segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Guiné 61/74 - P19168: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (São Domingos e Nova Lamego, 1967/69) - Parte XLIX: Mensagem de parabéns enviada à namorada, pelo seu 21º aniversário, em noite de luar, em São Domingos, em 5 de novembro de 1968


Matosinhos > Tabanca de Matosinhos > Restaurante Espigueiro (ex-Milho Rei) > 5 de setembro de 2018 > Almoço de homenagem à memória do nosso saudoso camarada Joaquim Peixoto (1949-2018) > Virgílio Teixeira e a esposa Manuela... Vieram, pela primeira vez, à Tabanca de Matosinhos. Moram em Vila do Conde.


Foto (e legenda): © Luís Graça (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]





Foto nº 3  > Eu, olhando para a Lua às 10,30h da noite  do dia 5 de Novembro de 1968, em São Domingos.


Foto nº 1 > A Lua Cheia fotografada às 10,30 horas da noite do dia 5 de Novembro de 1968



Foto nº 2 > O Luar já visto através de arvoredo, sensivelmente à mesma hora e no mesmo dia.







Foto nº 4 > Uma das muitas fotos de preparação e teste feitos no dia anterior, em 4 de Novembro de 1968



Foto nº 5 > A Lua vista entre o arvoredo, na mesma hora e dia (5 de Novembro de 1968, 10h30)


Foto nº 11 > Foto do arame farpado, com as luzes de presença, e a noite sempre negra e sempre um mistério (São Domingos, 5 de Novembro de 1968)





Foto nº 6 > Depois da sessão exterior, e já com outra máquina e rolo com slides, no quarto, escrevendo o que me veio à cabeça, à minha namorada que fazia 21 anos



Foto nº 7 > Posto de observação e controlo da Pista de São Domingos (c. Janeiro - Fevereiro de 1969).


 
Foto nº 8 > Vista aérea da vila de São Domingos, sede do Batalhão e da Circunscrição local (c. Janeiro-Fevereiro de 1969)



Foto nº 10  > No meu quarto – dos oficiais milicianos – antiga maternidade de S. Domingos, deitado e pensativo. Como estava à civil, estaria à espera da hora do jantar ou talvez num Domingo (s/d)



Foto nº 10A >  Deitado na minha com o retrato da minha namorada na mesa de cabeceira



Foto nº 9 > O meu retrato com farda camuflada, oferecido à minha mãe e à minha namorada. (São Domingos, Novembro de 1968)



Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]



Virgílio Teixeira
CTIG - Guiné 1967/69 - Álbum de Temas:

T511 – MENSAGEM DE PARABÉNS ENVIADA À NAMORADA
ATRAVÉS DA LUA DE ÁFRICA – NO NORTE DA GUINÉ, NUMA NOITE EM SÃO DOMINGOS, A 5 NOVEMBRO 1968





Para a minha mulher e minha companheira, Manuela:

Neste dia há 50 anos atrás, eram 10 e meia da noite, conforme previamente combinado, olhamos os dois para a Lua, e assim te enviei os Parabéns pelo teu 21º Aniversário.

Havias atingido a ‘maioridade’, pois nesse tempo era aos 21 anos e não 18, como hoje.

Foi um momento de grande emoção, pois a distância que nos separava fisicamente, ficou mais curta com a LUA a fazer a ligação.

E hoje, já mais perto, com esta mensagem conseguida pelas novas tecnologias, desejo que tenhas um dia muito feliz, com saúde, alegria, a tua coragem e a força que te move com os teus 71 anos, na companhia daqueles que mais amas no mundo – A Nossa Família.

Estas fotos que são postadas hoje, são os 50 anos que separam essa simbólica efeméride.

Espero que gostes e aprecies.

Um grande beijo com amor, do teu Virgílio

Em 05 Novembro 2018.



I - Anotações e Introdução ao tema:

Não sei se este tema é do agrado de alguns, mas sei que não é de todos, seguramente, nem se é compatível com o objecto deste Blogue.

