quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Guiné 63/74 - P15409: Os nossos seres, saberes e lazeres (129): Entre Antuérpia e as Ardenas, e algo mais (8) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 8 de Outubro de 2015:

Queridos amigos,
Acabou-se a passeata.
Este Basílica de Avioth encheu-me as medidas. Como qualquer um de nós, ao selecionarmos as imagens questionamos muitas vezes se não nos excedemos e se escolhemos para os outros verem aquilo que foi mais impressivo para nós. Captei muitas imagens de floresta, de lindos lugarejos, de riachos caudalosos. Mas não há ali nada que nós não tenhamos, temos florestas soberbas, aldeias que nos convocam para a densidade da etnografia e da etnologia. Procurei selecionar imagens que incitem ao diálogo. Após a viagem ficam estes registos e os silêncios da memória. Tenho visto em diferentes feiras da ladra álbuns de viagens esmeradamente elaborados, peças íntimas que os herdeiros, no afã de despejar as casas, vendem aos adelos. Que ao menos as imagens que prometemos sirvam para nos incitar a fazer viagens.

Um abraço do
Mário


Entre Antuérpia e as Ardenas, e algo mais (8)

Beja Santos

A inesquecível Basílica de Avioth


Imagino o leitor que anda num passeio numa região fartamente arborizada, de vez em quando passa-se por lugarejos, em casos excecionais por povoações maiores, segue-se caminho de novo dentro da floresta densa, e num dado momento entra-se num ambiente quase rural, os carros cruzam-se com as viaturas do feno e damos de frente com um monumento religioso opulento, ninguém deixará de se surpreender pelo inusitado de uma quase catedral se levantar no meio dos campos. É assim com Avioth, estou no meu último dia na Bélgica e não podia ser cumulado com privilégio maior.



Não é igreja nem catedral, é basílica, por determinação de João Paulo II, em 1993. Aqui venera-se há mais de 900 anos uma estátua da virgem, que veremos mais adiante, Nossa Senhora de Avioth, a padroeira das causas desesperadas.

É um edifício de fábrica entre os séculos XII e XIV, não há visitante que não se maravilhe com o rendilhar da pedra, os pórticos, as gárgulas fantásticas, uma estatuária refinada e misteriosa. Esse visitante vai ser confrontado com ornamentos interiores da época, caso dos vitrais, o mobiliário do couro, as estátuas polícromas. E cá fora temos este baldaquino conhecido por La Recevresse, joia da arte gótica flamejante, é caso único no mundo. A sua função principal era aqui deixar as ofertas dos peregrinos.
O viajante contempla este monumento em excecional estado de conservação, olha e volta a olhar, e questiona-se como é que esta joia despontou num ermo, mesmo num extremo da Lorena francesa, num lugar onde vivem pessoas que vão trabalhar à Bélgica e ao Luxemburgo, tudo ali ao pé.





O tardo-gótico tem esta vantagem de rasgar as janelas e quando temos um dia ensolarado não é difícil trabalhar com a máquina fotográfica. Estatuária há muita, e policroma, vejam esta, Cristo num dos passos da Via Sacra, vejam a monumentalidade da abside, o lindo altar, o túmulo, a coerência dos elementos impressiona, exacerba o fervor, não apetece sair deste ambiente que fala pela fé e nos impressiona pela simplicidade.


Esta é a imagem a que os devotados peregrinos vêm fazer as suas promessas, em 16 de Julho, esta é a Nossa Senhora de Avioth.


Não tenho ferramenta para captar este pórtico colossal, cinjo-me ao pormenor destes santos que envolvem a rosácea, enfim, não ficou tudo nítido, há um certo claro-escuro, andei às voltas no alto da escadaria à procura da melhor luz, não estou descontente com o produto final.


Esta é a imagem que podemos encontrar dentro do baldaquino, peça única em todo o mundo, mesmo ao pé da Basílica de Avioth.

Chegou a hora do regresso, ainda vamos passar por alguns dos locais da batalha das Ardenas, no final de 1944. Há um excelente museu em Bastogne, insisti em não ir lá, gosto de chegar ao aeroporto com uma certa folga, estendo as pernas e leio mais um pedaço de um livro até à convocação para subirmos para a aeronave. Foram dias magníficos. Suspiro voltar, escuso de dizer que tenho uma relação muitíssimo amigável com a terra, aqui há gente que me acolhe bem. A ver se dentro de semanas tenho oportunidade de visitar a Europalia da Turquia, no Palácio das Belas Artes, em Bruxelas.

(FIM)
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Nota do editor

Vd. postes da série de:

7 de outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15212: Os nossos seres, saberes e lazeres (118): Entre Antuérpia e as Ardenas, e algo mais (1) (Mário Beja Santos)

14 de outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15249: Os nossos seres, saberes e lazeres (119): Entre Antuérpia e as Ardenas, e algo mais (2) (Mário Beja Santos)

21 de outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15277: Os nossos seres, saberes e lazeres (120): Entre Antuérpia e as Ardenas, e algo mais (3) (Mário Beja Santos)

28 de outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15300: Os nossos seres, saberes e lazeres (121): Entre Antuérpia e as Ardenas, e algo mais (4) (Mário Beja Santos)

4 de novembro de 2015 Guiné 63/74 - P15324: Os nossos seres, saberes e lazeres (124): Entre Antuérpia e as Ardenas, e algo mais (5) (Mário Beja Santos)

11 de novembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15352: Os nossos seres, saberes e lazeres (127): Entre Antuérpia e as Ardenas, e algo mais (6) (Mário Beja Santos)
e
18 de novembro de 2015 Guiné 63/74 - P15380: Os nossos seres, saberes e lazeres (128): Entre Antuérpia e as Ardenas, e algo mais (7) (Mário Beja Santos)

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