sexta-feira, 9 de novembro de 2018

Guiné 61/74 - P19177: Notas de leitura (1118): O último livro do nosso camarada António Graça de Abreu, um viajante compulsivo e um escritor multifacetado: "Notícias (extravagantes) de uma volta ao mundo em 98 dias" (Lisboa, Nova Vega, 2018, 126 pp.) (Luís Graça)



Capa e contracapa do último livro do nosso camarada e grã-tabanqueiro António Graça de Abreu, "Notícias (extravagantes) de uma volta ao mundo em 98 dias" (Lisboa: Nova Vega, 2018, 126 pp, il.)



Dedicatória do autor, com admiração e amizade,  à Alice e Luís, "meus bons e velhos amigos desde as viagens estranhas pela Guiné e pelo nosso mundo"... Datado de Estoril, out 2018.






Índice da obra



Um dos cerca de meia centenas de poemas (bizarros) dedicados aos topónimos por onde passou este cruzeiro da volta ao mundo. Neste caso, a Goa, na Índia (pp.122/123)


Fotos (e legendas): © António Graça de Abreu (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. O nosso  prezado camarada António Graça de Abreu não precisa de apresentação... Mas relembre-se  aqui alguns tópicos da sua história de vida:

(i) nasceu no Porto, em 1947; escritor, poeta, sinólogo,  com mais de duas dezenas de livros publicados, professor universitário; licenciou-se em Filologia Germânica e é Mestre em História pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa;

(ii) foi alf mil SGE, CAOP 1 (Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74);  e da sua experiência militar escreveu um pessoalíssimo e original Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura (Lisboa: Guerra e Paz, Editores, 2007), de que já publicámos inúmeros
excertos no nosso blogue;

(iii) entre 1977 e 1983 leccionou Língua e Cultura Portuguesa nas Universidades de Pequim e Shanghai;

(iv)  é casado com a médica chinesa Hai Yuan, natural de Xangai, e tem dois filhos, João e Pedro;

(v) é membro sénior da nossa Tabanca Grande, e ativo colaborador do nosso blogue com mais de 220 referências;

(vi) vive no Estoril, concelho de Cascais, Portugal, quando... não está em viagem, de lazer ou de trabalho.

Dele se pode dizer que é um viajante "compulsivo", como ele proprio o reconhece: "Com sete décadas de complexa vida, tive a sorte de viver quase nove anos fora de Portugal, derramando-me por quatro continentes. Sou dono de coisa nenhuma, mas o mundo não me é estranho." (*)...

Mas é também um escritor, um grande escritor, de múltiplos talentos e géneros, e de férrea disciplina, atento ao passado, ao presente e ao futuro dos lugares por onde viaja ou onde vive(u) e das gentes com quem interage (ou interagiu).

2. Reuniu agora em livro o seu diário da volta ao mundo...em 98 dias. Tivemos o privilégio de publicar, em primeira mão, o seu "manuscrito", incluindo muitas das fotos que foi tirando. Para o livro, ele selecionou 60, parte das quais podem ser apreciadas no nosso blogue, na série "Notícias (extravagantes) de uma Volta ao Mundo em 100 dias (António Graça de Abreu)".

Publicámos 40 postes da série num espaço de mais de ano e meio, entre fevereiro de 2017 (*) e outubro de 2018 (**).

Recorde-se que, neste cruzeiro à volta do mundo, o nosso camarada e a sua esposa partiram do porto de Barcelona em 1 de setembro de 2016. Durante três meses e 8 dias [, o que,  nas nossas contas, perfaz 100 dias e não 98], a casa do casal vai ser o gigantesco  navio italiano "Costa Luminosa", com quase três centenas de metros de comprimento e mais de 90 mil toneladas.

Oficialmente o cruzeiro foi  de 98 dias, contados a partir de 2 de setembro de 2016 (partida do porto de Savona, Itália) até 9 de dezembro desse ano, com a chegada  ao ponto de partida.  O António e a esposa ficaram, no dia anterior, em Civitavecchia, que é o porto de Roma, e aqui  apanharam o avião para Lisboa.

