quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Guiné 63/74 - P15217: História de vida (42): Clube dos Octogenários - Narrativa de 80 anos de vida (Coutinho e Lima)

1. Mensagem do nosso camarada Alexandre Coutinho e Lima, Coronel de Art.ª Reformado (ex-Cap Art.ª, CMDT da CART 494, Gadamael, 1963/65; Adjunto da Repartição de Operações do COM-CHEFE das FA da Guiné entre 1968 e 1970 e ex-Major Art.ª, CMDT do COP 5, Guileje, 1972/73), com data de 17 de Setembro de 2015:

Caro Amigo Carlos Vinhal
Junto envio o texto em epígrafe, no qual relato a minha vida, com relevo para a vida militar e dou algumas informações relativas ao próximo livro que comecei a escrever.

Um Abraço Amigo
Coutinho e Lima

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CLUBE DOS OCTOGENÁRIOS

Narrativa de 80 anos de vida

Ao entrar, por direito próprio, no Clube dos Octogenários, entendi fazer o que agora se designa como “narrativa” dos meus 80 anos de vida. É o que se segue.

Nome: Alexandre da Costa Coutinho e Lima
Nascimento: 21 de Setembro de 1935
Local: Freguesia de Vila Fria – Concelho de Viana do Castelo
Instrução Primária: 4 Classes, na Escola Primária de Vila Fria
Ensino Secundário: 5 anos no Liceu Nacional de Viana do Castelo 6.º e 7.º anos, no Liceu Camões, em Lisboa


Vida militar, postos, colocações e funções

Escola do Exército – 1953/56 
- 53/54 – Curso Geral Preparatório, no Aquartelamento da Amadora

- 54/56 – Curso de Artilharia, em Gomes Freire


Tirocínio para Oficial – 56/57 – na Escola Prática de Artilharia (EPA), em Vendas Novas.
Tive o privilégio de ter, como Comandante da Bateria de Instrução, o Sr. Capitão de Art.ª ERNESTO PASSOS RAMOS, um dos mais prestigiados Oficiais do Exército Português. Foi barbaramente assassinado pelo PAIGC (era Major), juntamente com outros Oficiais, em Abril de 1970, na região de Pelundo/Jolmete – Guiné.


Alferes e Tenente – 1957/61

- Regimento de Artilharia Pesada n.º 2 – Serra do Pilar – V. N. de Gaia.

Durante este período, frequentei:
- Curso de Observador Aéreo de Art.ª na EPA e Base Aérea 3 – Tancos .
- Curso de Instrutor de Educação Física Militar, no CMEFED (Centro Militar de Educação Física, Equitação e Desportos), em Mafra.


Capitão – 1961/70 

- Regimento de Artilharia Ligeira n.º 2 – Coimbra

- CMEFED

- CTIG (Comando Territorial Independente da Guiné) – 1.ª Comissão – 63/65
Comandante da CART (Companhia de Artilharia) n.º 494 - Gadamael

- CMEFED

- CTIG – 2.ª Comissão - 68/70
Adjunto da Repartição de Operações do Comando-Chefe - Bissau

- Academia Militar


Major – 1970/76 

- Academia Militar

- CTIG – 3.ª Comissão (72/74)
Centro de Instrução Militar (CIM) em Bolama - Director de Instrução
Comandante do Comando Operacional n.º 5 (COP 5) – Guileje
Bissau - Prisão Preventiva (MAI 73/MAI 74), como consequência da Retirada de Guileje

- Estado Maior do Exército – 5.ª Repartição

- Quartel General da 3.ª Divisão – Santa Margarida – Chefe de Estado Maior (CEM)

- Academia Militar – Gabinete de Estudos

- Escola de Artilharia dos Estados Unidos da América – Fort Sill, Oklahoma
Curso Avançado de Artilharia – Field Artillery Officer Advanced Course (2-76)


Tenente Coronel - 1977/82 

- Academia Militar

- Comando da Área Ibero-Atlântica (COMIBERLANT) – Oficial de Pessoal e Segurança (JUL 77/NOV 80)

- Quartel General da Região Militar dos Açores (QG/ZMA) - CEM

- Centro de Instrução de Artilharia Anti-Aérea e Costa (CIAAC) – 2.º Comandante


Coronel – 1982/89

 - Direcção do Serviço de Educação Física do Exército (DSEFE) – Inspector

- QG/ZMA – CEM

- DSEFE – Inspector

Passagem à situação de Reserva – 1 de Setembro de 1989

Passagem à situação de Reforma – 1 de Setembro de 1995


Desempenho de funções não militares

- Director de Segurança do Metropolitano de Lisboa – 1989/1997

- Presidente da Direcção da Casa do Minho em Lisboa – 1988/89; 1992/93

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Depois desta descrição, penso que posso concluir que tive, durante 80 anos, uma vida militar muito variada e intensa, tendo aprendido sempre em todas as situações e circunstâncias.

