quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Guiné 61/74 - P17922: Os nossos seres, saberes e lazeres (237): Em Drumlanrig Castle, o esplendor dos jardins escoceses (7) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 24 de Julho de 2017:

Queridos amigos,
Quando se encontram dois ingleses, a conversa arranca sempre à volta das condições meteorológicas ou do que se está a passar nos respetivos jardins.
Propor a ingleses um passeio a uma casa senhorial não levanta quaisquer obstáculos, quem não quer visitar salões vistosos e bibliotecas com imensas fotografias da família e até membros da corte, passeia-se pelos jardins. Foi o caso da escolha turística do dia, Drumlanrig Castle, houve quem suspirasse de alívio quando soube que a riquíssima coleção do duque de Buccleuch e Queensberry ainda não estava aberto ao público, foram todos para os jardins, magistralmente tratados. É o culto do jardim, árvores, arbustos, espécies exóticas, não será por acaso que o mais inacreditável da floricultura mundial tem sempre exemplares em qualquer ponto do Reino Unido.
Foi o dia mais económico do viandante, era o seu aniversário, foi alijado de despesas...

Um abraço do
Mário


Em Drumlanrig Castle, o esplendor dos jardins escoceses (7)

Beja Santos

A companha pregou uma surpresa ao viandante, após as suas abluções, foi tomar o pequeno-almoço e encontrou este cartão de parabéns, era dia de aniversário. Não é sobre o evento que vos quero falar mas sim sobre o fenómeno destes cartões que fervilham nas relações sociais: parabéns, boas festas, congratulações pelos mais desvairados motivos. Não há papelaria em todo o Reino Unido onde não se encontrem em variedade estes cartões, que recorrem sobretudo ao humor. Na contínua complexidade multicultural em que ali se vive, há séria discussão sobre o que se deve mandar na festa natalícia, chega-se ao cúmulo de falar no nascimento de Jesus, nada de presépios, nada de estrelas de Belém, muito menos reis magos e pastores enternecidos, para não ofender as outras religiões… É debate para durar, mas há um grupo sólido que se está perfeitamente nas tintas e celebra de acordo com as suas convicções. No caso do viandante, beneficiou de uma tirada de boa disposição. Recebeu este cartão, e agradeceu a toda a gente. E o dia foi muito feliz, marchou-se para Drumlanrig Castle, alguém retivera uma frase do viandante que se mostrara interessado em conhecer a coleção de arte do Duque Buccleuch e Queensberry, uma sumptuosidade onde constam um Da Vinci, artistas como Gainsborough, Reynolds e Rembrandt. À entrada, deu-se a má notícia que a coleção não estava disponível ao público, só em pleno Verão, mas se o viandante vinha à procura do Da Vinci, este, desde que fora roubado e recuperado, podia ser visto na Galeria Nacional, em, Edimburgo, a virgem com o menino e a roca de fiar. Fica o consolo de adquirir a imagem na loja, para todos verem que vale a pena sempre ir à procura de Da Vinci.




Pois bem, não há coleção de arte, mas pode mirar-se este belo edifício e passear pelos magníficos jardins. Com todas as suas alterações, Drumlanrig Castle pertence à família do duque há mais de 600 anos. Paga-se à entrada, entra-se pelos jardins que se dispõem em terraços como se fossem socalcos. A primeira impressão é muito forte, há teixos com mais de 300 anos a separar o jardim de instalações que tanto são a casa de chá como os estábulos.



Estamos entre a Primavera e o Verão, para um português assombra este verde húmido, não há qualquer sinal de verdura fanada, não há sol suficiente para estafar o verde vivo, são jardins formais, laboriosos jardineiros limpam, cortam e recortam, usam a topiária, são espaços harmónicos, mais adiante vamos encontrar jacintos bravos e coisa rara de ver papoilas nepalesas.


Quando se entra nos jardins de Drumlanrig Castle dão-nos um roteiro, há muito para ver: jardins dos bosques, das rochas, com plantas, jardins que parecem jardins alpinos, aqui e acolá rododendros vistosos, parecem árvores, azálias, há mesmo um jardim de Inverno e uma estufa vitoriana, cascatas, espaço para que as crianças andem entretidas. Foi uma visita cativante, depois veio o bichinho da fome, a companha partiu ordenadamente para a sala de chá… e que sala de chá!


Pelo caminho, deu-se uma espiada pelo que fora a quinta desde a chegada das máquinas. O viandante observou que um bom número de visitantes parava diante desta viatura que deve ter dado brado no seu tempo, pode-se perceber porquê, e também pensar como os britânicos estiveram na vanguarda da mecanização agrícola.


Não se vão mostrar as delícias da pastelaria nem confeitaria, e ninguém duvidará que havia ali comezainas para todos os paladares, até refeições ligeiras, sumos naturais e inevitavelmente o chá. O que mais empolgou o viandante foi a opulência dos cobres, e o que se mostra é uma minoria, havia muita gente espalhada pelas mesas, deu algum trabalho esperar que uma mesa vagasse e houvesse tempo para mostrar os tachos de outros tempos. E com o estômago satisfeito, a companha regalada atravessou campos e vales até chegar a Moffat.




O viandante avisou a companha que amanhã vai vadiar sozinho, mete-se num autocarro quase às cegas, e bate umas aldeias. Como aqui se mostra do que se passou, ele cultiva pormenores como este, uma bela ferragem a encimar a bandeira da porta, um indício de que neste lugar aparentemente insignificante por aqui passou Arte Nova, que os descendentes dos primitivos proprietários não desdenham. E fazem bem.

(Continua)
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Nota do editor

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1 comentário:

Anónimo disse...

Beja

A flor da 1º foto é uma rosa albardeira.
No Parque Natural das Serras d'Aire e Candeeiros há muitas
Abraço
Carlos Silva