Porto-Bissau... Expedição > 21 de abril de 2016...Dia 17 > Aeroporto Internacional Osvaldo Vieira da Silva > O tão desejado avião da TAP...
Porto-Bissau... Expedição > 21 de abril de 2016...Dia 17 > Aeroporto Internacional Osvaldo Vieira da Silva...
O que restou de Portugal, na Guiné-Bissau, por comparção com a herança inglesa (na Gâmbia) e francesa (no Senegal) ? O que resta de Portugal na Senegâmbia ? Fomos os primeiros europeus a chegar a esta vasta região da Africa sariana e subsariana... A pergunta (e a provocação) é do Abílio Machado, que a percocorreu, de jipe, entre 26 de dezembro de 2013 e 9 de janeiro de 2014,,, Ficou de nos mandar fotos, que não mandou... Socorremo-nos de outras, mais antigas, da expedição Porto-Bissau, realizada em abril de 2006, por alguns camaradas nossos (o Xico Allen e o A. Marques Lopes) e onde o Hugo Costa, filho do Albano Costa, se integrou.
Fotos: © Hugo Costa (2006). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: LG]
II (e última) parte da crónica do Abílio Machado
[foto atual à direita; Abílio Machado, ex-alf mil, contabilidade e administração, CCS / BART 2917, Bambadinca, 1970/72; e também um dos fundadores do grupo musical Toque de Caixa; vive na Maia; publicou recentemente o Diário dos Caminhos de Santiago, Porto, 2013]
Porto-Dakar - Parte II
por Abílio Machado
[, integrado na 2ª edição do Dakar Desert Challenge: Coruche, Marrakech, Bissau, Dakar: 26 de dezembro de 2013- 9 de janeiro de 2014 ]
Um fim de dia global : na Mauritânia estamos, no Hotel Emira, camaronês, dormimos, no restaurante Huzur, turco, comemos. Bem. Na companhia do grupo espanhol. Boa.
Quarto triplo : 127 euros. A cotação está alta ou a oferta baixa e muita a procura…
Nouakchott [, a capital], uma cidade em terra batida, onde mal adivinhas um centro, se o há, um chafariz monumental, sem água, em cada multibanco um guarda, o Islão impera, homens de vestes islâmicas, as mulheres de cabeça coberta, algumas emburqadas.
Emborcar é coisa que não farás, se o não trazes, aqui não o compras, não há uma pinga de álcool à venda… Nem cães, não se vêem cães na Mauritânia…
Vê-los-ás de novo no Parque Nacional de Diawling, e verás tucanos, pegas, da azul e da negra, abutres, perdizes, javalis, esquilos, ginetos, e mais pelicanos e garças, uma explosão de vida selvagem, não, não é um safari, embora se veja por aqui muito bicho selvagem, o homem que é o pior de todos, e algumas mulheres…
Há algo de diferente hoje : o ar quente, há mais acácias, e mais verdes, ali um embondeiro, capim, enfim a savana… Entramos na África negra : mais escura a cor da pele, a roupa é um revoltear de cores vivas, há um aroma de luxúria, na mulher e na vegetação…
Senegal, cidade de Saint Louis, La langue de Barbarie : ao lusco-fusco, as ruas fervilham de agitação, uma correria de gente e carroças, jumentos amestrados transportam os donos a casa e aos negócios, fazem-se ofertas, vendem-se os últimos produtos…
O Senegal é um mercado só, tudo é uma venda e todos vendedores, até o que julgas ser um favor é um negócio e tem um preço, a polícia de trânsito é o exemplo, a extorsão pratica-se às claras, uma multa - não importa se legítima - é regateada como uma venda, 18.000 fr. cfas podem num ápice reduzir-se a 11.000, nunca mostres o dinheiro que tens, levam-to todo, tiram-to da mão, a venalidade e a corrupção começam de cima, quem os ensinou?...
Da África negra direi : a pobreza, a sobrevivência, as crianças “cadeau, cadeau”, o lixo plástico, os jumentos, os mercados, tangerinas, caju, telemóveis e acessórios, panos, água em sacos, gelo, bolos, doces fritos na hora, bolachas à unidade, melancias, feno, lenha, mancarra, carne, moscas e pau de Cabinda, não sei se me entendem… mas também das acácias vivas, das mangueiras, dos embondeiros, aquela flor do embondeiro lembrou-me a declinação latina “ rosa-rosae”, das palmeiras, dos rios, graves, pachorrentos, das árvores que não florescem como se a flor lhes exigisse demasiado esforço e energia.
