anteriores da série de:
20 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14903: Memória dos lugares (305): O meu rio próximo, e de estimação, era o Rio Grande de Buba (1) (António Murta)
e
22 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14916: Memória dos lugares (307): O meu rio próximo, e de estimação, era o Rio Grande de Buba (2) (António Murta)
2 comentários:
Caro amigo Murta e caros combatentes:
A tua excursão à margem esquerda do rio Curubal aconteceu após o 25 de Abril de 74, provavelmente no mesmo dia em que parte do pessoal da minha companhia o fez também ou em data próxima. O local da visita foi o mesmo, pelo que vejo nas fotos, e o caminho também. Aliás, nota-se, numa das fotos, a picada nova aberta pela Engenharia Militar já sem necessidade de segurança. Lembro-me bem desse passeio à descoberta do mítico Curubal e de nos termos banhado no meio de grande algazarra e ainda de termos apanhado alguns peixes à granada ofensiva. Dos crocodilos nada posso dizer mas não constituiram problema para nós, julgando eu, agora, que tenham desaparecido assustados pelos rebentamentos das granadas. Aqueles 24 anos e o "clima" associados à festa do 25 de Abril davam para todas as temeridades e até loucuras.
Este período posterior ao 25 de Abril assumiu, nos três teatros da guerra ultramarina, facetas um pouco distintas considerando os diferentes contextos políticos e sociais. Como se sabe, a presença de brancos civis, na Guiné, era, naquela data, residual, ao contrário da sua representação significativa em Angola e Moçambique. Assim, enquanto na Guiné o problema terminou com a nossa indisponibilidade para o prosseguimento dos combates, nas duas outras províncias, verdadeiras jóias do regime, havia um problema delicadíssimo para se resolver: o do futuro dos brancos civis, muitos deles aí nascidos e com direitos legítimos a permanecerem nessas terras que ajudaram a transformar com o seu labor e empenho. Mas os ventos da história são, muitas vezes, mais inclementes que um verdadeiro
tufão.
Na Guiné, apesar da situação mal acautelada, relativamente aos milhares de soldados e milícias que combateram ao nosso lado, crentes na bondade da "nossa" causa, o processo de descolonização tornou-se bastante mais simples e expedito.
Este último trabalho do Murta é bem elucidativo deste período do adeus à guerra e da descoberta dos locais perigosos ora transformados em paisagens deslumbrantes e quase inebriantes.
Um abração
Carvalho de Mampatá
Caro amigo Carvalho.
É tal e qual como dizes. Concordo, ponto por ponto. Sobre o pós 25 de Abril, penso enviar outras coisas que "ilustram" a descompressão vivida na época.
Obrigado.
Grande abraço fraterno,
A. Murta.
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