"Caros camaradas destas e de outras lides: Aqui vos envio mais uma pequena peripécia (uma rapidinha) vivida por um bravo do ar condicionado durante o seu "martírio" por terras de Kaku Baldé.
Abraços".
Abraços".
Acontece que esta história já fora publicada, na série "Um Amanuense em terras de Kako Baldé ", há um ano e meio atrás (*)... O Abílio já não se devia lembrar...Mas merece ser de novo reproduzida aqui (**), tendo em conta a questão da existência ou não de "batota", na classificação das nossas "baixas" (por acidente, doença e em combate), ainda recentemente objeto de debate no nosso blogue.
Esta história ilustra muito bem a arte lusitana do "desenrascanço" (por exemplo, na gestão de conflitos). Também pode servir para ilustrar um certo "nacional-porreirismo" e, seguramente, a camaradagem que existia entre nós, no TO da Guiné, independentemente do sítio onde se estava, não sendo relevante, para o caso, a distinção entre quem estava no mato ou em Bissau... Camaradagem também significava bom senso e recusa do militarismo do RDM...
Por fim, o caso aqui relatado pelo Abílio chama a atenção para o grave problema do álcool em tempo de guerra: já antes tinham sido publicadas outras histórias com casos que originaram tragédias (***)... As baixas mortais que daí resultaram foram classificadas, eufemisticamente, como "acidentes"... Mais uma vez o nosso "nacional-porreirismo"...
Também ficamos a saber que a PIDE/DGS, em Bissau, tinha as "costas quentes", ou melhor, sabia que podia dormir decansada, com segurança militar à porta, de noite e de dia... Sinais dos tempos.
Acrescentámos os comentários que, na altura, foram feitios e enriqueceram o poste do Abílio Magro. LG
______________
Pelas tarefas que desempenhava na CSJD/QG/CTIG (Serviço de Justiça), fui-me apercebendo que muitas doenças, ferimentos e até mortes, eram resultantes do abuso na ingestão de bebidas alcoólicas, mas quem, durante a sua comissão, não apanhou a sua "tosgazita"?
Porém, quando estamos num TO e somos possuidores de uma arma de guerra, uns copitos com os camaradas e algum descontrolo, podem resultar em tragédia.
Este pequeno episódio que se passou comigo é bem elucidativo disso mesmo, e se o multiplicarmos por dezenas, ou até centenas (durante toda a guerra colonial, talvez milhares) e o transpusermos para uma qualquer companhia no mato, não será difícil adivinhar a quantidade de incidentes com finais trágicos que ocorreram durante aquela guerra.
Numa das minhas muitas seguranças nocturnas que fiz às instalações da PIDE-DGS em Bissau, junto ao bairro do "Pilão", comandando um pequeno grupo de 6 ou 7 homens, deu-se um episódio que me deixou bastante incomodado e "acagaçado".
O pessoal que integrava estes pelotões pertencia à CCS/QG e apresentava-se à noite para efectuar o "serviço" já bastante cansado das muitas picadas percorridas durante o dia entre gabinetes e, alguns, com muitas paragens para reabastecimento no Bar.
Por norma estacionávamos numa pequena ruela, nas traseiras da DGS, que dava acesso ao Bairro do Cupilom e ali, junto a uma palhota, o pessoal "ferrava o galho" com uma "pinta do caraças"!
Eu nunca dormia e não era por medo ..., não senhor! Era pelo meu elevado sentido de responsabilidade e pela obrigação moral de zelar pelo merecido descanso daqueles bravos militares.
Nessa noite, íamos talvez fazer o turno das 00h00 às 04h00 e tínhamos acabado de chegar ao "objectivo" quando entra na ruela um táxi conduzido por um negro e com um "pendura" negro
Oh balha-me Deus, carago, que é isto!? Pergunto-me a mim próprio, completamente abananado.
Passados uns segundos logo me apercebi que o "fabiano" estava com uma valente "tosga", daquelas chamadas de "caixão à cova". Ai meu Deus se o gajo dispara aquela merda!
Pelo "telemóvel" contactei o Alferes Mil de prevenção (um amigo dos tempos do QG de Lisboa) e, com receio de possíveis escutas, disse-lhe apenas que precisava da presença dele pois havia um pequeno problema.
Apareceu passado pouco tempo de Unimog e com mais um pelotão, meio abananado também por não perceber o que se estava a passar.
