domingo, 5 de maio de 2019

Guiné 61/74 - P19747: Blogpoesia (618): "Extermínio das civilizações", "A voz do pensamento" e "Guardo para mim...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados, entre outros, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Extermínio das civilizações

Percorrendo-se a história das civilizações e como desapareceram, desde a antiguidade, há um denominador comum que caracteriza a hora do seu extermínio.

O seu percurso é análogo.
Nascem da mesma forma, como ser vivo a aprender as leis da vida.
Na posse delas, se organizam, crescem e medram.
Atingem a maioridade. A idade adulta.
E, em todas, no remanso da abundância e facilidades, se dá o desvirtuamento dos costumes.
Perde-se o equilíbrio e se opera a inversão dos valores.
A irracionalidade se instala e fica dominante.
Impera a desordem. Se abatem os valores estruturais.
Vem a depravação.
Em pouco tempo, a inversão lhe dita a morte por decomposição.
Aprova-se o aborto, por mera comodidade. Espalha-se, como uma erva daninha, a teoria abominável da lei do género.

Depois, o desfecho inevitável do fim das civilizações modernas...

Berlim, 4 de Maio de 2019
20h57m
Jlmg

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A voz do pensamento

Recolhido nas suas cogitações,

Um dia, começou a ensaiar os primeiros tons.
Do grave para o agudo.
Fez fracções com harmonia.
Cantarolou com gosto.
Quis expressá-los.

Como?
Encheu o peito de ar.
Soprou a voz.
Ouviu gemidos.
Soluçou ais e uis.
Achou bonito.

Afinou a voz e soltou a primeira melodia que lhe ditou o coração.
Depois, pensou.

Como seria bom rabiscar no chão, de modo que o mundo entenda.
Tanto tempo passou. E, nada.

Ainda hoje anda à procura.

Não desistiu.
Talvez, um dia.

Nem de fala nem de escrita.
Tudo dê, por telepatia.
Oxalá eu veja!...

Berlim, 30 de Abril de 2019
10h51m
Jlmg

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Guardo para mim...

A quem me hei-de queixar,

senão à Natureza que me fez assim?
Como uma poalha voo ao deus-dará,

conforme as vagas que este mundo varre.
Não adianta. Me enquisto na minha concha e vogo.

Umas vezes, é o suão quente e seco que me encarquilha a pele.
Outras, o vento norte que me regela os ossos.

Bendigo a hora em que rompe a Primavera.
Tudo floresce. Uma verdadeira aurora.
Depois, chega o Verão.
Pendem ridentes os cachos de uvas gordas.
Se enchem as pipas das adegas e os celeiros, pelo São Miguel.
Me consolo com uma caneca do vinho mosto que me faz bigodes.

Depois das vindimas, fervem os alambiques com a cachaça fresca.
Só com o cheiro acre, fico sonhando tonto.
Assim decorre e bem a marcha acelerada da minha vida...

Berlim, 28 de Abril de 2019
12h39m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 28 de abril de 2019 > Guiné 61/74 - P19724: Blogpoesia (617): "O casal de esquilitos", "Meu pensamento" e "As fontes de prazer", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

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