Direi mais : dos jovens, deitados, apáticos, sem destino e sem futuro, a fome entristece, a pobreza enlouquece, do calção roto, do pé descalço, também do telemóvel, da parabólica à porta da cubata de adobe.
De súbito, nesta viagem, La Grande Mosquée de Thiamène…um marco nesta viagem, a ela acorrem muçulmanos de todo o Senegal.
Guiné-Bissau
A passagem pela Guiné foi - não o escondo - um dos motivos maiores que me trouxeram a esta expedição. E a aventura, que sempre me estimula. A oportunidade de rever amigos e voltar a um território onde, por força da guerra, gastei dois anos da minha juventude, tornavam esta jornada mais que aliciante.
A entrada da fronteira fazia-se pelo leste da Guiné, a região a que pertence Bambadinca, o quartel onde cumpri o serviço militar. Aí tive as primeiras emoções, direi melhor, decepções.
Em Bafatá, a segunda cidade da Guiné, a degradação das antigas casas comerciais é escandalosa, é chocante ver algumas delas, hoje edifícios públicos, ao abandono, os funcionários à porta, desocupados.
Na avenida que conduz ao cais serpenteia-se por entre buracos. A alguns kms de Fá-Mandinga, onde Amílcar Cabral realizou as suas primeiras experiências de agronomia, Bafatá quis lembrá-lo e implantou um busto do libertador, olhando o Geba… Abandonado e sujo está o pai da Nação, os novos líderes esquecidos da sua herança.
No aeroporto que usei tantas vezes, a caminho ou no regresso de Bissau, já não aterram aviões, desde fins dos anos 90 é uma avenida urbanizada, com um hotel/discoteca, algumas tabancas e casas inacabadas.
Manhã cedo, rumamos a Bambadinca, ao encontro das emoções. Revi amigos, abracei-os, o tempo não corrói a amizade, mas altera as feições, não os reconheceria ao fim de tantos anos. Na face de alguns, algumas, a miséria escreveu rugas e decrepitude, mulheres sós, mortos os maridos, lutam pela vida numa sociedade que lhes é madrasta; a outros, outras, a fome ou a doença derrotou-os.
O pequeno aeródromo que servia o quartel é hoje ocupado por um mercado - é assim em toda a Guiné- onde, como no país vizinho, tudo é vendável.
Do quartel - fui recebido pelo 2º Comandante, dois dos seus subordinados acompanharam-me numa visita às instalações - recuso falar : a degradação total, destruídos os bares, as messes, os quartos, só alguns gabinetes são usados.
De pé e a funcionar, a igreja e a escola missionária S. José : para os alunos, na pessoa do director e professores, deixamos o que levávamos de ajuda humanitária : óculos de sol, roupas, bolas, livros, cadernos, mochilas, canetas. A alegria das crianças guineenses, como em toda a África, é contagiante : nada têm, mas na face um sorriso cativante, sempre, que se transforma em dança, saltos, cabriolas à mais pequena dádiva, um pequeno saco de caramelos solta alegrias, às vezes lutas…
Bissau é a praça da Independência, o Hospital e a Assembleia Nacional Popular…tudo o resto é um cartão de visita calamitoso que o país apresenta ao visitante.
A avenida que conduz ao cais do Pidjiguiti, e as ruas adjacentes, estão tão esburacadas como a credibilidade interna e exterior dos seus lideres políticos.
O país é isto : uma jovem mãe, mulher apreciável, um Mercedes novo, vidros fumados, aguarda o abastecimento de combustível. Descasca uma laranja com os dentes, cospe a casca e depois as pevides, pela janela… Quando aproxima o carro da bomba de combustível, a sua educação mede-se pelos restos cuspidos da laranja, não pelo rasto dos pneus.
De resto, um país bloqueado, instituições paradas, projectos cancelados, ONG’s em fuga, bolanhas ao abandono, o gado mais nutrido que as pessoas, uma pequena lavra, por vezes…
E como tudo isto contrasta com o belo da natureza : mangueiras abrigam as povoações, mamoeiros, palmeiras, bagabagas, o tarrafo, os rios Geba, Mansoa e Cacheu espraiam e arrastam suas águas turvas rumo ao mar…
Mas há um aroma no ar, ou uma cor, a cor do dinheiro : chegada a expedição a Bissau, as propostas para compra dos jeeps são insistentes, qual o preço, quer vender?, a uma farmácia aonde vais em busca de álcool o dono da farmácia pergunta primeiro o preço do carro…
1 queca : 5.000 fr. cfas.
