Mandou-nos, com os votos de boas festas, este belíssimo e perfeito soneto, escrito em Bissau no já longínquo abril de 1965, e guardado no "baú das velharias".
Todos os versos são decassílabos (têm dez sílabas métricas). Camões e Bocage, por exemplo, foram grandes mestres do soneto. Mas também Antero de Quental ou Florbela Espanca... (LG)
HIBERNAÇÃO
por Augusto Mota
Na penumbra de um quarto ruvinhoso,
entre quatro paredes glaciais,
despidas, enervantes, espectrais,
nunca beijadas pelo sol fogoso...
Na penumbra, dizia, nem sinais
do mundo em que vivi, vão, tumultuoso,
onde perdi o filtro milagroso
de gostar como todos os mortais.
Aqui nada acontece de visível.
O tempo passa quase indescritível,
E eu cansado da longa caminhada...
Se alguém assume à porta é o carteiro.
Traz notícias do dia rotineiro
que, compiladas, dão de soma: NADA!
Bissau, Abril de 1965.
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Nota do editor:
(*) Vd. último poste da série > 27 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16888: Camaradas da diáspora (14): Amigos, por aqui, aos trancos e barrancos mas metendo o peito... (Augusto Mota, Brasil)
1 comentário:
Meu caro Augusto:
De poeta para poeta, confesso que "nunca tentei o soneto"... Dou-te os parabéns e acabei de enriquecer o meu léxico... "Ruvinhoso" é palavra nova para os meus ouvidos... Luís Graça
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ruvinhoso | adj.
ru·vi·nho·so |ô|
adjectivo
1. Carunchoso, carcomido.
2. [Figurado] Que está de mau humor.
3. Difícil de contentar.
Plural: ruvinhosos |ó|.
"ruvinhoso", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://www.priberam.pt/dlpo/ruvinhoso [consultado em 28-01-2017].
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