Guiné > Zona Leste > Região do Boé > Cheche > 6 de Fevereiro de 1969 > A jangada, de reserva, com sobreviventes da tragédia de Cheche, no Rio Corubal, na retirada de Madina do Boé (*)
Foto (e legenda): © Paulo Raposo (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Resposta, de ontem, às 8h55, do Domingos Gonçalves Gonçalves ao nosso inquérito sobre a travessia do rio Corubal em Cheche.
[Foto à direita: Domingos Gonçalves foi alf mil da CCAÇ 1546 / BCAÇ 1887, Nova Lamego, Fá Mandinga e Binta, 1966/68): tem cerca de 6 dezenas de referências no nosso blogue]
Bom dia,
A jangada era manobrada por um nativo, que residia no Che-Che. Em 1966 transitávamos com alguma segurança do Gabú, até ao Che-Che.
Não tinham lugar emboscadas, nem havia colocação de minas. Os problemas, graves, começavam depois da travessia do rio.
A jangada daquela época era insegura. O pessoal passava para o outro lado em pequenos grupos.
Recordo-me de pelo menos uma viatura carregada de munições ter caído no rio, com a respectiva carga.
Um abraço
2. Inquérito sobre a travessia do rio Corubal em Cheche: questões a responder, no todo ou em parte, por quem lá esteve ou por lá passou até ao trágico dia 6 de fevereiro de 1969 (Op Mabecos Bravios, retirada do aquartelamento de Madina do Boé e do destacamento de Cheche):
Recordo-me de pelo menos uma viatura carregada de munições ter caído no rio, com a respectiva carga.
Um abraço
2. Inquérito sobre a travessia do rio Corubal em Cheche: questões a responder, no todo ou em parte, por quem lá esteve ou por lá passou até ao trágico dia 6 de fevereiro de 1969 (Op Mabecos Bravios, retirada do aquartelamento de Madina do Boé e do destacamento de Cheche):
(i) quem manobrava a jangada ?
(ii) em princípio havia duas jangadas, sendo uma de reserva ?
(iii) também havia m sintex ou equivalente para ligar as duas margens ?
(iv) qual era a lotação habitual da jangada ? E a máxima ? Dois pelotões, 60 homens ? Menos, talvez 40 ?
(v) no caso das viaturas, a jangada podia transportar quantas e quais de cada vez ? Uma GMC ? Dois Unimog 404 ? Três Unimog 411 (burrinhos) ?
(vi) havia instruções (explícitas, escritas ou orais) de segurança ?
(vi) no teu tempo, havia uma tabanca, em Che-Che, na margem esquerda (ou margem sul) ? Eram fulas ? Era grande ou era pequena ? Quantas moranças tinha ? Havia milícias, abrigos, população em autodefesa ?
(vii) de que lado é que podia vir uma emboscada ou flagelação ? Da margem esquerda/sul (tabanca Cheche) ou do lado direita/norte (destacamento de Checje / estrada de Canjadude) ? Ou de ambos ?
(viii) alguma vez apanharam com minas anfíbias, minas /AC, minas A/P ou armadilhas, no rio, no ancoradouro, ou nas margens, ou na picada que leva até lá ?
(ix) imagino que os reabastecimentos fossem um inferno, e pior ainda no tempo das chuvas...
(xi) quantos homens tinha o destacamento de Cheche ? Um pelotão ? Tinha armas pesadas (morteiro 81, metralhadora pesada, canhão s/r...) ?
(xii) quando se vinha do norte (estrada de Gabu e Canjadude) e se fazia a trasvessia para o outro lado (tabanca de Cheche, destacamento de Béli, quartel de Madina), ficava uma força a fazer a segurança ?... Era só o destacamento de Cheche ? ou havia reforço da guarnição ?
(xiii) O cabo que atrvessava o rio, não era de aço, mas sim de corda... Certo ? De aço seria pesadíssimo... E estava sempre montado e esticado ?
(xiv) e a jangada tinha motor auxiliar ? A jangada também era puxada a força de braço ?
(xv) houve, no teu tempo, algum acidente ou incidente com a jangada ? Alguém (ou viatura) caído ao rio ?
(xvi) qual seria a largura e a profundidade do rio em Cheche ? No tempo seco e no tempo das chuvas
? (O desastre do dia 6/2/1969 foi no tempo seco...).
(xvii) Mais algum comentário ou observação:
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1 comentário:
Uma saudação especial ao Domingos Gonçalves, o irrequieto "Serafão", enquanto colegas do mesmo ano, em V. N. de Poiares.
Manhã cedo de um dia de Maio de 1965, voamos de urgência num Dakota para Nova Lamego, com o general Arnaldo Schulz (Governador e Comandante-chefe). No dia seguinte coube-me ir defender a jangada do Cheche, a da foto ou idêntica: uma secção reforçada num camião Mercedes, uns 15 ou 16, com morteiro de 60, bazuca e um c/sr 10.7, montado num jipe. O nosso ex-camarada Domingos Ramos andava a fazer das suas, como comandante do PAIGC, e o capitão InfOp (certou ou errado?) disse-me que ele e a sua malta vinham a caminho, para a afundar. A jangada não era defensável, se atacada da margem oposta e dispusemos-nos de forma que, perante essa ameaça, o seu afundamento seria comandado por mim, à bazucada e ou à canhoada e não pelo Domingos Ramos, com as suas RPG´s.
No dia seguinte protegemos a cambança duma escolta de reabastecimentos para Madina e Beli, no outro dia protegemos a cambança do seu retorno - e regressamos todos a Nova Lamego, roncando e levantando nuvens de pó.
Já andava há quase um ano de "intervenção" e ainda me recordo de aquela solidão ambiental, o sussurrar do Corubal e a frondosidade da sua margem terem aumentado os meus níveis de medo..
Ab.
Manuel Luís Lomba
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