domingo, 25 de agosto de 2019

Guiné 61/74 - P20094: Dignidade e Ignomínia (Episódios do Meu Serviço Militar) (Fernando de Sousa Ribeiro, CCAÇ 3535, Angola, 1972/74) - Parte III: O respeito pelos homens que comandei (pp. 27-32)


Évora > Fachada do quartel do antigo Regimento de Infantaria 16, atual sede do Comando da Instrução e Doutrina do Exército


Campo Militar de Santa Margarida >  Tem cerca de quatro quilómetros de comprimento. O Batalhão de Caçadores 3880 esteve aquartelado muito aproximadamente a meio deste complexo militar



Angola > Ao centro, o capitão miliciano de infantaria João Manuel de Morais Lamas de Mendonça e Silva, que comandou a CCaç 3535 até à primeira quinzena de janeiro de 1973. Foi substituído pelo cap  mil inf José António Pouille Nobre Antunes. O cap mil inf Mendonça e Silva ingressou no QP e está hoje reformado como coronel de infantaria.


Fotos (e legendas) : © Fernando de Sousa Ribeiro (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Fernando de Sousa Ribeiro:

(i) ex-alf mil at inf, CCAÇ 3535 / BCAÇ 3880 ( Zemba e Ponte do Zádi, Angola, 1972/74);

(ii) é membro da Tabanca Grande desde 11 de novembro de 2018, com o nº 780;

(iii) licenciado em Engenharia Electrotécnica pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto;

(iv) está reformado;

(v) vive no Porto;

(vi) também gosta de Lisboa onde viveu e trabalhou;

(vii) tem página no Facebook.

(viii) a CCAÇ 3535 foi mobilizada pelo RI 16, partiu para Angola em 13/6/1972 e regressou em 28/8/1974: esteve em Zemba, P. R. Zádi. Comandantes: cap mil inf José Manuel de Morais Lamas Mendonça e Silva, e cap mil inf José António Pouille Nobre Antunes.

(ix) pertencia ao BCAÇ 3880, sediado em Zemba e Maquela e comandado pelo ten cor inf Armando Duarte de Azevedo. As outras duas subunidades eram a CCAÇ 3536 (Cambamba, Fazenda Costa) e a CCAÇ 3537 (Mucondo, Béu);

(x) o ficheiro, em formato, que estamos a publicar, tem 165 pp, imagens incluídas.


Dignidade e Ignomínia (Episódios do Meu Serviço Militar)(*)


por Fernando de Sousa Ribeiro



O RESPEITO PELOS HOMENS QUE COMANDEI (pp. 27-32)


O texto que se segue não é a história da minha vida militar, embora pareça. Ele é, isso sim, a explicação para o imenso respeito que me merecem os homens que tive o privilégio único de comandar. Homens que, no princípio, pareciam ser uma cambada de básicos irrecuperáveis, que ninguém quis e que eram considerados a escória da companhia, mas que acabaram por se tornar nos mais valentes, sacrificados, esforçados e generosos combatentes do mundo: o 2º grupo de combate da Companhia de Caçadores 3535.

Os factos que aqui se relatam são absolutamente verdadeiros, sem qualquer ponta de fantasia. A mim mesmo, quando agora os recordo, eles me parecem incríveis, impossíveis de ter acontecido. Mas aconteceram assim mesmo, tal e qual. Juro por tudo quanto tenho de mais sagrado.

Aquilo que viria a resultar no Batalhão de Caçadores 3880 começou por ser um batalhão de instrução no Regimento de Infantaria 16, em Évora. Nessa altura, na minha qualidade de aspirante, fui encarregado de ministrar a especialidade de apontador de metralhadora, enquanto o aspirante Araújo (que viria a ser alferes na Companhia de Caçadores 3536) deu a de apontador de morteiro médio e os restantes aspirantes operacionais deram a especialidade de atirador de Infantaria.

O pessoal ao qual o Araújo e eu demos instrução tinha como destino as mais diversas companhias mobilizadas para o então Ultramar. Terminada a especialidade, portanto, os nossos instruendos foram para as unidades que superiormente lhes foram atribuídas e nós os dois, Araújo e eu, ficamos apenas com os nossos cabos milicianos e mais ninguém.