A origem deste assunto como tantos outros, são fruto da nossa solidão e isolamento duma vivência dita normal. Esta vida lá no extremo profundo da Guiné, não foi fácil para ninguém, qualquer que fosse a função de cada um. Nas várias centenas de dias passados no mesmo local, cada dia com 24 horas, 60 minutos, 60 segundos, é de ficar ‘apanhado pelo clima’.

Assim cada um à sua maneira e segundo as suas posses, ia passando o tempo que sobrava das funções diárias obrigatórias, ora dormindo, ora jogando, bebendo e fumando, pouco mais havia que fazer, depois de escrever a sua carta diária.

Eu virei-me para as fotos, fui-me tornando um viciado e apreciador das fotos, coisa que nunca tinha tido antes, era uma novidade na minha mão.

A minha namorada, que sempre adorou e adora festejar os seus anos e os dos outros, pode ter escrito algo, com a aproximação desta data, estando eu longe dela, mas hoje não sei como surgiu esta ideia.

Combinamos por carta, que no dia 05-11-68 pelas 10 horas e meia da noite, ela estaria a olhar para a Lua na porta da sua casa, a mesma que também nos iluminava a nós, e através desta dava-lhe os parabéns e uma mensagem de amor, claro.

Mas sem dizer nada, eu fui preparando outra surpresa, fui estudando com antecedência, como ficavam as fotos da Lua à noite, com diversos tempos de exposição, mandei revelar e vi mais ou menos como devia fazer no dia certo.

E assim foi, a essa hora, no silêncio da noite, sozinho, com o meu tripé e demais equipamentos, fui tirando as fotos, várias, com diferentes tempos, e assim seleccionei estas, bem como as do dia anterior, em que a Lua estava bem cheia, pois se falhasse no dia seguinte, já tinha outras.

Depois foi só guardar e enviar por correio, as fotos da noite de 5 de Novembro de 1968, captadas em São Domingos, junto à fronteira do Senegal.

São imagens e sentimentos daquela época, claramente de amor, sem pieguices ou lamechas.

II - Legendas das fotos:


F01 – A Lua Cheia fotografada às 10,30 horas da noite do dia 5 de Novembro de 1968. Foto conseguida com recurso ao apoio da Máquina num Tripé, com disparador automático, com cerca de 10 a 15 segundos de abertura total do diafragma e sem flash. Foram feitos vários testes com bastante antecedência para apanhar a melhor Lua e Luar.


F02 – O Luar já visto através de arvoredo, sensivelmente à mesma hora e no mesmo dia. Foto conseguida nas mesmas condições da anterior.

F03 – Olhando para a Lua às 10,30h da noite do dia 05Nov68. O olhar para a Lua com o pensamento na mensagem que estava a transmitir mentalmente à minha namorada.

Foto conseguida com recurso a máquina e tripé, disparador automático, com temporizador de 10 segundos e com flash. Abertura do diafragma quase a meio, e velocidade de fecho de talvez cerca de 5 segundos. Não sei ao certo.

F04 – Uma das muitas fotos de preparação e teste feitos no dia anterior, em 4Nov68. Foto conseguida nas mesmas condições da foto F01.

F05 – A Lua vista entre o arvoredo, na mesma hora e dia da foto F01. SD, 05Nov68.

F06 – Depois da sessão exterior, e já com outra máquina e rolo com slides, no quarto, escrevendo o que me veio à cabeça.  Note-se que cada carta, com envelope e selo pagos, levava sempre várias folhas, e algumas fotografias do meu álbum. Pode ver-se alguns roncos, arcos, flechas, lanças e outras coisas do artesanato local.

Foto conseguida com recurso a máquina e tripé, disparador automático, com temporizador de 10 segundos e com flash. Abertura do diafragma a 16mm, velocidade 1/500.

F07 – Posto de observação e controlo da Pista de São Domingos, entre Jan-Fevereiro de 1969. Para complementar esta reportagem, é a amostra da pista, tempo seco, e o mais usual meio de saída daquela terra, por via aérea. Estava de Oficial de Dia, novamente.