(...) Amanhã [, 9 de dezembro de 2016,] o Costa conclui a jornada de volta ao mundo, segue de Civitavecchia para Savona, pedaços de mar Mediterrâneo que conhece de cór. Depois, um avião para Lisboa e regressaremos a casa, ao dulcíssimo lar. Foram três meses e oito dias de viagem por oceanos infindos, terras de todos os assombros e magias. Começo a ter saudades da ditosa pátria, do conforto da minha casa, de respirar Portugal. (...)

De qualquer modo, tomámos a iniciativa de arredondar o nº de dias para 100. Adoramos os números redondos, e 100 é muito mais fascinante do que 98... E 1001 mais sugestivo do que 1000... Em euros, esta vaigem de uma vida deve ter ficado, para o casal, em mais de 30 mil. Recorde-se que um camarote, exterior, com varanda, custava mais 5 mil euros.  Convenhamos que não era um cruzeiro para todas as bolsas...

Curiosamente, no seu diário, o autor não usa datas... Nem no livro, com pena nossa, há um gráfcio com a rota do navio e as diversas escalas, com as respetivas datas.. Tivemos que recuperar as datas a partir fotos inseridas no "manuscrito" (que nos chegou às mãos em formato pdf) bem como das referências, nas crónicas, relativamente à duração, em dias, das viagens, entre uma escala e outra, num total de 34 escalas.

Foi-nos possível assim saber que, ao fim de três semanas , depois de cruzar do Mediterrâneo e atravessar o Atlântico, o navio já estava no Oceano Pacífico, na Costa Rica (21/9/2016) e na Guatemala (24/9/2017), e depois no México (26/9/2017). O "Costa Luminosa" chega aos EUA, à costa da Califórnia: San Diego e San Pedro (30/9/2016), Long Beach (1/10/2016), Los Angeles (30/9/2016) e São Francisco (3/4/10/2017); no dia 9, está em Honolulu, Hawai, território norte-americano; navega agora em pleno Oceano Pacífico, a caminho da Polinésia, onde há algumas das mais belas ilhas do mundo.

Um mês e meio do início do cruzeiro, o "Costa Luminosa" atraca no porto de Pago Pago, capital da Samoa Americana, ilha de Tutuila, Polinésia, em 15/10/2016; seguem-se depois as ilhas Tonga; visita a Auckland, Nova Zelândia, em 20/10/2016; volta pela Austrália: Sidney, a capital, e as Montanhas Azuis (24-26 de outubro de 2016).

O navio  chega, pela manhã de 29/10/2016, à cidade de Melbourne, Austrália; visita à Austrália Ocidental, enquanto o navio segue depois para Singapura; o Graça de Abreu e a esposa alugam um carro e percorrem grande parte da costa seguindo depois em 8 de novembro, de avião para Singapura, e voltando a "apanhar" o seu barco do amor...

De 8 a 10 de novembro, o casal está de visita a Singapura, seguindo depois o cruzeiro para Kuala Lumpur, Malásia (11 de novembro); Phuket, Tailândia (12-13 de novembro); Colombo, capital do Sri Lanka ou Ceilão ou Trapobana (segundo os "Lusíadas", de Luís de Camões. I, 1), em 15-16 de novembro. de 2016;

Na última parte da viagem, Graça de Abreu e a esposa estão, a 17 de novembro de 2016, em Cochim, na Índia, e descobrem a cada passo vestígios da presença portuguesa; a 18, visitam  Goa, seguindo depois para Bombaím (20 e 21 de novembro de 2016).

Com 2 meses e 20 dias, depois da Índia, os nossos viajantes estão no Dubai, Emiratos Árabes Unidos, passando por Muscat, e Salah, dois sultanatos de Omã, em datas que já não podemos precisar (, as fotos deixam de ter data e hora...), de qualquer modo já estamos em finais de novembro /  princípios de dezembro de 2016. É tempo ainda para visitar Petra, na Jordânia, e atravessar os 170 km do canal do Suez (Egito), antes de o "Costa Luminosa" entrar no Mediterrâneo, com a viagem a terminar em Civitavecchia, porto de Roma, para o casal Abreu, e em Savona, para os restantes passageiros...  (Por lapso, no último poste indicámos o final de dezembro de 2016 como terminus da viagem; hoje sabemos que o cruzeiro de volta ao mundo terminou em Savona, no dia 9 de dezembro). (**)