Apresento-vos a Gâmbia, mais que um país é um rio, do mesmo nome, à volta dele se faz a vida das suas gentes.
Transcrevo da Wikipédia : “…comerciantes árabes criaram uma rota comercial, que comercializou escravos, ouro e marfim. No século XV, os portugueses herdaram este comércio estabelecendo uma rota de comércio do Império Mali. Em 1588, António, Prior do Crato, vendeu os direitos de exclusividade de comércio na região do rio Gâmbia aos ingleses, direitos … confirmados pela rainha Elizabeth I ”.
Um pouco de história, da nossa história não aborrece e ajuda a fazer, no ferry, a travessia do rio. A língua é a inglesa, encravada entre o português da Guiné-Bissau e o francês do Senegal, já o trânsito é continental, circula-se pela direita.
Vi um tractor na Gâmbia e um anão negro…
Transpostas as fronteiras, é a hora de uma breve comparação entre estes países. De colonizações diversas, o que se vê, o que ressalta do que ficou?
A herança francesa é visível no Senegal :
(i) identificação e organização das comunidades rurais,
(ii) poste de santé,
(iii) escolas,
(iv) universidade em Ziguinchor,
(v) mais limpeza e sanidade, algumas povoações esmeradas, mesquitas, sinalização e indicativos de velocidade…
A Gâmbia não esconde a colonização inglesa:
(i) estradas em bom estado,
(ii) sinalização e identificação das aldeias, há rails numa das estradas,
(iii) campos cultivados,
(iv) um dos ferries em bom estado e um cais novo em construção,
(v) ruas mais limpas, mercados mais cuidados, polícias, muitas mulheres polícias, todos bem fardados…
Da Guiné-Bissau, valha a verdade,
(i) as estradas do interior estão em bom estado,
(ii) pontes foram construídas sobre os rios,
(iii) os espaços Galp bem arranjados, mesmo se as bombas estão vazias…
Anda há quatro anos fugido à crise, não dorme em hotéis, toca viola, estuda temas da música fula e mandinga, vai de família em família, como as famílias se estendem por países, vai de país em país, fala francês, inglês, espanhol, vimo-lo, o grego errante, perdido, como Ulisses, quase um andrajo, magro, mochila vazia, contente de nada ter…
Enfim, a chegada ao Lac Rose…e a estadia no Hotel Campement Lac Rose. O sol escondeu-se, não pudemos ver a reverberação rosa nas águas do lago…
O regresso, apressado ou económico, segundo as opiniões - em 5 dias fizemos o que na ida fizéramos em 14?? - foi feito sem incidentes de maior.
Ao contrário, alguns rallystas da African Race - passaram por nós a toda a brida, motos, buggies, camiões, no parque natural de Diawling - tiveram seus contratempos, rebocados alguns, a nossa Elisabete Jacinto dialogava com os colegas a melhor forma de socorrer um dos camiões, mais atascado que javali na lama.
Do regresso direi mais :
(i) do canto dos muezzins, às seis da manhã, em Nouakchott,
(ii) da raposa tresnoitada a caminho da toca,
(iii) dos ciclistas, sós, algures entre Nouadhibou e Nouakchott,
(iv) do almoço com Maité e Tomás no deserto mauritano, jamon, pão com tomate catalão, conservas, paio português,
(v) do cabo Boujdou (Bojador), “ quem passa além do Bojador, passa além da dor “ [, Fernando Pedssoa],
(vi) do azul do mar sarauhi,
(vii) da chuva, hélas, chuva no deserto, do vento quase um tornado, dos polícias ou soldados que em todas as povoações te obrigam a parar, o Sahara um país ocupado…
Direi dos kms do regresso :
1º dia : Dakar – Nouakchott : 600 Kms
2º dia : Nouakchott – Dakhla : 850 Kms
3º dia : Dakhla – Agadir : 1200 kms
4º dia : Agadir – Jerez de la Frontera 890 kms
5º dia : Jerez – Porto 900 kms
Quem vem e atravessa o rio… Ah, meu Porto sentido, lar, doce lar… Ah cama boa!!!
