quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Guiné 61/74 - P20102: Da Suécia com saudade (59): E agora também dos States, Florida, Key West... ou entre renas, palmeiras e daiquiris: Morreu o blogue, viva o blogue!... Afinal, os velhos soldados nunca morrem... (José Belo)



J. Belo, em Key West, Florida, EUA (2018)


1. Mensagem do José BeloJoseph, na Lapónia...


Em termos sintéticos, o nosso Zé Belo:

(i) é o português mais 'assuecado' (ou o sueco mais 'aportuguesado') da Tabanca da Lapónia e da Tabanca Grande; 

(ii) ex-alf mil inf da CCAÇ 2381,Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70, cap inf ref; 

(iii) jurista, vive na Suécia há mais de 4 décadas, e onde constituiu  família: reparte os dias do ano entre a Suécia, o círculo polar ártico e a Florida, EUa,  onde a família tem negócios; 

(iv) tem mais de 130 referências no nosso blogue; entrou "de jure e de facto" para a nossa Tabanca Grande em 8 de março de 2009

(v) é mestre na arte e na ciência da simulação, camuflagem, guerrilha e contra-guerrilha, e bem como da criação de renas, e ainda arranja tempo para beber uns daiquiris à sombra das palmeiras de Key West, curtindo a sua musiquinha; pode estar meses 'desaparecido' e 'incontactável' mas volta sempre ao 'local do crime',  quer dizer, a este blogue, ao seu blogue, ao nosso blogue, aos seus velhos camaradas; afinal, "os velhos soldados nunca morrem, podem é desaparecer"... por uns tempos.



Data: terça, 27/08/2019 à(s) 13:37

Assunto: Tentar um debate , apesar das férias, das idades e da distância



Entre renas, palmeiras e daiquiris


Ao visitar, quando as minhas transumâncias atlânticas o permitem, o blogue Luís Graça  & Camaradas da Guiné, vem-me à memória a frase:
- Os velhos soldados nunca morrem, eles apenas desaparecem.

Este blogue, qual velhinho tarimbeiro, tem já sobre os ombros algumas décadas de serviço. O seu sucesso deve-se aos laços muito especiais que ainda hoje ligam todos os que serviram na Guiné. Inferno da Guiné, dirão alguns dos que o que passaram de armas na mão em postos isolados na mata. Experiência da Guiné, poderão dizer alguns outros mais felizardos. De qualquer modo as recordações da Guiné aparentam ir acompanhar-nos até ao fim.

O blogue tem sabido evoluir adaptando-se à passagem dos anos. Não menos quanto aos mais variados  temas "politicamente correctos" que, como tudo o resto,vão sendo inexoravelmente substituídos .

No início deste blogue muito se escreveu sobre as suas funções... quase psiquiátricas! Veio permitir, aos que nele participavam, uma verdadeira catarse analítica, de outro modo impossível de efectuar numa sociedade que (então?) pouco ou nada se preocupava com os antigos combatentes, seus traumas, dramas sociais, e consequentes doenças.

Creio ter este blogue ajudado a muitos ao permitir-lhes "atirar cá para fora" muitos dos seus pesadelos e frustrações.

Entre os blogues nacionais deste tipo, o somatório de informação, relatos pessoais, conhecimentos, histórias,e acima de tudo História, dá-lhe com justiça lugar único. 

As experiências das já longas vidas, todas diferentes em factores sociais, geográficos e ontológicos, leva-nos por vezes a debates mais intensos, piropos, e algumas picardias. Será também este um dos factores que torna o blogue... vivo! No fim, todos ou quase todos, acabamos por nos sentar pacificamente à sombra do nosso poilão africano. 

E, a propósito de debates neste local constituído por velhos soldados de Portugal, continuo a ter dificuldades em compreender o esquecimento a que é votada a perda da Índia Portuguesa, em período não tão afastado da nossa História.

Estaremos hoje de acordo que a tal descolonização africana "exemplar" terá tido um pouco de tudo menos o... exemplar!

O servilismo de alguns a interesses não nacionais; o vedetismo ignorante e criminoso (mais de militares do que de políticos "bem sabidos") terão levado a uma tragédia cujas dimensões ainda hoje alguns se recusam a compreender.

Tendo em conta as circunstâncias internacionais (e internas) terá sido a única política possível de aplicar? Talvez.