Chamei-o à parte e lá lhe contei o que acontecera. Substituiu-se o "fabiano" que seguiu de Unimog
Acordamos depois que não faríamos qualquer participação e o "fabiano" livrou-se duma valente "porrada".
Eu ..., apanhei mais um valente "cagaço".
Notas do editor:
Pelas tarefas que desempenhava na CSJD/QG/CTIG (Serviço de Justiça), fui-me apercebendo que muitas doenças, ferimentos e até mortes, eram resultantes do abuso na ingestão de bebidas alcoólicas, mas quem, durante a sua comissão, não apanhou a sua "tosgazita"?
Porém, quando estamos num TO e somos possuidores de uma arma de guerra, uns copitos com os camaradas e algum descontrolo, podem resultar em tragédia.
Este pequeno episódio que se passou comigo é bem elucidativo disso mesmo, e se o multiplicarmos por dezenas, ou até centenas (durante toda a guerra colonial, talvez milhares) e o transpusermos para uma qualquer companhia no mato, não será difícil adivinhar a quantidade de incidentes com finais trágicos que ocorreram durante aquela guerra.
Numa das minhas muitas seguranças nocturnas que fiz às instalações da PIDE-DGS em Bissau, junto ao bairro do "Pilão", comandando um pequeno grupo de 6 ou 7 homens, deu-se um episódio que me deixou bastante incomodado e "acagaçado".
O pessoal que integrava estes pelotões pertencia à CCS/QG e apresentava-se à noite para efectuar o "serviço" já bastante cansado das muitas picadas percorridas durante o dia entre gabinetes e, alguns, com muitas paragens para reabastecimento no Bar.
Por norma estacionávamos numa pequena ruela, nas traseiras da DGS, que dava acesso ao Bairro do Cupilom e ali, junto a uma palhota, o pessoal "ferrava o galho" com uma "pinta do caraças"!
Eu nunca dormia e não era por medo ..., não senhor! Era pelo meu elevado sentido de responsabilidade e pela obrigação moral de zelar pelo merecido descanso daqueles bravos militares.
Nessa noite, íamos talvez fazer o turno das 00h00 às 04h00 e tínhamos acabado de chegar ao "objectivo" quando entra na ruela um táxi conduzido por um negro e com um "pendura" negro
também.
De repente, um "fabiano" do pelotão manda parar o táxi, puxa a culatra a trás, e apontando a arma ao "pendura", indaga:
- "Quem és tu, para onde vais!?"
Oh balha-me Deus, carago, que é isto!? Pergunto-me a mim próprio, completamente abananado.
Passados uns segundos logo me apercebi que o "fabiano" estava com uma valente "tosga", daquelas chamadas de "caixão à cova". Ai meu Deus se o gajo dispara aquela merda!
Com pinças e tentando manter a calma do "fabiano" (eu tremia todo e devia estar azul - ai s'aquilo dispara!), a muito custo, mas muito de levezinho, lá consegui retirar-lhe a arma e desarmá-la, apetecendo-me logo de seguida dar-lhe uma valente coronhada na "tola", mas, lembrando-me de algumas "tosgas" próprias, lá pedi desculpas ao taxista e Companhia e mandei-os seguir viagem.
Pelo "telemóvel" contactei o Alferes Mil de prevenção (um amigo dos tempos do QG de Lisboa) e, com receio de possíveis escutas, disse-lhe apenas que precisava da presença dele pois havia um pequeno problema.
Apareceu passado pouco tempo de Unimog e com mais um pelotão, meio abananado também por não perceber o que se estava a passar.
Chamei-o à parte e lá lhe contei o que acontecera. Substituiu-se o "fabiano" que seguiu de Unimog
para o Quartel e tudo o resto decorreu normalmente.
Acordamos depois que não faríamos qualquer participação e o "fabiano" livrou-se duma valente "porrada".
Eu ..., apanhei mais um valente "cagaço".
Abílio Magro
______________
Notas do editor:
(*) Vd,. poste de 3 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P12928: Um Amanuense em terras de Kako Baldé (Abílio Magro) (12): Guerra copofónica
Bom regresso ao meio tabancal. A minha intervenção agora tem a ver com o epíteto "fabiano". Retenho que foste contemporânio do Fabião, pelo que associo o termo ao nome do futuro comandante da entrega da Guiné. Asim, peço-te para me esclareceres, se sim, ou não, a associação existe, e em que circunstâncias o pessoal recorria ao termo "fabiano".