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Nota do editor:
Vd. poste anterior > 24 de novembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15405: Expedição Porto-Dakar, integrada na 2ª edição do Dakar Desert Challenge: Coruche, Marrakech, Bissau, Dakar: 26 de dezembro de 2013- 9 de janeiro de 2014 (Abílio Machado, ex-alf mil, CCS/BART 2917, Bambadinca, 1970/72) - Parte I
[foto atual à direita; Abílio Machado, ex-alf mil, contabilidade e administração, CCS / BART 2917, Bambadinca, 1970/72; e também um dos fundadores do grupo musical Toque de Caixa; vive na Maia; publicou recentemente o Diário dos Caminhos de Santiago, Porto, 2013]
Porto-Dakar - Parte II
por Abílio Machado
[, integrado na 2ª edição do Dakar Desert Challenge: Coruche, Marrakech, Bissau, Dakar: 26 de dezembro de 2013- 9 de janeiro de 2014 ]
Um fim de dia global : na Mauritânia estamos, no Hotel Emira, camaronês, dormimos, no restaurante Huzur, turco, comemos. Bem. Na companhia do grupo espanhol. Boa.
Porto-Bissau, expedição. 10 de abril de 2006. Dia 6. Rua de Nouakchott, capital da Mauritânia. Foto: © Hugo Costa (2006) |
Nouakchott [, a capital], uma cidade em terra batida, onde mal adivinhas um centro, se o há, um chafariz monumental, sem água, em cada multibanco um guarda, o Islão impera, homens de vestes islâmicas, as mulheres de cabeça coberta, algumas emburqadas.
Emborcar é coisa que não farás, se o não trazes, aqui não o compras, não há uma pinga de álcool à venda… Nem cães, não se vêem cães na Mauritânia…
Vê-los-ás de novo no Parque Nacional de Diawling, e verás tucanos, pegas, da azul e da negra, abutres, perdizes, javalis, esquilos, ginetos, e mais pelicanos e garças, uma explosão de vida selvagem, não, não é um safari, embora se veja por aqui muito bicho selvagem, o homem que é o pior de todos, e algumas mulheres…
Porto-Bissau, expedição. 12 de abril de 2006. Dia 8.
Viagem de Tambacunda (Senegal) até à Guiné-Bissau...
Babuínos(ou macacos-cães).
Foto: © Hugo Costa (2006)
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Senegal, cidade de Saint Louis, La langue de Barbarie : ao lusco-fusco, as ruas fervilham de agitação, uma correria de gente e carroças, jumentos amestrados transportam os donos a casa e aos negócios, fazem-se ofertas, vendem-se os últimos produtos…
O Senegal é um mercado só, tudo é uma venda e todos vendedores, até o que julgas ser um favor é um negócio e tem um preço, a polícia de trânsito é o exemplo, a extorsão pratica-se às claras, uma multa - não importa se legítima - é regateada como uma venda, 18.000 fr. cfas podem num ápice reduzir-se a 11.000, nunca mostres o dinheiro que tens, levam-to todo, tiram-to da mão, a venalidade e a corrupção começam de cima, quem os ensinou?...
Da África negra direi : a pobreza, a sobrevivência, as crianças “cadeau, cadeau”, o lixo plástico, os jumentos, os mercados, tangerinas, caju, telemóveis e acessórios, panos, água em sacos, gelo, bolos, doces fritos na hora, bolachas à unidade, melancias, feno, lenha, mancarra, carne, moscas e pau de Cabinda, não sei se me entendem… mas também das acácias vivas, das mangueiras, dos embondeiros, aquela flor do embondeiro lembrou-me a declinação latina “ rosa-rosae”, das palmeiras, dos rios, graves, pachorrentos, das árvores que não florescem como se a flor lhes exigisse demasiado esforço e energia.
Direi mais : dos jovens, deitados, apáticos, sem destino e sem futuro, a fome entristece, a pobreza enlouquece, do calção roto, do pé descalço, também do telemóvel, da parabólica à porta da cubata de adobe.
De súbito, nesta viagem, La Grande Mosquée de Thiamène…um marco nesta viagem, a ela acorrem muçulmanos de todo o Senegal.
Porto-Bissau, expedição. 13 de abril de 2006. Dia 9. Guiné-Bissau: Quinhamel.Foto: © Hugo Costa (2006) |
Guiné-Bissau
A passagem pela Guiné foi - não o escondo - um dos motivos maiores que me trouxeram a esta expedição. E a aventura, que sempre me estimula. A oportunidade de rever amigos e voltar a um território onde, por força da guerra, gastei dois anos da minha juventude, tornavam esta jornada mais que aliciante.
