domingo, 12 de maio de 2019

Guiné 61/74 - P19778: Blogpoesia (619): "Princesa do mar", "Deserto da existência..." e "Fogão de ferro a lenha", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados, entre outros, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Princesa do mar

Albas vestes lhe escorrem desde os ombros.
Fulgente diadema lhe coroa a cabeça iluminada.
Infindável coro celeste lhe entoa incessante seu hino de glória.
Sentada no seu trono alvinitente.
Rainha-mãe da noite da opulência.

Acompanha de longe as almas sonhadoras.
Dá a volta ao mundo até que nasça o sol e se faça o dia.
Mas nunca abandona o céu donde contempla o mar azul que, logo, vestirá de prata.

Berlim, 12 de Maio de 2019
12h47m
Jlmg

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Deserto da existência...

Sem ligação do homem ao Criador, a vida se torna num deserto.
Falta a água e a verdura da esperança.
Secam as fontes puras da justiça e da paz.
Desabam todos os sonhos no mar do desespero.
Fica-se escravo do dinheiro e do prazer a todo o preço.
Vai-se a graça da harmonia.
Chovem tempestades de sofrimento.
Secam todos os rios da amizade entre os homens.
Tolda-se de negro o horizonte
E, não há mais remédio para viver.

Só com a religação do homem a Quem lhe deu o ser, voltará a brilhar de novo o dom privilegiado da existência.
Tudo voltará a ser verdejante e a terra um mar de vida.

Ouvindo Death in Venice Full Album
Berlim, 10 de Maio de 2019
6h55m - dia fosco
Jlmg

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Fogão de ferro a lenha

Vi-o crescer, desde as chapas em folha, que o tio Tónio serralheiro talhou.
Com fornalha e caldeira.
Quatro discos em ferro.
Tapando o fogo.

Encomenda sonhada de minha Mãe.
Vi-a chegar, luzente e perfeito, cheirando a novo.
Foi uma festa.
Regada de vinho.

Em vez da lareira em pedra.
Onde ardiam cavacos,
bramindo lufadas de fumo, por debaixo da trempe.

Regalo e aconchego nas noites frias de Inverno.

Acabou-se a desculpa.
Cabrito assado, loiras batatas e arroz na caçoila.
Tudo ao alcance da Mãe.
Enquanto, em cima, na panela pesada,
se cozem as couves, com azeite e chouriço.
E, sentado no chão, com a lousa da escola, nas noites de inverno, se fazia os deveres que a professora mandou.

Berlim, 8 de Maio de 2019
9h42m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 5 de maio de 2019 > Guiné 61/74 - P19747: Blogpoesia (618): "Extermínio das civilizações", "A voz do pensamento" e "Guardo para mim...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

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