Aveiro e Cultura > Arquivo Digital > Prof2000 > Ângelo Ribau Teixeira > Retalhos das Memórias de um ex-Combatente > Rumo ao Norte
Ângelo Ribau Teixeira (1937- 2012) foi fur mil at inf, op esp, Companhia de Caçadores Especiais 306 (CCE306) / Batalhão de Caçadores Especiais 357 (Angola, 12/5/962- 22/6/964). Deixou um notável conjunto de textos, em formato digital, sob o título "Retalhos das Memórias de um ex-Combatente", alojados no portal Prof2000 que é descrito como "um projecto com serviços de suporte a formação de professores a distância e de apoio às TIC [tecnologias de informação e comunicação] nas escolas".
Um dos sítios alojados nesta plataforma, e que eu gosto de consultar, é "Aveiro e Cultura - Arquivo Digital", superiormente coordenado por Henrique J. C. Oliveira, a quem mando os meus parabéns, em nome da Tabanca Grande. Foi aqui que encontrei, entre outros antigos combatentes da guerra colonial, as memórias do Ângelo Ribau Teixeira, natural da Gafanha da Nazaré, filho de marnoto e já casodo e com filhos, quando foi mobilizado, em 1962, para a "guerra do ultramar" .
Na sua ida para o Norte de Angola, em maio de 1962, a caminho de Pangala, uma sanzala perdida no mato, a companhia sofre uma primeira flagelação, sem consequências, e antes de chegar ao seu desolador destino, o fur mil Ribau Teixeira encontra um "indício de civilização"...
Vale a pena transcrever, com a devida vénia, este bocado de prosa... e ler o resto: é um testemunho valioso de um camarada que pertenceu à geração do início da guerra no norte de Angola... E que infelizmente não teve tempo nem oportunidade, em vida, de editar em livro, as suas memórias de ex-combatente.
Pode ser entretanto que o nosso camarada e amigo António Rosinha, um dos nossos "mais velhos", queira acrescentar, na caixa de comentários, algo mais da sua própria experiência como operacional em Angola, nesse tempo(**)...
Este percurso de Luanda até São Salvador, passando por Carmona, foi feito por milhares e milhares de camaradas nossos. [Ver aqui mais fotos do Ângelo Ribau Teixeira em Pangala, que ficava "a poucos quilómetros de Cuimba e Buela, na zona de S. Salvador". Pangala era o nome de "uma sanzala que ficava no desvio da 'estrada' de Cuimba a S. Salvador do Congo e ia até à Buela", sendo o sector em S. Salvador do Congo, e a sede do BCE 357 em Cuimba... (LG)
Na sua ida para o Norte de Angola, em maio de 1962, a caminho de Pangala, uma sanzala perdida no mato, a companhia sofre uma primeira flagelação, sem consequências, e antes de chegar ao seu desolador destino, o fur mil Ribau Teixeira encontra um "indício de civilização"...
Vale a pena transcrever, com a devida vénia, este bocado de prosa... e ler o resto: é um testemunho valioso de um camarada que pertenceu à geração do início da guerra no norte de Angola... E que infelizmente não teve tempo nem oportunidade, em vida, de editar em livro, as suas memórias de ex-combatente.
Pode ser entretanto que o nosso camarada e amigo António Rosinha, um dos nossos "mais velhos", queira acrescentar, na caixa de comentários, algo mais da sua própria experiência como operacional em Angola, nesse tempo(**)...
Este percurso de Luanda até São Salvador, passando por Carmona, foi feito por milhares e milhares de camaradas nossos. [Ver aqui mais fotos do Ângelo Ribau Teixeira em Pangala, que ficava "a poucos quilómetros de Cuimba e Buela, na zona de S. Salvador". Pangala era o nome de "uma sanzala que ficava no desvio da 'estrada' de Cuimba a S. Salvador do Congo e ia até à Buela", sendo o sector em S. Salvador do Congo, e a sede do BCE 357 em Cuimba... (LG)
"Um sinal de civilização" (foto e legenda de Ângelo Ribau Teixeira. com a devida vénia)
Ângelo Ribau Teixeira > Retalhos das Memórias de um ex-Combatente > Rumo ao Norte
(Excerto, com a devida vénia)
(...) O primeiro ataque do IN
Sem o menor aviso, começaram a ouvir-se rajadas de metralhadora do outro lado do riacho. A mata que ficava à nossa direita!