A entrada da fronteira fazia-se pelo leste da Guiné, a região a que pertence Bambadinca, o quartel onde cumpri o serviço militar. Aí tive as primeiras emoções, direi melhor, decepções.
Em Bafatá, a segunda cidade da Guiné, a degradação das antigas casas comerciais é escandalosa, é chocante ver algumas delas, hoje edifícios públicos, ao abandono, os funcionários à porta, desocupados.
Porto-Bissau, expedição. 16 de abril de 2006. Dia 12.
Mansoa, ponte (portuguesa) sobre o rio
Foto: © Hugo Costa (2006)
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No aeroporto que usei tantas vezes, a caminho ou no regresso de Bissau, já não aterram aviões, desde fins dos anos 90 é uma avenida urbanizada, com um hotel/discoteca, algumas tabancas e casas inacabadas.
Porto-Bissau, expedição. 18 de abril de 2006. Dia 14. Saltinho, a ponte (portuguesa) sobre o rio Corubal ainda lá estava, rija, de pé.Foto: © Hugo Costa (2006) |
O pequeno aeródromo que servia o quartel é hoje ocupado por um mercado - é assim em toda a Guiné- onde, como no país vizinho, tudo é vendável.
Porto-Bissau, expedição. 18 de abril de 2006. Dia 14.
O mítico rio Corubal,no Saltinho. Foto: © Hugo Costa (2006)
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De pé e a funcionar, a igreja e a escola missionária S. José : para os alunos, na pessoa do director e professores, deixamos o que levávamos de ajuda humanitária : óculos de sol, roupas, bolas, livros, cadernos, mochilas, canetas. A alegria das crianças guineenses, como em toda a África, é contagiante : nada têm, mas na face um sorriso cativante, sempre, que se transforma em dança, saltos, cabriolas à mais pequena dádiva, um pequeno saco de caramelos solta alegrias, às vezes lutas…
Bissau é a praça da Independência, o Hospital e a Assembleia Nacional Popular…tudo o resto é um cartão de visita calamitoso que o país apresenta ao visitante.
A avenida que conduz ao cais do Pidjiguiti, e as ruas adjacentes, estão tão esburacadas como a credibilidade interna e exterior dos seus lideres políticos.
O país é isto : uma jovem mãe, mulher apreciável, um Mercedes novo, vidros fumados, aguarda o abastecimento de combustível. Descasca uma laranja com os dentes, cospe a casca e depois as pevides, pela janela… Quando aproxima o carro da bomba de combustível, a sua educação mede-se pelos restos cuspidos da laranja, não pelo rasto dos pneus.
Porto-Bissau, expedição. 18 de abril de 2006. Dia 15.
Empada, escola Foto: © Hugo Costa (2006)
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E como tudo isto contrasta com o belo da natureza : mangueiras abrigam as povoações, mamoeiros, palmeiras, bagabagas, o tarrafo, os rios Geba, Mansoa e Cacheu espraiam e arrastam suas águas turvas rumo ao mar…
Mas há um aroma no ar, ou uma cor, a cor do dinheiro : chegada a expedição a Bissau, as propostas para compra dos jeeps são insistentes, qual o preço, quer vender?, a uma farmácia aonde vais em busca de álcool o dono da farmácia pergunta primeiro o preço do carro…
1 queca : 5.000 fr. cfas.
Apresento-vos a Gâmbia, mais que um país é um rio, do mesmo nome, à volta dele se faz a vida das suas gentes.
Transcrevo da Wikipédia : “…comerciantes árabes criaram uma rota comercial, que comercializou escravos, ouro e marfim. No século XV, os portugueses herdaram este comércio estabelecendo uma rota de comércio do Império Mali. Em 1588, António, Prior do Crato, vendeu os direitos de exclusividade de comércio na região do rio Gâmbia aos ingleses, direitos … confirmados pela rainha Elizabeth I ”.
Um pouco de história, da nossa história não aborrece e ajuda a fazer, no ferry, a travessia do rio. A língua é a inglesa, encravada entre o português da Guiné-Bissau e o francês do Senegal, já o trânsito é continental, circula-se pela direita.
Vi um tractor na Gâmbia e um anão negro…
Transpostas as fronteiras, é a hora de uma breve comparação entre estes países. De colonizações diversas, o que se vê, o que ressalta do que ficou?