Deste modo, no início da constituição do nosso batalhão, eu não conhecia nenhum dos soldados e cabos que vieram a integrar a minha companhia. Os outros três aspirantes da companhia, pelo contrário, conheciam quase todos aqueles homens, porque lhes tinham dado a especialidade de atiradores. Já lhes conheciam os méritos e os deméritos, as qualidades e os defeitos, mas eu não conhecia.

No momento inicial de proceder à distribuição dos homens pelos quatro grupos de combate da companhia, o comandante desta, o então tenente miliciano Lamas da Silva, mandou que o pessoal fizesse uma formatura em linha e ordenou:

— Agora os senhores aspirantes façam o favor de escolher os homens que querem.

Eu tentei objetar, procurando dizer ao Lamas que não estava em condições de fazer uma tal escolha, porque não conhecia aqueles homens, contrariamente ao que sucedia com os outros aspirantes. O Lamas da Silva não me deixou falar, interrompendo-me continuamente e insistindo repetidamente comigo:

— Escolhe! Tens de escolher os homens que queres. Os outros aspirantes já estão a escolher. Tu também tens que escolher. Olha que assim ficas com os piores!…

Quanto mais eu procurava explicar-lhe que não estava nas mesmas condições que os outros aspirantes para poder escolher, mais ele me interrompia:

— Escolhe, já disse! Tens de escolher! Sou eu que te mando!

A dado momento, os outros aspirantes deram por finda a sua escolha, sem que eu tivesse escolhido quem quer que fosse e sem que o comandante da companhia me tivesse dado ouvidos. Disse-me este:

— Estás a ver o resultado? Os outros aspirantes já escolheram e tu acabaste por ficar com os piores. Quer gostes, quer não gostes, vai ser com esses que vais ficar. Foste tu que assim quiseste. E não esperes nenhum tratamento de favor da minha parte.

Já só me limitei a responder:

— Pode ter a certeza absoluta de que nunca lhe irei pedir favor nenhum.

Olhei para os soldados e cabos que me estavam destinados e senti-me desfalecer.

Pensei: «Sou um homem morto! É com este pessoal que eu vou para a guerra? Estou morto. Eu com homens neste estado não vou durar nem uma semana em Angola! Já me estou a imaginar a regressar dentro de um caixão…»

O aspeto dos meus novos subordinados metropolitanos era arrepiante. Não admirava que aqueles homens tivessem sido rejeitados pelos outros aspirantes. Alguns deles pareciam atrasados mentais; outros pareciam sifilíticos ou coisa parecida. Todos eles pareciam completamente impróprios para servirem como combatentes numa guerra. Nem um só se aproveitava. Os meus três excelentes cabos milicianos (Silva, Macedo e Santos) pareciam tão aterrados como eu.

«Isto só a mim! Que mal é que eu fiz para merecer isto?», pensava eu e pensavam, certamente, os cabos milicianos. «O que é que vai ser de nós, na guerra, com homens assim? Isto não pode ser verdade. Eu devo estar a sonhar e isto é um pesadelo». Mas não era pesadelo nenhum. Era a realidade, que eu tinha que enfrentar custasse o que custasse.

Completado o batalhão no que à sua parte europeia dizia respeito, fomos enviados para o Campo Militar de Santa Margarida, onde iríamos aguardar o dia da nossa partida para Angola, o que deveria acontecer dentro de perto de dois meses. Achei que, durante esse tempo, talvez ainda fosse possível fazer algum esforço para melhorar a preparação dos soldados e cabos que me tinham calhado em sorte, mas as coisas não se passaram tal como eu esperava.

Naquele tempo, os batalhões e companhias que estavam aquartelados em Santa Margarida, à espera de embarque para as colónias, eram habitualmente ocupados com uma intensa atividade de preparação para a guerrilha, que era a chamada IAO (Instrução de Aperfeiçoamento Operacional). Mas o nosso batalhão estava incompleto e, por isso, não podia receber a IAO em Santa Margarida; só depois, já em Angola, é que poderia recebê-la. Assim, enquanto permaneceu em Santa Margarida, o nosso batalhão não teve qualquer atividade superiormente programada, nem qualquer orçamento atribuído para esse efeito. Apenas lhe foram reservados os alojamentos que ocupou até ao dia do embarque e mais nada.

