domingo, 10 de abril de 2016

Guiné 63/74 - P15957: Atlanticando-me (Tony Borié) (12): Um mau dia

Décimo segundo episódio da nova série "Atlanticando-me" do nosso camarada Tony Borié (ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGR 16, Mansoa, 1964/66).




Um mau dia

Sem te fazer um “Ultra-Som” e um “MRI” a essa perna, não te posso curar. Pode por aí haver um qualquer tumor ou até cancer, vais fazer esses testes, quero ver o resultado depois falamos de novo. - E “virou-me as costas”, saindo do consultório, com cara de amargura, tal como quando entrou. Ficámos desolados, possivelmente antes tinha consultado outro paciente que mostrava todos esses sintomas.

Todos os dias nem sempre é o melhor dia, mas quando isso acontece, temos que ter o poder de transformar tudo ao nosso redor, é nossa responsabilidade livrar-nos do mau humor, passando para outros horizontes, ver as coisas de outra maneira, uma maneira mais agradável.

Tudo tinha começado uns dias antes, nas nossas habituais “caminhadas”, tínhamos sentido uma “dorzita”, ao fundo da perna, quase onde começa o pé, parecia quase nada, mas chegados a casa começou a aumentar o volume tanto nas dores corporais, como na dimensão da perna. Porra, temos que ir ver o “fdp do doutor” e, foi o que fizemos.

Tudo isto companheiros, acontece porque já não somos jovens. Na nossa juventude, quantas vezes, caminhamos, algumas descalços, por vales, pequenas montanhas, calcando mato e “tojos”, lama, areia, terra batida, riachos, mais tarde, savanas e bolanhas lá na Guiné e, sempre sem qualquer dor, se nos arranhávamos, esfregava-se com álcool, ou mesmo aguardente, amarrava-se um qualquer “trapo”, continuando a nossa rotina, hoje é diferente, o doutor não faz nada sem os tais “testes”, pois não quer assumir responsabilidade de qualquer “azar” nas suas decisões.


Continuando com o mau humor que por vezes, pelo menos na nossa idade, nos visita e nos tortura, temos que resistir, temos que mandar “esse dia cão”, para longe, temos que ir buscar forças, a tal força de combatente e, pensar em outras coisas, iniciar um fluxo de energia positiva, cantar, ligar a música de que gostamos, às vezes bem alto de maneira que nos entre “na pele”, dançar em pijama, ter um romance de juventude no pensamento, convidar o “mau humor” para que dance connosco, perguntar-lhe se quer ter uma festa de pijama, dizer-lhe que por mais que nos queira atormentar, só nos dará força, até para dançar.

Passámos as duas últimas semanas com algumas dores e algum constrangimento, não nos podendo deslocar para outras paragens, mas também foi agradável, sentados, ver as fotos antigas, onde aparecem familiares ou amigos que podemos lembrar dizendo: "Oh meu Deus, não me lembro. Quando fizemos isto?”. Depois no pensamento, começamos histórias grandiosas, mesmo dizendo, "deixa-me ver, este “gajo” era fodi.., fazia coisas do caral.. ". Hoje, já andamos melhor, cremos mesmo que está a passar, mas no futuro vamos ter cuidado, embora pensando que as nossas pernas são o melhor meio de transporte com que o “criador “ nos contemplou, pois podem levar-nos a lugares que qualquer outro meio de transporte nunca conseguirá.

Tony Borie. Abril de 2016.
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Nota do editor

Último poste da série de 20 de março de 2016 Guiné 63/74 - P15878: Atlanticando-me (Tony Borié) (11): Simplesmente, um ovo

1 comentário:

Anónimo disse...

Caro vizinho,
As situações menos boas nas nossas vidas não pode fazer esquecer que os melhores dias estão sempre na nossa frente.
Desejo-te rápidas melhoras.
Abraço,
José Câmara