A herança francesa é visível no Senegal :
(i) identificação e organização das comunidades rurais,
(ii) poste de santé,
(iii) escolas,
(iv) universidade em Ziguinchor,
(v) mais limpeza e sanidade, algumas povoações esmeradas, mesquitas, sinalização e indicativos de velocidade…
A Gâmbia não esconde a colonização inglesa:
(i) estradas em bom estado,
(ii) sinalização e identificação das aldeias, há rails numa das estradas,
(iii) campos cultivados,
(iv) um dos ferries em bom estado e um cais novo em construção,
(v) ruas mais limpas, mercados mais cuidados, polícias, muitas mulheres polícias, todos bem fardados…
Da Guiné-Bissau, valha a verdade,
(i) as estradas do interior estão em bom estado,
(ii) pontes foram construídas sobre os rios,
(iii) os espaços Galp bem arranjados, mesmo se as bombas estão vazias…
Anda há quatro anos fugido à crise, não dorme em hotéis, toca viola, estuda temas da música fula e mandinga, vai de família em família, como as famílias se estendem por países, vai de país em país, fala francês, inglês, espanhol, vimo-lo, o grego errante, perdido, como Ulisses, quase um andrajo, magro, mochila vazia, contente de nada ter…
Enfim, a chegada ao Lac Rose…e a estadia no Hotel Campement Lac Rose. O sol escondeu-se, não pudemos ver a reverberação rosa nas águas do lago…
O regresso, apressado ou económico, segundo as opiniões - em 5 dias fizemos o que na ida fizéramos em 14?? - foi feito sem incidentes de maior.
Ao contrário, alguns rallystas da African Race - passaram por nós a toda a brida, motos, buggies, camiões, no parque natural de Diawling - tiveram seus contratempos, rebocados alguns, a nossa Elisabete Jacinto dialogava com os colegas a melhor forma de socorrer um dos camiões, mais atascado que javali na lama.
Agora chama-se Sahara Desert Challenge e vai na 4ª edição...Inscrições ainda abertas!... Arranca de Coruche no próximo dia 27 de dezembro... (LG) |
Do regresso direi mais :
(i) do canto dos muezzins, às seis da manhã, em Nouakchott,
(ii) da raposa tresnoitada a caminho da toca,
(iii) dos ciclistas, sós, algures entre Nouadhibou e Nouakchott,
(iv) do almoço com Maité e Tomás no deserto mauritano, jamon, pão com tomate catalão, conservas, paio português,
(v) do cabo Boujdou (Bojador), “ quem passa além do Bojador, passa além da dor “ [, Fernando Pedssoa],
(vi) do azul do mar sarauhi,
(vii) da chuva, hélas, chuva no deserto, do vento quase um tornado, dos polícias ou soldados que em todas as povoações te obrigam a parar, o Sahara um país ocupado…
Direi dos kms do regresso :
1º dia : Dakar – Nouakchott : 600 Kms
2º dia : Nouakchott – Dakhla : 850 Kms
3º dia : Dakhla – Agadir : 1200 kms
4º dia : Agadir – Jerez de la Frontera 890 kms
5º dia : Jerez – Porto 900 kms
Quem vem e atravessa o rio… Ah, meu Porto sentido, lar, doce lar… Ah cama boa!!!
_________________
Nota do editor:
Vd. poste anterior > 24 de novembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15405: Expedição Porto-Dakar, integrada na 2ª edição do Dakar Desert Challenge: Coruche, Marrakech, Bissau, Dakar: 26 de dezembro de 2013- 9 de janeiro de 2014 (Abílio Machado, ex-alf mil, CCS/BART 2917, Bambadinca, 1970/72) - Parte I
6 comentários:
Mensagem enviada pelo correio interno da Tabanca Grande:
Amigos/as e caamaradas:
O "inquérito de opinião" desta semana, a decorrer no blogue até ao dia 2 de dezembro, tem como tema as nossas viagens/expedições por terra até à Guiné-Bissau...E pode ser respondido por todos/as, os/as amigos/as e camaradas da Guiné...
À pergunta "AINDA GOSTARIA DE PODER IR ATÉ À GUINÉ-BISSAU, POR TERRA, PELO SARA...", só têm que escolher uma das cinco respostas possíveis:
1. Sim, gostaria muito
2. Sim, gostaria
3. Não sei / não tenho opinião
4. Não, não gostaria
5. Não, não gostaria nada
Não se esqueçam que as respostas são dadas diretamente, "on line", no canto superior esquerdo do blogue...
Entretanto, nada com o partilhar com os nossos bravos aventureiros as peripécias e as emoções de uma viagem, de duas semanas, que pode ir aos 10 mil km (ida e volta); de Dakar ao Porto são "só" 4440 km...