Nestas condições, ao pessoal do batalhão foi sendo dada uma instruçãozinha de meia-tigela, que tinha como única finalidade mantê-lo ocupado com alguma atividade até ao dia do embarque. Fazia-se alguma ginástica, dava-se uma ou outra lição de tática, faziam-se muitas e longas pausas e gastavam-se muitas e longas horas a fazer ordem unida. Ordem unida, imagine-se! Pôr soldados que vão para uma guerra no mato africano a marchar para a frente e para trás, um-dois-esquerdo-direito, durante horas a fio, não lembrava ao diabo! Quem nos visse, diria que íamos para Angola fazer desfiles em parada diante do inimigo! Eu estava exasperado. O tempo urgia cada vez mais e nós estávamos a desperdiçá-lo com aquelas mariquices!

Resolvi então atuar por minha conta e risco, mandar o batalhão à fava e ser eu sozinho a dar aos meus subordinados a instrução de que eles necessitavam com tanta urgência. Se eu viesse a ser punido por não seguir o programa determinado pelo comando do batalhão, pouco me importava. Eu ia para a guerra, pior não me poderia acontecer.

Foi por acaso que descobri uma maneira de levar os meus homens para fora do Campo Militar, para a charneca vizinha, onde lhes poderia ensinar tática militar sem sofrer interferências dos meus superiores hierárquicos. Descobri também que poderia usar a carreira de tiro do Campo, onde o meu pessoal poderia gastar algumas das muitas munições excedentárias que, como vim também a descobrir, havia na arrecadação de material de guerra.

Afastados assim os possíveis obstáculos à minha decisão de ministrar uma espécie de IAO privativa aos meus subordinados, passei a pôr diariamente em prática um programa de atividades, que incluía muita preparação física, muito tiro e, sobretudo, muita tática de guerrilha. Devidamente apoiado pelos meus excelentes cabos milicianos, procurei ensinar-lhes tudo quanto eu próprio tinha aprendido em Mafra.

Aquelas semanas em Santa Margarida foram muito duras para mim. Muitas e muitas vezes me senti profundamente desanimado e com vontade de desistir, pois dificilmente eu conseguia vislumbrar algum progresso na preparação militar dos meus homens. Quando vim gozar os dias de licença que era costume dar, pouco tempo antes do embarque, aos militares que estavam mobilizados para a guerra, ao abrigo das chamadas Normas de Nomeação e de Apoio às Províncias Ultramarinas (NNAPU), sentia-me profundamente deprimido, quase à beira do desespero. Todo o esforço despendido naquela corrida contra o tempo me parecia ter sido inútil.

Mas quando regressei a Santa Margarida no fim da licença e voltei a encontrar os meus subordinados, eu nem queria acreditar no que os meus olhos viam. Foi só após aqueles dez dias de ausência que eu me apercebi, com grande espanto meu, que eles tinham mesmo evoluído, e até de forma verdadeiramente espetacular. Pareceram-me mais aprumados do que os outros, mais rijos do que os outros e mais confiantes do que os outros. Os "sifilíticos" e os "atrasados mentais" de outrora já não existiam mais. «Tenho homens!», pensei, espantado com tão grande transformação. «Como é possível que eu não me tenha apercebido deste milagre antes? Tenho homens!»

De entre os meus subordinados, o soldado Francisco António Danado 
Vaqueirinho [, foto à direita,]  foi o que maior transformação sofreu em Santa Margarida. Ao princípio, parecia um deficiente mental irrecuperável. Depois da licença ao abrigo das normas, nem sequer o reconheci. Tinha-se tornado vivo e esperto como poucos. Ainda hoje me pergunto como foi possível não me ter apercebido da sua evolução.


