Lourinhã, Praia do Caniçal > 4 de agosto de 2015
Lourinhã, Praia do Vale de frades > 4 de agosto de 2015
Lourinhã, Praia da Areia Branca > 4 de agosto de 2015 > A nossa grã-tabanqueira Alice Carneiro na maré-baixa...Há 150 milhões de anos, no Jurássico Superior, podia-se ir daqui até... Nova Iorque, a pé...
Lourinhã, Praia da Areia Branca > 4 de agosto de 2015 > Mariscadores-recolectores (1)
Lourinhã, Praia da Areia Branca > 4 de agosto de 2015 > Mariscadores-recolectores (2)
Lourinhã, Praia do Paimogo > 4 de agosto de 2015 > Enseada e forte de Paimogo (séc. XVII)
Lourinhã, Praia do Paimogo > 4 de agosto de 2015 > Forte de Paimogo (séc. XVII)
Lourinhã, Porto das Barcas, > 9 de agosto de 2015 > Choco frito...
Lourinhã, Porto das Barcas, > 9 de agosto de 2015 > Olha a bela sapateira...
Lourinhã, Porto das Barcas, > 9 de agosto de 2015 > Dizem que é o porto lagosteiro mais antigo do mundo.. No concelho da Lourinhã há dois grandes viveiros de marisco (Porto das Barcas e Casal Novo) que fornecem as marisqueiras de Lisboa mas também... de Luanda.
Lourinhã, Porto das Barcas, > 9 de agosto de 2015 > > Tabela do marisco vivo... nos viveiros dos Frutos do Mar (passe a publicidade).,.. No concelho da Lourinhã há dois grandes viveiros de marisco (Porto das Barcas e Casal Novo) que fornecem as marisqueiras de Lisboa mas também... de Luanda. No caso dos viveiros dos Frutos do Mar, é um negócio que passa por 4 gerações da mesma família.
Texto e fotos: © Luís Graça (2015). Todos os direitos reservados
Paisagens jurássicas
por Luís Graça
Praia de Paimogo:
estas pedras estão aqui
há milhões e milhões de anos,
e eu não sei dizer-te
por que é que estas pedras estão aqui
há milhões e milhões de anos.
Uma enseada, uma cratera, um lago,
a Praia de Paimogo foi talhada
a ferro e fogo,
mas se eu fosse deus,
o deus Vulcano,
todo poderoso senhor,
ou até simples rei mago,
tê-la-ia desenhado,
com muita ternura,
sob a forma de perfeito coração
ou de simples ferradura
só para ti, meu amor.
Estas pedras estão aqui
muito antes dos dinossauros
evoluírem e dominarem o planeta azul,
que afinal não era assim tão azul
quanto o pintavam.
Visto da janela do teu quarto,
em Candoz,
o vale era o mundo e era verde,
na aguarela do Eça de Queiroz,
em A Cidade e as Serras,
muito antes de descobrires o mar,
e o pôr do sol sobre o mar,
muito antes de saberes
onde ficava a praia da minha infância.
Nem vale, nem pombas, nem praia,
na Praia do Vale de Pombas,
procuro uma outra errância,
sinais de antigas e feras guerras,
mas aqui nunca te trouxe.
À maré cheia, à praia-mar,
há apenas um fio de água doce,
correndo entre juncos e canaviais,
que mantém os cordões umbilicais
do infinitamente pequeno da vida
ligados ao infinitamente grande
dos corpos celestiais.
Praia do Caniçal:
aqui gostaria de deixar a minha caixa preta,
antes de trepar
pela tua árvore genealógica, como o salmão,
até ao paleolítico superior,
pelo leito dos rios que sobem, secos,
pelo interior do planeta,
até às grandes fossas marinhas.
Praia de Vale de Frades:
mas que sabemos nós, amor, de cronogeologia
para dizer que estas pedras estão aqui
há tantos milhões de anos ?!
Sabes apenas que, de acordo com a teoria
das probabilidades,
estas pedras vão ficar aqui,
muito depois da tua morte,
muito depois da extinção da nossa espécie.
Praia da Areia Branca:
não te conseguiram amar
sem te possuir e violar.
Livro Sexto, de Sophia.
Praia do Areal:
há uma seta
que indica o sol, o sul,
a zona dos chapéus,
a bandeira azul,
o espaço rigorosamente vigiado
dos amantes,
o risco de cancro da pele,
até às grandes fossas marinhas.
Praia de Vale de Frades:
mas que sabemos nós, amor, de cronogeologia
para dizer que estas pedras estão aqui
há tantos milhões de anos ?!
Sabes apenas que, de acordo com a teoria
das probabilidades,
estas pedras vão ficar aqui,
muito depois da tua morte,
muito depois da extinção da nossa espécie.
Praia da Areia Branca:
não te conseguiram amar
sem te possuir e violar.
Livro Sexto, de Sophia.