F08 – Vista aérea da vila de São Domingos, sede do Batalhão e da Circunscrição local.

O objectivo é mostrar a principal porta de saída de SD, para a maioria do pessoal, militar e civis, era a via fluvial, o Rio São Domingos e depois o Rio Cacheu, até ao grande estuário em Bissau. A faixa branca mais comprida, é a pista com 1200 metros. Tem uma faixa branca, que vem do centro na direcção do cais e rio. À Direita pode ver-se a serração, à esquerda da rua as moranças da população.

O plano quadrado que se vê mais em cima, são as instalações da Companhia de intervenção, e neste caso era a CART1744, do Capitão Serrão, Alferes Gatinho e outros.

Por entre árvores e poilões, estavam as instalações diversas do aquartelamento e do pessoal. A cerca de 2-3 quilómetros, a Norte era a terra de ninguém e a seguir o Senegal, e os santuários dos terroristas.

F09 – O meu retrato com fardamento a rigor, oferecido à minha mãe e minha namorada. Foto captada em Novembro de 68.

F10 – No meu quarto – dos oficiais milicianos – antiga maternidade de S. Domingos, deitado e pensativo. Como estava à civil, estaria à espera da hora do jantar ou talvez num Domingo.

A minha cama de ferro, com apenas 2 lençóis brancos. Uma luz fraca, num pequeno candeeiro de mola agarrado às barras de ferro, para poder ler e escrever sem incomodar os outros parceiros de quarto. A mesa-de-cabeceira de madeira, não sei como a arranjei, talvez mandasse fazer na serração. Um dia quando abri as gavetas onde tinha papelada e livros, sai uma grande molhada de baratas, escondidas entre os papéis, que deu comigo em doido, depois mandei fazer uma desinfestação total ao quarto, e já não apareciam muitas.

Em cima da mesa, sempre a moldura que levei comigo com a fotografia da minha então namorada, que nunca deixou de estar junto de mim. Ao lado um frasco de comprimidos, parecem da marca ‘Roche’, devem ser antibióticos, ou comprimidos para dormir. Ao lado o meu desodorizante da minha marca preferida em tudo, a saudosa ‘Old Spice’. E também a minha pasta com o caderno de folhas finas, das minhas cartas, para enviar por avião.

No chão uma ‘esteira’ a servir de tapete, era um luxo. Ainda se vê no chão a minha inseparável lanterna, para sair à noite, nunca a deixava. Várias pilhas velhas espalhadas pelo chão. Botas da tropa e sapatos, bem como os primeiros chinelos de pé ‘havaianas’. Hoje não percebo como toda a gente, a população local, usava já este tipo de chinelos que depois foram baptizados por havaianas. Bem como uma das minhas 3 ventoinhas, por vezes ligava-as todas durante a noite e trabalhavam se e quando havia energia.

Nas paredes alguns roncos do artesanato local, não tudo o que tinha. Só não vejo aqui a minha arma que estava sempre na cabeceira da cama. E falta a máquina fotográfica, que está com outro camarada a tirar a foto, ou no tripé, sendo isto já uma espécie de ‘self’.

A foto, tendo em vista o meu bigode e o fim da carecada, pode ter sido captada entre fins de 1968 e inícios de 1969, não sei ao certo.

F11 – Uma foto do arame farpado, com as luzes de presença, e a noite sempre negra e sempre um mistério.

É uma foto na sequência das outras de 05-11-68.

«Propriedade, Autoria, Reserva e Direitos, de Virgílio Teixeira, Ex-alferes Miliciano do SAM – Chefe do Conselho Administrativo do BATCAÇ1933/RI15/Tomar, Guiné 67/69, Nova Lamego, Bissau e São Domingos, de 21SET67 a 04AGO69».

