sábado, 5 de janeiro de 2019

Guiné 61/74 - P19368: Os nossos seres, saberes e lazeres (301): Viagem à Holanda acima das águas (6) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 4 de Outubro de 2018:

Queridos amigos,
É uma despedida nostálgica, houvesse meios, e voltava no dia seguinte, é um quase absurdo comprimir num dia de visita a contemplação de arte tão bela, em pintura, em escultura, em desenho, com ambiente de jardins soberbo, a serenidade total, a possibilidade de entrar e sair, ver esculturas de Barbara Hepworth e reentrar no museu para ver Van Gogh, Corot, Fantin-Latour, Millet, Renoir, Gauguin, Picasso ou Mondriaan.
A fatia de leão cabe a Van Gogh. Mas é consabido que a viagem nunca acaba, o que acaba são os viajantes, e se tudo é assim tão belo, se está tão firmada a vontade de voltar, é tudo uma questão de criar uma nova viagem, seguramente que se irá ver com outros olhos aquela beleza que tanto nos encadeou.

Um abraço do
Mário


Viagem à Holanda acima das águas (6) 

Beja Santos 

O Museu Kröller-Müller tinha patente uma exposição intitulada “Odillon Redon, a literatura e a música”, um amplo olhar sobre a extensa obra deste artista francês (1840-1916), nas interseções da literatura e da música na vida e obras de Redon. Extensa obra: no pastel, no desenho, na pintura e na litografia. Desde a juventude, entusiasmou-se pela música, aprendeu violino e piano enquanto desenvolvia uma verdadeira paixão pela literatura. Fez amizades com numerosos escritores e compositores. No seu modo de pensar, a música, os assuntos literários e a arte plástica formavam um todo indissociável. Daí a singularidade reconhecida a Odillon Redon pela maneira como combinava estas forças expressivas na sua obra.

“O Ciclope”, 1914.

“A arte celeste”, 1894.

O motivo das suas obras decorre de fontes literárias e musicais, é um extensíssimo arco que vai da Antiguidade até Richard Wagner: Pégaso, o cavalo alado, passando por Salomé e Brünnhilde, de Orfeu a Ofélia. Redon reutiliza incessantemente estes motivos, fá-los mudar de aparência e dá-lhes novos significados, como se fossem variações sobre o mesmo tema num trecho musical.



Na exposição do Museu Kröller-Müller, releva-se o desempenho de Redon tanto como escritor como ilustrador, podem-se observar séries litográficas que ele realizou para acompanhar os textos de escritores que ele profundamente admirou, caso de Gustave Flaubert, Edgar Allan Poe e Charles Baudelaire. Ele associa igualmente as suas litografias aos seus próprios textos para criar poemas visuais e textuais – palavra e imagem formam um todo.





A exposição é composta por quase 170 peças provenientes de uma coleção privada, de obras de Redon do Museu Kröller-Müller e de outras obras emprestadas de diferentes coleções. A literatura e a música revelam assim um grande leque e uma grande variedade de temas inéditos na obra de Redon, desde as suas poderosas litografias a branco e preto à técnica do pastel luminoso e colorido. Grande oportunidade para conhecer este mundo de imaginação e de fantasia, a marca de água de Odillon Redon.



Quando começou a II Guerra Mundial, Barbara Hepworth deixou Londres e instalou-se na Cornualha, mais propriamente em St Ives, mudança que teve uma influência determinante na evolução da sua obra. A paisagem da Cornualha iria ser uma fonte de inspiração inesgotável: formas de conchas, pedras, colinas, novas simbioses entre as formas e os fenómenos da Natureza. Ela mesmo confessou que este contacto lhe deu uma confiança na indestrutibilidade das forças positivas. Numa obra autobiográfica, escreveu: “Não existe paisagem sem figura humana: é-me impossível sonhar com a Pré-História em abstracto. Sem a relação do Homem e a sua Terra, a imagem mental torna-se um pesadelo. Uma escultura poderá ser colocada num vazio; mas não se passa nada antes que o homem vivo nela reencontre a sua imagem”.
O viandante está feliz, Barbara Hepworth que há muito é a sua escultora preferida, um espelho do mundo em pedra, em madeira, em metal.
Amanhã, o dia começa com um passeio pelo Reno, viagem pelos pólderes, ver moinhos, um pouco da Holanda submersa intercalando com a imersa. É muito belo, a luta constante entre o homem e a água, para que a terra seja fértil, como é.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 29 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19344: Os nossos seres, saberes e lazeres (300): Viagem à Holanda acima das águas (5) (Mário Beja Santos)

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