Serra de Montejunto > Cadaval > Pragança, freguesia de Lamas > 20 de agosto de 2015 > Aspetos diversos da pitoresca aldeia de Pragança, a começar pelo coreto da filarmónica local que foi fundada em finais do séc. XIX. O coreto, guarnecido nas paredes e bancos laterais, por deliciosos painéis de azulejos, criados e pintados à mão, pela Oficina Brito, Caldas da Raínha, é, além disso, um dos mais belos miradouros do oeste esteremenho. A poente, a vista alçança os concelhos vizinhos, de Cadaval, Bombarral, Torres Vedras, Lourinhã, Peniche, Óbidos, Caldas, Nazaré...
Texto e fotos: © Luís Graça (2015). Todos os direitos reservados
1. Pragança é uma localidade situada no sopé da Serra de Montejunto. Pertence à união das freguesias de Lamas e Cercal. concelho do Cadaval, distrito de Lisboa.
Segundo a tradição oral e os vestígios arqueológicos, Pragança é uma das mais antigas aldeias portuguesas. No séc. XVIII foram encontrados vestígios paleoliticos no Pico da Vela, na serra de Montejunto, Sobranceiro à aldeia de Pragança, no alto de um cabeço rochoso calcário, situa-se o Castro de Pragança.
A antiga freguesia de Lamas orgulha-se de possuir um rico património ambiental, cultural e histórico, a começar pelo maciço calcário da serra do Montejunto que é o o ex-libris do concelho de Cadaval.
O castro de Rocha Forte ou Castelo Velho, as grutas necrópoles da serra de Montejunto, a Real Fábrica do Gelo, o antigo convento dos dominicanos (séc. XIII), a ermida da N. Sra. das Neves (séc. XIII, XVI e ss.), bem como as inúmeras belezas naturais da serra, a par da sua flora e fauna, tornam a antiga de freguesia de Lamas num dos sítios mais atrativos da região do Oeste.
É na união das freguesias de Lamas e Cercal, em plena serra do Montejunto, que está localizada a Real Fábrica de Gelo, onde no séc. XVIII era fabricado o gelo que abastecia não só a corte como, mais tarde, diversos cafés da baixa lisboeta. Foi recentemente classificada como monumento nacional.
Além do edifício principal, a Real Fábrica do Gelo é constituída por um poço, atualmente tapado e que outrora era a fonte de abastecimento de água dos 44 tanques, amplos e rasos, onde se fazia, por congelação, o gelo. A fábrica era explorada por um "neveiro". (Foi classificada como Monumento Nacional,através do Decreto n.º 67/97, de 31 de Dezembro; é considerado por inúmeros especialistas internacionais “como um caso único pela originalidade das suas estruturas e pelo razoável estado de conservação”).
Quase no topo da serra de Montejunto, situa-se a ermida de N Sra. das Neves, edificada, nos começos do séc. XIII, pelos frades dominicanos. Junto à ermida, podem observar-se as ruínas do primeiro convento da ordem dos dominicanos, fundado em Portugal.
É também aqui que se realiza, a 5 de agosto, a popular romaria de N. Sra. das Neves. Um dos nossos camaradas que não costuma perder este evento é o Eduardo Jorge Ferreira.
Para se almoçar ou jantar, recomendo o restaurante típico Garcia da Serra: a relação qualidade/preço é imbatível e o Garcia e a esposa são simpatiquíssimos. Provei com agrado as queixadinhas de porco, o bacalhau á Garcia e o cabrito da serra...
2. Quatorze camaradas nossos morreram em Angola, Guiné Moçambique durante a guerra colonial. Três morreram no TO da Guiné, segundo a detalhada e preciosa informação recolhida no portal Ultramar TerraWeb, relatiava aos mortos na guerra do ultramar do concelho de Cadaval:
(i) António Emídio Ribeiro da Silva, soldado maqueiro, CCS/BCAÇ 4612, morto em 1/11/73, por acidente; está sepultado na sua terra natal (Póvoa do Cadaval, Lamas);
(ii) José Isidro Marques, soldado apontador de metralhadora, CCAÇ 423/ BCAÇ 237, morto em combate, em 3/7/63, natural de Alguber, freguesia de Alguber;
(iii) Luís Ferreira Faria, sold cond, Comp Transportes 735, QG/CTIG, morto por afogamento em 24/8/64, natural de Cercal, união das freguesias de Lamas e Cercal.