Um dia, ainda em Santa Margarida, os aspirantes das três companhias operacionais do batalhão, incluindo eu próprio, tomaram em conjunto uma resolução que iria pautar a sua conduta ao longo de toda a sua estadia em Angola. Foi uma resolução tomada espontaneamente e não de forma organizada, mas que valeu como um juramento, em que cada um de nós ficou como testemunha e como futuro juiz dos restantes. Uns perante os outros, tomamos então a seguinte resolução:

«Nós não sabemos o que nos espera na guerra. Não sabemos que perigos é que iremos enfrentar, nem que horrores é que iremos testemunhar. Não sabemos sequer se estaremos no lado certo ou no lado errado da guerra. Só em Angola é que viremos a saber. Mas independentemente de estarmos ou não no lado certo, independentemente de tudo o que nos vier a acontecer, iremos procurar agir sempre dentro dos limites morais que a nossa consciência nos impuser. Talvez esta seja uma tarefa impossível de cumprir no meio de uma guerra, não sabemos, mas pelo menos iremos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para agir de acordo com a nossa consciência, custe o que custar. CUSTE O QUE CUSTAR».

Quando embarquei no avião da Força Aérea com destino a Angola, juntamente com a parte europeia da minha companhia, eu sentia-me fortalecido com a resolução tomada, que estava disposto a cumprir. O mesmo se passava com os outros alferes.

(Continua, "O respeito pelos homens que comandei", pp. 33-42)

[Revisão / fixação de texto para efeitos de edição neste blogue: LG]
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Nota do editor:

Postes anteriores da série:

1 de agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20050: Dignidade e Ignomínia (Episódios do Meu Serviço Militar) (Fernando de Sousa Ribeiro, CCAÇ 3535, Angola, 1972/74) - Parte I: O meu curso de oficiais milicianos (pp. 5-16)

12 de agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20053: Dignidade e Ignomínia (Episódios do Meu Serviço Militar) (Fernando de Sousa Ribeiro, CCAÇ 3535, Angola, 1972/74) - Parte II: O meu curso de oficiais milicianos (pp. 17-26)

8 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Fernando:

Bom dia, estou na Tabanca de Candoz, em Marco de Canaveses... Levantei-me cedo, muito cedo, para editar o teu "livro"... Segue a tua saga...

Espero que os tipos da Academia Militar saibam aproveitar a nossa experiência e sabedoria... Dás um grande exemplo de liderança... que é coisa que falta muito na(s) nossa(s) guerra(s)... Não só a nível militar mas empresarial...

Como os teus textos ("capítulos") são extensos, para o formato do blogue, eu tenho que fazer a sua partição... Vê se está tudo bem... Reeditei os dois postes anteriores: o título não fazia referência à tua companhia, a CCAÇ 3535, nem a Angola, 1972/74... Para efeitos de pesquisa no Google são importantes estes descritores...

Um bom domingo para ti. Luís

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Fernando, são duas horas a editar um texto como o texto como o teu... Mas tu, por certo, gastaste muito mais tempo a escrevê-lo. É bom que os nossos leitores saibam valorizar o trabalho (precioso) dos camaradas que aqui escrevem, comentam, editam, colaboram... Espero que o testemunho da nossa sacrificada geração, nascida e criada em dois regimes políticos "opostos", tenha alguma valia para os nossos compatriotas... e demais falantes da língua portuguesa, incluindo os nossos amigos angolanos e guineenses.

Agora, volto para a cama... LG

J. Gabriel Sacôto M. Fernandes (Ex ALF. MIL. Guiné 64/66) disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
J. Gabriel Sacôto M. Fernandes (Ex ALF. MIL. Guiné 64/66) disse...

Fernando, gostei de ler O RESPEITO PELOS HOMENS QUE COMANDASTE. E da forma como deles fizeste HOMENS que certamente hoje não te esquecerão.
Um abraço,
JS

Carlos Pinheiro disse...