Praia do Areal:
há uma seta
que indica o sol, o sul,
a zona dos chapéus,
a bandeira azul,
o espaço rigorosamente vigiado
dos amantes,
o risco de cancro da pele,
a rota da seda,
a sede,
o desejo,
os amores de verão,
a morte a mais a norte,
a fuga do caranguejo,
o coração que bate forte.
Saio noutra estação.
Praia da Peralta:
o melhor do mês de agosto, amor,
é enterrar a cabeça na areia
e escutar,
o mar,
a voz rouca do mar
que chegou até aqui,
muito antes de mim e de ti,
e que vai ficar aqui
muito depois de mim e de ti.
Não há farol na Peralta,
para tu poderes avisar a malta,
enquanto o teu país arde
ou o que resta dele.
Aqui passam navios ao largo,
como manadas de elefantes,
tapando o sol, vermelho.
Na malhada grande,
poderíamos ter sido felizes, meu amor,
entre apanhadores de polvos, lapas e ouriços,
mesmo sabendo
que estas pedras estão aqui,
muito antes de ti e de mim,
há milhões e milhões de anos.
Porto das Barcas:
Aqui não há ciência, apenas sapiência,
que é a mais antiga das virtudes,
e o pensamento selvagem
dos molúsculos e dos crustáceos.
Um navio fantasmagórico
entra pela terra adentro,
daqui avistamos as Berlengas,
e a Nau Catrineta, em fim de viagem,
e que já nada tem para nos contar.
Nem encantar.
Praia do Zimbral:
aqui qui caiu uma chuva de estrelas e meteoritos,
hei de levar-te lá um dia
na hora mortal do nevoeiro matinal.
Para ouvires, nos búzios,
os náufragos e os seus gritos.
Porto Dinheiro:
um espesso nevoeiro
cobre as falésias.
Até aqui chegavam as galés dos romanos,
e muito antes os fenícios,
e depois os barcos de vikings e piratas.
Não sei se o sítio tem padroeiro
ou orago,
nem sei se por aqui passava
o teu caminho de Santiago.
Aqui deito contas à vida,
aqui conto as marcas do tempo,
aqui lanço a âncora,
aqui fui carpinteiro de naus,
aqui, Plínio, o Velho,
poderia ter fundado a paleontologia
mas, não: morreu em 69 a. C. a observar
a erupção do Vesúvio.
Praia do Valmitão,
ou do Vale do Ermitão:
podia ter sido ilha de corsário
ou baía de tubarão,
a ter bandeira, só a preta, com caveira.
Praia de Vale de Frades,
ao domingo,
na baixa-mar:
à volta de um prato de sardinhas,
a vida pode não ter
metafísica nenhuma
e mesmo assim ser
pura, emoção pura,
e simples, prazer simples.
Mandei pôr mais um prato
na mesa, sem toalha,
virada para o sul,
para o mar do Serro.
Não me esqueci do pão,
das sardinhas,
das batatas,
dos pimentos,
da salada e do vinho...
E eu esperava por ti,
que eras a oficiante da vida.
Volto à Peralta,
dando o dito por não dito,
o mar do Serro em frente,
para partilhar contigo,
como sempre,
a magia do sol posto
no Atlântico norte,
o amor em agosto
e, com sorte,
um prato de choco frito.
Lourinhã, Prais, agosto de 2004-2015
In: GRAÇA, L. (2015 ) - Amor(es), Guerra(s), Lugar(es): vol 1. Amor(es) (pré-publicação)
Lisboa > Beira Tejo > 5 de novembro de 2011 > Pôr do sol no Atlântico, no momento em que passava um porta-contentores na linha do horizonte... Uma foto feliz, tirada no estuário do Tejo, em Belém, junto ao Museu do Combatente (Forte do Bom Sucesso)...
o desejo,
os amores de verão,
a morte a mais a norte,
a fuga do caranguejo,
o coração que bate forte.
Saio noutra estação.
Praia da Peralta:
o melhor do mês de agosto, amor,
é enterrar a cabeça na areia
e escutar,
o mar,
a voz rouca do mar
que chegou até aqui,
muito antes de mim e de ti,
e que vai ficar aqui
muito depois de mim e de ti.
Não há farol na Peralta,
para tu poderes avisar a malta,
enquanto o teu país arde
ou o que resta dele.
Aqui passam navios ao largo,
como manadas de elefantes,
tapando o sol, vermelho.
Na malhada grande,
poderíamos ter sido felizes, meu amor,
entre apanhadores de polvos, lapas e ouriços,
mesmo sabendo
que estas pedras estão aqui,
muito antes de ti e de mim,
há milhões e milhões de anos.
Porto das Barcas:
Aqui não há ciência, apenas sapiência,
que é a mais antiga das virtudes,
e o pensamento selvagem
dos molúsculos e dos crustáceos.