Cornos no chão, foi o que fizemos sem esperar qualquer ordem. Eu tive azar porque a minha aliança ficou presa num dos ganchos que seguram o toldo da viatura. Aflito lá consegui desenrascar-me. Ainda não tinha chegado ao chão quando uma bala cantou – segundo mais tarde observei – exactamente no gancho onde eu tinha ficado preso. Tive sorte...
Respondemos àquela metralha durante algum tempo, até que da frente veio a ordem de parar o fogo. Ficou um silêncio de morte. Ninguém se mexia.
– Embarcar e avançar – foi a ordem ouvida.
Assim fizemos. Um de cada vez tomou cautelosamente o seu lugar no Unimog, com a arma apontada, pronta a fazer fogo. As viaturas avançaram e continuámos viagem. Quando o nosso carro passou pelo riacho, uma fresquidão saborosa assaltou os nossos corpos suados. Aqui as árvores eram altas e frondosas. Havia canas da Índia com seis ou sete metros de altura, e um diâmetro igual ao da minha coxa. Neste sítio a natureza foi pródiga, talvez por a zona ser pouco habitada. Faltavam aqui os maiores destruidores da natureza, os homens!
Prosseguimos o nosso caminho. Sempre a mesma paisagem: mata, capim, capim, mata. Hei! O que é aquilo?! Finalmente um indício de civilização. Um sinal de aproximação de estrada sem prioridade e os dizeres: “Gasolina Sphinx” e por baixo “Vacuun Company”, isto no meio de uma imensidão de terreno, onde já tínhamos desistido de encontrar qualquer sinal da dita “civilização”. Era impensável. Aproximação de estrada sem prioridade!
Provavelmente seria aqui o desvio para Pangala, onde iríamos ficar aquartelados. Mas aproximação de estrada no país onde nos encontrávamos não nos dizia muita coisa. De maneira que o melhor era ir andando e esperando.
Pangala, finalmente...
Fomos avançando às cegas e, às tantas, lá apareceu um desvio para a direita, por onde seguimos até ao nosso destino. Um pouco antes de chegarmos a uma sanzala chamada Pangala, encontrámos uma casa comercial abandonada que em tempos pertencera a um branco. Era nessa casa que iria ficar instalado o Comando da nossa Companhia.
Tínhamos chegado ao local onde se dizia que iríamos ficar mais ou menos um ano. Que tristeza! Que desconforto! Havia outras Companhias que, destacadas em fazendas, tinham instalações que comparadas com o nada que encontrámos, eram um luxo. Era preciso construir de raiz as instalações que nos iriam acolher. O capim era alto, quase da altura de um homem. Tivemos que começar logo a descapinar a zona para arranjar espaço para montar as tendas já nessa noite. (...)
_____________
Notas do editor:
(ª) Último poste da série > 4 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16556: Blogues da nossa blogosfera (74): Exército Português: Recrutamento
(**) Vd. poste de 14 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16835: Fotos à procura de...uma legenda (78): velhas placas com sinais de trânsito... encontradas no mato (António Murta, ex-alf mil linf, MA, 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513, Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74)
(ª) Último poste da série > 4 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16556: Blogues da nossa blogosfera (74): Exército Português: Recrutamento
(**) Vd. poste de 14 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16835: Fotos à procura de...uma legenda (78): velhas placas com sinais de trânsito... encontradas no mato (António Murta, ex-alf mil linf, MA, 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513, Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74)
7 comentários:
Os senhores são mesmo saudosistas. Perderam o império e agora andam à cata dos restos do naufrágio. Um kandando, de Luanda até Lisboa. Valha-nos ao menos a língua comum. Boas festas. CJV
Caro CJV, caso nao saibas os anonimos nao sao benvindos a este saite. Devemos sempre dar a cara. Nao somos saudistas mas ex-combatentes do Ex-Imperio Portugues e com muita honra por isso demos sempre a cara e assinamos com o nome completo. Infelizmente perdemos o Imperio talves por derrotados como tu, mas nao anmdamos a procura de restos. Restos sao para os cobardes que possivelmente nunca ouviram o zumbido de uma bala na sua direccao. Dizes que"Valha-nos ao menos a língua comum" Sem duvida que nao es PORTUGUES, mas no entanto espero que tenhas a honra de falar o Portugues como eu.