Nas actividades, em tempo de paz, saliento as dedicadas à Educação Física: Curso de Instrutores no CMEFED (58), onde fui Instrutor em 62/63 e 65/68; mais tarde prestei serviço na DSEFE, antes e depois de ter sido, com o Posto de Coronel, CEM do Q/ZMA; na DSEFE desempenhei a função de Inspector.

Na guerra, têm especial relevância as 3 Comissões, por imposição, na Guiné, nas quais conheci os 3 Comandantes-Chefes: Senhores Generais ARNALDO SCHULZ, ANTÓNIO DE SPÍNOLA e BETTENCOURT RODRIGUES.  Por esta razão, tive oportunidade de verificar a evolução da guerra: no que respeita o IN, desde o baptismo de fogo, em 17 SET 63 (primeiro dia da CART 494, que eu comandava, em Ganjola – Norte de Catió) – 1.ª Comissão, até ao ataque em força a Guileje (3.ª Comissão), no período de 18/22 MAI 73, onde eu era o Comandante do COP 5.

Relativamente à actividade operacional, na 1.ª Comissão, a CART 494 (integrada no BCAÇ 513 – sede em Buba), ocupou a localidade de Gadamael (com um destacamento em Ganturé), materializando no terreno a Missão atribuída ao Batalhão, pelo Sr. Comandante-Chefe, Sr. General Arnaldo Schulz, de ocupar a fronteira Sul com a Rep. da Guiné Conacri. As outras posições ocupadas pelas NT foram Guileje, Sangonhá (com um destacamento em Cacoca) e Cameconde - destacamento da Companhia com sede em Cacine.

Na 2.ª Comissão, como Adjunto da Repartição de Operações do Comando-Chefe, em Bissau, (era Comandante-Chefe o Sr. General Spínola), tive oportunidade de viver a outra face da guerra, esta muito mais confortável.

Na 3.ª Comissão, (ainda era Comando-Chefe o Sr. General Spínola) com o posto de Major, comecei por ser Director de Instrução do Centro de Instrução Militar (CIM) em Bolama e a seguir Comandante do COP 5, em Guileje; em 22 MAI 73, decidi retirar desta localidade todos os militares, milícias e população, por ter considerado, face à negação de reforços, solicitada ao Comando-Chefe, conjugada com a intensa e constante pressão do IN (37 flagelações em 80 horas), a posição insustentável.

Como consequência, foi ordenada a minha prisão preventiva, com a instauração de um auto de corpo de delito.

Sobre este assunto escrevi o livro “A Retirada de Guileje”.

Presentemente, estou a escrever um 2.º livro (ainda na fase inicial), cujo título será “As minhas 3 Comissões, por imposição, na Guiné”.

Relativamente à 3.ª Comissão, não faz nenhum sentido e não o farei, repetir o que consta no livro já publicado. Nestas condições, é minha intenção:

- incluir no próximo livro, cópia da “Acta da Reunião de Comandos realizada em 15 de Maio de 1973, no Comando-Chefe das Forças Armadas da Guiné, em Bissau” ; é um documento da maior importância, que será objecto de dois comentários: um sobre o seu conteúdo geral; outro analisando a decisão da retirada de Guileje, face ao que consta, na referida acta, das declarações de alguns dos participantes, nomeadamente o Sr. Comandante Adjunto Operacional e os Senhores Chefes das Repartições de Informações e Operações;

- publicar as críticas, positivas ou negativas, que chegaram ao meu conhecimento, sobre “A Retirada de Guileje”; das críticas negativas, algumas muito contundentes, destaco as de 4 Senhores Oficiais da Força Aérea (todos Pilotos Aviadores): 3 Oficiais Generais e 1 Tenente Coronel;

- solicitar, a todos os militares que estavam em Guileje, no período de 18/22 MAI 73, uma opinião sobre a decisão de retirar de Guileje, se assim o entenderem.

Importa referir que, destes militares, apenas um apresentou no nosso blogue, uma crítica, muito severa, sobre este assunto – Soldado Constantino Costa; embora eu lhe tenha respondido, a opinião deste militar perde toda a credibilidade, ao afirmar que os relatórios de operações da Companhia eram todos iguais (qualquer que fosse a missão), apenas mudava a data e que, depois do 25 de Abril (na sua designação 25 A), fora eleito representante dos Oficiais, Sargentos e Praças da Companhia, junto da estrutura do MFA na Guiné; tais afirmações, como terei oportunidade de provar, são puras mentiras.