A "palavra de ordem" então muito usada, "Nem mais um soldado para as colónias!", terá tido muito maiores resultados negativos quanto ao funcionamento da instituição militar do que se poderia esperar.




Cabeçalho de panfleto do PCP (m-l) (Partido Comunista de Portugal, marxista-leninista) com a palavra de ordem "Nem mais um só soldado para as colónias"... Data: 26 de abril de 1974.

Fonte: com a devida vénia ao Gualberto Freitas: 1969 Revolução Ressaca [documentos para a história de uma revolução]




Olhando as realidades de então, e as evoluções mundiais futuras, as guerras coloniais estavam perdidas mesmo antes de iniciadas. Outras visões teriam sido necessárias, para além de um certo "nacional saloiismo iluminado" do governo da ditadura.

E lá voltamos ao Estado da Índia. O papel preponderante de Goa, sua cultura e gentes, na nossa História foi sempre de nível não comparável com as colónias africanas.

Como terá sido possível ao ditador, que se crê ter tido inteligência superior à mediana, não ter sabido "ler" e acompanhar as evoluções de fundo surgidas internacionalmente?

Esperar, como o fez e disse publicamente, que a "aliada" Inglaterra lhe proporcionasse apoios políticos?

A mesma Inglaterra que curtos anos antes se vira obrigada a abandonar a sua(!) Índia? Os Estados Unidos dos anos sessenta na sua pseudo-cruzada anti-colonial?

Politicamente, a União Indiana oferecia nas Nações Unidas outras saídas. Entre elas a garantia de uma vasta autonomia para Goa, garantia apoiada tanto pela Inglaterra como pelos Estados Unidos e França.

O ditador recusou todas as soluções negociadas ou negociáveis. O Afonso de Albuquerque pairava certamente na sua cabeceira. Resistência exemplar e morte heróica foram exigidas ao Exército.
Um Exército armado, ou antes desarmado, com espingardas de modelo anterior à primeira guerra mundial, cujas munições guardadas em paiol não funcionavam por há muito terem ultrapassado o seu tempo útil.

Aviões, blindados e artilharia digna do seu nome... não existiam. O governo estava disso bem informado. O resto é História.

Muito dramática para os que por lá sofreram e, não menos, para os que foram acusados posteriormente dos erros criminosos do ditador.

Ele... "passou entre os pingos da chuva"!...

A evolução dos armamentos da guerrilha na Guiné e o nosso não acompanhamento do mesmo por motivos económicos e políticos, acabariam por levar em futuro próximo a novos bodes expiatórios militares (!) das incapacidades do governo central.

Governo central que, e mais uma vez, se preparava para não assumir as suas responsabilidades políticas quanto ao evoluir da situação no terreno da Guiné. Spínola ter-se-á apercebido que alguém acabaria por ser um novo e muito conveniente... Vassalo e Silva.

Mas, e voltando à questão inicial, o que levará a muitos dos tão agressivos críticos de políticas posteriores ao... esquecimento, desculpa, ou desvalorização... de alguns destes criminosos erros anteriores?

Certamente que muitos terão melhores ideias, opiniões e conhecimentos sobre um assunto importante e passível de DIÁLOGO.

11 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

... é o grande problema dos seres humanos, o diálogo, ou as dificuldades do diálogp... Mas, à sombra do nosso poilão, entre velhos camaradas e amigos da Guiné, lá vamos "tabaqueando o caso", como dizem os alentejanos... Obrigado. Zé!... Já havia quem quisesse passar a certidão de óbito do blogue. Afinal, a notícia da nossa morte foi um bocado exagerada!... LG

____________________


diálogo | s. m.
Será que queria dizer DIALOGO?

di·á·lo·go
(latim dialogus, -i)
substantivo masculino
1. Conversação entre duas pessoas.

2. [Por extensão] Conversação entre várias pessoas.

3. Discussão ou negociação entre duas ou mais partes, geralmente com vista a um acordo.

4. Obra literária em forma de conversação que um autor faz ter às personagens que apresenta.

5. [Música] Composição em que as vozes ou os instrumentos se alternam ou se respondem.


"DIÁLOGO", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://dicionario.priberam.org/DI%C3%81LOGO [consultado em 28-08-2019].

