domingo, 23 de agosto de 2015

Guiné 63/74 - P15030: Libertando-me (Tony Borié) (31): O Sonho Americano (1)

Trigésimo primeiro episódio da série "Libertando-me" do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGR 16, Mansoa, 1964/66, enviado ao nosso blogue em mensagem do dia 17 de Agosto de 2015.




Na escola velha do Adro, na então vila de Águeda, o professor Silvério ensinava, batia, era violento, era actor, pois na aula de história exemplificava a personagem de que falava, com gestos e atitudes, algumas violentas, se algum de nós lhe colocava uma questão, só dava respostas a “Bem da Nação”, os nossos antepassados portugueses. Na sua boca, eram os melhores, os mais bons, só existiam vitórias, talvez sem o saber, fazia toda a classe violenta, pois nos intervalos das aulas, nós combatíamos e lutávamos uns com os outros para também sermos os melhores e, raro era o dia em que nós não andávamos “à lambada”, às vezes com o nosso companheiro de carteira.

Quando abria o livro da História de Portugal, até aquela derrota em Alcácer-Quibir para ele era uma vitória e, o inimigo que se cuide, pois o rei português e alguma nobreza, que lá morreu, havia de voltar um dia, para os vencer e vingar-se. Era assim, era a mentalidade de quem tinha a responsabilidade de fazer homens para o futuro, embora qualquer um de nós desconfiasse de tantas vitórias, devia de haver por lá também algumas derrotas.

Tivemos um companheiro de profissão, durante muitos anos, oriundo da Índia, que nos dizia que na sua história, os portugueses e outros povos europeus apareciam por lá como pescadores ou comerciantes, depois consideravam-se descobridores ou colonizadores e, anos mais tarde, eram única e simplesmente corsários, vulgo “piratas”, isto era a opinião dele e vale o que vale, mas ele dizia-nos tudo isto, principalmente nos momentos em que não concordava com a nossa opinião.

Foi por tudo isto que fomos parar à África, mais propriamente à Guiné, mas ainda por cá andamos, e hoje vamos iniciar uma pequena história do começo do povoamento Europeu no Novo Mundo, mais propriamente os USA, onde entra Portugal, com os nossos antepassados, pescadores, navegadores, descobridores, comerciantes, colonizadores e, corsários, vulgo “piratas”, história esta que representa um trabalho com alguma dificuldade de pesquisa, mas acreditamos que não é contada na história de Portugal. Terá que ser em pelo menos 3 capítulos, pois o espaço do nosso blogue tem que ser repartido com os nossos companheiros, fiquem atentos que vale a pena, pois esta personagem, ainda hoje é popular, pelo menos por aqui, na história dos USA. Cá vai o primeiro episódio.

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“American Dream”
I Parte 

Entre outros países da Europa, Espanha, Portugal e França foram os que se moveram mais rapidamente para estabelecer uma presença no Novo Mundo. Outros países, também o fizeram, mas de forma mais lenta, tudo isto algumas décadas depois das explorações que John Cabot fez, (o seu verdadeiro nome era Giovanni Caboto) que foi um navegador e explorador italiano, financiado por Henrique VIII, na altura rei de Inglaterra, na tentativa de estabelecer possíveis colónias inglesas, pois os primeiros esforços foram fracassados, mais notavelmente a Colónia de Roanoke, localizada num local que hoje faz parte do estado de Carolina do Norte, que desapareceu por volta do ano de 1590. No final de 1606, alguns empresários ingleses partiram com uma carta da Companhia Virgínia de Londres para estabelecer uma colónia no Novo Mundo. A frota composta de três navios chamados “Susan Constant”, “Discovery” e “Godspeed”, sob o comando do jovem Capitão Christopher Newport, que depois de uma longa viagem, com a duração de cinco meses, incluindo uma paragem nas ilhas de Porto Rico, de onde partiram em Abril de 1607 para o continente americano. Uns dias depois, a expedição desembarcou num lugar chamado Cape Henry, num local que hoje faz parte do estado de Virgínia, com ordens para selecionar uma localização com alguma segurança, puseram-se a explorar o que é agora Hampton Roads, numa saída para a Baía de Chesapeake, a que deram o nome do rio James, em honra de seu Rei James I, da Inglaterra.

Até aqui, na nossa pesquisa ainda não houve interferência de Portugueses, Espanhóis ou mesmo Franceses, mas é tempo de vos explicar que esta personagem, o Capitão Christopher Newport, quando jovem navegou com Sir Francis Drake, que foi um capitão inglês, vice-almirante, que foi um famoso corsário, vulgo “pirata”, também político, que a rainha Isabel I de Inglaterra, entre outras acções, condecorou como cavaleiro do reino, pois foi ele o segundo em comando da frota inglesa, subordinado apenas a Charles Howard e à própria rainha, no ataque sobre a frota espanhola em Cádiz, participando assim na derrota da célebre “Armada Espanhola”, durante a guerra que a Inglaterra teve com a Espanha. Este Sir Francis Drake, corsário, morreu de disenteria, talvez envenenado por alimentos deteriorados, em Janeiro de 1596, depois de um ataque fracassado a San Juan, em Porto Rico.