NOTA FINAL DO AUTOR:

# As legendas das fotos em cada um dos Temas dos meus álbuns, não são factos cientificamente históricos, por isso podem conter inexactidões, omissões e erros, até grosseiros. Podem ocorrer datas não coincidentes com cada foto, motivos descritos não exactos, locais indicados diferentes do real, acontecimentos e factos não totalmente certos, e outros lapsos não premeditados. Os relatos estão a ser feitos, 50 anos depois dos acontecimentos, com material esquecido no baú das memórias passadas, e o autor baseia-se essencialmente na sua ainda razoável capacidade de memória, em especial a memória visual, mas também com recurso a outras ajudas como a História da Unidade do seu Batalhão, e demais documentos escritos em seu poder. Estas fotos são legendadas de acordo com aquilo que sei, ou julgo que sei, daquilo que presenciei com os meus olhos, e as minhas opiniões, longe de serem ‘Juízos de Valor’ são o meu olhar sobre os acontecimentos, e a forma peculiar de me exprimir. Nada mais. #

Acabadas de legendar, hoje,

Em, 2018-10-22

Virgílio Teixeira
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Nota do editor:

Último poste da série > 24 de outubro de 2018 > Guiné 61/74 - P19132: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XLVIII: Metralhadoras e lança-granadas

4 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Meu caro Virgíio, quem disse que não havia lugar para o romantismo no TO da Guiné ? E, agora, 50 anos depois, no nosso blogue ?...

Acho bonita a tua ideia de, usando o teu álbum de fotografias e o nosso blogue, homenageares a tua namorada de ontem e esposa de hoje, companheira de uma vida, mãe dos teus filhos e avó dos teus netos, que faz hoje 71 aninhos...

Deixa-me dar-lhe também os parabéns pelo seu aniversário. É uma menina da colheita de 1947, como eu, e já tive o prazer, eu e a Alice, de a conhecer pessoalmente (, a ela e a ti) na Tabanca de Matosinhos.

Muita saúde e longa vida para a Manuela e o Virgílio. Enquanto editor do blogue, estou-lhes grato pelo seu exemplo inspirador. Ao fim e ao cabo, por é que nós, sexagenérios e septuagenários, camaradas e amigos da Guiné, reunidos à volta do simbólico, protetor e fraterno poilão da nossa Tabanca Grande náo haveremos também de continuar a ser românticos e a "saber falar com a lua" tal como nos nossos verdes anos ?

Um grande dia, Manuela, com aqueles que adoras!... Lourinhã, 5/11/2018, Luís (e Alice)

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Até à reforma do Código Civil (1977), a maioridade civil em Portugal era de 21 anos... Hoje os 18 anos é a idade legal para um homem ou uma mulher poder fumar, beber, votar, conduzir... E 14 anos para ter relações sexuais (com menorres até 17 anos)...

Já agora, com a reforma de 1977 do Código Civil de 1966, as relações na família modificaram-se, consagrando-se o princípio da igualdade entre conuges, por exemplo... É oportuno relembrar isso, a propósito deste poste...

Valdemar Silva disse...

Luís
A propósito da igualdade entre cônjuges, ou desigualdade, lembro-me que em 1965 uma mulher casada, mas separada do marido, ao comprar um automóvel, o marido tinha que assinar a declaração de compra para o carro ficar em nome dela.
Já não falando na caricata situação de uma mulher casada ter de apresentar uma autorização do marido, para ir comprar caramelos a Badajoz.

Valdemar Queiroz

Anónimo disse...

Obrigado Luís pelas oportunas palavras e comentários.
Correu tudo bem, após o jantar aqui num restaurante da cidade, viemos todos para casa para o bolo, as velas, os parabéns o espumante, e às 10 e meia da noite, foi colocado na TV pelo meu filho - interrompido o Prós e Contras - através do Telemóvel, e junto de toda a familia, foi projectado o Poste, que foi lido e explicado por mim, que a maioria desconhecia. E todos gostaram, felizmente.
Pequenas coisas que se fazem sem custos financeiros.
Boa noite,
Ab, Virgilio