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Zé Belo:

Imagino que já estejas, de alma e coração, armas e bagagens, na terra dos teus novos amores, Key West... Daiquiris não são o meu forte, mas bebo um "alvarinho" ou um "branco leve" da nossa Estremadura natal, à tua saúde!... E se vires por aí o fantasma do "Papa" (, alcunha em Cuba do Hemingway, para os nossos leitores menos literatos...) dá-lhe um "alfabravo" cá da rapaziada dos camaradas e amigos da Guiné. Ele, se fosse vivo, deveria ter gostado da Guiné, aonde nunca foi... Será que teria gostado ? Os "internacionalistas cubanos" não ficaram com boas recordações da Guiné... E o 'Che' Guevara nem sequer lá pôs os pés, contrariamente ao mito que se criou...

Boas tempestades tropicais!... E como diz o Bolsonaro, deixa arder que o meu pai é bombeiro! (É proibido, pelas regras do nosso blogue, fazer referências à atualidade política e social... Mas o "Papa" , o Hemingway, esse, já morreu...).

Xi-corações lusitanos, Luís

Tabanca Grande Luís Graça disse...

É verdade, Zé Belo, a nossa joia da coroa, a "Índia Portuguesa", reduzida em 1961 a Goa, Damão e Dio, tem umas escassas 3 dezenas de referências no nosso blogue...

Perguntas: porquê ?... Eu tinha 14 anos quando o "pandita" Nehru perdeu a paciência... E resposta, em tom grandiloquente, foi, como sabes: ""apenas pode haver soldados e marinheiros ou mortos"... Mas ele tinha dúvidas sobre o patriotismo dos nossos camaradas abandonados por ee: "E se eles se rendem ?", perguntou ao seu ministro dos negócios estrangeiros, Franco Nogueira... Este garantiu-lhes que não...

Xi-corações lusitanos. Luís

Tabanca Grande Luís Graça disse...

É verdade, Zé Belo, a nossa joia da coroa, a "Índia Portuguesa", reduzida em 1961 a Goa, Damão e Dio, tem umas escassas 3 dezenas de referências no nosso blogue...

Perguntas: porquê ?... Nºao te sei responder... Eu só fui à Guiné, em 1969... Eu tinha 14 anos em 1961, quando o "pandita" Nehru perdeu a paciência... E resposta do Salazar, em tom grandiloquente, foi, como sabes: ""apenas pode haver soldados e marinheiros vitoriosos ou mortos"... (Onde é que já ouvi isto, "Pátria iu Morte!",,, ???

Mas ele, que não gostava nada da tropa, tinha dúvidas sobre o patriotismo dos nossos camaradas abandonados pela Pátria: "E se eles se rendem ?", perguntou ao seu ministro dos negócios estrangeiros, Franco Nogueira... Este, um homem inteligente, garantiu-lhes que não...

Sic transit gloria mundi... Índia Portuguesa ? Agora só turismo... de saudade (ou nem isso: os tugas fazem como tu, vão para Cuba e República Dominicana, beber daiquiris, na fitinha no pulso, nos 10 diazinhos de férias com tudo pago, que o crédito de consumo permite, das estâncias de turismo cercadas de arame farpado e arbustos para afastar os indígenas)...

Xi-corações lusitanos. Luís

Anónimo disse...

Joseph Belo
28 de agosto de 2019 10h42


A Índia portuguesa nas palavras de um Homem de Bem

Carlos Azeredo

Anónimo disse...

Joseph Belo
28 de agosto de 2019 11:15


Assunto . Livro vivamente recomendado aos interessados por Goa: "Trabalhos e dias de um soldado do império" (Livraria Civilização Editora, 2004, 496 pp., isbn: 9789722621427)


As “histórias” sobre o Sr.General Carlos de Azeredo são muitas. Existe uma constante em todas elas. O seu carater,a sua dignidade,a sua maneira de agir. O “antes quebrar do que torcer “,tão incomum em muitos dos militares do seu tempo.

Tive a honra de o ter como Comandante Operacional em Aldeia Formosa/Guiné.

Uma das muitas “histórias “ da sua vida militar:

Aquando da ocupação de Goa foi colocado num dos campos de prisioneiros criados pela União Indiana. O oficial indiano comandante do campo ordenara uma formatura geral a ser efectuada em “passo de corrida”.

