domingo, 5 de agosto de 2018

Guiné 61/74 - P18898: Blogpoesia (578): "Sombras...", "Minha sonda..." e "Laçadas falsas...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Sombras...

Acendam-se todas as luzes e se apaguem as sombras negras que toldam o nosso mundo.
Brilhe o poder em esplendor nas mãos de gente capaz e bem formada.
Chova a riqueza nas casas pobres que perderam a saúde e não a encontram.
Uma vaga de paz inunde os países martirizados pela guerra atroz de que não são autores.
Se destruam todos os castelos do capital que escraviza o mundo a favor duma minoria desumana.
Venha enfim a paz e a concórdia na base firme da fraternidade universal...

ouvindo concerto n.º 2 de Rachmaninoff por Khatia Buniatishvilli
Mafra, 3 de Agosto de 2018
8h1m
Jlmg

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Minha sonda...

Andou perdida no universo a minha sonda.
Poisou à minha porta como um fiel amigo abandonado.
Fui ver-lhe a caixa preta.
Perscrutar-lhe os seus registos.
Estou atónito.
Durante esta vida inteira,
seguiu meus passos sobre esta terra.
Ali estavam nítidas as minhas brincadeiras de criança.
Quando a inocência ainda reinava.
As descobertas todas que fui fazendo.
No meu corpo e minha alma.
Para quê as diferenças?
Afinal, nem todos somos iguais.
O porquê dos pais.
Depois a escola.
Primeiro salto nas aventuras.
Tantos feitios diferentes do meu.
A melhor forma de viver com eles.
Aprender a contar e ler.
Quando se abriu o mundo.
Muito maior que o pequeno terreiro das brincadeiras.
As disputas por ser melhor.
Faziam doer.
E aquele casarão estranho onde se ditava a missa e rezava a Deus...
Que queriam dizer?
E, por aí fora. Até ao dia de ontem.
Em que meu filho partiu um dedo.
Irei concentrar-me, por dentro dela e decifrar tudo
até ao meu derradeiro dia...

Bar "Os sete momentos" , Mafra 2 de Agosto de 2018
10h2m
Jlmg

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Laçadas falsas...

Passo meu tempo a desatar laçadas como quem raspa raspadinhas.
Um engodo.
Todas brancas.
Não há como saber bem o chão onde se pisa os pés.
Ninguém apanha em falso um precavido.
Dos desatentos gosta o carteirista.
Caminhar com a cabeça a pino é remédio santo
para quem quer caír.
Tantos males seriam evitados se, na cabeça, houvesse tino.
Mas, há sempre tempo para corrigir, enquanto há tempo...

Bar "O caracol", arredores de Mafra
30 de Julho de 2018
10h49m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 29 de julho de 2018 > Guiné 61/74 - P18876: Blogpoesia (577): "Os sintomas", "Minh'alma leve..." e "Minhas ideias...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

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