Voltando ao Capitão Christopher Newport, este homem do mar, como corsário, vulgo “pirata”, ao serviço da Rainha Elizabeth I de Inglaterra, realizou mais ataques a navios Espanhóis e Portugueses do que qualquer outro corsário Inglês, onde entre outras coisas, apreendeu fortunas do tesouro Espanhol e Português em batalhas navais, ferozes, não só nas tais Índias Ocidentais, que é uma região da Bacia do Caribe e Oceano Atlântico Norte, que inclui as muitas ilhas e nações insulares das Antilhas e do arquipélago Lucayan, como mesmo em pleno oceano Atlântico, pois em Agosto de 1592, ele capturou o navio Português “Madre de Deus”, ao largo dos Açores, tendo realizado nesse momento um feito considerado, como a maior pilhagem Inglesa do século, pois o navio Português, já sobre o seu comando, entrou no porto de Inglaterra com cinco centenas de toneladas de especiarias, sedas, pedras preciosas e outros tesouros.

Na nossa pesquisa não conseguimos saber se no momento da captura do navio Português, o navio do Capitão Christopher Newport hasteava a bandeira Inglesa ou a bandeira “pirata”, se a tripulação do navio Português foi feita prisioneira ou simplesmente dizimada, queimada, ou enforcada e os corpos deitados ao mar, o que era uso corrente entre lutas “piratas”, mas quase certo era que o produto destes saques financiavam novas viagens para o Novo Mundo, portanto os nossos descendentes Portugueses ajudaram, pelo menos financeiramente, o povoamento por Europeus do tal Novo Mundo.

Este corsário, em missão de guerra, invadiu Puerto Caballos (no que hoje é o país Honduras), em 1603, onde os despojos de todas estas missões foram compartilhados com os comerciantes de Londres que o financiavam, assim como com o reino, pois em 1605, depois de mais uma missão no Caribe, voltou para a Inglaterra, onde além dos tais despojos dos saques a navios, tanto Portugueses como Espanhóis, que eram fortunas na época, ainda houve lugar para levar dois crocodilos bebés e um javali, para dar como presentes ao rei James I, que entre outras coisas, vejam lá, Sua Alteza Real tinha um fascínio por animais exóticos.

Depois de liderar os seus homens em mais um ataque, desta vez numa luta, abalroando um navio Português ao largo da costa de Cuba, o seu braço direito foi cortado em parte, usando depois uma espécie de luva, com um gancho introduzido, para substituir a mão. A partir desse momento começaram a chamar-lhe um nome parecido com “Capitão Gancho”. É por esse nome que vamos continuar a identificá-lo, pois a história da sua vida faz parte do “America Dream”, que quer dizer mais ou menos o “Sonho Americano”.

(continua)

Tony Borie, Agosto de 2015
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Nota do editor

Último poste da série de 16 de agosto de 2015 > Guiné 63/74 - P15010: Libertando-me (Tony Borié) (30): Queria fugir à tropa, uns dias antes de ir “às sortes”

4 comentários:

JD disse...

Olá Tony!
Antes do mais quero dar-te os parabéns pela excelente apresentação gráfica dos teus recentes trabalhos. Sobre o tema em apreço assente nas descobertas e viagens marítimas daquele tempo, fazes notar, e bem, que as mesmas geraram fortes motivos de conflito, não só pela instalação e preservação de feitorias, onde confluíam e adquiriam os produtos desejados na Europa, ou os escravos exportados para o novo mundo (as Américas) para suprir a escassez de mão-de-obra, e que viriam a dar forte incremento às novas sociedades.
Pela tua descrição torna-se fácil constatar como as coisas correram de forma pouco pacífica, e os diferentes reinos davam protecção aos seus corsários. Disso, não fala a História portuguesa (como as restantes também devem omitir o período corso), mas as relações de poder entre nações, embora esbatidas por uniões de países, ainda reflectem o poder exercido pelos mais fortes sobre os mais fracos.
Com um abraço
JD

JD disse...

Olá Tony!
Antes do mais quero dar-te os parabéns pela excelente apresentação gráfica dos teus recentes trabalhos. Sobre o tema em apreço assente nas descobertas e viagens marítimas daquele tempo, fazes notar, e bem, que as mesmas geraram fortes motivos de conflito, não só pela instalação e preservação de feitorias, onde confluíam e adquiriam os produtos desejados na Europa, ou os escravos exportados para o novo mundo (as Américas) para suprir a escassez de mão-de-obra, e que viriam a dar forte incremento às novas sociedades.
Pela tua descrição torna-se fácil constatar como as coisas correram de forma pouco pacífica, e os diferentes reinos davam protecção aos seus corsários. Disso, não fala a História portuguesa (como as restantes também devem omitir o período corso), mas as relações de poder entre nações, embora esbatidas por uniões de países, ainda reflectem o poder exercido pelos mais fortes sobre os mais fracos.
Com um abraço
JD

Antº Rosinha disse...

Dizem os brasileiros que são lusófobos (Não me refiro aos tupis e guaranis, que esses não são brasileiros)que a frota de seu Cabrau não era uma frota, era uma regata.

Mas que foi tudo um gozo danado, não há dúvidas.

Como foi possível tanta aventura, e ainda não acabou!

Cumprimentos

Hélder Valério disse...

Muito bem Tony

Sinto que irá fazer bem conhecer essa faceta dos nossos antepassados.
Ainda irás chegar, espero eu, mais tarde, a um português (penso que açoreano) que foi muito próximo de George Washington e que muito contribuiu na luta pela independência.

Pois... corsários... gente fina!

Abraço
Hélder S.