O então Capitão Azeredo recusou-se a correr para a formatura,fazendo-o antes em passadas normais e colocando-se em posição de sentido no lugar que lhe competia. Foi então barbaramente agredido por militares indianos. Não se moveu do seu lugar mantendo uma dignidade que a todos impressionou.

Mas...há que ler-se o livro!

Um abraço

PS - Só parto para os States no fim do mês

Carlos Vinhal disse...

A propósito de o José Belo vir falar do senhor General Carlos Azeredo, quero contar o seguinte.
Há uns anos convidávamo-lo para o almoço anual dos combatentes da Guiné do Concelho de Matosinhos, onde ele comparecia sempre que podia. Fazia connosco o percurso a pé desde a Câmara Municipal, então ponto de encontro, até ao restaurante, umas largas centenas de metros distante.
Uma das vezes, acabado o almoço, fez tenção de se retirar, fazendo eu questão de o acompanhar, a pé, até ao seu carro estacionado algures perto do edifício da Câmara. Disse que não era preciso que sabia muito bem o caminho, mas eu ignorei e segui-o. Já na rua voltou a dizer que me fosse embora. Como eu teimasse, "puxou" das suas estrelas e disse-me: volte imediatamente para junto dos seus camaradas, é uma ordem.
Então, tive de me render. Lá se foi ele rua acima e eu voltei para o salão de convívio.
Infelizmente não está a passar bem, a idade é já muita e como militar não teve vida fácil. Nunca mais o teremos connosco.
Carlos Vinhal
Leça da Palmeira

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Carlos: seguindo uma sugestão (antiga) do J. Belo, devíamos propor a sua entrada no Blogue Lu+is Graça & Camaradas da Guiné.

Por todas as razºoes e mais uma: é que o senhor general Carlos Azeredo é meu vizinho, aqui do Marco de Canaveses...

Tratas disso, mais o J. Belo ?... Ab, Luís

Valdemar Silva disse...

Luis
Deves te lembrar do Gen. Carlos Azeredo, julgo que Major na altura, ir por várias
vezes a Contuboel, por ser o responsável da instrução das nossas futuras Companhias de soldados locais.

Continuação de boas férias e uma pergunta sobre bioxene.
Aí em Candoz as videiras do verde são de latada ou ainda existe das de trepar?

Ab.
Valdemar Queiroz

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Valdemar, as nossas vinhas, já com mais de 30 anos, são "modernas", são "em cordão simples" , "aramadas", embora toda a quinta sejao em socalcos... com muros de suporte, velhos e novos, que custam os olhos da cara a manter... O preo do metro cúbico dos socaldos em granito Fmos os primeiros a "arrasar" tudo e fazer de novo... Mas também "bordaduras", que são um encanto... Em Mondim de Bastos, que vou hoje visitar, é que ainda há a famosa vinha de enforcado (a vinha funciona como trepadeira à voltas das árvores que delimitavam os campos de milho...). Mais logo, à noite, ponho-te aqui unas fotos da Tabanca de Candoz...

As nossas vinhas, sem favor, dão as mais belas uvas aqui da zona... Uma vinha tratada com muito amor... Fazxemos vimnho (branco) mas vendemos o grosso das uvas para a Aveleda... Daqui a três semanas deve ser a vindima... Fazemos duas, conforme as castas...

Do major Carlos Azeredo, meu vizinho, não tenho qualquer ideia, em Contuboel... Mas também não o conheço pessoalmente a não ser da TV...

Abração, Luís

Valdemar Silva disse...

Luis
O major Carlos Azeredo apareceu várias vezes em Contuboel. Ele apertava com o nosso capitão por causa da ordem unida. Tinha que estar tudo como deve ser para o dia do juramento bandeira em Bissau e havia a questão do ombro arma, que nós ensinava-mos puxando a arma para cima e depois com um batimento lateral contra a anca (à EPA) que mal treinado dava barraca.

Para os lados de Guimarães, já lá vão mais de 65 anos, ficou-me na ideia as vinhas a trepar pelas árvores, assim como as latadas seguras por postes de granito, nas margens dos campos de cultivo.
Continuação de boas férias, em ambiente de bioxene não é para todos.
Ab.
Valdemar Queiroz