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Nota do editor:
3 comentários:
Não conhecia Pragança, embora já tivesse ouvido falar.
Pelas fotos parece ter uma construção cuidada, relativamente recente, ou recuperada, a avaliar pelos telhados. Os painéis de azulejos com motivos da vida regional (ou local) são interessantes e servem exactamente para fazer perdurar as memórias.
Também se percebe que a limpeza impera.
Abraço
Hélder S.
Não confundir Pragança com Pregança, ou melhor, Pregança do Mar... A primeira pertence ao concelho do Cadaval, a segunda ao concelho de Lourinhã, freguesia de santa Bárbara (ou Marquiteira)... Tem uma assocação, dinâmica, com página no Facebook:
https://www.facebook.com/associacao.pregancadomar
Faz todos os anos a Feira do Alho...
Sobre a história da Real Fábrica do Gelo, de Montejunto, aqui vai um excerto da Wikipédia:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Real_F%C3%A1brica_do_Gelo
(...) O hábito de saborear gelados e matar a sede com bebidas frescas nos meses quentes de Verão terá sido introduzido em Portugal em finais do século XVI, à época da Dinastia Filipina. Quando da visita de Filipe III de Espanha a Portugal, em 1619, todos os meios foram mobilizados para que não faltasse a neve na mesa Real. Sem que existissem técnicas adequadas de refrigeração, à época o gelo vinha da serra da Estrela.
A edificação desta fábrica de gelo que abastecia a cidade de Lisboa é atribuída aos frades dominicanos, em época anterior a 1741. Terá custado 40 ou 45 mil cruzados, despesa elevada, à época. O consumo crescente do gelo no século XVIII, não apenas na Corte e no seio da nobreza, mas também nas camadas burguesas e populares, terá motivado a construção da Real Fábrica do Gelo em Montejunto, que seria a única serra, de entre um conjunto de elevações próximas de Lisboa, que oferecia as condições climatéricas necessárias à congelação da água durante a estação invernosa. Adicionalmente, a sua localização apresentava grandes vantagens sobre o principal centro abastecedor de neve, a serra do Coentral, situada na extremidade sul da serra da Estrela, e a Lousã.
Um dos seus principais proprietários, o Neveiro Real Julião Pereira de Castro, mandou fazer obras de ampliação no conjunto em 1782. (...)
O processo de fabrico do gelo tinha início anualmente no final de Outubro, momento em que se enchiam de água os cerca de 44 tanques da instalação. Assim que o gelo se formava, o guarda da fábrica ia a cavalo até à aldeia vizinha de Pragança e, com uma corneta, acordava as pessoas para que, antes do nascer do sol, num trabalho árduo e duro, partirem as placas de gelo, amontoando os fragmentos e depois os carregarem para os silos de armazenamento, onde era conservado até à chegada do Verão.
Após retirados dos poços de conservação, os blocos de gelo eram envolvidos em palha e serapilheira e transportados até à base da serra, no lombo de burros e dali, em carros de bois, até à Vala do Carregado, às margens do rio Tejo. A última etapa era o transporte até Lisboa nos chamados "barcos da neve". Chegados a Lisboa, abasteciam desde a Corte até aos cafés. (...)
A atividade terá terminado nos finais do século XIX, de acordo com o testemunho dos mais idosos da aldeia de Pragança, a qual seria, possivelmente, a principal fornecedora de mão-de-obra para a fábrica. De facto, encerrou-se em 1885, superada que foi pela introdução das primeiras formas de gelo industrializado no país. (...)
Classificada como Monumento Nacional desde 1997, foi objeto de intervenção de conservação e revalorização por iniciativa da Câmara Municipal do Cadaval, com a colaboração do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (IGESPAR), (...) e reinaugurada em 27 de março de 2011. (...)
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