Há percursos, meios de transporte e preços para todos os gostos, podem é não ser para todas as bolsas... Podem também não ser para todas as ancas, colunas, cabeças e corações...
Leiam o que o nosso camarada Abílio Machado (ex-alf mil, CCS/BART 2917, Bambadinca, 1970/72) aqui escreveu em duas crónicas recentes, enquanto elemento integrado na 2ª edição do Dakar Desert Challenge (hoje, Sahara Desert Challenge, uma iniciativa que nasceu em Coruche).
Um alfabravo para todos/as os/as amigos/as e camaradas da Guiné que se sentam à sombra do poilão da Tabanca Grande.
Os editores, Luís Graça, Carlos Vinhal.e Eduardo Magalhães Ribeiro.
__________________
Para informação dos nossos leitores:
Trata-se de "Evento turístico de aventura organizado por Mundo de Aventuras - Travel & Expeditions" (marca registada)... Tem diversos apoios, incluindo a CM Coruche...
(i) Sahara Desert Challenge - A grande aventura africana continua!
De 27 de dezembro de 2015 a 10 de janeiro de 2016
A 4ª Edição do Sahara Desert Challenge é uma aventura trans-sahariana que liga dois continentes: Europa e África ... e atravessa 5 países: Portugal, Espanha, Marrocos, Mauritânia e Senegal ... Dakar é o destino final!
Esta é uma expedição que pretende recriar os grandes momentos de evasão e aventura do mítico «Rally Dakar» com custos de participação bastante acessíveis e com possibilidade de participação de vários tipos de veículos motorizados: 4x2, 4x4, motos e camiões 4x4. Uma boa dose de valentia, espírito de aventura, capacidade de ajudar e boa disposição são ingredientes indispensáveis para empreender a fantástica rota definida para esta travessia.
A nova edição conta com troços "fora de estrada" através de pistas incríveis no sudeste de Marrocos, no interior e litoral do Sahara Ocidental marroquino, no interior e litoral da Mauritânia e no norte e litoral do Senegal ... a expedição cruzará locais fabulosos, repletos de paisagens de fazer parar a respiração!
Para participar não necessitas ter conhecimentos avançados de condução ou de navegação fora de estrada, e as viaturas para participação não necessitam de especial preparação para todo terreno ... esta é uma aventura para ti, participa!
(ii) Categoria de participação "Morocco Adventure"
De 27 de dezembro de 2015 a 3 de janeiro de 2016
“Morocco Adventure” é uma categoria especial do Sahara Desert Challenge que permite uma participação mais curta na Grande Aventura Africana, com etapas em Portugal, Espanha e Marrocos, incluindo fantásticas etapas de pista no sudeste de Marrocos e no Sahara Ocidental. Esta categoria, entre Coruche e Dakhla, é uma solução ideal para aqueles que têm pouco tempo disponível ou um orçamento mais limitado, permitindo fazer parte deste grande desafio e do seu espírito audaz!
Fonte: http://www.saharadesertchallenge.com/ (Clicar aqui para saber mais)...
Sahara Desert Challenge, 27 de dezembro de 2015 / 10 de janeiro de 2016
Traçado | Mapa
Sahara Desert Challenge
A organização planeou um traçado de dificuldade baixa/média, composto por alguns troços mais exigentes, de piso muito variado, que apresentam no entanto condições para serem transpostos sem dificuldades significativas. Tratando-se de uma expedição de longa distância (aproximadamente 5.000 quilómetros) prevê-se 55% de asfalto e 45% fora de estrada. Todo o percurso será percorrido em reconhecimento poucas semanas antes do início da expedição.
