sábado, 10 de setembro de 2016

Guiné 63/74 - P16471: (In)citações (98): "Cartas da guerra" é um filme, não é um documentário... E é um filme de Ivo M. Ferreira, e não de António Lobo Antunes... Mais: é um filme que procura dignificar os ex-combatentes, a quem apelo, como simples espetadora, que o vejam primeiro, antes de pôr um qualquer rótulo no realizador e sua equipa (Marta Léon, produtora O Som e Fúria)

1. Mensagem, de ontem, de Marta Léon, da equipa da produtora O Som e a Fúria,  a propósito dos postes e comentários que surgiram no nosso blogue, referentes ao filme Cartas das Guerra, do realizador Ivo M. Ferreira


Boa tarde Luís,

Desculpe a demora em responder-lhe. Estive a ler os comentários... Nem sei bem o que diga...

CARTAS DA GUERRA é um filme, não é um documentário, mas asseguro-lhe que dignifica os ex-combatentes e que não é um filme panfletário.

Não podemos falar de como as palavras do Ivo são aproveitadas pelos meios de comunicação. Podemos sim desculpar-nos de uma ou outra observação menos feliz.

Não posso falar pelo Ivo, mas penso que o que está implícito nas palavras dele, é que é um assunto que deveria ter sido discutido/falado mais, e não apenas entre os ex-combatentes. A observação refere-se à sociedade que os silenciou, e não aos ex-combatentes. A responsabilidade não é de ninguém, mas sim da situação política que se viveu na época. Ao regresso dos ex-combatentes da Guerra Colonial, deu-se uma Revolução em Portugal, acaba-se com a ditadura e tudo o que a ela dizia respeito fica no passado.

São os que não foram para a frente de combate, que não quiseram ouvir as histórias. E quando se fala da Guerra Colonial, não se fala do impacto que teve na vida de cada um dos soldados.

O filme passa-se na Guerra Colonial, mas não tenta ser um fiel retrato da Guerra. CARTAS DA GUERRA baseia-se nas cartas que o António Lobo Antunes escreveu à mulher, durante o período que esteve em Angola. Este é o foco do filme, as cartas que os soldados trocavam com os seus familiares.

Esta é apenas a minha opinião, Luís.

 Penso apenas que o filme deverá ser visto primeiro e depois então poderá ser feito um debate. Mas não me parece justo, colocar um "rótulo" no Ivo que não o descreve.

Acho também que não podemos evitar que tais comentários surjam. E com certeza haverá sempre quem se identifique com o filme e quem não goste. Mas espero que acredite quando lhe digo que não há qualquer tipo de pretensão da parte do Ivo ou da equipa do filme, em achar que sabemos o que os ex-combatentes viveram.

 Resumindo o filme à sua essência, fala-se de um jovem a quem o seu dia-a-dia é roubado para ir para a frente de combate, servindo de exemplo para falar de toda uma geração e da importância da chegada do correio vindo de um mundo sem Guerra. O filme é também uma história de amor.

Quanto ao aproveitamento de que se fala nos comentários, não consigo compreender. O facto de se falar de um tema da nossa História não creio que isso faça de nós oportunistas. Pelo contrário, acho que demonstra interesse em compreender esse período e que queremos que todo um país se interesse pelo tema.

Foram ouvidas as histórias dos membros da Companhia [de Artilharia] 3313, pois foi nesta companhia que António Lobo Antunes prestou serviço. Mais histórias, seguramente, ficaram por ser contadas, pois que se façam mais filmes, mais documentários, exposições, etc!

Mais uma vez, digo-lhe que, sendo eu um elemento que se juntou à equipa já estando o filme finalizado, como espectadora é para mim um filme que dignifica os ex-combatentes e fez-me refletir, sobretudo, na solidão que um homem sente quando lhe é roubada a vida e quanto isso o modifica. E penso que todos nós deveríamos reflectir sobre esse assunto.
Sei que me alonguei um pouco, mas sou dada ao debate!

Fico à espera do seu feedback.

Bom fim-de-semana,

Marta
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Marta León

O SOM E A FÚRIA
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2. Comentário de L.G.:

Cara Marta;: como lhe disse, lamentavelmente, por razões da minha agenda  pessoal e profissional ainda não consegui ver o filme... Espero poder fazê-lo no início da semana que vem, se ele não sair do circuito comercial tão cedo. Desejo-lhe, de resto,  todo o sucesso, e costumo acarinhar tudo o que é português, feito por portugueses, seja em Portugal ou lá fora,  do cinema à ciência... Só faço uma exceção, para aquilo que é manifestamente estúpido e intrinsecamente mau.

Secundo o seu apelo ao bom senso: veja-se o filme, que é trabalho honesto, de gente jovem e talentosa, desde o  realizador aos atores, dos argumentistas aos técnicos, dos produtores e demais "staff" de apoio...

Veja-se o filme e depois comente-se...Cinquenta e tal anos depois do início da guerra colonial é ainda tão pobre a sua expressão cinematográfica...Contam-se pelos dedos da mão os filmes portugueses que de uma maneira ou de outra abordam o tema da guerra colonial. Mas,  como a Marta diz e bem, este filme é também um filme de amor. Se calhar, um grande filme de amor, muito mais do que um grande filme de guerra.


31 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16433: Agenda cultural (489): Amanhã, dia de 1 setembro, estreia nos cinemas o filme, de Ivo M. Ferreira, "Cartas da Guerra", baseado nas cartas de amor e guerra de António Lobo Antunes, ex-alf mil médico, da CART 3313 (Angola, 1971/73). Descontos especiais para grupos de ex-combatentes e séniores

7 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16281: Agenda cultural (488): O filme "Cartas da Guerra", de Ivo M. Ferreira, baseado na obra de António Lobo Antunes, tem estreia comercial em 1 de setembro próximo

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