Um abraço
JD
"Fabiano" nada tem a ver com o Brig Carlos Fabião e trata-se de um termo que ouvi algumas vezes ser usado por militares do QP quando se queriam referir a um qualquer militar do QC e outras pessoas usam-no em vez de "fulano", por brincadeira, como é o meu caso.
Durante a minha passagem pela Guiné nunca me apercebi de que fosse comum entre os militares.
Abraço
(iii) Abílio Magro disse...
O texto que enviei terminava assim: Eu ..., apanhei mais um valente "cagaço".
O texto que enviei terminava assim: Eu ..., apanhei mais um valente "cagaço".
O camarigo Carlos Vinhal resolveu não incluir a última frase que, efectivamente, é perfeitamente desnecessária por se encontrar sobejamente implícita nos outros postes que enviei.
Sempre atento o nosso Editor-Mor!
Abraço
Sempre atento o nosso Editor-Mor!
Abraço
(iv) Abílio Magro disse...
fabiano
adjetivo
HISTÓRIA relativo a Fábio, general e estadista romano (275-203 a. C.)
nome masculino
1. HISTÓRIA antigo sacerdote romano
2. popular indivíduo indeterminado
3. popular indivíduo inofensivo
4. membro da associação socialista inglesa, Fabian Society, criada em Londres em 1863
(Do latim Fabiānu-, «Fabiano»)
fabiano In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2014.
fabiano
adjetivo
HISTÓRIA relativo a Fábio, general e estadista romano (275-203 a. C.)
nome masculino
1. HISTÓRIA antigo sacerdote romano
2. popular indivíduo indeterminado
3. popular indivíduo inofensivo
4. membro da associação socialista inglesa, Fabian Society, criada em Londres em 1863
(Do latim Fabiānu-, «Fabiano»)
fabiano In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2014.
(v) JD disse...
caro Abílio,
Muito obrigado pela diligência explicativa. Com isto acabo de enriquecer o meu léxico.
Manda mais, que voltarei a pedir-te ajuda, se me esquecer da Infopédia.
Um abraço
JD
caro Abílio,
Muito obrigado pela diligência explicativa. Com isto acabo de enriquecer o meu léxico.
Manda mais, que voltarei a pedir-te ajuda, se me esquecer da Infopédia.
Um abraço
JD
(vi) Carlos Esteves Vinhal disse...
Calma e pára o baile!!!
O editor não corta nada, pelo menos sem antes "conversar" com o autor dos textos.
Não consigo justificar a falta da última frase que já foi posta no seu sítio.
Ao camarada Abílio Magro as minhas desculpas.
Carlos Vinhal
Co-editor
(vii) Hélder Valério disse...
Caros camaradas
Já fazia tempo que não tínhamos recordações de Abílio Magro (amanuense, porra!), lembram-se?
E desta vez contempla-nos com um pedaço da sua vida atribulada em Bissau.´
Caros camaradas
Já fazia tempo que não tínhamos recordações de Abílio Magro (amanuense, porra!), lembram-se?
E desta vez contempla-nos com um pedaço da sua vida atribulada em Bissau.´
O 'pessoal do mato' costuma falar depreciativamente dos que estavam em Bissau. É natural, faz parte do modo de estar em zona de guerra, essa confrontação entre os que estão 'no mato' e os que estão no 'bem bom', no 'ar condicionado'...
Mas, a verdade, é que várias situações perigosas também aí sucediam. Quem não se lembra das questões, com vítimas, entre elementos das nossas "especiais"? Dos problemas com os fuzileiros? E os paraquedistas? E o Pilão (Cupilom)?
Portanto, este relato é apenas mais uma amostra de como nem tudo era 'pêra doce'.
Abraço
Hélder S.
(**) Vd. poste de 22 de novembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15395: (Ex)citações (300): (i) Conheci de perto, em Alhandra, o Conjunto Académico João Paulo... Ouvi-os ensaiar vezes sem conta... Fiquei farto... Mesmo assim preferia-os a eles a ter que ouvir, até à exaustão, nos "rangers", em 1966, o "Sambinho Chato" e o "Et Maintenant" (Mário Gaspar); (ii) link com a canção "O Salto" (EPI, Mafra, 1966) (Inácio Silva)
(***) Vd. por exemplo poste de 23 de dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9256: À margem da história oficial ou oficiosa (2): A tragédia, em São João, que ensombrou o Natal de 1966 da CART 1613: o assassínio do Cap Fausto Ferraz, substituído depois pelo Cap Eurico Corvacho (que morreu anteontem)
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