domingo, 30 de dezembro de 2018

Guiné 61/74 - P19346: Blogpoesia (600): "Horas serenas...", "Adro de areia" e "Ventania e tempestade", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Horas serenas...

Horas serenas deste Domingo frio de Dezembro.
Um bar quentinho, repleto de famintos.
São motocas vivos em digressão.
Aqui páram. Dão ao dente, como leões.
Saboreiam viver. Em fraternidade.

Há sorrisos e gargalhadas.
As mesas cheias.
Há chilreios da pequenada.
Dá gosto vê-los.
Não sou um deles.
Minha origem é outra.
Àparte a língua,
Nos acolhem bem.

Olho lá fora.
Aquele céu cinzento,
Quase gelado.
O que ele esconde.
Do que passou,
Há dezenas de anos,
Ainda cheira a pólvora.
Tantas tragédias
Que o tempo apagou.
Só ele o sabe...

Bar dos Motocas, arredores de Berlim, Potsdam
16 de Dezembro de 2018,
11h10m
JLMG

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Adro de areia

Uma ermida de pedra,

com adro de areia, na borda do mar,
Nasce e morre ao tom das marés.

Lá mora o Senhor, realeza do mar.
Recebe quem vem, de barco ou a pé.

Serve o que tem e não cobra vintém.
Chora e ri conforme o que vê.
Por vezes, se zanga com quem promete e não vem.

Habituei-me a vê-lO, quando vou de comboio.
Digo-Lhe adeus, até outra vez.
É o Senhor em cima da pedra,

às vezes, adro de areia, no meio do mar...

Berlim, 17 de Dezembro de 2018
13h12m
Jlmg

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Ventania e tempestade

Sopra a ventania sobre os telhados e as colinas da cidade.
Chove impiedosamente.
Parece o fim do mundo.
Não há guarda-chuva que resista.

As aves recolhidas nos seus ninhos,
Aguardam orando venha depressa, de novo, a calma.
Têm fome os seus filhotes.

O Tejo ruge em fúria, contra os cascos das embarcações, ameaçando-lhes a integridade.

De ambos os lados, se acumularam multidões de gente que quer voltar à sua vida de trabalho.

Inclemente, o vento uiva contra os mastros e postes da iluminação.

Raios fulgurantes de trovões rasgam o céu, amedrontando os mais arrojados e indiferentes.
Já há quem reze, em surdina, à Santa Bárbara...

Ouvindo Carlos Paredes
Berlim, 9h23m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 16 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19297: Blogpoesia (599): "Esquecidos no mundo", "Escuro de breu..." e "Nevoeiro de Lisboa", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

2 comentários:

Adriano Miranda Lima disse...

Belos poemas que li com deleite literário. Felicito o seu autor.

Que todos os tabanqueiros entrem no 2019 de boa saúde e em paz.

Joaquim Luís Mendes Gomes disse...

Obrigado, Adriano Lima. Também te desejo um novo ano de muita saúde e feliz.

Abraço.