Julio Abreu
Chefe da 2 equip do Grupo de Comandos Centurioes
Ex-Guine Portuguesa
(Aonde sentiamos o zumbido das balas terrorista por cima de nos)
Não sei quem é o anónimo. Penso que será alguém a "brincar".
De qualquer modo a minha apreciação será: Se a estupidez fosse música o anónimo tinha uma grande orquestra!
A recolha e difusão destes pequenos indícios da presença dos portugueses em África é uma tarefa eminentemente cultural. Já se perderam alguns, mas a História é feita disto mesmo e os documentos, em sentido lato, que se forem "recuperando" terão grande valor como se tem visto nas colectâneas de fotografias e paisagens, que diariamente podemos observar, portuguesas ou estrangeiras.
"Presumenta e aguação cada quer toma a que qual!"
Um Ab.
António J. P. Costa
Camaradas: já em tempo o Mr. Périssier, o historiógrafo da presença dos "tugas" em África, nos chamou um blogue de antigos combatentes, "saudosos da sua juventude" (sic)... Antes isso... Nunca consegui definir bem o que é o raio da saudade... Sentir, sim, definir, não... Pois sejamos saudosistas da nossa juventude, dos nossos verdes anos, que é bom sinal, é saudável e humano...
Império ? Não sei o que é isso... Ainda vou bebendo uma "imperial", quando o calor aperta ou se juntam ums amigos, numa esplanada, no verão, à beira mar...
saudade | s. f.
sau·da·de |au| ou |a-u|
(latim solitas, -atis, solidão)
substantivo feminino
1. Lembrança grata de pessoa ausente ou de alguma coisa de que alguém se vê privado.
2. Pesar, mágoa que essa privação causa.
"saudade", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://www.priberam.pt/dlpo/saudade [consultado em 16-12-2016].
Olá Luís
O "homem" chama-se Pélissier.
Por mim não fiquei ofendido com as considerações que fez e concordo com as conclusões dos estudos que fez.
Creio que nunca foi à Guiné, mas as suas deduções são lógicas (e verdadeiras, digo eu) e, por isso, merecedoras de atenção.
Um Ab. e um Feliz Natal
António J. P. Costa
Pois eu só agorinha tive ocasião de reparar neste post e já estou a replicar ao Luisgraca.
Não é que tenho saudades de Cuimba e São Salvador onde cheguei a trabalhar em 1966 para a tropa?
Mas a minha tropa em 1961 foi um pouco mais a sul desses lugares (zonas de café) e no Leste (diamang) e Luanda (onde o Luaty anda a dizer que aquilo está mau, mentiroso, aquilo é uma maravilha)
Em Buela nunca estive, outros colegas estiveram lá e nenhum lá ficou.
Eram zonas da UPA de Holden Roberto, onde o MPLA pouco se atrevia.
Outro dia ouvi aquela filha de Adriano Moreira no parlamento a dizer que os angolanos estão a ser governados tão mal, que só se podia comparar ao tempo dos colonialistas.
Fiz guarda de honra em Luanda, em 1961 ao ministro do Ultramar colonialista Adriano Moreira, e o homem pareceu-me um colonialista porreiro.
O mundo está virado do avesso! Não se deve mentir! Por se mentir é que a Europa colonialista, não sabe o que fazer neste momento.
A mentira tem a perna curta!
Tó Zé, René Pélissier, pois claro, peço desculpa aos nossos leitores e ao próprio, que também nos lê...
Ele tem no blogue mais de 20 referências... O nosso infatigável Mário Beja Santos tem feito a recensão dos seus livros.. Um deles chama-se... "o naufrágio das caravelas" (penso que não está traduzido para português).
https://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/search/label/Ren%C3%A9%20P%C3%A9lissier
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