Stage 01 - 27/12/2015: CORUCHE (Portugal)
Stage 02 - 28/12/2015: Coruche / Tarifa / Génova - Tanger (Marrocos)
Stage 03 - 29/12/2015: Tanger - Marrakech
Stage 04 - 30/12/2015: Marrakech - Mhamid
Stage 05 - 31/12/2015: Mhamid - Icht
Stage 06 - 01/01/2016: Icht - Tan Tan
Stage 07 - 02/01/2016: Tan Tan - Boujdour
Stage 08 - 03/01/2016: Boujdour - DAKHLA (final do Morocco Adventure)
Stage 09 - 04/01/2016: Dakhla - PK55 Dunes (Mauritânia)
Stage 10 - 05/01/2016: PK55 Dunes - El Mhaïjrât
Stage 11 - 06/01/2016: El Mhaïjrât - Atar
Stage 12 - 07/01/2016: Atar - Tabrenkout
Stage 13 - 08/01/2016: Tabrenkout - Nouakchott
Stage 14 - 09/01/2016: Nouakchott - Saint Louis (Senegal)
Stage 15 - 10/01/2016: Saint Louis - DAKAR
Fonte: http://www.saharadesertchallenge.com/ptsdc_traca.html
Deixa-se de ir à Guiné-Bissau... Porquê ? O Sahara Desert Challenge internacionalizou-se e tornou-se um negócio (?)... Deve ser a explicação... De qualquer modo, só podemos desejar bom sucesso e sorte para os organizadores e participantes... Comn o fim do mítico Paris-Dakar, alegadamente por razões de segurança", estes paíes (e povos) sarianos e subsarianos ficaram mais "isolados"... É bom que sejam os portugueses a manter esta ponte... Agora, é preciso que estes países sejam também "envolvidos" na organização e tenham um sentido de "pertença"... LG
Dúvidas lexicais... O Ciberdúvidas da Língua Portuguesa responde...
https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/o-adjectivo-subsariano/16105
O adje(c)tivo subsariano
Pergunta:
Tenho-me apercebido de que diversos órgãos de comunicação, a propósito da grave situação em que se encontram imigrantes ilegais junto das fronteiras marroquina e espanhola, utilizam o termo «subsaarianos» para se referirem aos mencionados imigrantes.Como não estava certa do seu significado, pesquisei o dito termo em diversos dicionários de língua portuguesa e não o encontrei; afinal a palavra «subsaariano» existe ou não? Se existe, qual o seu significado?
Maria Barros Portugal
Resposta:
A palavra subsariano e a sua variante subsaariano existem, porque estão bem formadas. São adje(c)tivos derivados por prefixação de sariano e saariano. Estas formas acham-se registadas no Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa, embora no Dicionário da Língua Portuguesa (8.ª edição) da Porto Editora só se encontre sariano.Note-se que o referido Dicionário da Academia coloca sariano à frente de saariano, na respectiva entrada, depreendendo-se que dá prioridade à forma sariano. Contudo, o Dicionário Houaiss mostra preferir saariano, porque é para a entrada desta forma que remete a de sariano. Qual é, então, a melhor forma? A resposta parece encontrar-se no Vocabulário da Língua Portuguesa (1966) de Rebelo Gonçalves, que regista sariano e classifica de «inexacta» a forma saariano.Nem o Dicionário da Academia, nem o dicionário da Porto Editora têm entradas para os adje(c)tivos derivados, mas o Dicionário Houaiss inclui subsaariano, com as seguintes acepções: «1 relativo ou pertencente ao Sul do Saara, na África; 1.1 que se origina ou se situa em região limítrofe do Sul do deserto do Saara».Acrescente-se que, seguindo Rebelo Gonçalves, a forma subsariano será preferível a subsaariano.
Carlos Rocha 14 de outubro de 2005
Sará, Sáara, Sahara, Sara... ? Qual a grafia correta ?
Vejamos a sábia resposta do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa... Também prefiro Sara e sariano... LG
Sara/Sáara
Pergunta: Diz-se Sahara Ocidental ou Sara Ocidental? Os seus habitantes são saharauis, sarauis ou sarianos?
Antonio Baptista da Silva Portugal
Resposta: Segundo o «Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa» de José Pedro Machado, a forma mais correcta é Sáara. Esta palavra «provém do árabe "çahará", 'ruivo, amarelo', mas que se generalizou para interpretar as ideias de 'planície vasta e desértica, deserto'; quer dizer, a denominação devida à cor da areia acabou por se impor como designação do próprio acidente geográfico. A forma Sara não tem, portanto, qualquer justificação.»
O «Vocabulário da Língua Portuguesa» de Rebelo Gonçalves opta por Sara, considerando inexactas as formas Saara e Saará.
Parece-me que a maioria prefere Rebelo Gonçalves com a forma Sara, talvez porque são raros, na Língua Portuguesa actual, os vocábulos com dois aa seguidos.
Os naturais do Sara (ou Sáara) designam-se por sarianos, segundo Rebelo Gonçalves, que considera inexacta a forma «saariano».
O consultor do Ciberdúvidas José Neves Henriques também prefere Sara e sarianos.
C.M. 10 de dezembro de 1998
https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/sarasaara/14695
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