O livro, de 126 pp. (fora as inumeradas, com um total de 60 fotos), é enriquecido, na última parte, com um conjunto de pequenos poemas ("bizarros", chama-lhes o autor), relativos aos principais lugares visitados nesta algo insólita viagem de volta ao mundo: ver, acima, um excerto com um belíssimo poema dedicado a Goa. Da página de citações,  a seguir ao índice (ver acima), destaco duas de que gostei muito especialmente:

(i) O bom viajante não sabe para onde vai, o viajante perfeito não sabe de onde vem (Lin Yutang, 1883-1976);

(ii) Sou o descendente infeliz de uma raça heróica e absurda, que senhoreou o mundo, e anda agora por ele a cabo a matar saudades (Miguel Torga, 1907-1995).

O nosso editor agradece a gentileza do envio, pelo correio, de um  exemplar autografado. (***)
__________

Nota do editor:

(*) Vd. poste de 25 de fevereiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17082: Notícias (extravagantes) de uma Volta ao Mundo em 100 dias (António Graça de Abreu) - Parte I: "O bom viajante não sabe para onde vai, o viajante perfeito não sabe de onde vem" (Lin Yutang 1895-1976)

(**) Vd. poste de  20 de outubro de 2018 > Guiné 61/74 - P19121: Notícias (extravagantes) de uma Volta ao Mundo em 100 dias (António Graça de Abreu) - XL (e última) Parte: Canal do Suez, Roma e regresso ... "A vida é o que fazemos dela, / As viagens são os viajantes. / O que vemos não é o que vemos / Senão o que somos" (Bernardo Soares / Fernando Pessoa)

(***) Último poste da série > 5 de novembro de  2018   Guiné 61/74 - P19169: Notas de leitura (1117): “Racismo em português, o lado esquecido do colonialismo”, por Joana Gorjão Henriques; Tinta-da-China, 2016 (Mário Beja Santos)

3 comentários:

Hélder Valério disse...

Caro António

As minhas felicitações pela iniciativa de passares a livro o relato e as impressões dessa tua irrepetível viagem.

Naturalmente que acompanhei o que foste enviando e/ou foi publicado aqui no Blogue e, naturalmente, também te agradeço por o teres feito já que, embora esses relatos, estes teus como os do Beja Santos, não sejam exactamente "histórias da Guiné", eles me permitam "ver" e até "sentir" locais, paisagens, gentes, etc., que não tive, não tenho e não se me afigura possível ter possibilidade de usufruir "ao vivo".

Por mim, fico agradecido e felicito-te pelo livro.

Abraço
Hélder Sousa

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Hélder, no teu comentários fazes-te eco de observações e comentários de alguns dos nossos leitores para quem o nosso blogue deveria ser um repositório, "puro e duro", de memórias exclusivamente da Guiné, referentes à guerra e ao período de 1961/74...

Como eu tenho dito, é impossível delimitar o tempo e o espaço das nossas memórias...Porque elas são um rio caudaloso e tal como os rios em África não têm muitas vezes margens definidas nem definitivas...E depois há o que está a montante e a jusante... E é muito, muita coisa, muita gente, muitos lugares... Daí a existência de tantas séries que não têm propriamente a "ver com" a guerra, a Guiné: por exemplo, "historiografia da presença portuguesa em África"!... Ou as "Notas de leitura"... Ou a "Agenda cultural" ou a "Blogopoesia" ou ainda "Os nossos seres saberes e lazeres"...

É impossível, ao fim destes anos, e já lá vão 15 (a fazer no dia 23 de abril de 2019), estarmos permanente e exclusivamemte focados na guerra da Guiné... Felizmente que "temos mais vida"... E é nessa medida que eu saúdo o aparecimento de séries como as "Notícias (extravagantes) de uma volta ao mundo em 100 dias"... Como aprecio muitas das "notas de leitura" que se publicam no blogue...

Pena é que não haja mais malta a escrever... Mas podemos orgulhar-nos de um facto: o nosso blogue já pôs dezenas e dezenas de camaradas a escrever, e muitos deles já publicaram livros!