Aproveito esta oportunidade para sugerir aos componentes da nossa Tabanca Grande, se assim o entenderem, que me façam chegar a sua opinião sobre a decisão que tomei de retirar de Guileje, para serem incluídas no meu próximo livro.

Alexandre da Costa Coutinho e Lima
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Nota do editor

Último poste da série de 4 de Outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15197: História de vida (41): Regressei a 6/11/1968 e casei-me a 29/6/1969, com uma das minhas madrinhas de guerra...Soube pelo padre que a tropa me tinha dado como morto... (Mário Gaspar,ex-Fur Mil At Art, MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68)

8 comentários:

Manuel Reis disse...

Parabéns Sr. Coronel, pela iniciativa de escrever mais um livro " Narrativa dos 80 anos". Teremos oportunidade de conhecer melhor a sua história de vida. Nunca identifiquei o Constantino Costa como representante dos Oficiais, Sargentos e Praças no MFA. Estive sempre próximo do MFA, na Guiné, e nunca verifiquei qualquer proximidade. Aliás as suas declarações, não se revêm no espírito do MFA.
Mas isto pouco importa, o essencial serão os relatos sobre o que se passou em Guileje nos idos anos de 1973. Estou disponível para prestar um depoimento sobre o ocorrido, que não irá diferir muito do já publicado, mas reforçará o que disse e o que penso.
Um problema se coloca: Onde publicar esse depoimento? Aqui no Blogue? Apesar de toda a gentileza dos gestores do blogue, vamos cair em picardias e insultos já vistos e lidos anteriormente. Aguardo una sugestão do senhor Coronel. Um abraço.

Anónimo disse...

Lá voltamos à saga de Guilege! Talvez o senhor coronel responda ao que escrevi no P13808 e que me vejo obrigado a repetir:

<<<<<
Há muito deixei de entender porquê o ex-Major Coutinho e Lima se esforça para justificar o abandono de Guilege quando é evidente que não lhe restava outra solução no meio de quadros prostrados, sem ânimo e coragem para afrontar as dificuldades que o seu comando incompetente criou.
Não se trata de um juizo de valor.
Leiam a página 281 do livro "A retirada de Guilege" e digam-me se é competente desviar o esforço principal para fazer obras e concluir que foi o terem deixado de ir para o mato que permitiu ao IN fazer uns passeios até ao quartel.
Minar, armadilhar, reconhecer, emboscar e combater nunca foi preocupação dos pseudo-comandantes de Guilege. Atribuir ao milícia que cavou a "culpa" do acontecido, brada aos céus! A inexistência de apoio aéreo há muito que é argumento falso. Nos depoimentos dos oficiais de Guilege há apenas um propósito: sacudir a água do capote.
A páginas 194, o Alferes Reis inquirido sobre se o comando ordenou reconhecimento, montagem de segurança afastada ou, no mínimo, próxima, responde que só no dia 19 dois GC forma mandados sair para evacuações e recolha de água.NÃO HOUVE QUAISQUER OUTRAS MEDIDAS.
A páginas 198 o Alferes Seabra confirma Reis e adianta que em 21 de Maio elementos da população tentaram arranjar água numa bolanha próxima, houve tiros IN e sairam vários militares SEM TEREM RECEBIDO ORDENS NESSE SENTIDO.
E é ainda este oficial que candidamente confessa que o seu pessoal estava no abrigo a todo o tempo! Caramba. Nunca viram uma trincheira?
É pelo Alferes Seabra (página 199) que ficamos a saber que uma directiva do Major Coutinho e Lima para o Cmdt do 15º Pel Art só reagir pelo fogo após as flagelações a fim de o IN não poder corrigir o tiro a partir das saídas! Também diz que o capitão Quintas deu instruções ao artilheiro para fazer fogo quando achasse mais oportuno! É ainda este alferes que constatou no dia 18 a falta de precisão do tiro de artilharia quando dum contacto (não explica como...). O depoimento deste alferes é pungente e deixa-nos imaginar uma guarnição impregnada de medo esperando que uma solução aparecesse para os livrar da angústia que a todos dominava.
Nem para ir à água estes comandantes arranjaram ânimo para correr riscos. Uma emboscada (dura, por certo) destroçou uma guarnição onde a unidade de comando nunca existiu. Como é possível retirar a artilharia de 11.4 sem antes assegurar a prontidão dos novos materiais? Neste caos, que comandos fracos deixaram germinar, que outra solução restava a Coutinho e Lima senão arrastar consigo este arremedo de combatentes?
"Se um fraco rei faz fraca a forte gente,
Muitos fracos reis enterram a forte gente".