Um navio fantasmagórico
entra pela terra adentro,
daqui avistamos as Berlengas,
e a Nau Catrineta, em fim de viagem,
e que já nada tem para nos contar.
Nem encantar.
Praia do Zimbral:
aqui qui caiu uma chuva de estrelas e meteoritos,
hei de levar-te lá um dia
na hora mortal do nevoeiro matinal.
Para ouvires, nos búzios,
os náufragos e os seus gritos.
Porto Dinheiro:
um espesso nevoeiro
cobre as falésias.
Até aqui chegavam as galés dos romanos,
e muito antes os fenícios,
e depois os barcos de vikings e piratas.
Não sei se o sítio tem padroeiro
ou orago,
nem sei se por aqui passava
o teu caminho de Santiago.
Aqui deito contas à vida,
aqui conto as marcas do tempo,
aqui lanço a âncora,
aqui fui carpinteiro de naus,
aqui, Plínio, o Velho,
poderia ter fundado a paleontologia
mas, não: morreu em 69 a. C. a observar
a erupção do Vesúvio.
Praia do Valmitão,
ou do Vale do Ermitão:
podia ter sido ilha de corsário
ou baía de tubarão,
a ter bandeira, só a preta, com caveira.
Praia de Vale de Frades,
ao domingo,
na baixa-mar:
à volta de um prato de sardinhas,
a vida pode não ter
metafísica nenhuma
e mesmo assim ser
pura, emoção pura,
e simples, prazer simples.
Mandei pôr mais um prato
na mesa, sem toalha,
virada para o sul,
para o mar do Serro.
Não me esqueci do pão,
das sardinhas,
das batatas,
dos pimentos,
da salada e do vinho...
E eu esperava por ti,
que eras a oficiante da vida.
Volto à Peralta,
dando o dito por não dito,
o mar do Serro em frente,
para partilhar contigo,
como sempre,
a magia do sol posto
no Atlântico norte,
o amor em agosto
e, com sorte,
um prato de choco frito.
Lourinhã, Prais, agosto de 2004-2015
In: GRAÇA, L. (2015 ) - Amor(es), Guerra(s), Lugar(es): vol 1. Amor(es) (pré-publicação)
Lisboa > Beira Tejo > 5 de novembro de 2011 > Pôr do sol no Atlântico, no momento em que passava um porta-contentores na linha do horizonte... Uma foto feliz, tirada no estuário do Tejo, em Belém, junto ao Museu do Combatente (Forte do Bom Sucesso)...
Foto (e legenda): © Luís Graça (2011). Todos os direitos reservados
______________
Nota do editor:
Último poste da série > 24 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14928: Manuscrito(s) (Luís Graça) (62): "I want you, dead or alive"
Último poste da série > 24 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14928: Manuscrito(s) (Luís Graça) (62): "I want you, dead or alive"
3 comentários:
Com um beijo de parabéns para a Alice.
JD
Perguntou ao Luís um amigo e grã-tabanqueiro, algo intrigado, sobre o significado da minha presença nas "paisagens jurássicas" da Lourinhã... Eu fiz anos, a 18, e ainda bem, como faço anos todos os anos, a 18 de agosto... Acho que ainda estou longe de ser uma criatura... jurássica. As imagens que o Luís inseriu para ilustrar o poema, são de algumas das suas/nossas praias e recantos favoritos...
O Luís e os nossos filhos fizeram-me uma surpresa, oferecendo-me um exemplar do 1º volume de uma triologia de poemas meus que andam à procura de editor... Este 1º volume tem 100 páginas e 28 poemas, alguns dos quais (eu diria boa parte dos quais) têm me, a mim, como musa inspiradora... o que é uma honra, um privilégio e uma responsabilidade.... Eu e estas paisagens jurássicas que o Luís fotografa obsessivamente há anos... pelo mesmo desde que ele tem máquina...
Obrigado, José Manel Matos Dinis, pela tua mensagem natalícia. A minha gratidão pela deferência. Alice
Muito bem.
Pelo conteúdo e pelo estilo, trata-se de um poema geográfico/turístico mas também, tendo por alvo, aparentemente, um(a) interlocutor(a) imaginado(a), que me parece ser a Alice, é igualmente uma manifestação pública de dedicação, carinho e amor.
(já não estou nada intrigado, aliás o que estranhei foi a foto da Alice colocada de modo que se podia 'colar' ao 'jurássico').
Quanto ao 'passeio' pela costa da zona da Lourinhã, gostei bastante. Relembrou-me visitas antigas quando ia para aí, também para as Termas do Vimeiro e praias próximas, e quanto a Porto de Barcas relembro não só pelos viveiros de mariscos, principalmente lagostas, mas pelas caldeiradas saborosas que lá comi.
Quanto às fotos, temos duas a referir o choco frito mas olha que a segunda não é choco....!
Boas férias e parabéns.
Hélder S.
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