Estamos a perder leitores ? Não me parece, até ao fim do ano vamos atingir os 11 milhões de visualizações de páginas... E eu vou apresentar, ainda este fim de semana, o grã tabanqueiro nº 780...o ex-alferes miliciano Fernando de Sousa Ribeiro, que esteve... em Angola na CCAÇ 3535 / BCaç 3880

Escreveuo seguinte na sequêmncia do meu convite:

(...) "Caro Luis Graça,

Sinto-me muito honrado com o convite que me dirigiste para me sentar à sombra do vosso poilão virtual. Sou realmente um assinante do teu blog, através da feed RSS correspondente. Sempre que algum novo post é publicado, recebo um aviso através de um site próprio onde tenho conta gratuita.

O teu blog é um monumento. É de certeza absoluta o maior acervo que existe, na internet e fora dela, sobre a guerra na Guiné. Está lá tudo, ou pelo menos assim parece. Não existe, para a guerra em Angola e em Moçambique nada que se lhe compare. Absolutamente nada. Zero vírgula zero zero zero. Neste aspeto, os antigos combatentes em Angola e Moçambique têm que se contentar com a pobreza franciscana dos grupos no Facebook, dos quais nem sequer sou membro (menos de um, porque se refere, pelo menos teoricamente, à zona onde eu estive), além do do meu batalhão. Tu e os camaradas que te acompanham nessa tarefa merecem, no mínimo, um reconhecimento público.

Aceito, portanto, com todo o prazer o convite que me dirigiste, apesar de não ter praticamente nada para dizer sobre a Guiné. Mas como também aparecem posts que falam sobre o Hawai e sobre a Tailândia" (...)



antonio graça de abreu disse...

Meu caro Luís Graça

Muito obrigado Luís Graça, por me continuares a conceder a importância que talvez eu não mereça. Depois da Guiné - guerra sempre dentro de nós --, a vida continuou. Tenho tido a sorte de cirandar, de me esparramar pela vastidão do mundo e de dar testemunho. Estamos vivos, actuantes, com uma guerra atrás, uma vasta experiência de permeio, agora com um futuro inevitavelmente curto à nossa frente.
Duas correçcões. Fui asp. of. mil. atirador de infantaria, especialidade impecavelmente tirada nos três meses de especialidade na EPI, Mafra, 1971. Depois, como tal, com um curso de minas e armadilhas, em Tancos, fui mobilizado para a Guiné, futuro alferes na companhia 3460, que teria como destino o Cacheu, onde esses homens, por bem, com alguma sorte, cumpriram uma quase pacífica missão.
Fui reclassificado em Serviço de Pessoal,(e não SGE) e desmobilizado graças a uma recente luxação crómio-clavicular que me desengonçou, de verdade, o ombro direito. Quase me convenci,ideologicamente com convicções meio Partido Comunista Português,
que já não ia para a Guerra. Com 22 meses de tropa fui de novo mobilizado, para a Guiné. A PIDE estava atenta à minha humilde pessoa. O meu processo da Pide, existente na Torre do Tombo é exemplar da forma como me conheciam, como mexeram os cordelinhos para que um alferes de Serviço de Pessoal fosse bater com os costados, como oficial da pequena logística, a um comando de operações, na Guiné 1972, com o coronel pára-quedista Rafael Ferreira Durão, a 35ª e a 38º de Comandos, mais os páras das CCP 121,122 e 123, e os fuzos DF 12, 72-74,em Teixeira Pinto, Cacheu e Mansoa, Cufar.
Tenho publicado um Diário da Guiné, com os meus testemunhos factuais, escritos então, em cima do correr dos dias, durante os meus quase dois anos de Guerra.Está lá tudo.
O meu Diário da Guiné jamais foi objecto, neste blogue,de uma simples recensão literário por parte do recensor-mor e crítico literário Mário Beja Santos. Mas curiosamente este nosso sinuoso camarada debruça-se sobre o meu insignificante (?)livrinho, assim meio às escondidas,no seu trabalho Adeus, até ao Meu Regresso.
Quando é que o MBSantos tem coragem de publicar neste blogue a sua recensão a meu Diário da Guiné?
Tenho mais que fazer e que entender do que falar do MBS.
98 dias é um excelente número em chinês, 8 é abundância, dinheiro, prazeres,e 9 é longevidade, muitos anos de vida. Por tudo isto, 98 dias de volta ao mundo é mais do que excelente.

Abraço,

António Graça de Abreu