Gostei imenso deste texto que espelha bem a forma como as unidades eram formadas e como eram preparadas para um tipo de guerra totalmente diferente da chamada guerra convencional. Parece que o contava era a quantidade e não a qualidade. Toda a gente era apurada para todo o serviço quando muitos, infelizmente, não tinham quaisquer condições para entrarem naquela guerra. Mas iam. Claro que se todos os Comandantes de Pelotão e de Companhia tivessem a sensibilidade e a força de vontade para instruírem e motivarem os seus homens, como foi aqui o caso, possivelmente muita coisa seria diferente para melhor. Eu nunca comandei nada nem ninguém, para além de fazer de Chefe de Turno no CMsgs do QG, com uma equipa de luxo que sabia o que fazer em todas as circunstâncias. Era um simples cabo, porque no CSM em Santarém não me quiseram para Cabo Miliciano quanto mais Furriel. Fui eu e mais 200 que chumbámos naquele último Turno de 67, cujos chumbos me foram explicados pelo saudoso Capitão Andrade, no cais de Bissau, dias antes de morrer naquele fatídico acidente de helicóptero com Deputados da Assembleia Nacional. Mas adiante. Mesmo assim, soube, passe a imodéstia, fazer equipa com três Furriéis e lá nos desenrascámos sempre apesar das limitações de toda a ordem e sempre cumprimos as nossas obrigações. Mas voltando às mobilizações eu quando fui mobilizado deram-me guia de marcha para o RI 15 em Tomar para ir em rendição individual para o BCAC 1911 que estava a terminar a comissão. Quando cheguei ao 15, tinha acabado de cair da cadeira o Presidente Salazar. Quartel em prevenção rigorosa e então é formada também um Companhia de Ordem Pública, em princípio pronta a sair para a rua, para o que fosse preciso. E quem é que constituía essa Companhia? Os "desempregados" como eu que estavam à espera de ordens e eram alguns, mas também muitos ajudantes de cozinheiro e aprendizes de corneteiros. A Companhia só formou uma vez enquanto lá estive. Uma vergonha de formatura comparado com o que estava habituado na EPC e mesmo no RTM onde tinham tirado a especialidade. Penso que nesse dia da formatura a mesma terá tido comandada por um Alferes ou mesmo um Aspirante. A maior parte daquela gente muito mal fardada, mas com G3 e capacete na cabeça com uma rede onde estavam entrelaçados pequenos ramos de oliveira. Ainda bem que a Companhia não chegou a sair para a rua porque se tivesse saído podia ter acontecido tudo e mais alguma coisa porque não havia nenhum espírito de equipa e nem se sentiu uma verdadeira voz de comando. Entretanto lá chegou o dia e fui como muitos outros foram, um pouco à deriva, à espera do desconhecido. Quando o UIGE chegou ao largo de Bissau, passado pouco tempo já estava numa GMC a caminho dos Adidos, experiência que não quero recordar.
Só voltei a sentir organização e comando quando fui chamado para a Delegação do STM no QG do CTIG onde acabei a minha comissão de 25 meses.
Carlos Pinheiro

Carlos Vinhal disse...

"De entre os meus subordinados, o soldado Francisco António Danado
Vaqueirinho [, foto à direita,] foi o que maior transformação sofreu em Santa Margarida. Ao princípio, parecia um deficiente mental irrecuperável. Depois da licença ao abrigo das normas, nem sequer o reconheci. Tinha-se tornado vivo e esperto como poucos. Ainda hoje me pergunto como foi possível não me ter apercebido da sua evolução."
Que orgulho teria eu se fosse filho ou neto do Vaqueirinho em ver alguém, escarrapachadamente qualificar o meu pai ou avô, com foto e tudo, de deficiente mental irrecuperável.
Não sei se vale tudo quando escrevemos para os outros. Julgava que não.
Fiquei no entanto na dúvida se a sua "evolução" ocorreu por via da instrução militar ou se durante a licença ao abrigo das normas.
Carlos Vinhal
Leça da Palmeira

Valdemar Silva disse...

Carlos Vinhal
Realmente, não sabemos a razão da 'evolução' do Vaqueirinho, mas julgo que ele não seria um deficiente mental irrecuperável.
Se era um deficiente mental irrecuperável, como é que recuperou?
Sabemos que a tropa fazia bem a muita gente, mas nunca constou que tivesse o poder de recuperar deficientes mentais, antes pelo contrário pós muitos com graves traumas devidos à guerra na Guiné.
Mas, posso reconhecer que o 'deficiente mental irrecuperável' se trate de um exagero para vincar o estado físico/psíquico do Vaqueirinho e umas aspas(") poderiam suavizar a adjectivação.

Abraço e saúde da boa
Valdemar Queiroz

G.Tavares disse...

Espero que continue os seus escritos. Fale-nos dos Tozé Lourenços, lacerdas Valentes %Cº.
Saudaçoes
G.Tavares