Dissecar dia a dia a vida desta guarnição no período de 2 meses antes do abandono (é ignorãncia das coisas militares chamar retirada ao que se passou embora entenda o propósito do Major Coutinho e Lima ao apropriar-se do termo) explica tudo.
Leio aqui encómios a Coutinho e Lima por "salvar vidas". Acompanho-os mas é preciso acrescentar que foi a inabilidade e incompetência de Coutinho e Lima que contribuiu para a criação de condições insuportáveis. E é isto e só isto que importa sublinhar e deixar a Coutinho e Lima um repto: explique-nos como conseguiu em poucos meses estoirar com a capacidade de combate para manter Guilege e chegar a Gadamael com um bando de homens tão apavorados que rapidamente contaminaram a guarnição de Gadamael que só não seguiu o mesmo destino graças a um punhado de bravos que resistiram até à chegada de reforços.
Porque é só isto que interessa porque quanto ao abandono ele é mais do que justificado.
Henrique Silva (repisando o que disse em Julho de 2009!)>>>

Manuel Reis disse...


Como previa não demorou muito tempo a aparecer um comentário provocador.

E, se repararmos, o mesmo texto já foi publicado em Julho de 2009. Somos obrigados a

questionar-nos sobre a real intenção do camarada em causa.

Um abraço.

Manuel Reis

Unknown disse...

Boa tarde Manuel Augusto
Cordiais saudações.
Já outra vez,expressei a minha admiração, por tua verticalidade em tão sensível materia,permite-me que a repite.
Forte abraço.
VP

Unknown disse...

Digo :repita.
VP

Anónimo disse...


Manuel Reis acusa-me de provocação. Mas onde é que está ela?! Será que as declarações constantes dos autos são aldrabice? Que conclusão tirar quando o Manuel Reis verte para os autos quando inquirido sobre se o comando ordenou reconhecimento, montagem de segurança afastada ou, no mínimo, próxima, responde que só no dia 19 dois GC forma mandados sair para evacuações e recolha de água.NÃO HOUVE QUAISQUER OUTRAS MEDIDAS.

Que conclusão se espera de quem combateu na Guiné, a sério? Aplausos? Parem lá com os livros e as estórias para justificar o injustificável. Aquietem-se!

Henrique Silva

constantino disse...

"ABANDONO DE GUILEJE"
Guileje, marca uma página negra da História Militar Portuguesa.
Muito se tem falado sobre as mirabolantes narrativas protagonizadas por alguns que, não souberam honrar as fardas que envergaram.
O Cor. Coutinho e Lima, escreveu um livro e de conferência em conferência tem tentado não só distorcer como omitir a verdade dos factos.
Alguns, talvez propositadamente, tentam ignorar os que ao serviço da CCavª. 8350, deram o seu melhor.
A população de Guileje nunca pretender abandonar a sua terra!
O Cor. Coutinho e Lima sabia bem que a nomeação do Cor. Rafael Durão - como homem de mão do Gen. Spinola, para cmdt do Cop-5, não mais permitiria o abandono de Guileje.
O próprio cap. Abel Quintas, discordava da forma como o cor.Coutinho e Lima, exercia o seu comando. Era notório o constrangimento entre ambos.
Após a chegada a Gadamael, o cor. Rafael Durão ordenou que a CCavª.8350 se preparasse para reocupar Guileje, mas mudou de opinião quando foi informado da sua destruição.
Nada mais falso! Os abrigos estavam intactos.
Os militares que se deslocavam ao poço para o abastecimento de água raramente levavam armas.
Se a justiça fosse mais severa o coronel não teria sido o único a ser preso.

Cumprimentos,

Constantino Costa
CCavª, 8350
"Piratas de Guileje"
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Anónimo disse...

Tendo presente as mais recentes declarações do cor. Coutinho de Lima,permito-me dizer-lhe que não passaram de uma vã tentativa de ofender a minha pessoa e isso não lhe admito. Por muito que o tente nunca se vai libertar de um passado que deveria ser para esquecer.
Jamais deixarei de responder a quem me ataca e não estou cá para me acovardar perante um qualquer "pilantra", que me surge ao caminho mas com o rabo preso a um passado que desesperadamente tenta justificar.
Quanto a heróis, os cemitérios estão cheios deles e não o estou a ver como valendo grande coisa...
Esta é a minha humilde opinião sobre a sua pessoa!
Aqui emprego aquela velha máxima; quem tem cú tem medo...
"Democraticamente envio o coronel para o diabo que o carregue".

Constantino Costa